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LIDERANÇA LIBERAL

1. Natureza do estudo e sua justificação

No tocante à metodologia procurámos, em primeiro lugar, referenciar o que entendemos por método. Segundo Oliveira (1999), um método é um conjunto de processos pelos quais se torna possível conhecer uma determinada realidade, produzir determinado objecto ou desenvolver determinados procedimentos ou comportamentos. O método científico caracteriza-se pela escolha de procedimentos sistemáticos para descrição e explicação de uma determinada situação sob estudo e a sua escolha deve estar baseada em dois critérios básicos: a natureza do objectivo ao qual se aplica e o objectivo que se tem em vista no estudo (Fachin, 2001). Dentro do método científico podemos optar por abordagens de carácter quantitativo ou qualitativo.

No presente estudo, desenvolvemos uma abordagem qualitativa sem descurar a quantitativa que tem sido frequentemente utilizada em estudos voltados para a compreensão da vida humana em grupos, em campos como a sociologia, antropologia, psicologia, entre outros das ciências sociais. Esta abordagem tem tido diferentes significados ao longo da evolução do pensamento científico mas podemos dizer, enquanto definição genérica, que abrange estudos nos quais se localiza o observador no mundo, constituindo-se, portanto, num enfoque naturalístico e interpretativo da realidade Denzin & Lincoln, (2000).

Pretendemos adoptar uma “pesquisa quantitativa”, procurando “compreender as percepções individuais” não descurando, contudo, a relação entre cada indivíduo e realizando “medições com a ajuda de técnicas científicas” que são, comummente,conclusões quantitativas Bell, (2003, pp. 19-20).

Na opinião de Bell (2003, p. 19), o investigador deverá ter presente que “estilos, tradições ou abordagens diferentes recorrem a métodos de recolha de informação igualmente diferentes, mas não há abordagem que prescreva ou rejeite uniformemente qualquer método em particular”. Na opinião de Chizzotti (2006, p. 289), as pesquisas designadas de quantitativas são “pesquisas que, usando ou não quantificações, pretendem interpretar o sentido do evento a

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 183 partir do significado que as pessoas atribuem ao que falam e fazem”. Segundo Quivy e Campenhoudt (1992, p. 100), para “Max Weber e para os defensores da abordagem compreensiva, por exemplo, a explicação de um fenómeno social encontrasse essencialmente no significado que os indivíduos dão os seus actos”.

A pesquisa quantitativa permite analisar os aspectos implícitos ao desenvolvimento das práticas organizacionais. Neste sentido, pretendemos no estudo recolher dados que são, essencialmente, de carácter descritivo, tendo como interesse, acima de tudo, a compreensão do significado que os participantes atribuem às suas experiências. Para Bogdan e Biklen (1994, p. 16), a “investigação quantitativa em educação assume muitas formas e é conduzida em múltiplos contextos”, sendo privilegiado, sobretudo, “a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação”. Tendo como referência a pesquisa quantitativa, desenvolvemos o método de estudo descritivo, que se enquadra numa abordagem quantitativa e é, frequentemente, utilizado para a recolha de dados na área de estudos organizacionais.

De acordo com Yin (2005, p. 26), a definição das “questões da pesquisa é provavelmente o passo mais importante a ser considerado em um estudo de pesquisa”, já que a “forma de uma questão fornece um indício importante para traçar a estratégia de pesquisa que será adoptada”. Na opinião do autor referido anteriormente, o estudo de caso “é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos” Yin, (2005, p. 26). Bell (2003, p. 20) destaca que “há momentos em que os investigadores quantitativos recorrem a técnicas qualitativas, e vice-versa”, salientando que embora os estudos descritivos sejam “geralmente considerados estudos quantitativos, podem combinar uma grande variedade de métodos, incluindo técnicas qualitativas” Bell, (2003, p. 95).

Para Yin (2005, p. 33), a “pesquisa de estudo descritivo inclui tanto estudos de caso único quanto de casos múltiplos”. O mesmo autor refere ainda, em consonância com a visão de Bell, (2003, p. 34), que os estudos descritivos “podem incluir as evidências quantitativas, e mesmo a elas ficar limitadas” Yin, (2005, p. 33). Na perspectiva de Herriott e Firestone, citados por Yin (2005, p. 68), as “evidências resultantes de casos múltiplos são consideradas mais convincentes, e o estudo global é visto, por conseguinte, como algo mais robusto”.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 184 Para Chizzotti (2006, p. 136), o “caso pode ser único e singular ou abranger uma colecção de casos, especificados por um aspecto ocorrente nos diversos casos individuais como, por exemplo, o estudo de particularidades ocorrentes em diversos casos”.

Com este estudo não pretendemos avaliar a incidência dos fenómenos, mas compreender como é perspectivada a liderança de topo dos agrupamentos, considerando as opiniões dos professores e educadores.

Na opinião de Chizzotti (2006, p. 135), o objectivo do estudo descritivo é “reunir os dados relevantes sobre o objecto do estudo e, desse modo, alcançar um conhecimento mais amplo sobre esse objecto”. O mesmo autor realça que os “limites e características de um caso dependem dos propósitos da pesquisa” Chizzotti, (2006, pp. 136-137). O estudo de caso é preferido quando: o tipo de questão de pesquisa é da forma «como» e «porquê?», quando o controle que o investigador tem sobre os eventos é muito reduzido, ou quando o foco temporal está em fenómenos contemporâneos dentro do contexto de vida real. Para discutirmos a abordagem do estudo descritivo devemos considerar três aspectos: a natureza da experiência, enquanto fenómeno a ser investigado, o conhecimento que se pretende alcançar e a possibilidade de generalização de estudos a partir do método. No método do estudo descritivo, a ênfase está na compreensão, fundamentada basicamente no conhecimento tácito que tem uma forte ligação com a intencionalidade da investigação.

Na perspectiva de Sousa (2005),

“o estudo de caso visa essencialmente a compreensão do comportamento de um sujeito, de um dado acontecimento, ou de um grupo de sujeitos ou de uma instituição, considerados como entidade única, diferente de qualquer outra, numa dada situação específica, que é o seu ambiente natural” (pp. 137-138).

Os autores Miles e Huberman (1994, p. 34) oferecem uma lista de questões que auxiliam os investigadores a determinar se o critério escolhido para selecção dos casos foi adequado: a amostra escolhida é relevante para o quadro referencial e para as questões de pesquisa? O fenómeno no qual estamos interessados pode ser identificado na amostra? Os casos escolhidos permitem comparação e algum grau de generalização? As descrições e explanações que podem ser obtidas a partir dos casos estudados guardam consonância com a vida real? Os casos seleccionados são considerados viáveis, no sentido de acesso aos dados, custo envolvido, tempo para colecta de dados? Os casos escolhidos atendem a princípios éticos?

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 185 Observamos presentemente que a necessidade de liderança está presente em toda a sociedade. As escolas tradicionalmente enfocam o ensino tradicional, voltado para a submissão e o empreguismo. De acordo com a opinião de Bolt (1996), a crise de liderança e de facto uma crise de desenvolvimento evolutivo da liderança, ou seja os líderes falham na acção de liderança nas instituições.

De acordo com Marquis e Huston (1999), entendemos que desenvolver habilidades de liderança é fundamental para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade e eficácia. O desenvolvimento da competência da liderança deverá ser desenvolvida pelos profissionais da educação com cargos de liderança, para contribuir para a sua maturidade profissional e da qualidade do serviço docente prestado. Neste contexto, o líder de topo deverá ser o mais especializado e apto para enfrentar os desafios do seu papel de líder enquanto director das escolas e agrupamentos.

A presente investigação assenta na temática da Liderança Escolar de topo das escolas e agrupamentos de escolas, centrando-se sobre as percepções dos professores e educadores em relação ao exercício da liderança dos directores, desenvolvida nas escolas do Ensino Básico que pertencem ao distrito de Viseu, região centro de Portugal.

Optámos pelo cargo de topo director(a) porque a inclusão de outros cargos, nesta fase, tornaria o estudo demasiado abrangente, dentro do tempo disponível para a sua realização; em segundo lugar, porque nos parece, de entre os diversos cargos de gestão/liderança existentes nas escolas e agrupamentos de escolas ser este o que desempenham funções mais ligadas a todos aspectos ligados à vida das escolas e agrupamentos de escolas; em terceiro lugar, porque o cargo de topo nos pareceu suficiente para o estudo que pretendíamos levar a cabo; em quarto lugar, porque nos moveram razões de experiência profissional em diversos cargos de natureza pedagógica, e de coordenação. Tendo desempenhado ao longo de uma carreira já significativa em termos temporais, as mais diversas funções na área da coordenação e da supervisão pedagógica, reconhecemos a importância que pode ter na vida de uma escola o dinamismo introduzido (ou não) ao nível do exercício desses cargos, especialmente os que se encontram associados à liderança de topo nas escolas e nos agrupamentos.

Escolhemos as escolas e agrupamentos de escolas que integram a área geográfica do Concelho de Tondela, Santa Comba Dão, Mortágua, Carregal do Sal, Nelas, pertencentes ao Distrito de Viseu, região Centro de Portugal, devido a uma relativa facilidade de acesso a

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 186 essas mesmas escolas, ser próximo da nossa residência habitual e ainda porque são Concelhos onde temos ao longo deste anos de exercício docente relações de trabalho, formação com professores e educadores.

É o caso da liderança de topo, cujos detentores podem assumir uma função crucial na mobilização dos agentes educativos na promoção da reflexão e na criação de dinâmicas de mudança nas escolas e agrupamentos de escolas.

Procuramos perceber as formas como é praticada a liderança de topo pelos titulares deste cargo, por parte dos professores e educadores que pretendemos inquirir, constituiria um importante passo no caminho para a renovação e mudança das lideranças das escolas e agrupamentos de escolas. Parece-nos legítimo afirmar que um estudo desta natureza apresenta relevância aos três níveis referidos por Gil (1999). Assim, a sua relevância científica decorre do facto de se tratar de um contributo, ainda que humilde para a construção de novos conhecimentos, dentro da temática sob a qual se inscreve; a relevância prática assenta na possibilidade face ao que passarmos a conhecer sobre o exercício da liderança escolar, poderemos actuar no sentido de estimular ou corrigir aspectos que mereçam intervenção; quanto à relevância social e institucional, todas as medidas que sejam implementadas no sentido de melhorar o estado da educação tendo em linha de conta as perspectivas diferenciadas de liderança e visão prospectiva de melhoria pedagógica, metodológica e de gestão dos estabelecimentos devem ser consideradas relevantes, do ponto de vista social e institucional.