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LIDERANÇA LIBERAL

2. Contextualização do estudo

2.1. Contexto do estudo – Escolas e agrupamentos de escolas do Ensino básico

As escolas públicas do Ensino Básico estudadas correspondem às escolas dos vários níveis de ensino do pré-escolar ao secundário, que integram os agrupamentos onde realizamos o nosso estudo.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 187 A valorização das escolas e agrupamentos do ensino básico desencadeia-se a partir do modelo de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação públicos, implementado pelo Decreto-Lei n.º 115/A-98. Este documento baseia-se nos princípios de democraticidade, participação e intervenção comunitária, que visam o reforço das competências das escolas, nos domínios pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional, tendo como instrumentos o Projecto Educativo de Escola, Regulamento Interno e Plano Anual de Actividades, aos quais acrescentamos o Projecto Curricular de Escola.

2.2. Plano de investigação

Como mencionámos anteriormente, optámos por uma pesquisa predominantemente qualitativa, enveredando pelo estudo de caso, tendo como intenção a análise das percepções dos professores e educadores das escolas básicas e agrupamentos de escolas dos Concelhos atrás mencionados, sobre o papel dos líderes de topo, os directores das referidas escolas e agrupamentos de escolas.

Recolhemos, através da pesquisa bibliográfica, a fundamentação da liderança numa perspectiva mais organizacional, fazendo abordagem às teorias e estilos de liderança; a liderança educativa; o enquadramento do modelo de administração e gestão escolar desenvolvido nos respectivos agrupamentos e escolas; as motivações para a liderança; para, posteriormente, apresentarmos a metodologia do estudo, os seus resultados e as conclusões.

Os dados recolhidos das percepções dos professores e educadores basearam-se no questionário, tendo como objectivo a obtenção de respostas “de um grande número de indivíduos às mesmas perguntas, de modo a que o investigador possa descrevê-las, compará-las e relacioná-compará-las e demonstrar que certos grupos possuem determinadas características” Bell, (2003, p. 27).

Para o desenvolvimento deste estudo, procedemos ao seguinte percurso metodológico: revisão da literatura e estudos realizados no âmbito das lideranças educativas; recolha e análise da legislação das especificidades das escolas do Ensino Básico e das funções dos

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 188 directores; aplicação dos questionários aos, professores e educadores; análise dos dados de modo a descrever e interpretar quais as percepções que professores e educadores, possuem dos seus líderes de topo em relação aos vários domínios abordados no questionário.

3.Desenho da investigação

3.1. Construção do questionário

Com o presente estudo, pretendemos levar a cabo uma pesquisa descritiva, cujo objectivo primordial é apontado por Gil (1999, p. 44) como sendo: “a descrição das características de determinada população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”. Também Oliveira et al. (2004) apontam como finalidade de uma investigação descritiva compreender um determinado fenómeno, sem sobre ele pretender realizar uma intervenção imediata, mas alimentando a expectativa de que o conhecimento assim obtido acabe por, num horizonte mais longínquo, resultar positivamente sobre as práticas dos envolvidos. Tal como nos parece ter sido o caso, neste tipo de trabalho “procura-se obter uma descrição dos fenómenos, ou de determinadas características das populações, através da análise da sua frequência ou de operações de correlação variáveis” (Oliveira et al., 2004, p. 27).

A fim de chegarmos ao conhecimento que se pretendia atingir, escolhemos como método de recolha das informações o inquérito por questionário, na variante de questionário “auto-aplicado”, segundo a nomenclatura utilizada por Gil (1999) ou “autoadministrado” como lhe chamam Ghiglione e Matalon (2005, p. 163) ou ainda “de administração directa” como o designam Quivy e Campenhoudt (2003, p. 188), por ser o próprio inquirido a preenchê-lo. Estes últimos autores consideram este método especialmente adequado para “a análise de um fenómeno social que se julga poder apreender melhor a partir de informações relativas aos indivíduos da população em questão” (Quivy & Campenhoudt, 2003, p.189), situação que nos parece aplicar ao presente estudo.

Mais ainda, tal como afirmam Ghiglione e Matalon (2005, p. 14) “o inquérito é uma técnica relativamente simples de aplicar”, apresentando ainda a vantagem de “ser

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 189 praticamente o único método que podemos, se necessário, aplicar em grande escala, escolhendo os indivíduos” (Ghiglione & Matalon, 2005, p. 14). Sendo nossa pretensão realizar uma abordagem de tipo quantitativo, pareceu-nos, pois, tratar-se do instrumento mais apropriado. Para os mesmos autores, inquéritos em geral são “todas as formas de interrogar indivíduos tendo em vista uma generalização” (Ghiglione & Matalon, 2005, p. 15).

Esta técnica apresenta, porém, o inconveniente de “se apoiar exclusivamente sobre a linguagem: a do investigador e a das diversas categorias de inquiridos, não tendo nós qualquer motivo para admitir, a priori, que elas coincidam” (Ghiglione & Matalon, 2005, p. 12). Atendendo a que, no caso em presença, investigador e inquiridos apresentam um tipo de relação muito idêntica com o objecto do estudo, supomos que dominarão a linguagem utilizada, atribuindo-lhe sentidos muito aproximados em ambos os casos, razão pela qual, este inconveniente se fará sentir, em nosso entender, de forma mínima.

Constituindo as práticas dos directores escolares e coordenadores de departamento curricular comportamentos bastante difíceis de observar directamente sem uma presença frequente a acompanhá-los em reuniões e nas mais variadas vivências do seu quotidiano profissional, o questionário pareceu-nos ser o meio mais adequado de obter as informações pretendidas, no caso, a percepção que aqueles têm dessas mesmas práticas.

Apoiámo-nos, para esta decisão, nas palavras de Ghiglione e Matalon (2005, p. 13) quando afirmam que esta é a técnica mais apropriada para substituir observações muito difíceis ou impossíveis, ou ainda “para compreender fenómenos como as atitudes, as opiniões, as preferências, as representações, e outras, que só são acessíveis de uma forma prática pela linguagem, e que só raramente se exprimem de forma espontânea”. Também Gil (1999, p. 128) considera esta técnica adequada para chegar ao conhecimento de “opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, e outras.”

O questionário é constituído, na sua maior parte, por questões fechadas que se nos afiguraram como particularmente adequadas por apresentarem, basicamente, as vantagens que a seguir se referem, tais como são enunciadas por Foddy (2002):

“(a) Permitem que os inquiridos respondam à mesma pergunta de modo a que as respostas sejam validamente comparáveis entre si; (b) Produzem respostas com menor variabilidade; (c) Propõem aos inquiridos uma tarefa de reconhecimento, por oposição

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 190 a um apelo à memória, e, por isso, são de mais fácil resposta; (d) Produzem respostas mais facilmente analisáveis, codificáveis e informatizáveis” (p. 143).

Se bem que o intenso debate entre os partidários das questões abertas e aqueles que defendem as questões fechadas não tenha ainda chegado a conclusões definitivas, facto para o qual o próprio autor nos alerta, pelo menos as duas últimas vantagens parecem-nos indiscutíveis, aceitando nós que sejam vistas com algumas reservas as duas primeiras. Por outro lado, e atendendo à considerável dimensão da amostra com a qual pretendíamos trabalhar, houve que pensar também nos aspectos práticos, tendo sido levado em linha de conta o que afirmam Ghiglione e Matalon (2005, p. 116) “do ponto de vista da análise dos resultados, as questões fechadas são à priori as mais cómodas.”

Face ao exposto, pareceu-nos adequado construir o questionário predominantemente com questões fechadas pela comodidade para os inquiridos, assim como o posterior tratamento dos dados recolhidos. Optámos, dentro das escalas sociais, que “consistem basicamente em solicitar ao indivíduo pesquisado que assinale, dentro de uma série graduada de itens, aqueles que melhor correspondem à sua percepção acerca do facto pesquisado” (Gil, 1999, p. 139), por uma escala de quatro graus. A lógica da nossa decisão teve por base os contributos de vários autores.

Os autores Ghiglione e Matalon (2005) apresentam do seguinte modo as vantagens de fornecer quatro alternativas, por oposição a duas completamente opostas:

em primeiro lugar, as pessoas inquiridas podem ter a impressão, com apenas duas respostas possíveis, que as estão a forçar a tomar posições muito nítidas, que não são as suas, e que não se interessam propriamente por aquilo que pensam. Depois, tendo proposto mais de duas respostas, podemos escolher o agrupamento que acharmos melhor e não necessariamente juntar as duas primeiras respostas num lado e as outras duas noutro (p. 137).

Entendemos pois, como preferível utilizar quatro graus, porque nos pareceu ser o mais ajustado ao interesse da nossa investigação, tendo em conta o desejo de aferir uma opinião mais marcante dos professores e educadores em relação aos seus directores. A este propósito, socorremo-nos novamente das palavras de Ghiglione e Matalon (2005, p. 137) que, quanto à introdução de uma categoria intermédia ou neutra, advertem para o seguinte: “pode também recear-se estar, deste modo, a oferecer uma escapatória àqueles que não fazem qualquer esforço de reflexão”.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 191 Em suma, considerámos que uma escala de quatro graus seria, por um lado, suficientemente abrangente e por outro lado, suficientemente detalhada para colher as diversas posições quanto a cada afirmação em análise. Garantindo que não existiam falhas geradoras de dificuldades na compreensão das perguntas e no preenchimento, o questionário foi administrado a um grupo de docentes que desempenham ou já desempenharam o cargo de directores/presidentes de conselhos executivos, para ligeiros ajustamentos, particularmente em termos de redacção e termos a utilizar o que resulta em algumas alterações do inquérito.