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4. DIREITOS FUNDAMENTAIS

4.1. Conceito

Inicialmente, é necessário distinguir os Direitos Humanos dos Direitos Fundamentais.

Os Direitos Humanos são aqueles conhecidos e reconhecidos universalmente, nos Tratados Internacionais, Declarações e nas demais normas internacionais, como tudo aquilo que é fundamental para assegurar o desenvolvimento do ser humano e de todos os povos.

Por outro lado, os Direitos Fundamentais são aqueles Direitos Humanos internalizados por meio da Constituição Federal do respectivo país e, no caso do Brasil, são os direitos insculpidos no título II da Constituição Federal e, todo o rol de direitos que estão em consonância com aquele espírito, em todo o ordenamento jurídico do país, em conformidade com o art. 5º, § 2º, da Constituição.

Os direitos fundamentais são, portanto, “direitos constitucionalmente

garantidos” e um dos problemas a ser enfrentado pelo atual constitucionalismo é a

dicotomia entre os “direitos, liberdades e garantias” e os “direitos econômicos,

sociais e culturais”, sendo estes os direitos fundamentais sociais.90 Segundo Alexandre de Moraes,

Os direitos humanos fundamentais, em sua concepção atualmente conhecida, surgiram como produto da fusão de várias fontes, desde tradições arraigadas nas diversas civilizações, até a conjugação dos pensamentos filosófico-jurídicos, das idéias surgidas com o cristianismo e com o direito natural.

Essas idéias encontravam um ponto fundamental em comum, a necessidade de limitação e controle dos abusos de poder do próprio Estado e de suas autoridades constituídas e a consagração de princípios básicos da igualdade e da legalidade como regentes do Estado moderno e contemporâneo.

90QUEIROZ, Cristina. Direitos Fundamentais Sociais: Questões Interpretativas e Limites de

Justiciabilidade. In: SILVA, Virgílio Afonso da. [Org.]. Interpretação Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 164 e 169.

Assim, a noção de direitos fundamentais é mais antiga que o surgimento da idéia de constitucionalismo, que tão-somente consagrou a necessidade de insculpir um rol mínimo de direitos humanos em um documento escrito, derivado diretamente da soberana vontade popular.

Para um melhor esclarecimento, traz-se à baila o entendimento de Willis Santiago Guerra Filho91:

De um ponto de vista histórico, ou seja, na dimensão empírica, os direitos fundamentais são originalmente, direitos humanos. Contudo, estabelecendo um corte epistemológico, para distingui-los, enquanto manifestações positivas do Direito, com aptidão para a produção de efeitos no plano jurídico, dos chamados direitos humanos, enquanto pautas ético-políticas, “direitos morais”, situados em uma dimensão supra-positiva, deonticamente diversa daquela em que se situam as normas jurídicas – especialmente aquelas de Direito interno.

Acerca da importância da constitucionalização dos direitos fundamentais, salienta Alexandre de Moraes:

A constitucionalização dos direitos humanos fundamentais não significou mera enunciação formal de princípios, mas a plena positivação de direitos, a partir dos quais qualquer indivíduo poderá exigir sua tutela perante o Poder Judiciário para a concretização da democracia. Ressalte-se que a proteção judicial é absolutamente indispensável para tornar efetiva a aplicabilidade e o respeito aos direitos humanos fundamentais previstos na Constituição Federal e no ordenamento jurídico em geral.92

Essa diferenciação pode ser conferida, como já apontado pelo referido Autor com a aprovação da Emenda Constitucional nº 45/2004 que trata da forma de internalização dos Direitos Humanos consagrados nos Tratados Internacionais.

Para Uadi Lammêgo Bulos93,

Direitos Fundamentais são o conjunto de normas, princípios prerrogativas, deveres e institutos inerentes à soberania popular, que garantem a convivência pacifica, digna, livre e igualitária, independentemente de credo, raça, origem, cor, condição econômica ou status social.

Sem os direitos fundamentais, o homem não vive, não convive, e, em alguns casos, não sobrevive.

91 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo Constitucional e Direitos Fundamentais, 2007. p. 43 e

44.

92 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 3 e 23. 93 BULOS, Uadi Lamêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 401.

Os direitos fundamentais são conhecidos sob os mais diferentes rótulos, tais como direitos humanos fundamentais, direitos humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos, direitos naturais, liberdades fundamentais, liberdades públicas etc.

Historicamente, define-se a evolução dos direitos fundamentais em três gerações94, salientando-se que “os direitos fundamentais delimitam a esfera de liberdade e a proteção de que dispõem os diferentes intervenientes ou destinatários do processo económico”95, sendo reconhecidos na Constituição:

[...] ora como direitos, liberdades e garantias, ora como direitos e deveres económicos. Embora não seja sempre nítida a distinção entre uma categoria e a outra, pode dizer-se que na primeira se incluem a maioria dos direitos que definem a posição jurídica do indivíduo (pessoa, cidadão ou trabalhador) face ao Estado, delimitando negativamente a sua esfera de interferência, enquanto no segundo grupo encontramos sobretudo (ainda que não exclusivamente) os direitos de indivíduos ou de organizações a prestações positivas por parte do Estado.

Entre os direitos, liberdades e garantias, incluem-se alguns dos direitos dos trabalhadores (como a segurança no emprego) e, entre os direitos e deveres económicos e sociais, para além dos restantes direitos dos trabalhadores, o direito de propriedade e de iniciativa privada, os direitos dos consumidores e o direito ao ambiente na medida em que é relevante para o desempenho da actividade econômica.96

Para Manoel Gonçalves Ferreira Filho97,

A atual Constituição brasileira, no que segue as anteriores, não pretende ser exaustiva na enumeração dos direitos fundamentais. Admite haver outros direitos fundamentais além dos enumerados, direitos estes implícitos. Tais direitos, conforme deflui do § 2º do art. 5º, seriam direitos “decorrentes do regime de princípios” que a Constituição adota.

94 O Supremo Tribunal Federal definiu as gerações dos direitos fundamentais no MS 22.164, Rel. Min.

Celso de Mello, DJ 17/11/95: “Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) — que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais — realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) — que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma essencial inexauribilidade.”

95 GONÇALVES, Maria Eduarda; MARQUES, Maria Manuel Leitão; SANTOS, António Carlos. Direito

Econômico. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1995, p. 43.

96Ibid., p. 43.

97 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2006.

Nunca é bastante afirmar e reafirmar que o tratamento dado ao desenvolvimento não é aquele voltado para o desenvolvimento apenas econômico, mas sim, para o desenvolvimento político, econômico, social e cultural, sendo que no texto constitucional o tratamento dado a ele não é voltado para o econômico exclusivamente.

O direito ao desenvolvimento, como veremos adiante, concretiza o princípio da dignidade da pessoa humana e assim, habilita a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, estando inserido na terceira dimensão dos direitos fundamentais.