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O Direito ao Desenvolvimento no Tratado da União Européia a partir

3. TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

3.5. O Direito ao Desenvolvimento no Tratado da União Européia a partir

Como vimos até o momento, o tema em questão tem profunda importância e relevância para a sociedade brasileira e a comunidade internacional. Tanto isso é verdade que a própria União Européia modificou o seu Tratado para consagrar o direito ao desenvolvimento da pessoa a todos que estão sob seu manto.

Veremos tal modificação em todas suas peculiaridades. Essas alterações passam pelo preâmbulo com a inserção do artigo 1-A e pela mudança do artigo 2º, que passam a se estruturar da maneira que veremos a seguir.

No preâmbulo foi inserido o que convencionaram chamar de “segundo

considerando”, que possui a seguinte redação:

INSPIRANDO-SE no património cultural, religioso e humanista da Europa, de que emanaram os valores universais que são os direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa humana, bem como a liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito.

Podemos sentir nesse novo parágrafo que compõe o preâmbulo, a preocupação dos povos da União Européia no sentido de possuir o que se chama de um “patrimônio humanista”, voltado primeiramente para a pessoa, para o homem considerado como pessoa humana, detentor de direitos e garantias fundamentais.

Esse parágrafo vai mais longe, ao afirmar que esse patrimônio humanista vem no sentido de proferir e difundir (“emanar”) como valores universais (inerente a toda que qualquer pessoa humana) sendo eles invioláveis e inalienáveis. Consagra ainda a liberdade, a igualdade, a democracia e o Estado de Direito.

Aqui fica evidente a consagração do Direito ao Desenvolvimento quando expressamente coloca a igualdade como sendo um valor inviolável e inalienável. Essa igualdade vem no sentido de se efetivar uma igualdade real, por intermédio do desenvolvimento da pessoa humana.

O item 3 dessa alteração, inseriu o artigo 1º-A ao tratado da União Européia que tem a seguinte redação:

Artigo 1º-A

A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de Direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.

Nesse artigo fica expresso a opção da União Européia no sentido de se adotar um ambiente de bem estar social nos países membros. Visualizamos esse bem estar social, quando conjugamos os valores da dignidade da pessoa humana, com democracia, liberdade, igualdade, justiça e solidariedade. Esse ambiente é propício para a consagração de um ambiente de bem estar social, que no caso se traduz pelo direito ao desenvolvimento da pessoa. Uma das maneiras de se chegar a um ambiente de bem estar social, é por intermédio da consagração do direito ao desenvolvimento da pessoa humana, que acaba constituindo um requisito para a consagração de vários direitos fundamentais (direitos sociais).

Esse documento de 17 de dezembro de 2007 modificou ainda a redação do artigo 2º do tratado da União Européia. Esse artigo 2º é composto de 6 itens, e veremos cada um deles.

O artigo 2º, item 1, diz que “a União tem por objectivo promover a paz, os

seus valores e o bem-estar dos seus povos”. Aqui podemos perceber

expressamente o comando afirmativo dos objetivos da União Européia. Estabelece esse dispositivo que a União Européia tem como prioridade promover, fomentar a paz, seus valores e o bem estar de seus povos. Podemos entender essa “paz, seus

valores e o bem estar dos povos”, como um direito de todos da União Européia de

se desenvolver economicamente. O desenvolvimento é um dos meios de se chegar a essa “paz” e ao bem estar das pessoas da União Européia.

Para tanto, o artigo traça alguns parâmetros a serem seguidos para se atingir essa “paz” e o bem estar das pessoas, que podem ser retratados pelo direito ao desenvolvimento dos que ali se inserem. Um desses parâmetros vem retratado no item 2 desse artigo:

2. A União proporciona aos seus cidadãos um espaço de liberdade, segurança e justiça sem fronteiras internas, em que seja assegurada a livre circulação de pessoas, em conjugação com medidas adequadas em matéria de controlos na fronteira externa, de asilo e imigração, bem como de prevenção da criminalidade e combate a este fenómeno.

Temos que analisar esse item do ponto de vista econômico, do desenvolvimento da pessoa. Nesse sentido, a União Européia deve proporcionar às pessoas um espaço democrático de liberdade, segurança e justiça, no sentido de garantir a livre circulação de pessoas para que ocorra um ambiente favorável e justo no sentido de se garantir que todos possam se desenvolver economicamente.

No item 3, desse artigo 2º, fica demonstrado cabalmente e especificamente os parâmetros para se atingir o desenvolvimento civil, político, econômico, social e cultural. Preconiza o artigo 2º, item 3:

A União estabelece um mercado interno. Empenha-se no desenvolvimento sustentável da Europa, assente num crescimento económico equilibrado e na estabilidade dos preços, numa economia social de mercado altamente competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o progresso social, e num elevado nível de protecção e de melhoramento da qualidade do ambiente. A União fomenta o progresso científico e tecnológico.

A União combate a exclusão social e as discriminações e promove a justiça e a protecção social, a igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre as gerações e a protecção dos direitos da criança.

A União promove a coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-membros.

A União respeita a riqueza da sua diversidade cultural e linguística e vela pela salvaguarda e pelo desenvolvimento do património cultural europeu. Esse dispositivo inicia-se estabelecendo que é a União que institui um mercado interno. Sendo ela detentora desse mercado, poderá regular e dirigir esse mercado da maneira que estabelece tal Tratado, ou seja, no exato sentido de se buscar seus objetivos, que no caso é a “paz” e o bem estar das pessoas, traduzidos pela consagração do desenvolvimento dessas mesmas pessoas, ainda mais em sendo um direito fundamental.

O texto legal em questão determina que esse mercado estabelecido pela União Européia vem no sentido de um desenvolvimento sustentável, ou seja, que não sofra limitação no sentido de se esgotar. Prega ainda a estabilidade dos preços, o que dá segurança nas relações econômicas, propiciando assim uma projeção do

desenvolvimento econômico. Isso tudo, como o próprio preceito determina, deve se pautar por um crescimento econômico equilibrado. Esse equilíbrio deve ser entendido como algo natural e referente a todas as pessoas. Todos devem se desenvolver eqüitativamente.

Devemos destacar que o Tratado fala em uma “economia social de mercado

altamente competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o progresso social”.

Aqui fortalece ainda mais o entendimento que realmente se busca: uma economia de mercado onde se olha para a pessoa, para o seu direito ao desenvolvimento. Deve-se sim ter um mercado competitivo, mas essa competição, esse desenvolvimento não deve ser somente por parte do capital, mas sim também das pessoas que estão inseridas nesse mercado. A partir do momento que há um direito ao desenvolvimento, sem olhar para as pessoas, esse desenvolvimento é incompatível com os reais objetivos e interesses da União Européia, e por isso não poderá ser admitido. Só poderá se admitir um desenvolvimento com olhos aos direitos fundamentais consagrado no direito ao desenvolvimento civil, político, econômico, social e cultural de todos. Nesse sentido prega-se o pleno emprego e o progresso social. O desenvolvimento do capital deve possibilitar o desenvolvimento da pessoa. Isso é o crescimento econômico equilibrado que vimos acima.

Nesse sentido, a própria norma ainda consagra o combate à exclusão social e promove a proteção e a justiça social. Mais uma vez podemos identificar a inserção do direito ao desenvolvimento da pessoa no Tratado da União Européia. Um dos meios de se combater a exclusão social e fazer com que a pessoa atinja a sua plena cidadania é garantir e dar a oportunidade de que ela se desenvolva economicamente. Podemos notar aqui nitidamente a opção nesse sentido, de que se deve, propugnar para se consagrar a inclusão social e a justiça social. Isso nada mais é que consagrar o direito ao desenvolvimento da pessoa.

Seguindo no estudo do texto e na consagração do direito ao desenvolvimento, temos que destacar no texto onde se afirma que a união promove a coesão econômica e social e a solidariedade dos Estados-membros. Esse dispositivo prega que todos os Estados-membros devem estar em igualdade no que diz respeito ao desenvolvimento. Todas as pessoas, de todos os Estados-membros, devem ter

consagrado esse direito fundamental, qual seja, o direito ao desenvolvimento. Eventuais disparidades deverão ser sanadas pela própria União Européia.

O item 4, do artigo 2º, além de estabelecer uma moeda única, também consagra uma união econômica. Todos do bloco serão só uma economia. Isso só reforça que todos devem ser detentores do direito ao desenvolvimento. Diz esse preceito: “A União estabelece uma união económica e monetária cuja moeda é o

euro”.

Esses parâmetros que vimos até aqui, se referem a parâmetros internos do bloco. A partir do item 5, o Tratado estabelece parâmetros externos.

Exprime o item 5 do artigo 2º,

Nas suas relações com o resto do mundo, a União afirma e promove os seus valores e interesses e contribui para a protecção dos seus cidadãos. Contribui para a paz, a segurança, o desenvolvimento sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o comércio livre e equitativo, a erradicação da pobreza e a protecção dos direitos do Homem, em especial os da criança, bem como para a rigorosa observância e o desenvolvimento do direito internacional, incluindo o respeito dos princípios da Carta das Nações Unidas.

Aqui o Tratado em poucas palavras estabelece que o que se quer para a União se espera para o mundo, para o planeta. É algo que transcende até mesmo os limites do próprio Tratado. Seria uma abertura para que pudéssemos falar um dia em um direito planetário, onde todos teriam seus direitos fundamentais protegidos. Por esse dispositivo o bloco não deve somente olhar para si. Veda que o bloco explore economicamente outros povos, e ainda consagra a declaração dos direitos do homem como sendo inerente às pessoas.

Para finalizar as alterações no que diz respeito ao direito ao desenvolvimento da pessoa e da população, fica estabelecido que “a União prossegue os seus

objectivos pelos meios adequados, em função das competências que lhes são atribuídas nos Tratados”, ou seja, não se pode extrapolar o que ficou determinado

Disso tudo, podemos perceber, que o mundo hoje, está focado para o desenvolvimento da pessoa humana. Uma das faces desse desenvolvimento é o direito para se atingir a plenitude dos direitos dos seres humanos.