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3 A APLICABILIDADE DA TEORIA DO PRECEDENTE JUDICIAL NO BRASIL

4 AS REPERCUSSÕES DA ADOÇÃO DE PRECEDENTE JUDICIAL E DA APLICABILIDADE DA TEORIA DO PRECEDENTE JUDICIAL NO BRASIL

4.3 REGRA DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JURISDICIONAIS

4.3.2 Conceito e funções

Nas palavras de Chaim Perelman, “motivar é justificar a decisão tomada, fornecendo uma argumentação convincente, indicando a legitimidade das escolhas feitas pelo

juiz53”54. É “uma forma de o magistrado ‘prestar contas do exercício de sua função

jurisdicional’ ao jurisdicionado, aos demais juízes, a todos os participantes do processo e,

mais amplamente – e como consequência inafastável –, a toda a sociedade55”56.

Saraiva, 2014, p.150). Motivação e fundamentação podem ser usadas são sinônimos. (TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.11).

51

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual civil. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p.152.

52

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O que deve e o que não deve figurar na sentença. Temas de direito

processual civil. São Paulo: Saraiva, 2004, 8ª série, p.118.

53

PERELMAN, Chaim. Lógica jurídica. Trad. por Vergínia K. Pupi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.222.

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Assim: TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.134; BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual civil. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p.150; MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.405 e 482.

55

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual civil. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p.150-151.

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Segundo Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar “a segurança jurídica entendida como fundamentação adequada da decisão judicial é viável porque apta a dirimir os conflitos sociais, a resolver os problemas. Não a realiza simplesmente pondo fim aos processos, mecanicamente, por meio de soluções standardizadas. Esse modo de pensar atesta a continuação mascarada da vigência dos métodos e pensamentos

Da definição de motivação acima apresentada, pode ser extraída sua dupla função: endoprocessual e exoprocessual ou extraprocessual, cuja finalidade é garantir a

legitimidade da decisão57.

A função endoprocessual pode ser encarada em mais de um aspecto. O

primeiro deles é convencer as partes de que o juiz apreciou a causa adequadamente58. Desse

primeiro aspecto decorre a possibilidade de o sucumbente elaborar conscientemente as razões de seu recurso, individualizando o objeto da impugnação, já que a motivação lhe terá permitido a visualização mais precisa das causas que levaram o juiz a decidir daquela forma. O segundo aspecto da função endoprocessual diz respeito à possibilidade de os juízes da instância superior poderem mais bem analisar as decisões de magistrados de primeiro grau que lhes são submetidas através da via recursal, apresentando, na revisão da decisão de

primeiro grau, os motivos para a manutenção ou revogação da decisão recorrida59.

que deságuam na hermenêutica ingênua”. (ALENCAR, Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de. Segurança jurídica e fundamentação judicial. Revista de Processo. Ano 32, n° 149, jul 2007, p.66).

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MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.290. José Rogério Cruz e Tucci enxerga três escopos assumidos pela motivação. O primeiro, de ordem subjetiva, visa demonstrar ao próprio órgão jurisdicional, de forma imediata, as razões que legitimam a decisão, bem como mostrar à parte sucumbente que o resultado do litígio não é fruto de sorte ou capricho, mas da atuação da lei. O segundo, de ordem técnica, objetiva garantir ao sucumbente a interposição de recurso. O terceiro, de ordem pública, visa tornar efetivas, à toda sociedade, as normas que garantem o direito de defesa e a imparcialidade e independência do juiz. (TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo

civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.21-23). Na Inglaterra, o dever de fundamentar decorre: a) da garantia contra a

arbitrariedade (“a disciplina exigida na produção de raízes inteligíveis para as decisões pode aprimorar a qualidade do processo de produção da decisão, porque o juiz é obrigado a explicar sua escolha entre as posições sustentadas pelas partes”); b) da possibilidade de explicar ao sucumbente porque ele perdeu a demanda; c) da garantia do teste da decisão em sede de apelação; d) da possibilidade de se extrair orientação jurídica das decisões dos Tribunais Superiores, porque essas decisões são precedentes para as decisões futuras e revela tendências em vários campos do direito. (ANDREWS, Neil. Decisões judiciais e o dever de fundamentar: A experiência inglesa. Revista de Processo. Ano 36, n° 192, fev 2011, p.108).

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Rogério Ives Braghittoni diz que a motivação é o termômetro do grau de respeito ao princípio do contraditório, porque é com base nas justificativas que o julgador fornece para a sua decisão que se pode avaliar qual foi a sua real consideração, dentro da convicção que formou. (BRAGHITTONI, Rogério Ives. O princípio do

contraditório no processo: doutrina e prática. Rio de Janeira: Forense Universitária, 2002, p.49). Em sentido

similar, José Henrique Lara Fernandes entende que a falta de motivação representa violação do contraditório, na medida em que se presume que o juiz não terá considerado detidamente os argumentos das partes. (FERNANDES, José Henrique Lara. O devido processo legal e a fundamentação das decisões judiciais na Constituição de 1988. In GRECO, Leonardo; MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Direito Processual e

Direitos Fundamentais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p.65).

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TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza civile. Padova: Cedam, 1975, p.374-375. Para José Carlos Barbosa Moreira, a motivação, no aspecto técnico (endoprocessual), tem o propósito de facilitar à parte a tarefa de impugnar a decisão e ao juízo revisor a de investigar a ocorrência de erros ou vícios que porventura a tornem injusta ou ilegal. (MOREIRA, José Carlos Barbosa. A motivação das decisões judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito. Temas de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1988, 2ª série, p.89). NOJIRI, Sergio. O dever de fundamentar as decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p.30-31. Pela função endoprocessual, realiza-se o controle de legalidade da decisão, pelo órgão revisor, cujo defeito pode decorrer do contraste existente entre a decisão e a norma, como também do erro de interpretação cometido pelo juiz ao extrair da norma o critério jurídico de solução da controvérsia. (PERO, Maria Thereza Gonçalves. A

motivação da sentença civil. São Paulo: Saraiva, 2001, p.70). Para José Henrique Lara Fernandes,

Michele Taruffo entende que a função endoprocessual é identificada a partir de tripla função. Por um lado, a motivação serve para persuadir as partes, em especial, a parte perdedora, da justiça da decisão proferida e de que o juiz valorou os fundamentos das exigências e exceções contrapostas, no intuito de convencê-las a não impugnar a decisão. Por outro lado, a motivação garante que as partes valorem a pertinência da impugnação, já que quando a decisão está motivada, é mais fácil identificar os seus vícios, que podem constituir motivos de impugnação. Por fim, a motivação deve servir à individualização da decisão do

caso concreto60.

Além da tripla visão, a função endoprocessual, no entendimento do referido autor, é considerada um instrumento destinado a permitir o controle de legalidade pela corte, já que o juiz é obrigado a demonstrar, com a motivação, o dado objetivo sobre o qual o

controle de legalidade será exercido61.

A função exoprocessual ou extraoprocessual, por outro lado, decorre da atribuição de uma função política à motivação que visa o controle pela sociedade da

imparcialidade do juiz e da justiça das decisões jurisdicionais62.

A função exoprocessual ou extraprocessual visa garantir a participação democrática dos cidadãos “na medida em que se possibilita o conhecimento dos motivos, fins

e consequências do ato jurisdicional praticado63”, funcionando como uma forma de pressão

para que os órgãos da magistratura atuem de forma independente e responsável, em

aos juízes que devem tomar ciência da demanda em grau de recurso. (FERNANDES, José Henrique Lara. O devido processo legal e a fundamentação das decisões judiciais na Constituição de 1988. In GRECO, Leonardo; MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Direito Processual e Direitos Fundamentais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p.61). Em outros termos, o juiz precisa expor os fundamentos de sua decisão, para que se permita ao vencido, por exemplo, entender os motivos de seu insucesso e, se for o caso, interpor recurso, demonstrando os equívocos da decisão. Nessa mesma linha, a fundamentação permite ao tribunal entender os motivos que levaram o juiz a decidir. (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.406; MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes

Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.290). Nas palavras de Teresa Arruda

Alvim Wambier, o juiz deve, “no momento de decidir, [...] demonstrar que as alegações das partes, somadas às provas produzidas, efetivamente interferiram no seu convencimento”. (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A influência do contraditório na convicção do juiz: fundamentação de sentença e de acórdão. Revista de Processo. Ano 34, n° 168, fev 2009, p.55); ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.211 e 319. Na função endoprocessual, “a fundamentação permite que as partes, conhecendo as razões que formaram o convencimento do magistrado, possam saber se foi feita uma análise apurada da causa”, no intuito “de controlar a decisão por meio dos recursos cabíveis, bem como para que os juízes de hierarquia superior tenham subsídios para reformar ou manter essa decisão”. (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2013, v. 2., p.320).

60

TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza civile. Padova: Cedam, 1975, p.374-380.

61

TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza civile. Padova: Cedam, 1975, p.384-385.

62

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria

Geral do Processo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p.74.

63

conformidade com os princípios de um Estado Democrático de Direito64. Em outros termos, na função exoprocessual ou extraprocessual, “a fundamentação viabiliza o controle da decisão do magistrado pela via difusa da democracia participativa, exercida pelo povo em cujo nome a

sentença é pronunciada65”66. A ideia da função exoprocessual ou extraprocessual é permitir

que o povo acompanhe as decisões do Poder Judiciário e constate a idoneidade de sua atuação67.

Analisadas as funções assumidas pela motivação, passa-se ao estudo do seu conteúdo, isto é, passa-se à verificação do que deve constar na decisão jurisdicional para que

ela seja considerada devidamente fundamentada68.

4.3.3 Conteúdo

O conteúdo da motivação deve ser integrado “pelos juízos lógico-jurídicos

elaborados pelo julgador diante dos elementos de fato e de direito constantes do processo69”.

Em outros termos, a motivação deve expor os fatos relevantes para a solução do litígio e as

razões jurídicas do julgamento70.

Nem todos os elementos de fato e de direito devem ser objeto de motivação. Cada um desses elementos ofertados pelas partes representa um ponto. Cada ponto que venha

64

NOJIRI, Sergio. O dever de fundamentar as decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p.72.

65

DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2013, v. 2., p.320.

66

Em sentido similar: O controle extraprocessual é aquele realizado pelos jurisdicionados em geral, que tem o condão de fortalecer a confiança na tutela jurisdicional. (MOREIRA, José Carlos Barbosa. A motivação das decisões judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito. Temas de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1988, 2ª série, p.90). Para José Henrique Lara Fernandes, fundamentação é a conclusão de um debate de ideias que se trava no curso do processo que se dirige à comunidade jurídica e ao público em geral, assumindo o provimento jurisdicional um papel pedagógico para a estabilidade das relações sociais. (FERNANDES, José Henrique Lara. O devido processo legal e a fundamentação das decisões judiciais na Constituição de 1988. In GRECO, Leonardo; MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Direito Processual e

Direitos Fundamentais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p.61-62). A função extraprocessual da motivação é

permitir um controle difuso e generalizado do modo como o juiz administra a justiça. (TARUFFO, Michele. La

motivazione della sentenza civile. Padova: Cedam, 1975, p.406-407); ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.211 e 319.

67

PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil. São Paulo: Saraiva, 2001, p.63.

68

Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar entende que a decisão judicial suficientemente fundamentada é aquela que aprecia as peculiaridades do litígio. Trata de visão limitada da motivação. (ALENCAR, Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de. Revista de Processo. Ano 32, n° 149, jul 2007, p.64).

69

PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil. São Paulo: Saraiva, 2001, p.78.

70

TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.15. Segundo Beclaute de Oliveira Silva, “todas as questões em sentido amplo, de fato e de direito, que antecedem à decisão, inclusive os denominados pontos prejudiciais e as questões preliminares” devem constar na fundamentação da decisão. (SILVA, Beclaute Oliveira. A garantia fundamental à motivação da decisão judicial. Salvador: Jus Podivm, 2007, p.157).

a ser tornar controvertido transforma-se numa questão71, que deve ser decidida pelo juiz. Nem todo e qualquer ponto do processo é relevante para a decisão; somente os pontos que serviram de antecedente lógico-jurídico para formar a cadeia do raciocínio do juiz em direção à decisão final são considerados pontos importantes e devem fazer parte da fundamentação. É dizer, dentre os pontos suscitados pelas partes, o magistrado deverá escolher os pontos relevantes que são essenciais ao desfecho do conflito (solução da questão). Desse modo, a decisão será considerada integralmente motivada, se fizer “menção aos critérios jurídicos ou hermenêuticos, cognoscitivos ou valuativos empregados pelo julgador ao eleger cada ponto

como prejudicial72”.

Por isso que se diz que o juiz “não está adstrito a responder, um a um, os argumentos das partes; tem o dever, contudo, de examinar as questões (=pontos controvertidos), todas elas, que possam servir de fundamento essencial à acolhida, total ou

parcial, ou à rejeição, no todo ou em parte, do pedido formulado pelo demandante73”. Isto é, o

71

Beclaute Oliveira Silva diz que a palavra questão, no sentido amplo, significa controvérsia. Ao ser utilizada no art. 458, II, do CPC, porém, pode se referir a ponto prejudicial, questão prejudicial, causa prejudicial e questões preliminares. O ponto prejudicial é uma significação construída pelo juiz a partir do suporte físico que lhe é ofertado nos autos do processo. Cabe ao magistrado reconhecer o antecedente lógico ao julgamento que foi objeto de controvérsia. Esse reconhecimento implica análise e decisão. Por exemplo: no caso de confissão, verifica-se se ela ocorreu e se era hipótese de sua ocorrência. A questão, por sua vez, é um ponto, que no processo, tornou-se controvertido. Após a solução mediante ato decisório, a questão prejudicial converte-se em ponto prejudicial. O referido autor opta por chamar esse fenômeno de questão prejudicial, para evitar ambiguidades, já que o antecedente lógico também é chamado de questão. A causa prejudicial é uma questão prejudicial que é objeto de uma ação incidental ou até mesmo autônoma. As questões preliminares são aquelas que devem ser analisadas antes do mérito (pressupostos processuais e condições da ação). (SILVA, Beclaute Oliveira. A garantia fundamental à motivação da decisão judicial. Salvador: Jus Podivm, 2007, p.150-152).

72

PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil. São Paulo: Saraiva, 2001, p.78.

73

CARNEIRO, Athos Gusmão. Sentença mal fundamentada e sentença não fundamentada. Revista de Processo. Ano 21, n° 81, jan-mar 1996, p.223. A motivação deve abranger toda a prova. Essa regra comporta atenuações. Se por exemplo, determinado fato já está provado por outro meio de prova, dispensa-se a fundamentação de outra prova eventualmente produzida. A motivação deve evitar referências genéricas e não justificadas, a exemplo: “a prova produzida pelo autor não convence” ou “as alegações do réu não ficaram comprovadas”. O juiz deve expor os motivos pelos quais a prova não comprovou o fato deduzido pelo autor ou as alegações do réu não ficaram comprovadas. Também não devem constar na motivação, digressões que não interessam ao julgamento. É desaconselhável que a sentença contenha excesso de adjetivos. (MOREIRA, José Carlos Barbosa. O que deve e o que não deve figurar na sentença. Temas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2004, 8ª série, p.120-122). Na sentença, o juiz deve a) demonstrar o valor dado a cada prova; b) explicar as razões pelas quais a prova não foi admitida; c) dizer as razões pelas quais a prova demonstra, ou não, uma afirmação de fato. Não pode o juiz julgar com base num fato que conhece, mas que não está provado nos autos. (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.405). José Rogério Cruz e Tucci diz que a motivação deve englobar: a) o exame da regularidade do processo (apontando e justificando a configuração de erros de procedimento); b) a análise do mérito (expressando-se todos os atos, fatos e comportamentos, cuja apreciação é necessária para a solução da causa; c) a valoração das provas e; d) o enquadramento legal dos fatos. (TUCCI, José Rogério Cruz e. A

motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.16). Daniel Mitidiero diz que “a passagem

do Estado Legislativo para o Estado Constitucional impõe fundamentação analítica para aplicação de princípios e regras, mediante postulados normativos e para concretização de termos indeterminados, com eventual construção de consequências jurídicas a serem imputadas aos destinatários das normas”. Na aplicação dos princípios, deve-se, primeiro, identificar quais são as suas finalidades e qual é a colisão existente e, segundo, deve-se identificar e justificar qual é o postulado mais adequado para a solução da referida colisão, bem como

julgador não precisa analisar todas as causas de pedir (se acolheu uma delas para julgar procedente o pedido) ou todas as razões de defesa (se acolheu uma delas para julgar

improcedente o pedido ou extinguir o processo sem exame de mérito)74. Há que se ressaltar,

nesse particular, que para que a decisão jurisdicional seja considerada motivada, o magistrado também deve explicar porque determinado fundamento das partes não permitiu a sua vitória. Por exemplo: se o autor deduziu mais de um fundamento para o acolhimento de determinando pedido e o juiz o julgou procedente com base em apenas um desses fundamentos, mas o réu apresentou fundamento para o não acolhimento desse pedido, a fundamentação só estará completa, se o juiz explicar porque o fundamento do réu não serve para o indeferimento do pedido formulado pelo autor.

A motivação deve ser escrita (art. 164, do CPC) no vernáculo (art. 156, do CPC).

Além de escrita no vernáculo, a motivação deve ser expressa, clara, lógica (ou consistente) e completa. Será expressa, quando o juiz revelar como interpretou e aplicou a lei

ao caso concreto75. Será clara, quando for inteligível de plano, estando a salvo de qualquer

entendimento ambíguo ou equívoco76. Será lógica, quando o julgador realizar análise

congruente das alegações das partes e dos elementos probatórios, ou seja, quando uma significação produzida for logicamente compatível com as demais a partir da leitura do

demonstrar como esse postulado levou à solução do problema posto em juízo. As regras jurídicas podem ser superadas por meio de postulados normativos. Deve-se justificar, nesse particular, qual o postulado normativo que autoriza a não aplicação da regra naquele caso concreto e quais as razões que sustentam a solução adotada para disciplinar o caso concreto. Na aplicação de conceitos jurídicos indeterminados, por sua vez, deve-se precisar o termo indeterminando que constitui pressuposto de incidência da consequência determinada no ordenamento. Na aplicação das cláusulas gerais, o pressuposto de incidência e a consequência são indeterminados. Nesse caso, quando da elaboração da motivação, deve-se precisar o termo indeterminado que constitui o pressuposto de incidência da norma e as consequências jurídicas da incidência dessa norma. (MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e precedente – dois discursos a partir da decisão judicial. In MARINONI, Luiz Guilherme (org.). 2. ed. A força dos precedentes. Salvador: Jus Podivm, 2012, p.130-131). Para Michele Taruffo, o conteúdo mínimo da motivação deve ser composto por: a) enunciação das eleições realizadas por um juiz em função da identificação das normas aplicáveis, verificação dos fatos, qualificação jurídica e consequências jurídicas dela decorrentes; b) contexto de vínculos de implicação e de coerência entre os referidos enunciados; c) qualificação dos enunciados particulares sobre a base dos critérios que sirvam para valorizar se as eleições do juiz são racionalmente corretas. (TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza civile. Padova: Cedam, 1975, p.466-467).

74

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A influência do contraditório na convicção do juiz: fundamentação de sentença e de acórdão. Revista de Processo. Ano 34, n° 168, fev 2009, p.60.

75

TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.18-21.

76

TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1987, p.18-21; SILVA, Beclaute Oliveira. A garantia fundamental à motivação da decisão judicial. Salvador: Jus Podivm, 2007, p.170.

próprio texto (consistência intratexto)77. Será completa, se não contiver lacunas ou