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2.4 TÉCNICA DE SUPERAÇÃO

2.4.2 Limites orientadores

A modificação dos precedentes judiciais não pode chegar ao extremo de comprometer a segurança jurídica e a credibilidade do Poder Judiciário, razão pela qual

devem ser estabelecidos alguns limites orientadores170 para a superação. Essa tarefa não é

fácil.

O grande desafio de um sistema que atribui eficácia aos precedentes judiciais é estabelecer “quando se deve perseguir o resultado previsível e quando, ao invés, deve-se

alterar o entendimento na busca do resultado ideal ao caso sob julgamento171”. A tensão,

nesse particular, é entre a segurança jurídica, aplicação uniforme do direito, estabilidade e previsibilidade da atividade jurisdicional, alcançadas com a aplicação dos precedentes

judiciais, e a efetividade e justiça, concretizadas na superação dos precedentes judiciais172.

Por conta dessa tensão, e considerando a impossibilidade de se esgotarem as hipóteses de revogação, doutrinadores começaram a apontar parâmetros para a admissão da superação do precedente judicial. Esses parâmetros visam transpor os chamados princípios constringentes – desenvolvidos no direito inglês, utilizados como argumentos contrários à

revogação do precedente –, para se alcançar a correção substancial do Direito173.

do precedente. (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito

Processual Civil. 8. ed. Salvador: Jus Podivm, 2013, v. 2., p.457). “Aquele que pretende afastar o precedente tem

o ônus argumentativo para tanto”. (ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p.556). Segundo Hermes Zaneti Jr., aquele que se distanciar da aplicação do precedente assume o ônus argumentativo da demonstração da superação. (ZANETI JR., Hermes. Il

valore vincolante dei precedenti. Tesi di dottorato. Roma: Universitá degli studi Roma Ter, 2013-2014, p.371-

372).

170

ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.282-283.

171

ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p. 283.

172

ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p. 289-293. “A incorreção, injustiça e inconveniência do precedente devem ser claramente constatadas, como também avaliado o ‘prejuízo’ para a estabilidade e predicabilidade do sistema, que, sem dúvida, provoca, em maior ou menor grau, qualquer alteração do direito”. (SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do Precedente

Judicial à Súmula Vinculante. Curitiba: Juruá, 2011, p.150). Antes de proceder à revogação, a corte deve

considerar: a) a segurança dos cidadãos que confiaram no precedente; b) a quebra da isonomia entre os jurisdicionados; c) as consequências que a medida gerará para a administração da justiça e sua eficiência; d) o impacto negativo ou positivo sobre a credibilidade do tribunal. (MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.238).

173

Dentre os princípios constringentes do direito inglês, podem ser citados: a) o princípio da ausência de novas razões ou do caráter definitivo das decisões da House of Lords ou finality (a Corte Máxima não pode alterar decisão própria se não houver novas razões que viabilizem a modificação da ratio decidendi); b) o princípio da confiança justificada ou justified reliance (veda-se a alteração de decisão da House of Lords, em respeito ao princípio da proteção da confiança e das expectativas nela depositadas pelos jurisdicionados); c) o princípio do respeito ao legislador ou comity with the legislature (a House of Lords não pode revogar própria decisão, se após

A superação é cabível quando a) o precedente judicial se torna inexequível174

ou obsoleto175; b) o precedente judicial deixa de corresponder aos padrões de congruência

social176 ou consistência sistêmica177; c) surge nova concepção do direito178; d) constata-se

que o precedente judicial foi substancialmente errado ou mal concebido desde o início179 –

bastando um desses motivos para se fundamentar a revogação.

A inexequibilidade do precedente judicial pode ter vários fundamentos. Pode ser causada pela obscuridade existente no âmbito do órgão jurisdicional que, com razões ou votos dispersos, não consegue formular norma jurídica geral para casos futuros. Pode decorrer de a norma jurídica geral exigir preenchimento de elementos de difícil demonstração no caso presente ou ser muito genérica, dificultando a delimitação de seu alcance. Pode provir de a

doutrina apontar uma série de distinções arbitrárias a partir do precedente180, que inviabilizam

a sua aplicação em casos futuros.

sua prolação, o legislativo tenha atuado no sentido de considerá-la parte integrante do Direito Positivo); d) a regra da vinculação ao caso concreto ou mootness principle (a House of Lords não pode revogar própria decisão quando não houver disputa concreta sobre a questão jurídica referente à regra jurisprudencial em questão). (BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: A justificação e a aplicação das regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012, p.397-401).

174

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.239; SILVA, Celso de Albuquerque. Súmula Vinculante: Teoria e Prática da Decisão Judicial com base em Precedentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.194.

175

SUMMERS, Robert S. Precedent in the United States (New York States). In MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (coord.). Interpreting precedents: a comparative study. Estados Unidos: Dartmouth, 1997, p.396; ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.309.

176

EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the Common Law. London: Harvard University Press, 1991, p.104-105; SUMMERS, Robert S. Precedent in the United States (New York States). In MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (coord.). Interpreting precedents: a comparative study. Estados Unidos: Dartmouth, 1997, p.396; MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.237. Celso de Albuquerque Silva fala em regra obsoleta e desfigurada. (SILVA, Celso de Albuquerque. Súmula Vinculante: Teoria e Prática da Decisão Judicial com base em Precedentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.186); PULIDO, Carlos Bernal. Precedents and balancing. In BUSTAMANTE, Thomas; PULIDO, Carlos Bernal (coord.). On the philosophy of

precedent: proceedings of the 24th World Congress of International Association for Philosophy of Law and Social Philosofy. Stuttgart: Franz Steiner Verlag, 2012, p.53.

177

EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the Common Law. London: Harvard University Press, 1991, p.104-105; MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.237; MARINONI, Luiz Guilherme.

Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.391.

178

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.401.

179

SUMMERS, Robert S. Precedent in the United States (New York States). In MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (coord.). Interpreting precedents: a comparative study. Estados Unidos: Dartmouth, 1997, p.397; TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente Judicial como Fonte do Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.179; PULIDO, Carlos Bernal. Precedents and balancing. In BUSTAMANTE, Thomas; PULIDO, Carlos Bernal (coord.). On the philosophy of precedent: proceedings of the 24th World Congress of International Association for Philosophy of Law and Social Philosofy. Stuttgart: Franz Steiner Verlag, 2012, p.53.

180

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.240. Mortimer N. S. Sellers fala em decisão inviável que é

Um precedente judicial torna-se obsoleto em razão de inovação legislativa181 (modificação, revogação implícita ou explícita da lei em sentido amplo), de inovação

tecnológica182 ou mudança do estado da técnica em todas as fases da vida (alteração de

métodos de produção, bélicos, político-administrativos, etc.), de mudança de valores sociais e

culturais, alterações das condições econômicas e políticas183 e de equívoco interpretativo de

lei em sentido amplo, desde o início184.

O precedente judicial deixa de corresponder aos padrões de congruência social quando se torna incompatível com as proposições morais, políticas e de experiência. As proposições morais ditam as condutas certas e erradas, a partir do consenso moral geral da

comunidade185. As proposições políticas identificam uma situação como boa ou má em face

do bem-estar geral. As proposições de experiência apontam para as tendências de conduta

seguidas pelos grupos sociais186. Quando a norma, testada na experiência, revela-se

incompatível com o senso de justiça ou com o bem-estar social ou ainda quando não

corresponde aos usos e costumes presentes, deve ser superada187.

aquela que causa confusão quando da sua aplicação. (SELLERS, Mortimer N. S. The Doctrine of Precedent in the United States of America. The American Journal of Comparative Law. Vol. 54, 2006, p.85).

181

Mortimer N. S. Sellers diz que a inovação legislativa pode tornar o precedente judicial incompatível com a doutrina jurídica existente. (SELLERS, Mortimer N. S. The Doctrine of Precedent in the United States of America. The American Journal of Comparative Law. Vol. 54, 2006, p.85). Neil Duxbury entende que legislação posterior pode minar um precedente ou o precedente pode deturpar a interpretação de uma lei. (DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. Estados Unidos: Cambrigde, 2008, p.119-120). Caio Márcio Gutterres Taranto classifica a revogação do precedente judicial quanto à influência da atividade legislativa em revogação pura e revogação qualificada. A revogação pura é aquela que decorre de uma apreciação empírico- moderada. A revogação qualificada é aquela que decorre de inovação legislativa. (TARANTO, Caio Márcio Gutterres. Precedente Judicial: Autoridade e Aplicação na Jurisdição Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.297); NOGUEIRA, Gustavo Santana. Stare Decisis et Non Quieta Movere: a vinculação aos Precedentes no Direito Comparado e Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.179-180.

182

SUMMERS, Robert S. Precedent in the United States (New York States). In MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (coord.). Interpreting precedents: a comparative study. Estados Unidos: Dartmouth, 1997, p.396. Luiz Guilherme Marinoni enquadra a evolução tecnológica como causa da transformação da concepção de experiência que faz parte da congruência social. (MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes

Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.401).

183

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.240.

184

ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.309.

185

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.237; MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.392.

186

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.392.

187

CARDOZO, Benjamin N. A natureza do processo judicial. Trad. Silvana Vieira e Álvaro De Vita. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.111-112.

O precedente não tem consistência sistêmica quando deixa de guardar

coerência com outras decisões judiciais188.

A nova concepção do direito decorre de uma nova concepção doutrinária e jurisprudencial acerca da teoria ou da dogmática jurídica que revela que o que se pensava

sobre determinada questão ou instituto jurídico se alterou189.

O erro substancial que justifica o overruling deve ser claro, evidente e

apontado pela doutrina e pela jurisprudência190, isto é, deve ser de conhecimento da

comunidade jurídica; perceptível. Esse erro pode ser intrínseco e extrínseco. Será intrínseco, quando o precedente judicial é formado à margem de razões relevantes não invocadas quando da sua constituição. Será extrínseco, quando as razões foram invocadas, mas indevidamente

apreciadas quando da formação do precedente judicial191. A má concepção do precedente se

dá no momento de sua formação. Trata-se de precedente judicial mal desenvolvido, do qual é

difícil ou impossível extrair ratio decidendi192.

Esses requisitos darão azo à superação do precedente judicial, desde que os valores que sustentam a estabilidade (isonomia, confiança e vedação da surpresa injusta)

fundamentem mais sua revogação do que sua preservação193.

188

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.238; MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.392.

189

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.402.

190

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.402.

191

BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: A justificação e a aplicação das regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012, p.398. Celso de Albuquerque Silva fala em regra injusta ou incorreta. (SILVA, Celso de Albuquerque. Súmula Vinculante: Teoria e Prática da Decisão Judicial com base em Precedentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.194). Neil Duxbury menciona que o equívoco decorre da não aplicação ou da negligência em torno de relevante previsão estatutária. (DUXBURY, Neil. The nature and

authority of precedent. Estados Unidos: Cambrigde, 2008, p.119).

192

Benjamin N. Cardozo fala em má interpretação dos usos e costumes. (CARDOZO, Benjamin N. A natureza

do processo judicial. Trad. Silvana Vieira e Álvaro De Vita. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.112). O mesmo

autor se posiciona: “o trabalho do juiz é duradouro, em certo sentido, e efêmero, em outro. O que nele há de bom permanece. O que é errôneo com certeza perece. O bom continua sendo o alicerce sobre o qual novas estruturas serão erigidas. O mau está rejeitado e esquecido no laboratório dos anos. Pouco a pouco, a velha doutrina será eliminada. As transgressões são amiúde tão graduais que, de início, sua importância é obscurecida. Por fim, descobrimos que o contorno da paisagem foi alterado, que os velhos mapas devem ser deixados de lado e que precisamos mapear novamente o terreno”. (CARDOZO, Benjamin N. A natureza do processo judicial. Trad. Silvana Vieira e Álvaro De Vita. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.132).

193

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.394. “De modo geral, as exigências de uniformidade, coerência, consistência, imparcialidade, universalizabilidade e, mais genericamente, racionalidade na aplicação do Direito exigem que na revogação de precedentes judiciais sejam ponderadas cuidadosamente as necessidades de estabilidade e de mudança do sistema jurídico”. (BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: A justificação e a aplicação das regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012, p.395). Patrícia Perrone Campos Mello entende que a observância da segurança jurídica só precisa estar somada à incongruência social e à incongruência sistêmica. Para ela, nas demais hipóteses de superação, não se faz necessária a observância desse princípio.

A observância desses critérios impede que a revogação do precedente judicial

abra espaço para insegurança jurídica e desrespeito aos precedentes judiciais194.

2.4.3 Espécies

Nesse item, serão analisadas as espécies de técnicas de superação de precedente judicial, a espécie de técnica preventiva da superação de precedente judicial e as espécies de técnicas preventivas que podem conduzir à superação de precedente judicial.

2.4.3.1 Express overruling e implied overruling

Observados os citados parâmetros, a superação do precedente judicial terá fundamento, podendo a substituição ser expressa (express overruling) ou tácita (implied

overruling). É expressa, quando um tribunal passa a adotar, expressamente, uma nova

orientação, abandonando a anterior195. É tácita196, “quando uma orientação é adotada em

confronto com a posição anterior, embora sem expressa substituição desta última197”.

(MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.251).

194

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.400.

195

SESMA, Victoria Iturralde. El precedente en el common law. Madrid: Editorial Civitas S.A., 1995, p.73; DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual

Civil. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2013, v. 2., p.457. A revogação explícita “ocorre quando

um tribunal, com poder para tanto, diz estar revogando determinado precedente”. (SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do Precedente Judicial à Súmula Vinculante. Curitiba: Juruá, 2011, p.152). O overruling explícito ocorre quando o tribunal reconhece expressamente que o precedente é insustentável para o caso. (NOGUEIRA, Gustavo Santana. Stare Decisis et Non Quieta Movere: a vinculação aos Precedentes no Direito Comparado e Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.184).

196

A revogação tácita é também chamada por Patrícia Perrone Campos Mello e por Francisco Rosito de

transformation. (MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no

constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.235; ROSITO, Francisco. Teoria dos

precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.307). Em sentido similar,

Melvin Aron Eisenberg diz que o transformation ocorre quando uma corte altera entendimento, sem anunciá-lo. (EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the Common Law. London: Harvard University Press, 1991, p.132). Luiz Guilherme Marinoni entende que o transformation é a reconfiguração do precedente, sem revogá-lo, considerando “como fatos relevantes e materiais aqueles, que, no precedente, foram considerados de passagem, atribuindo-se-lhe, diante disso, nova configuração (MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.344-348). O overruling implícito ocorre quando um precedente não pode se sustentar por força do advento de precedente mais recente. (NOGUEIRA, Gustavo Santana. Stare Decisis et Non Quieta Movere: a vinculação aos Precedentes no Direito Comparado e Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.184).

197

SESMA, Victoria Iturralde. El precedente en el common law. Madrid: Editorial Civitas S.A., 1995, p.74; SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do Precedente Judicial à Súmula Vinculante. Curitiba: Juruá, 2011, p.153; DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual

Civil. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2013, v. 2., p.457. Segundo Thomas da Rosa de

2.4.3.2 Retrospective overrluing e prospective overruling

Com relação aos efeitos, a substituição pode operar eficácia ex tunc (retrospective overruling) e eficácia ex nunc (prospective overruling).

No retrospective overruling, o precedente substituído não poderá ser invocado no julgamento de casos ocorridos antes da substituição e que ainda estejam pendentes de

apreciação e julgamento198. É dizer, o entendimento inovador se aplica a fatos e situações

ocorridos no passado199 e ainda não decididos (e a fatos e situações ocorridos no passado,

ainda que não deduzidos em juízo) e aos casos futuros.

A revogação retrospectiva pode ser pura ou clássica. No overruling

retrospectivo puro (eficácia retroativa plena ou full retroactive application200), o novo

precedente se aplica aos fatos ocorridos antes e depois de sua publicação, incluindo aqueles que já foram objeto de sentença transitada em julgado e também aos fatos do caso que o gerou. No overruling retrospectivo clássico (eficácia retroativa parcial ou partial retroactive

application201), o novo precedente se aplica aos fatos ocorridos antes e depois de sua publicação, excluindo aqueles que já foram objeto de sentença transitada em julgado e

também aos fatos do caso que o gerou202.

precedente judicial”. (BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: A justificação e a aplicação das regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012, p.389). Gustavo Santana Nogueira defende que no overruling implícito, a insegurança jurídica aumenta porque existe a dúvida a respeito de que precedente seguir. (NOGUEIRA, Gustavo Santana. Stare Decisis et Non Quieta Movere: a vinculação aos Precedentes no Direito Comparado e Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.184).

198

SESMA, Victoria Iturralde. El precedente en el common law. Madrid: Editorial Civitas S.A., 1995, p.76; TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente Judicial como Fonte do Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.179; CAMARGO, Luiz Henrique Volpe. A força dos precedentes no moderno processo civil brasileiro.

In WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012,

p.569; DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito

Processual Civil. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2013, v. 2., p.457.

199

ROSITO, Francisco. Teoria dos precedentes judiciais: Racionalidade da tutela jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2012, p.331.

200

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.261; ATAÍDE JÚNIOR, Jaldemiro Rodrigues. Precedentes

vinculantes e irretroatividade do direito no sistema processual brasileiro: Os Precedentes dos Tribunais

Superiores e sua Eficácia Temporal. Curitiba: Juruá, 2012, p.167.

201

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.261; ATAÍDE JÚNIOR, Jaldemiro Rodrigues. Precedentes

vinculantes e irretroatividade do direito no sistema processual brasileiro: Os Precedentes dos Tribunais

Superiores e sua Eficácia Temporal. Curitiba: Juruá, 2012, p.167.

202

SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do Precedente Judicial à Súmula Vinculante. Curitiba: Juruá, 2011, p.160. Caio Márcio Gutterres Taranto entende que quando o novo precedente abarca os fatos do caso que o gerou, deve- se dizer que a superação operou eficácia imediata, revogando-se o antigo precedente, “mantendo-se inalteradas as relações jurídicas e decisões regidas pela norma judicada revogada”. (TARANTO, Caio Márcio Gutterres.

Precedente Judicial: Autoridade e Aplicação na Jurisdição Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2010,

A revogação do precedente judicial, nos países originariamente ditos de

common law (Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo), tem, em regra, efeitos retroativos203, porque parte-se da ideia de que a tese nele enunciada estava equivocada ou se tornou incompatível com os valores sociais e com o direito, o que leva a nova decisão a apanhar

todas as situações que ocorreram antes de sua publicação204. A retroatividade assegura o

tratamento isonômico dos jurisdicionados205.

A retroatividade do precedente novo, por vezes, contudo, viola a confiança que os jurisdicionados depositaram no precedente que vigorou em determinando lapso de tempo, salvo se essa confiança já tenha sido abalada por manifestações doutrinárias ou

jurisprudenciais206. Por isso que há casos em que a revogação deve operar eficácia ex nunc207.