• Nenhum resultado encontrado

II Revisão da Literatura

1. Desenvolvimento Positivo da Juventude

1.3. Conceitos e vocabulário

Associado a esta nova visão da juventude, surge um novo vocabulário referindo o desenvolvimento juvenil e incluindo termos, tais como: bem-estar (well-being), florescer (flourishing), prosperar (triving), e os “Cinco Cs”14, para descrever um desenvolvimento que se está a processar bem. Os problemas de comportamento, as disrupções e os comportamentos de risco continuaram a ser medidos e estudados, mas verificou-se que a atenção de muitos investigadores se ocupa atualmente em nomear, definir e avaliar os constituintes do desenvolvimento ótimo (Theokas, et al., 2005).

13

Citados por Fraser-Tomas, Côté, & Deakin, (2005, p. 3).

14

24

A propósito das alterações de vocabulário e de conceitos, o Search Institute15 propôs e avaliou sete indicadores comportamentais de desenvolvimento que incluem (a) sucesso escolar, (b) liderança, (c) ajuda aos outros, (d) manutenção da saúde física, (e) adiamento da gratificação, (f) valorização da diversidade, e (g) ultrapassagem da adversidade (Benson, 1997; Scales, et al., 2000).

Numa posterior revisão de literatura, levada a cabo pelo mesmo instituto, em 2006, onde se referem 40 recursos de desenvolvimento, constatou-se que estes indicadores de prosperidade geralmente estão relacionados com outros resultados positivos, tanto em termos de resultados proximais durante o curso da adolescência, como de resultados mais distais do início da idade adulta e que refletem a aquisição de competências/habilidades necessárias ao desenvolvimento.

A propósito da dificuldade que a proliferação de termos e conceitos relacionados com o Desenvolvimento Positivo da Juventude veio trazer ao discurso científico, Jodie Roth alertou para a situação criada pela multiplicidade de expressões que facilmente assumem significados diferentes para diferentes autores. Como exemplo citamos duas das expressões utilizadas nas várias definições propostas: “adolescentes saudáveis, felizes e competentes”, ou “idade adulta produtiva e satisfatória”. Na verdade enquanto a segunda expressão pode corresponder, para uns, a autonomia económica, para outros pode significar estabilidade psicológica e bem-estar. A mesma confusão verifica-se em relação ao que deve constar de uma lista de fatores de Desenvolvimento Positivo da Juventude, porquanto também aqui não se encontrando consenso (Roth, 2004).

No ano 2000, Lerner, Fisher e Weinberg chamam a atenção para os resultados importantes do desenvolvimento positivo das crianças, isto é, para as caraterísticas de desenvolvimento da juventude saudável, dizendo que:

15

Há mais de 50 anos, Search Institute tem sido líder e parceiro de organizações de todo o mundo investigando as causas do sucesso no desenvolvimento juvenil. O conhecimento e os recursos desta instituição doa Estados Unidos da América têm ajudado na motivação e

formação de adultos educadores e cuidadores em de escolas, comunidades e famílias onde os jovens se desenvolvem.

Com base em pesquisas feitas, publicações e no trabalho realizado em escolas e com jovens, serviram já organizações em mais de 60 países.

25

“(…) deveria ser assegurado que as famílias teriam capacidade para providenciar aos seus filhos envolvimento e expectativas, satisfação das suas necessidades físicas e de segurança, clima de carinho, inculcação da autoestima, encorajamento ao desenvolvimento, valores positivos e a possibilidade de estabelecerem ligações à comunidade” (…) “os programas e as políticas deviam assegurar que os recursos de que estas famílias necessitam para criarem e socializarem as suas crianças estão disponíveis” (…) “Se os programas estiverem, efetivamente, facultando estes recursos, vários seriam os resultados que deveriam florescer entre os jovens. Esses resultados poder-se-ão resumir em “5Cs”: Competência, Conexão, Confiança, Caracter e Compaixão16” (Lerner, Fisher, & Weinberg, 2000, p. 16).

Esta abordagem nascente permitiu, a partir de meados da década de 9017, categorizar os resultados do Desenvolvimento Positivo da Juventude em cinco Cs que representam grupos (clusters) de atributos individuais: (1) Competência académica, social e vocacional, habilidade intelectual e competências comportamentais; (2) Confiança, identificação positiva de si mesmo, sentido de auto eficácia e coragem; (3) Conexões (ligações) com instituições, com a comunidade, com a família, e com os pares; (4) Caráter ou valores positivos, humanos, integridade e compromisso moral, sentido de justiça; (5) Cuidado (caring) e compaixão, respeito e empatia. Os autores sugeriram que quando um jovem manifesta os 5Cs ao longo do seu desenvolvimento se pode concluir que está num trajeto de desenvolvimento próspero (Lerner, et al., 2000).

Mais recentemente, um outro “C” – Contribution – foi acrescentado aos atributos do Desenvolvimento Positivo da Juventude uma vez que se entendeu que, a emergência dos cinco atributos anteriores no desenvolvimento de um adolescente será indicadora da existência de um sexto: a “contribuição” desse jovem para si mesmo, para a família, para a comunidade e, em última análise, para a sociedade civil (Lerner, 2004; Lerner, et al., 2005b).

Um reforço deste modelo, dos 5 Cs, surge com os estudos de King e colegas (2005), através dos quais vai crescendo o suporte empírico para o uso dos cinco ou seis Cs como indicadores da presença de desenvolvimento positivo nos jovens.

Ao mesmo tempo continuam a usar-se conceitos como thriving e Well-being entre outros. Para além disso, permanecem na literatura termos associados a

16 A tradução das expressões – competence, confidence, connections, character e caring – foi

feita usando a palavra mais próxima, em português, com o sentido da inglesa, mas respeitando a letra inicial “c”.

17

Primeiras referências a estes atributos aparecem, segundo Lerner et al. (2000), em: 1989 na Carnegie Concil on Adolescent Development; 1993, com R. R. Little, e em 1995, com o próprio R. M. Lerner

26

outros modelos teóricos do desenvolvimento da juventude, inclusivamente, dos modelos de defice, de tratamento e de prevenção. Segundo King e colegas, coexistem termos identificados com o Desenvolvimento Positivo da Juventude que diferem na sua dimensão conceptual genérica com termos usados na sua dimensão operacional mais específica e por conseguinte talvez contrastem quanto a referenciar resultados específicos ou indicadores de desenvolvimento positivo. Por exemplo, termos como “bem-estar” ou “prosperidade” são mais genéricos do que qualquer um dos termos relativos aos cinco Cs que, por sua vez, são mais genéricos que conceitos como autoestima ou competência académica ou competências sociais (King, et al., 2005).

Na tentativa de clarificar um pouco esta questão relativa aos conceitos e vocabulário, surgiram vários estudos (Benson, et al., 2006; Damon, 2004; Dotterweich, 2006; Fraser-Tomas, et al., 2005; Lerner, 2005; Lerner, et al., 2000; Lerner, et al., 2006; Lerner, et al., 2002; Roth, 2004; Scales, et al., 2000; Theokas, et al., 2005) mas a questão está longe de um consenso total. Numa análise da literatura referente ao Desenvolvimento Positivo da Juventude, de 1991 a 2003, em que foram objeto de estudo 5.500 artigos, King e colegas (2005) concluíram que não tinha ainda emergido uma rede pertinente de conceitos em torno do Desenvolvimento Positivo da Juventude.

Segundo Benson e colegas (2006), a falta de consenso em relação à terminologia reflete a relativa novidade deste campo de investigação e da sua natureza profundamente interdisciplinar. Revendo numerosas definições concernentes ao vocabulário do Desenvolvimento Positivo da Juventude, estes autores concluem que estas se organizam em combinações de cinco construtos centrais:

(a) Os contextos de desenvolvimento de que fazem parte o envolvimento, as caraterísticas dos programas, os envolvimentos e as relações com a comunidade que tenham potencial para gerarem suportes, oportunidades e recursos; b) o aspeto pessoal da natureza da criança e, especialmente, a sua inerente capacidade de se desenvolver, prosperar e de participar ativamente no seu contexto de suporte; (c) outro aspeto individual, o das competências desenvolvimentais do jovem, tais como atributos, incluindo habilidades,

27

competências, valores, disposição para se comprometer ativamente com mundo; (d) a redução dos comportamentos de risco (e) e a promoção do êxito (thriving), sendo os dois últimos considerados como construtos complementares do desenvolvimento de sucesso.

Vasto foi, segundo Benson (2006), o vocabulário utilizado vários por autores, pensadores e práticos, relativo ao Desenvolvimento Positivo da Juventude. No Quadro 1, este investigador ilustra a diversidade da referida terminologia, exemplificando as expressões mais representativas desse vocabulário relativas às forças ou competências pessoais e do contexto, aos recursos desenvolvimentais e à natureza dinâmica da interação pessoa-envolvimento, utilizadas por quatro reconhecidas instituições de investigação do Desenvolvimento Positivo da Juventude.

28

Quadro 1 – Vocabulário do Desenvolvimento Positivo da Juventude

Contexto Pessoa Sucesso do

Desenvolvimento Search Institute (Recursos desenvolvimentais)a Recursos Externos: . Suporte . Empowerment18 . Limites e expectativas . Uso construtivo do tempo Recursos Internos: . Compromisso com a aprendizagem . Valores positivos . Competências sociais . Identidade positiva Indicadores de Prosperidade: . Ajuda os outros . Supera a adversidade . Exprime liderança . Valoriza a diversidade . Mantem boa saúde . Adia a gratificação . Tem sucesso escolar . Resiste ao perigo National Research Councilb Caraterísticas positivas de programas (settings) de desenvolvimento Recursos pessoais e sociais America’s Promise – The Alliance for

Youth (As cinco Promessas)c

. Adultos cuidadores . Oportunidades de prestar serviço . Lugares seguros . Começo saudável Habilidades transacionáveis

Forum for Youth Investment (Os Cinco Cs)d Conexões (ligações) . Carater . Competência . Confiança Cuidado/compaixão

a) Scales, P. C., & Leffert, N. (2004). Developmental assets: A synthesis of the scientific research (2nd ed.). Minneapolis: Search Institute;

b) National Research Council and Institute of Medicine. (2002). Community programs to promote youth development. Washington, DC: National Academy Press;

c) Retrieved October 16, 2006, from www.americaspromise.org;

d) Pittman, K., Irby, M., & Ferber, T. (2001). Unfinished business: Further reflections on a decade of promoting youth development. In P. L. Benson & K. J. Pittman (Eds.), Trends in youth development: Visions, realities and

challenges (pp. 3–50). Boston: Kluwer Academic, p. 8.

18

Empowerment surge como um modelo teórico formulado por Julian Rappaport (1977) integrado na perspetiva do

Desenvolvimento Positivo, partindo do pressuposto de que o bem-estar das pessoas depende da sua capacidade para controlar o curso das suas vidas, tomar decisões e orientar as suas ações. A realização pessoal surge assim da perceção de competência que cada um tem para resolver os desafios que enfrenta (Escartí, et al., 2009). É um processo de reconhecimento, criação e utilização de recursos e de instrumentos pelos indivíduos, grupos e comunidades, em si mesmos e no meio envolvente, que se traduz num acréscimo de poder - psicológico, sociocultural, político e económico - que permite a estes sujeitos aumentar a eficácia da sua cidadania (Pinto, 1998). Em português pode ser traduzido por “empoderamento”, como com alguma frequência já aparece em artigos das ciências sociais, ou “conferir poder”, “capacitação”, “fortalecimento” e mesmo por “autonomia”. No entanto, a expressão inglesa é a mais comum na literatura especializada, pelo que a manteremos ao longo do presente trabalho.

29

Embora com traços comuns, nas diferentes contribuições, que pretendem alcançar definições mais universais e consensos mais abrangentes entre estudiosos, ressaltam as diferenças terminológicas. Na verdade, apesar dessas divergências, todos os investigadores buscam conhecer os contributos, os componentes, ou recursos necessários para ajudar ao sucesso do desenvolvimento do jovem no seu trajeto para a vida adulta. Daí que a lista resultante inclua globalmente recursos humanos (pessoais e contextuais), experiências e oportunidades nos vários contextos que podem influenciar o desenvolvimento, ou seja, a família, a escola, os amigos, os vizinhos e o contexto social mais alargado.

A este propósito lemos em Benson e colegas: “A atual falta de consenso numa definição específica [de Desenvolvimento Positivo da Juventude], que reflete a novidade deste campo de estudo assim como a sua natureza profundamente interdisciplinar, oculta a quantidade de terreno comum que pode ser encontrada.” (2006, p. 2)

Numa coisa estão de acordo a teoria, a investigação empírica e a prática: quer os recursos pessoais, quer os recursos sociais, são fundamentais para o desenvolvimento positivo. Os jovens precisam de acesso a lugares seguros, a desafios, a experiências e à atenção dos outros para crescerem (Roth, 2004).

1.4. Caraterísticas dos programas de Desenvolvimento Positivo da