• Nenhum resultado encontrado

Nível I Respeito pelos

2.5. Perfil de professor

“Na minha opinião, quem é o professor, faz mais diferença do que qualquer outro fator por si só e, provavelmente, do que qualquer combinação de fatores, quando se pretende implementar um modelo de intervenção por objetivos” (Hellison, 1978, p. 24).

Para poder ensinar responsabilidade e ganhar a confiança dos jovens, o professor deve ser competente, quer nos conteúdos estritamente desportivos quer no ensino dos valores que propõe (Hansen & Parker, 2009).

Ao professor ou treinador pede-se que seja capaz de:

 Tratar os alunos como pessoas, com necessidades e interesses emocionais, sociais, físicos e intelectuais.

 Reconhecer os alunos como indivíduos lutadores, fortes, com voz própria e capacidade de decisão.

 Criar um ambiente física e emocionalmente seguro para a aprendizagem e para o desenvolvimento.

 Estabelecer com os alunos ligações pessoais e pedagógicas de qualidade.

69

O Modelo de Responsabilidade é implementado através da integração dos seus objetivos nas atividades físicas do desenvolvimento da condição física, dos jogos, ou de outras atividades menos tradicionais e alternativas (Wright, et al., 2004). É portanto pedido ao responsável pela implementação do programa, seja qual for a atividade ou o contexto, um perfil exigente, quer do ponto de vista das suas caraterísticas relacionais pessoais, quer do ponto de vista da sua formação profissional (Hellison, et al., 2000).

O conhecimento profissional exigido a um professor é de “natureza compósita”30

e para ele contribuem as caraterísticas pessoais do mesmo, a sua formação científica (da área de conhecimento que ensina e das ciências da pedagogia) e o processo de reflexão sobre a sua própria prática (Roldão, 2007).

Hellison diz no capítulo final do seu livro “Goals and Strategies for Teaching

Physical Education“ (1985, p. 163) que o Modelo de Responsabilidade tenta

implicar a humanidade de professores estudantes e treinadores. Aos professores exige que tenham confiança suficiente nas suas capacidades para estarem abertos a incorporar as componentes do modelo no programa e sensibilidade para partilharem problemas com os alunos, para refletirem e analisarem o seu próprio estilo (de ensino) e para se sentirem suficientemente criativos para mudar o que tiver que ser mudado.

Mais tarde, Hellison faz suas as palavras de Bill Ayers (1989)31:

“Não existe uma linha muito definida que distinga a pessoa e o professor. Em vez disso parece haver uma ligação contínua entre ensinar e ser, entre ser professor e ser pessoa. Ensinar não é simplesmente o que uma pessoa faz é mais o que uma pessoa é.”

Referindo-se às qualidades e skills necessários para aplicar o seu modelo de intervenção, Hellison (2003) começa pelo “sense of purpose”, sentido de finalidade, isto é, acreditar verdadeiramente que se pode fazer alguma coisa pelos jovens e ter a intenção moral de desenvolver um certo tipo de ser humano. Esta caraterística exige, no contexto do Modelo de Responsabilidade,

30 “Compósita” e não composta. “Não se trata de conhecimento constituído de várias valências

combinadas por lógicas aditivas, mas sim por lógicas conceptualmente incorporadoras (…) não basta que se adicionem os conhecimentos de várias naturezas mas que eles se transformem, passando a constituir-se como parte integrante uns dos outros” (Roldão, 2007, p. 100).

31

70

que o professor tenha os Níveis de Responsabilidade Pessoal e Social “incorporados”, feitos seus e que acredite nas suas potencialidades educativas e os “acalente”.

Hellison continua dizendo na mesma obra que só o sentido da finalidade não é suficiente. É obrigatório que se reconheça o jovem como digno de respeito como ser único, com os seus valores próprios, as suas aspirações, os seus medos e perceções, que merece ser ouvido, com quem se conversa, se negocia e, em resumo, com quem o professor se preocupa e trata com dignidade. Ser capaz de ouvir é uma forma fundamental de preocupação de interesse.

Daí resulta outra qualidade do professor que deseja aplicar o Modelo de Responsabilidade: ser capaz de ouvir e de se interessar. Ser interessado e ter capacidade de escutar um aluno requer, por parte do professor, que seja genuíno (Hellison, 1995, 2003). Isto exige que se expresse com humanidade e compreensão de uma maneira apropriada, importando-se sinceramente com eles. De outra forma o diálogo não servirá de nada.

O que foi dito, implica aceitar em si mesmo alguma vulnerabilidade. Particularmente os alunos mais problemáticos, do ponto de vista disciplinar, podem aproveitar-se da compreensão e da abertura ao diálogo por parte do professor, mas isso é um risco que o professor tem que estar disposto a correr. Há que ser capaz de recuar, procurar a estratégia melhor, conversar individualmente, propor compromissos. Por outro lado, reforça Hellison (1995, 2003), a vulnerabilidade é para equilibrar com capacidade de confrontação isto é, também é importante ser capaz de confrontar os alunos com os seus atos, mostrar-lhes os abusos, a argumentação inválida, a falta de esforço, o seu egocentrismo e outras falhas. A isso obriga também o ser genuíno.

Ao professor é necessária também a intuição e a autorreflexão. Ser capaz de ler, quer o aluno quer as situações, a partir de poucas “pistas”, é nisto que consiste a intuição. É uma caraterística que resulta muito da mobilização que o professor faz das suas aprendizagens anteriores e da reflexão sobre os acontecimentos. É uma bagagem que se vai acumulando. Ser capaz de avaliar indivíduos e grupos, para determinar quanto serão capazes de aguentar e

71

saber quando há que abandonar uma ideia, são questões de autorreflexão. A reflexão diária sobre o que se vai passando ajuda a reconhecer os problemas, a pensar em soluções e a avaliar essas soluções aplicadas.

Por fim, Hellison (1995, 2003) fala de uma última caraterística, a seu ver importante, para implementar o Modelo de Responsabilidade. Ele refere que a dureza da vida profissional de um professor, com grupos grandes de alunos e com um horário cheio, só se leva avante com sentido de humor e com um espírito brincalhão. Estas duas caraterísticas, defende, são a melhor proteção contra o esgotamento (burnout), bem como sublinha que, dentro do sentido de humor, o mais importante é a capacidade de se rir de si mesmo.

Martinek (2001) descreve também algumas qualidades como imprescindíveis a um bom mentor que, mais tarde, Escartí e Marín (2005, cap. 3) subscrevem num capítulo dedicado às qualidades e atitudes que deve exercitar o professor responsável pelo Modelo de Desenvolvimento da Responsabilidade Pessoal e Social. Essas qualidades e atitude são as seguintes:

Apreciar a companhia dos alunos porque eles são sensíveis aos adultos que os entendem e os respeitam; cultivar valores pessoais, pois estes são parte do processo da influência que o professor vai exercer sobre os alunos; ser paciente, compreender os erros dos jovens e dar-lhes oportunidades e formas de os repararem; manter as promessas e cumpri-las de forma a construir a sua credibilidade junto dos alunos; comunicar de forma eficaz, aprendendo as componentes da comunicação humana para conseguir uma boa relação com os seus alunos.