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III Metodologia

1. Enquadramento metodológico

Segundo Strauss e Corbin (2008), o termo “pesquisa qualitativa” refere “qualquer tipo de pesquisa que produza resultados não alcançados através de procedimentos estatísticos ou de outros meios de quantificação”. Os mesmos autores consideram que este tipo de investigação se pode “referir à pesquisa sobre a vida de pessoas, experiências vividas, comportamentos, emoções e sentimentos, e também à pesquisa sobre funcionamento organizacional, movimentos sociais, fenómenos culturais e interações entre nações.”.

Para Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa possui cinco caraterísticas: o investigador é o instrumento principal de recolha de informação; a investigação é descritiva; o investigador interessa-se mais pelo processo do que apenas pelos resultados; os dados tendem a ser analisados de forma indutiva; e o significado dos dados para o participante é de importância vital

A escolha deste método pareceu-nos pertinente no presente estudo pois os procedimentos e orientações da abordagem qualitativa correspondiam ao tema do trabalho – educação – ao material de investigação utilizado e aos nossos objetivos.

Usando o método qualitativo, procurámos uma aproximação ao complexo tema da educação de valores. Desta feita, através do estudo de um modelo de intervenção pedagógica que se desenvolve tendo como meio a atividade desportiva, o modelo de Desenvolvimento da responsabilidade Pessoal e Social de Hellison (DRPS ou MR).

A perspetiva qualitativa na investigação em educação, tem vindo a ganhar maturidade ao longo das últimas décadas. Segundo Bogdan e Biklen (1994), a partir dos anos sessenta e, mais significativamente, da década de setenta, a investigação qualitativa ganha o seu espaço como método não “marginal” e começa a ter apoio de instituições que estimulam a investigação, adquirindo definitivamente o reconhecimento como método avaliativo (Bogdan & Biklen, 1994).

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Os dados recolhidos numa investigação qualitativa têm algumas caraterísticas específicas. São normalmente em forma de palavras, ou imagens, ou sons não totalmente redutíveis a números. Uma vez que os resultados escritos têm obrigatoriamente referência a este tipo de dados para ilustrar ou substanciar a apresentação, não pode haver grande redução de páginas contendo essas narrativas ou essas imagens

O facto de alguns dados poderem ser estatisticamente estudados, como é o caso da frequência com que determinada categoria é referida pelos entrevistados, não invalida a classificação do método como qualitativo. Acontece que se trata, verdadeiramente, de informação, que podendo ser quantificável, o seu interesse para a investigação não resulta fundamentalmente da sua validade estatística mas da sua relevância no contexto do estudo.

Considerámos que a forma de investigação que se adaptava melhor à presente tese seria o estudo de caso, pois este é pertinente quando se pretende fazer um estudo de uma realidade humana socialmente complexa. Este tipo de estudo apresenta uma grande tradição nas ciências sociais e humanas, muito particularmente em estudos sobre educação. O estudo de caso permitiria, no presente trabalho, a reunião de informação e a sua interpretação de forma a possibilitar chegar a conclusões e tomar decisões a respeito dos tópicos em apreço.

Segundo Stake (2009, p. 18), “um caso é uma coisa específica, uma coisa complexa e em funcionamento.”; isto é, se ao objeto de estudo falta especificidade, ele deixa de ter a particularidade para se poder considerar um estudo de caso. Acreditámos, desde início, que a natureza peculiar do modelo em causa justificaria, ao longo deste estudo, a nossa opção.

O objetivo do nosso estudo - compreender de que forma determinado modelo de intervenção pedagógica promove o desenvolvimento positivo dos jovens – caracteriza-o como um estudo de caso instrumental, pelo facto de, para além de ter uma intenção explicativa, visar a aquisição de um conhecimento mais profundo das variáveis envolvidas que nos permitirá posteriormente, inclusivamente, orientar outros estudos ou pesquisas.

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Não podemos esconder que, apesar não aspirarmos fazer generalizações sobre modelos de intervenção pedagógica, pretendemos no entanto ultrapassar a compreensão do caso em si, abrindo portas para o conhecimento mais claro sobre a intervenção através do desporto, as suas potencialidades de desenvolvimento, os seus atores, fatores condicionantes e resultados. Particularizar, de forma a conhecer melhor o que fazem e pensam os especialistas entrevistados foi, por isso, uma meta nossa investigação.

A escolha deste caso deveu-se ao facto de se ter tornado possível o acesso privilegiado a um grupo de especialistas de relevância científica, o que nos permitiria maximizar a nossa aprendizagem sobre este modelo através de entrevistas presenciais.

A riqueza e a vastidão dos fatores e relações que se adivinhavam levaram-nos a tentar estabelecer perguntas de investigação que, de alguma forma, nos ajudassem a definir fronteiras em relação ao que seria estudado, não cobrindo evidentemente todas as potencialidades do material a recolher mas ajudando- nos a reduzir a área de investigação para um tamanho viável.

Ao estabelecer determinadas questões de pesquisa tentámos, por outro lado, manter uma certa flexibilidade e liberdade que nos permitisse evoluir com a própria investigação para nos mantermos disponíveis para a descoberta proporcionada pelos dados em si.

A este respeito, Strauss e Corbin (2008, p. 51) referem “… na base desta técnica para pesquisa qualitativa está a suposição de que nem todos os conceitos (e relações) pertencentes a um determinado fenómeno foram ainda identificados, pelo menos não nesta população ou neste local.” Por isso se justifica que se mantenha, durante o estudo, abertura a novas perguntas e/ou a aceitação de que outras inicialmente formuladas venham a permanecer sem resposta. Esta flexibilidade é uma caraterística do planeamento da investigação através do estudo de caso.

Este posicionamento, a que chamaríamos expectante, coexiste, a bem da qualidade da investigação, com um esforço de objetividade num equilíbrio constante entre a nossa interferência como pesquisadores e o ato da pesquisa.

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Surgem-nos assim algumas questões iniciais de pesquisa a respeito do entendimento que têm os protagonistas deste processo em sobre temas em estudo:

- O que caracteriza o Desenvolvimento Positivo da Juventude?

- O que caracteriza o modelo de intervenção de Desenvolvimento da Responsabilidade Pessoal e Social de Hellison?

- A que aspetos das atitudes e crenças dos professores é dada mais importância?

- Quais são as principais caraterísticas definidoras do perfil do professor/monitor que trabalha DRPS?

- Que visão dos jovens é adotada por parte dos gestores dos processos?

- Que caraterísticas do modelo de Hellison concorrem para a promoção do Desenvolvimento Positivo da Juventude?