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Conceitos fundamentais estimuladores em doses vibracionais

CAPÍTULO 1 Primeiros rastros

1.7. Conceitos fundamentais estimuladores em doses vibracionais

Esta sequência de exposição das frentes de trabalho como estimuladores das sensibilidades de forma sutil, direta e introdutória vem a título de esclarecimento para o leitor do porquê escolhi este caminho poético e não outro.

Tem a intenção de preparar para um mergulho reflexivo de um processo criativo disparado pela carta do Louco, mas regido por diferentes referenciais, ou seja, neste processo criativo há um disparador, mas não hierarquias, pois cada elemento deslocou-se em importância em algum momento para compor e agregar ao todo, alimentando o imaginário de forma igualmente protagonista.

Esta estratégia pretende apenas autorizar para abrir percepções mais profundas sobre diversos fatores que influenciam uma criação, mas por vezes, não estão nela tão explícitos. No caso desta pesquisa, são eles o teatro, o tarot, os aromas de óleos essenciais e a mitologia pessoal.

a. Teatro de improvisação

O teatro é uma área de conhecimento específica, que traz em si elementos que, para esta pesquisa, considero fundamentais: a efemeridade do ato instantâneo, não passível de reprodução, acessando níveis diferentes de repetição e criação de cada apresentação; e a possibilidade de transgredir campos energéticos pela diversidade de linguagens pela sobreposição.

Teatro como ampliação de interpretações, portador de símbolos que transita entre os diferentes suportes de linguagem; e não como representação ou imitação. Teatro como linguagem que transborda seus próprios referenciais e busca a imaginação pela desacomodação do inusitado – tanto para o espectador como para

o artista, como seres emocionais criativos e criadores da própria realidade simbólica maleável.

Seu caminho criativo e técnicas disponibilizadas para a tentativa de uma repetição apenas como rastro organizador de uma improvisação – o fio de Ariadne86 que leva para o encontro cara a cara com o Minotauro87, mas também propicia que ela regresse de onde veio, com o intuito de refazer-se consciente da própria transformação.

O teatro aqui como convite à dilatação lúdica do inesperado. Teatro como arte que também improvisa, tentando duvidar de si mesma: esbarrando a maior parte do tempo na criação instantânea e espontânea que na reprodução sem inovações de si – através da repetição como contato com a imaginação, como ritual de tentativa de acesso ao inconsciente.

b. Tarot

O tarot é um livro sagrado de imagens que percorremos através de lâminas. É a tentativa ancestral de uma organização linear da jornada que nos acolhe e atormenta: rituais de passagem mobilizados por ciclos de vitalidade que implicam o risco tanto de vida como de morte – de algo que é importante para nossas aprendizagens.

Portador de uma dramaturgia tradicional quando em sequência, nos assegura que na vida, para tudo, existe começo, meio e fim, mas que, no entanto, nos obriga a reorganizar nosso próprio acervo de imagens – o inconsciente – quando se expressa em (des) ordens não lineares, onde passado, presente e futuro se encontram, numa só regência atemporal do aqui e agora.

Faz emergir do mundo subterrâneo escavações de experiências significativas que ainda nos despertam emoções, por isso nos convidam a refletir sobre situações

86 Ariadne, na mitologia grega, princesa de Creta, conhecida por ter se apaixonado pelo herói Teseu e ser esposa de Dionísio.

87 Minotauro, personagem mítico que habitava o labirinto construído por Dédalo e famoso por ter sido tão bem projetado que quem entrasse não encontrava a saída e era devorado pelo Minotauro. Ariadne ajudou Teseu, presenteando o herói com uma espada e um fio de lã para que ele achasse o caminho de volta deste labirinto.

não resolutas, potentes para a criação como reinvenção simbólica de si mesmo, atualizando o próprio processo de individuação.

c. Aromaterapia

Aroma, odor, ar: elemento da natureza. Fumaça para alguns, transporte para outros. Brumas de outros mundos.

Quando Pawanã, cacique dos kariri-xocó, nos oferece um paui, isto é, um cachimbo, ele está nos convidando a conversas com o Grande Espírito – o ambiente está rodeado por outros elementos da natureza além do ar e tudo está integrado, pois faz parte de um só processo de transformação maior e constante.

Quero dizer que, se o tabaco e as cascas de árvore ou ervas misturadas no cachimbo representam nossa relação com a terra; a saliva que se forma dentro da boca é a transmutação do elemento terra em água – que apenas foi possível pela ação do fogo que acendeu o tabaco e transformou a brasa da sinergia das ervas em ar; intencionalizando desejos de quem escolhe, através do corpo numa organicidade dos elementos, conversar em pensamento com o Grande Espírito para através de palavras direcionar desejos do que é melhor para si e para o coletivo.88

Esta me parece ser a essência da aromaterapia em todos os tempos: expressão dos ciclos dos elementos da natureza envolvidos por agradecimento – um treinamento para o compreender o movimento da morte de cada ato até o findar de todos os ciclos, quando nós viramos fumaça.

Vital observar que, ao findar o processo com o paui, se devolve a energia da terra de forma concreta, a salivação volta à sua origem, alimenta a terra para que novas futuras sementes possam voltar a brotar na terra – a gratidão é expressa de forma imediata e retroalimenta a fonte. No entanto, esse processo é natural, é um código cultural que representa a interiorização de um grau de respeito à natureza que é automático. Com os aromas de óleos essenciais, isto também ocorre, mas não é tão visível – e se concretiza em solidarizar descobertas sobre nossos

88 Informação compartilhada com Pawanã, a propósito de perguntas que fiz sobre o uso e sobre o significado do paui, em aula aberta na UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas - no gramado da Faculdade de Educação. Encontro promovido pelo coletivo de apoio que anualmente recebe a tribo kariri-xoxó em Campinas.

bloqueios emocionais ou percepções com alta qualidade vibracional: assim as plantas sentem que cumpriram seus propósitos espirituais, que foram coerentes com seu processo de individuação. Tal como, elas se avisam através das raízes que um predador está próximo, elas celebram com a mesma intensidade quando um bloqueio emocional foi compreendido; ou altas vibrações foram expandidas. E isso ocorre com frequência quando associamos alguma prática artística ao seu uso, com destaque para o canto – que creio que não por acaso, amplia a relação orgânica com seus fins energéticos, ampliando seus propósitos vibracionais.

d. Mitologia pessoal

Mito, fantasia ou acesso ao inconsciente? Inconsciente: expansão e não camadas ou compartimentos. Sequência imagética não-linear, que pode ser acessada a partir de qualquer ponto energético do universo. Mito como matéria- prima do inconsciente, ancestral e fractal.

A mitologia pessoal é um arquivo de imagens que dispara experiências sensíveis únicas para cada um, mas com um acervo que conversa, converge e transpira humanidades, isto é, experiências significativas com conteúdos emocionais comuns entre nós, que vivenciadas demonstram a singularidade de cada ser em expressividade. A mitologia pessoal quando dilatada forma campos energéticos que mapeiam e respondem pelas nossas diferentes experiências e emoções neste mundo, abrindo fendas atemporais para a criação.

Portanto, tudo que acessa a imaginação e dispara a criatividade a partir da mitologia pessoal e o uso aprofundado dos sentidos – se sonhamos ou estamos acordados – faz parte desta mitologia. Quando esse imaginário se repete, estamos entrando em contato maior com ela, aprofundando nossas questões urgentes para o amadurecimento e consciência da nossa individuação. Logo, quando temos um sonho de repetição ou em obras artísticas repetimos a mesma persona, nossa investigação sobre nós se verticalizou.

Mitologia pessoal é tudo que armazena, conserva, transforma e dispara tanto comportamentos condicionados como inesperados – ela tem um potencial de integrar sombras sem separar emoções em dualidades porque compõe a

possibilidade infinita de criar, ressignificar e expressar através do corpo nossas histórias. Ela é uma forma de processar o potencial regenerador do inconsciente.

A mitologia pessoal promove uma permissão de acesso aos portais energéticos referentes ao nosso estilo: provindo do exercício constante da imaginação pela busca da nossa assinatura vibracional criativa dinamizada, especificamente, em nossas criações.

Portanto, pode-se dizer que mitologia pessoal é a forma de acesso, a metodologia, o como se manifesta num processo criativo autoral; e a assinatura vibracional criativa é a utopia da autenticidade do nível de compromisso com nosso processo de individuação que é catalisado por criações que usam, propositalmente, esse acervo de imagens e sensações.

CAPÍTULO 2 – 2.1. BOBA: UMA LACUNA E ANTENA DE TRANSMISSÃO