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Sobre concepção, é fundamental, preliminarmente, distingui-la da palavra percepção 910. A concepção surge como resultante de uma reação captada como percepção e é imanente aos sentidos, mas transcende a eles na formulação racional dada à compreensão, seja como uma ideia ou um conceito concebido ou interpretado. Assim, podemos dizer que é a maneira como são tratados tanto os pressupostos lógicos quanto os hermenêuticos. Entretanto, no sentido com o qual elaboramos as ideias como fundamento de uma concepção que aponta

9 A percepção pode ser definida por diversas acepções, mas nos limitaremos a três delas, pois são as que consideramos mais inteligíveis aos sentidos aqui abordados: 1) “Conhecimento que o eu possui dos seus estados e dos seus atos

através da consciência (percepção interna). 2) “Ato pelo qual um indivíduo, organizando imediatamente suas sensações presentes, interpretando-as e complementando-as com imagens e lembranças, afastando tanto quanto possível o seu caráter afetivo e emotivo, opõe a si um objeto que julga espontaneamente distinto dele, real e por ele conhecido atualmente (percepção exterior)”. (LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São

Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 804). 3) “PERCEPÇÃO INTELECTIVA (it. Percezione intelellettiva). Foi assim

que Rosmini chamou o ato fundamental do conhecimento, enquanto síntese entre ideia do ser em geral e a ideia empírica que deriva da sensação (das coisas externas) ou do sentimento (que o eu tem de si) (Nuovo saggio

sull’origine delle idee, 1830, §§ 492, 537 etc.).” (ABBAGNANO, 2007, p. 880).

10 “[...] a percepção sensível é ou uma potência como a visão ou uma atividade como o ato de ver; mas algo pode

aparecer para nós mesmo quando nenhuma delas subsiste – como, por exemplo, as coisas em sonhos. Além disso, a percepção sensível está sempre presente, mas não a imaginação. E se ela fosse o mesmo que a percepção sensível em atividade, então seria possível subsistir imaginação em todas as feras; mas não parece ser assim, por exemplo, nas formigas, abelhas e vermes. Depois, as percepções sensíveis são sempre verdadeiras e a maioria das imaginações é falsa. Além disso, quando estamos em atividade acurada no que concerne a um objeto perceptível, não dizemos que ele aparenta ser um homem, mas antes quando não o percebemos claramente. É neste caso que a percepção seria verdadeira ou falsa. E, como já dissemos, imagens aparecem para nós mesmos de olhos fechados.” (ARISTÓTELES, 2006, p. 111).

nas contradições os elementos definidores à dialética, a percepção ganha relevo para a nossa análise. Se identificada a subjetividade intrínseca dos sujeitos mediante os cenários de desigualdade e injustiça enquanto dados concretos, reais, podemos a partir daí observar como são internalizados e externalizados como uma referência perceptiva que influencia as diversas formas de relação com o social estabelecido e que têm papel decisivo na compreensão e na linguagem, e, consequentemente, na concepção.

Quando refletimos, inicialmente, acerca do objeto da pesquisa, deparamos com a possibilidade de confundir aquilo que seria fundamental de ser detectado, a percepção em si, enquanto imanente às espécies vivas racionais, sobretudo. Uma condição do sentido que possibilita acesso às diversas variáveis observáveis no comportamento humano; nessa pesquisa, especialmente a variável latente, cuja subjetividade, até mesmo como expressão, é distintiva de cada pessoa, aditiva da sensação e da busca da subsistência, inclusive das espécies vivas irracionais e, nos seres humanos, consubstancia sua capacidade desiderativa, aporta orientações aperceptíveis que estabelecem valores e sentido àquilo considerado e percebido por nós ao relacionarmos ao bom, ou ao ruim e ao bem, ou ao mal, por exemplo, na qualidade de designativos das relações em sociedade, por conseguinte, fundamentais à

concepção humana. Dessa forma, deixamos mais aclaradas nossas distinções firmando que as percepções humanas estabelecem a partir de si as concepções11 e é dessa forma que

11CONCEPÇÃO: “D. Konzeption, Begriffsbildung nos três sentidos, sendo Begriff mais amplo em alemão do que

conceito em português; E. Conception; F. Conception; I. Concezione. 1º Enquanto operação: A. Todo ato de pensamento que se aplica a um objeto. B. Mais especialmente, operação do entendimento oposta às da imaginação quer reprodutora, quer criadora (concepção de uma diferença; concepção do mundo). C. Mais especialmente ainda, operação que consiste em apoderar-se de ou formar um conceito. 2º D. E. F. Resultado respectivo de cada uma destas operações. CRÍTICA: Na linguagem corrente concepção e conceber dizem-se de toda operação de pensamento que determina um objeto, e PORT-ROYAL entende-o assim: “Chama-se conceber a simples visão que temos das coisas que se apresentam ao nosso espírito, como quando nos representamos um sol, uma terra, uma árvore, um círculo, um

quadrado, um pensamento, o ser, sem formar nenhum juízo expresso.” Lógica, Introdução (ed. Charles, p. 38). Ela

compreende a imaginação como uma das suas subdivisões (ibid., I, 1). Este sentido tende a restringir-se. TAINNE fala ainda da concepção de um corpo particular, por exemplo, desta árvore, mas porque, na percepção, a imagem é completada por uma operação lógica. “Em que consiste esse fantasma interno (de um corpo percebido)? Entre outros elementos, é manifesto que ele encerra uma concepção afirmativa… Concebo e afirmo que a dez passos de mim há um ser dotado de tais propriedades, etc.” De l’intelligence, II, 76. “Fica ainda por constituir a percepção de um corpo, de início uma sensação atual e um grupo associado de imagens, em seguida a concepção, quer dizer, a extração e a notação por intermédio de um signo de uma característica comum a todas as sensações representadas por estas

imagens.” Ibid., II, 121. Neste caso, concepção implica já essencialmente a ideia de generalidade. BALDWIN, ainda

que reconhecendo a grande extensão do termo inglês conception, propõe restringi-lo ao sentido C e defini-lo como “o conhecimento do geral enquanto distinto dos objetos particulares aos quais se aplica. Enquanto distinto é uma

restrição necessária, pois sem isso todo conhecimento seria uma concepção”. Sub Vo, 208 (cf. mais acima o texto de

TAINE). W. JAMES entende do mesmo modo por concepção o pensamento do idêntico (Text Book, cap. XIV: Conception). Sem ir tão longe, seria desejável tomar esta palavra no sentido B e utilizar conceber no mesmo sentido. Notar-se-á com efeito que, estando em desuso em francês a palavra entendre, no sentido que lhe dão os cartesianos (ver nomeadamente sobre a oposição entre entender e imaginar, BOSSUET, Connaissance de Dieu, I, 9) seria útil possuir um termo para a substituir nesta utilização bastante precisa. A concepção seria, então, em oposição à memória ou à imaginação, a operação do entendimento; e conceber receberia o sentido correspondente. Rad. int.: 1º Konceptad

conseguimos, em parte, cumprir com um de nossos objetivos específicos: identificar se as

condições sociais e de subsistência interferem na percepção ética dos trabalhadores, empregados ou desempregados, a fim de relacionar sua implicação na formação dos valores morais da sociedade.