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Uma alternativa metodológica (dialética) à subjetividade na prática de

A teoria é necessária e nos ajuda muito, mas por si só não fornece os critérios suficientes para nós estarmos seguros de agir com acerto. Nenhuma teoria pode ser tão boa a ponto de nos evitar erros. A gente depende, em última análise, da prática – especialmente da prática social – para verificar o maior ou menor acerto do nosso trabalho com os conceitos (e com as totalizações). (KONDER, 1983, p. 43).

Foi com o método dialético que buscamos conectar nossa experiência, sindical19 e acadêmica, à interpretação da realidade, que no Serviço Social, na ação sindical e, sobretudo, nessa pesquisa, não pôde, não pode e não poderá prescindir da observação de princípios que têm na unidade dos opostos apresentados – nos ambientes e espaços (social ou de trabalho), as condições, fenômenos e circunstâncias que se apresentam com aspectos contraditórios.

“A perspectiva dialética considera a prática e o evento contraditórios e em luta, com

uma relação complexa e variável com as estruturas, as quais manifestam apenas uma fixidez

19 Destacamos a ação sindical, por estarmos dirigente sindical liberado, especificamente, para representar os

trabalhadores eletricitários no Sul de Minas, desde 04/04/1999, pelo Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas (SINDSUL-MG), e, desde 29/05/2000, representando os industriários, também pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), onde atualmente estamos como Secretário de Educação.

temporária, parcial e contraditória.” (FAIRCLOUGH, 2008, p. 94). É esse caráter paradoxal das estruturas o elemento definidor da predileção ao método adotado. Assim como Fairclough, também consideramos, como antes semelhantemente evidenciamos, que: “A prática social tem várias orientações – econômica, política, cultural, ideológica – e o discurso”, que aqui consideraremos como a teoria, “pode estar implicado(a) em todas elas, sem que se possa reduzir qualquer uma dessas orientações […]” da teoria. Sentido que pode ser mais bem orientado a partir dos dados quantitativos ou qualitativos, objetos distintos como campos para pesquisa, que aqui consideramos inter-relacionados.

Podemos, assim, observar as “orientações” referidas por Fairclough em perspectiva dialética, tendo como referência a metodologia adotada na pesquisa elaborada no Atlas da exclusão social no Brasil, na qual considera que:

Além da indicação quantitativa para a definição de exclusão, ou não, ao acesso à educação, ao trabalho, à renda, à moradia, ao transporte, e à informação, entre outros, cresce de importância a noção de qualidade, pois a simples constatação a respeito do acesso a um bem ou serviço não é suficiente para compreender a superação da condição de exclusão. Torna-se fundamental, portanto, medir também a qualidade e o resultado deste acesso (POCHMANN et al, 2004, p. 10).

Aqui precisamos dessa noção de qualidade para identificar se as condições sociais e de subsistência dos trabalhadores, empregados ou desempregados, influencia a concepção ética e os valores morais da sociedade. As variáveis independentes, situadas na derradeira citação, entrecruzam-se com formas diferenciadas as camadas da sociedade, fazendo com que o valor atribuído a elas seja percebido, também, de forma diferente. Deduzimos daí que seja, também, a partir dessas variáveis que podemos identificar se as capacidades nutritiva, sensitiva e intelectiva (ARISTÓTELES, 2006, L. 2. p. 71 et seq) estão satisfeitas, fator que permitiu, em princípio, supor, para depois, em certa medida, afirmar, que a percepção ética como variável depende das condições sociais e de subsistência. Razão pela qual consideramos a emancipação humana, ou sua expectativa, como estado em que, além de se perceber a ética, pode-se, inclusive, mantê-la como baliza às ações desenvolvidas em sociedade.

É importante destacar e não perder de vista que a variável principal a ser medida, por meio dessa pesquisa, foi a percepção da ética. Consequentemente, trouxe à tona que (aqui) estávamos também tratando de uma “variável latente”20 (HIL; HIL, 2009, p. 135) e com as

20 “Utiliza-se o termo ‘variável latente’ para representar uma variável que não pode ser observada nem medida

directamente mas que pode ser definida a partir de um conjunto de outras variáveis (possíveis de serem observadas e medidas) que medem qualquer coisa em comum (nomeadamente, a variável latente)”. (HILL; HILL, 2009, p. 135).

implicações que dela decorrem. Perder de vista o caráter subjetivo do objeto da pesquisa com deduções objetivas advindas de variáveis que compõem uma “variável latente” foi parte dessas implicações. Situação que foi possível de se contornar, em boa medida, já na elaboração do instrumento de pesquisa (questionário). A antevisão da subjetividade permeada no tema central da pesquisa, aprofundada e alinhada pelas categorias empíricas pré-definidas no projeto, foi o aspecto mais evidenciado na elaboração das questões do questionário, fazendo, durante a sua aplicação, além de garantir a proximidade com os sujeitos pesquisados e o acesso aos dados a serem medidos, também garantir que “duas características da medida – fiabilidade e validade”21, fossem observadas, como destacam Hill e Hill acerca “[...] da adequacidade do questionário para medir a variável latente.”(HILL; HILL, 2009, p. 141).

Lembramos que não foi a quantidade de tempo, sua durabilidade como estado, circunstância ou condição, nem o quanto foi conquistado ou oferecido, perdido ou retirado, como bem ou direito em temporalidade definida que estivemos tendo como variáveis ou dados relevantes da pesquisa. Foram considerados. Afinal fazem parte dos limites que estabelecem a condição de subsistência e influenciam diretamente na identificação dos elementos que revelam as capacidades humanas (aristotélicas) sendo ou não satisfeitas, além do que sem estes dados (variáveis) a concretude, a objetividade que, via de regra, é exigida na pesquisa científica ficaria comprometida. Estas variáveis ou dados foram considerados como

“variáveis componentes”22 da pesquisa; desprezá-los comprometeria identificar a

subjetividade que pode ser vista ou percebida nessas “variáveis” (nominal ou ordinal) manifestas na amplitude da qualidade de vida das pessoas. Foi por isso que buscamos distender nossa base teórica e empírica em um questionário – considerado por nós como a parte fundamental dessa pesquisa para a identificação do objeto como tese que, de fato, contribua na efetivação do conhecimento científico – com questões estruturadas de acordo e com as quais a percepção da ética pudesse ser observada, ao mesmo tempo em que pudesse oferecer como resultado (respostas) argumentos e novas bases teóricas à construção do conhecimento, possibilitando identificar, ampliar e observar o objeto da pesquisa a partir da visão e das vivências e condutas dos trabalhadores, empregados ou desempregados, e de suas relações, situadas em contexto totalizante do trabalho (social, político, econômico, jurídico).

21 Por “fiabilidade” Hill e Hill (2009, p. 150, 155), referem-se “à consistência das respostas dadas à pergunta.” E quanto a “validade”, observam que “uma medida tem validade se for uma medida da variável que o investigador pretende medir”, destacando que para a “validade”, ao se tratar de “variáveis latentes”, sua composição se dá a partir de “variáveis componentes”, com isso, vários aspectos precisam ser observados. Dessa forma, três tipos de “validade” devem ser considerados: “de conteúdo, teórica e prática”.

22 Hill e Hill (2009, p. 137), consideram como “variável componente” as variáveis observadas e medidas a partir de

Relações e contexto dos quais temos melhor visão para a compreensão da realidade social frente ao universo a ser pesquisado, se recorrermos à Minayo (2004, p. 15). Ao elencar alguns elementos fundamentais para uma ação ampla e autônoma “dentro de uma sociologia de classe”, Minayo acrescenta critérios e requisitos, objetivos e subjetivos, que nela precisam ser efetivamente observados em sua abrangência de ciência social, sobretudo em espaço no qual é a cultura da sociedade que está em evidência. Cultura que só pode ser compreendida se for contemplada com visão que acompanhe seu continuado movimento na sociedade e na história. Por conseguinte, semelhantemente às considerações de Minayo (2004a, p. 15), também (aqui) consideramos como decisivo para a realização da pesquisa social que:

[…] a) possua instrumentos para perceber o caráter de abrangência das

visões dominantes (pois as classes se encontram entre si, no seio de uma sociedade em relação e com problemas de aculturação recíproca); b) perceba também a especificidade dos sistemas culturais e de subculturas dominadas em suas relações contraditórias com a dominação; c) defina a origem e a historicidade das classes na estrutura do modo de produção; d) conceba sua realização tanto nos espaços formais da economia e da política como nas matrizes essenciais da cultura como a família, a vizinhança, os grupos etários, os grupos de lazer etc., considerando como espaços inclusivos de conflitos, contradições, subordinação e resistência tanto as unidades de trabalho como o bairro, o sindicato como a casa, a consciência como o sexo,

a política como a religião. […] Pensada assim, cultura não é um lugar

subjetivo, ela abrange uma objetividade com a espessura que tem a vida, por onde passa o econômico, o político, o religioso, o simbólico e o imaginário. Ela é o lócus onde se articulam os conflitos e as concessões, as tradições e as mudanças e onde tudo ganha sentido, ou sentidos, uma vez que nunca há apenas um significado.

Etapa da pesquisa que consideramos como o diferencial para a aplicação do método dialético, pois procuramos usar da experiência na ação sindical, sustentada na base teórica até aqui adquirida, para elaborar o questionário com questões que tiveram como prioridade, além da percepção ética e da construção do conhecimento, ser o elo entre a proposta central da investigação e os sujeitos dela: trabalhadores, empregados ou desempregados.

Igualmente relevante, conforme introdutoriamente destacamos em Goldman (1967, p. 21), acerca da busca pelos sujeitos significativos ou excepcionais, com Norbert Elias e John Scotson (2000) é possível uma melhor compreensão da delimitação ideal do universo social a ser pesquisado. A relação entre a parte e o todo, conforme é vista por Goldman, possibilitou-nos, ao partilhar de suas incursões às obras de Pascal, delimitar com mais segurança a amostra que pudesse representar as diversas categorias profissionais dando -nos um estrato ideal das classes trabalhadoras.

Assim como Goldman, também nos valemos de Pascal, pois cremos “[…] ser tão impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, como conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes.” (PASCAL, F. R. 72 apud. GOLDMAN, 1967, p. 6). Trata-se de uma inferência necessária para relacionarmos a impossibilidade de ignorar a relação existente entre a análise do que representa o conjunto de trabalhadores escolhidos em nossa amostra, em sua individualidade ou não, com a totalidade das classes trabalhadoras de determinada comunidade ou localidade, estado ou país, como tão bem retratam Elias e Scotson (2000, p. 16) acerca da experiência vivenciada por eles na pesquisa que realizaram em Winston Parva, na Inglaterra, do final da década de 1950 ao início da de 1960.

Relação que pode ser mais bem observada na publicação desses autores, mas que, em breve recorte de seus textos, é possível compreender a dimensão de suas contribuições a nossa tese:

Grosso modo, a pesquisa indicou em pequena escala do desenvolvimento de uma comunidade e os problemas em larga escala do desenvolvimento de um país são inseparáveis. Não faz muito sentido estudar fenômenos comunitários como se eles ocorressem num vazio sociológico (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 16.).

Não é demais acrescentar, acerca da impossibilidade de se estabelecer limites para a análise de conjuntura exclusivamente a um trabalhador isoladamente, ou mesmo a um conjunto de trabalhadores. A realidade dialética, conforme cita Lukács (1978, Cap. III, p. 73 et seq), tem sua realização no curso da passagem reflexiva do “singular” para o “particular” e desse para o “universal”. A origem do pensamento se estabelece baseada, nessa dedução, na realidade dos fatos, mas só se consuma a partir da singularidade do ser em si. Por ou no outro lado, a universalidade só se consagra admitindo-se na sua composição o particular e o

singular como categorias que lhe conferem sentido. Quando imaginamos a conjunção dessas

reflexões (Goldman, Elias & Scotson e Lukács), hipoteticamente, se inquirirmos uma análise conjuntural do mundo do trabalho, ela só se dá, só é realizável, para além dos limites de um local de trabalho (particular); imaginá-la para um único trabalhador (singular), isolando-o exclusivamente em seu posto de trabalho, descolado de sua categoria profissional e do universo das classes trabalhadoras, equivaleria à invalidade do ato enquanto ação vincada na realidade social. Um trabalhador de rua da cidade de Belo Horizonte é tratado de modo diferente daquele de outra cidade? As condições de sua exclusão social são outras? As formas em que é explorada na produção uma única costureira na fábrica ou na facção são diferentes de cidade para cidade? O gari na capital é mais bem tratado pela sociedade do que nas cidades

do interior? Essas são questões cujas respostas direcionam o sentido transcendente e ilimitado que a experiência, a história em si de cada sujeito da investigação pôde revelar, a partir de suas respostas, demonstrando sentimentos e percepções de um mundo que existe em si, para

si, e para todos, pois não é particular, tampouco exclusividade da comunidade ou ambiente

(de trabalho ou social) onde se vive.

“Parece que o correto é começar pelo real e pelo concreto, que são a proposição prévia

e efetiva;” como diz Marx (1982, p. 14). Mas não sem antes considerarmos as contradições das determinações a que isso pode nos submeter.

[…] assim, em Economia, por exemplo, começar-se-ia pela população, que é

a base e o sujeito do ato social de produção como um todo. No entanto, graças a uma observação mais atenta, tomamos conhecimento de que isso é falso. A população é uma abstração, se desprezarmos, por exemplo, as classes que a compõem. Por seu lado, essas classes são uma palavra vazia de sentido se ignorarmos os elementos em que repousam, por exemplo: o trabalho assalariado, o capital etc. O capital, por exemplo, sem o trabalho assalariado, sem o valor, sem o dinheiro, sem o preço etc., não é nada. Assim se começássemos pela população, teríamos uma representação caótica do todo, e através de uma determinação mais precisa, através de uma análise, chegaríamos a conceitos cada vez mais simples; do concreto idealizado passaríamos a abstrações cada vez mais tênues até atingirmos determinações

as mais simples. […] O concreto é concreto porque é a síntese de muitas

determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso o concreto aparece no pensamento como o processo da síntese, como resultado, não como um ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação.

Esclarecidas algumas das necessárias alterações relativas ao curso da execução do projeto, com especial destaque para a interação (em princípio elementar) entre a parte e o todo, do abstrato ao concreto (objetivo e subjetivo como síntese) e sua reciprocidade nessa interação (dialética), passamos ao momento que consideramos ter sido crucial para o exercício do método dialético, pois, ao inquirir individualmente cada trabalhador, foi possível perceber a manifestação espontânea do objeto pesquisado, configurando-se, assim, numa antevisão do que foi enunciado no Projeto de Pesquisa quando citamos Löwy (1978, p. 15):

As visões do mundo das classes sociais condicionam, pois, não somente a última etapa da pesquisa cientifica social, a interpretação dos fatos, a formulação das teorias, mas a escolha mesma do objeto de estudo, a definição do que é essencial e do que é acessório, as questões que colocamos à realidade, numa palavra, a problemática da pesquisa.

Para melhor conceber essas visões foram consideradas para a fundamentação e estruturação do questionário quatro categorias empíricas23: 1) a ética; 2) o mundo do trabalho e os trabalhadores – empregados e desempregados; 3) a gestão pública ou privada e seus efeitos na sociedade; 4) e o exercício da cidadania na busca da emancipação humana. Categorias empíricas observáveis por meio de questões distribuídas aleatoriamente, ou melhor, separadas ao longo do questionário24, em que a percepção e até mesmo o conhecimento em relação à ética tiveram especial destaque. Todavia, foi na composição do conjunto das demais categorias empíricas que houve a possibilidade de que o objeto da pesquisa, a ética e trabalho fossem revelados como a concepção de uma antítese social.

A essa altura, pode-se admitir estabelecida a integração dos conhecimentos teórico e empírico, consolidada na práxis, e se tornou possível validarmos o ineditismo e a relevância desta tese. Se a percepção ética nas diversas camadas sociais influencia a construção e a manutenção dos valores morais e éticos da sociedade, só foi possível – dentro das limitações inerentes às variáveis aqui consideradas – ser distinguida e aferida a partir da interação e da proximidade aqui sugerida, por ter havido a participação efetiva das pessoas que vivem e sobrevivem sob todo tipo de condições, social e de subsistência, a partir de uma realidade revestida de adversidades no trabalho. Adversidades que são negadas por aqueles que as impõem e, para piorar ainda mais, são imperceptíveis para muitos, irreconhecíveis para diversos, ignoradas por outros e até mesmo tidas como irreais para alguns. Adversidades sustentadas na razão paradoxal do capitalismo que tem na intensificação propositiva da

questão social o valor venal que garante a poucos um desmedido prazer à custa daqueles

(trabalhadores) que chegam aos bilhões pelo mundo. Muitos sofrem arduamente em luta consciente pela urgente transformação social. No entanto, maior número ainda não percebe (alienados ou reificados) a profundidade inóspita em que se encontra ao admitir (voluntariamente ou não) a exploração do homem pelo homem, além de estar sempre por último nessa relação.

23 Por “categoria empírica”, assim como Minayo (2004a , p. 94), compreendemos que sua determinação se dá a partir

dos fundamentos reais de sua finalidade operacional na pesquisa; dessa forma é “[…] construída a partir dos elementos dados pelo grupo social, tem todas as condições de ser colocada no quadro mais amplo de compreensão teórica da realidade e de, ao mesmo tempo, expressá-la em sua especificidade”.

24 Levando-se em conta a questão da “fiabilidade de uma pergunta fechada”, destacada por Hill e Hill, ao tratar da

questão da consistência das respostas dadas as perguntas, é possível observá-la a partir da “equivalência das respostas dadas a duas versões da pergunta. Para estimar o coeficiente de equivalência temos de escrever duas versões da pergunta para qual queremos estimar a fiabilidade, incluir as duas versões no questionário e aplicar o questionário a uma amostra de pessoas. A correlação entre as respostas dadas às duas versões da pergunta apresenta uma estimativa do coeficiente de fiabilidade. Neste caso, as duas versões da pergunta devem usar palavras diferentes e devem estar bem separadas no questionário.” (HILL; HILL, 2009, p. 155).

Vimos que essa é uma situação que deixa em evidência o antagonismo entre ética e

trabalho, ao se ter e buscar no trabalho a realização, a transformação e a materialidade da essência humana, sem ao menos recuperar a consciência do estado em que se encontra. Dessa

maneira, podemos também sustentar os argumentos de que as contradições concernem validade ao método dialético, já que, com esse método, houve a possibilidade de as bases teóricas contribuírem para a interpretação do sentido dinâmico e totalizante da realidade social, que, por sua vez, precisa ser compreendida pelas ciências sociais, em especial e mais ainda pelo Serviço Social, admitindo que os fatos sociais não podem ser considerados (isoladamente) fora do contexto social. Interpretá-los sem o entendimento de suas próprias influências (políticas, econômicas, educacionais), desqualificaria a validade da pesquisa social. Seria impossibilitar a presença das contradições – que só se manifestam através das pessoas – que existem na realidade social e, por que não, também negar “[...] o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.” (KONDER, 1983, p. 8). O que, por sua vez, possibilitaria aderirmos ao que Löwy (1978, p. 15) considera “[...] o erro fundamental do positivismo” ao não compreender a “[...] especificidade metodológica das ciências sociais”, ou seja:

1. O caráter histórico dos fenômenos sociais, transitórios, perecíveis, susceptíveis de transformação pela ação dos homens; 2. A identidade parcial entre o sujeito e o objeto do conhecimento; 3. O fato de que os problemas sociais suscitam a entrada em jogo de concepções antagônicas das diferentes classes sociais; 4. As implicações político-ideológicas da teoria social: o conhecimento da verdade pode ter consequências diretas sobre a luta de classes.

Ampliando os fundamentos até aqui postos, consideramos necessário, inclusive para validar as preocupações com as especificidades metodológicas apontadas, recorrer a pesquisas secundarias ou documentais existentes que já haviam registrado em seus resultados as consequências citadas por Löwy25. Todavia, em que pese a pertinência desses dados e registros para o alinhamento dos resultados e dados coletados com a amplitude científica, seja ela da comunidade acadêmica ou não, foi recorrendo a um grupo de pesquisa da Fundacentro- MG, coordenado por Celso Amorim Salim, com a participação de profissionais preparados

25 Dentre essas pesquisas podemos citar: a pesquisa realizada em 2009 pelo Centro de Referência do Interesse