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Lei e ética: possibilidades dessa relação

[…] a pesquisa de leis ‘sociológicas’ da história, a consideração formalista e

racional da história, exprime precisamente o abandono dos homens às forças

produtivas na sociedade burguesa. ‘O movimento da sociedade que é o seu

próprio movimento, diz Marx, adquire para eles a forma de um movimento

cumprir-se, enquanto o populismo é fundamentalmente reativo, uma reação ao intruso perturbador. Em outras palavras, o populismo continua a ser uma versão da política do medo: mobiliza a multidão acumulando o medo do

agente externo corrupto.” E esse agente político vigorado é o que insiste em colocar em pé de igualdade um sistema

concorrencial eleitoral em que as classes dominantes são quem ditam as regras e os valores que tornam “(in)justo”

qualquer sufrágio no Estado burguês.

Fonte: elaborado por José Reginaldo Inácio, 2012.

Gráfico 18 – Distribuição das respostas segundo a opinião de abrir mão de agir corretamente por vantagem ou

das coisas, a cujo controle se submetem em lugar de as controlarem’

(LUKÁCS, 1973, p. 35, grifo do autor).

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade […]” (BRASIL, 2007, p. 8). Assim está expresso no Artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil e, de modo semelhante, no Artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um imperativo de princípios, de caráter até mesmo elevado, em que se exprime ao povo brasileiro uma tutela constitucional, na qual se

pode admitir a ética como referência de cidadania, pois nos termos dessa Constituição, “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Uma igualdade que nos levou, nessa tese, à

proposta de avançar para além das bases teóricas. Um inquirir dos sentidos (antagônicos) que se pode dar ao discurso e à prática se intuídos pela ética e se considerado a inclusão (ou exclusão) do homem no mundo do trabalho e sua relação com o outro. Levamos em conta, também, os ambientes em que ele se situa (fábrica, canteiro de obra, ruas, sindicato, associações, tribunal e instâncias políticas do legislativo e executivo) com suas especificidades e comportamentos manifestos (como ser humano), seja imparcial ou parcialmente, justo ou injustamente, tácita ou notoriamente, ou, ainda, servil ou dominantemente.

Lembramos, com Sánchez Vázquez (2001, p. 115), que:

Embora a igualdade se inscreva, desde a Revolução Francesa, na trindade suprema dos valores políticos e sociais, junto com os da liberdade e da fraternidade, hoje se abre nessa constelação trinitária um vazio, deixado pela igualdade, ocupado, sobretudo, pela democracia.

Uma mudança que precisa ser observada, em alguns de seus aspectos, para se compreender, pelo menos em parte, o porquê dessa transição. Primeiramente, não podemos esquecer-nos “da origem, dos desvios iniciais”, como bem disse Dussel (2007b) em suas teses políticas. Afinal, tanto a igualdade quanto a democracia são institutos originários consagrados por desvios políticos históricos de alguma estrutura de poder (que não serão abordados na tese), e tiveram e têm na história do capitalismo desdobramentos com os quais se anulam: não há igualdade nem democracia, não entendendo-se essa última como alicerce dos princípios, os pilares que outrora sustentaram as “intenções” e os discursos da Revolução Francesa:

liberdade, igualdade e fraternidade.

Um segundo aspecto a ser considerado está ligado à impossibilidade de a democracia vigente não dar significado à liberdade de escolha. Para que fique claro, estamos refletindo acerca da verdadeira liberdade escolha. Ademais, é importante ressaltar que o espaço da

democracia instituida não é o da política, o do público (do povo), do bem comum, mas o do mercado, o do privado, e nele a desigualdade é o sustentáculo ao processo capitalista de

cidadania e (a desigualdade) é admitida como fundamento caracterizador para a ascensão e autonomia social. E, por fim, a própria igualdade, fiel depositária histórica do direito e, concomitantemente, da renúncia da justiça. Ao fazer das leis, mais corretamente, do que está nela enunciado, um princípio teórico de igualdade direitos cujos valores reais são limites declarados a quem deveriam ser seus maiores beneficiários, distinguem em sua origem a quem de fato se destinam. Ou seja:

Dar um tratamento igual aos considerados iguais significa reconhecer que aqueles assim tratados compartilham, acima de suas diferenças, certos traços que, pela importância que lhes é atribuída, justificam tal tratamento. Por

exemplo, tratar todos os homens (ou cidadãos) como “iguais perante a lei”

significa que quaisquer que sejam suas diferenças (de classe, profissão, sexo, religião, ou de ideologia, idade e cultura), devem ser tratados juridicamente do mesmo modo. Ao tratá-los assim, não se nega que existam diferenças entre eles, mas estas não justificam – no exemplo anterior – um tratamento desigual. Dar-lhes este tratamento seria injusto (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2001, p. 121-122).

Todavia, é assim que se dá a efetividade do direito. O sentido real não revelado, oculto, está dissimulado junto à áurea consagrada do que o direito representa na história do mundo civilizado e em sua própria realidade.

Ao ter o primeiro contato com os textos de Carcova (1998), buscando exatamente fundamentos à compreensão da realidade oculta no direito chamou atenção o fato de a vendedora de livros interferir alertando que se tratava de um livro ultrapassado, de 1998, e que no Direito é preocupante não atentar para interpretações anacrônicas; de repente, outras alternativas seriam mais úteis ao intento ali almejado. Estava correta em seu raciocínio, afinal o movimento histórico não possibilita ao Direito isentar-se da realidade social e os próprios juristas e legisladores não se consagram se o sentido reto da justiça for assimilado ao senso comum. Entretanto, o real motivo da busca à obra de Carcova instava no próprio alerta feito pela vendedora. A tentativa sistematizada e recorrente (desde a origem) do Estado e das classes dominantes em desviar o povo da igualdade que só se realiza por meio do conhecimento. Para isso contam com voluntários em todas as partes da sociedade imersos e contidos por uma sistematização ideológica e cultural, fazendo o trabalho de disseminação de uma mudança que só se realiza revisitando e reavivando as letras mortas e ocultas de outra forma, como garantia da manutenção de uma igualdade só do estado e da

explorados em suas condições. Uma igualdade na qual o ser humano se desconstitui de suas diferenças e se anula para ser e permanecer igual no processo em que sua emancipação é tolhida em todos os momentos de sua existência por não permitir que ele (o ser humano) seja igual revelando suas diferenças.

Foi no primeiro contato teórico reflexivo com Carcova (1998, p. 13-14) que se tornou menos oculta a “opacidade do direito”, ao ser revelado que:

Na produção de sua vida social, os homens realizam cotidianamente uma enorme quantidade de atos com sentido e efeitos jurídicos, dos quais boa parte – sem dúvida a maioria deles – não é percebida como tal. Isto é, os

ditos atos não são “compreendidos” em seus alcances e significações legais.

Existe, pois, uma opacidade do jurídico. O direito, que atua como uma lógica da vida social, como um livreto, como uma partitura, paradoxalmente não é conhecido, ou não é compreendido, pelos atores em cena. Estes realizam certos rituais, imitam condutas, reproduzem certos gestos, com pouca ou nenhuma percepção de seus significados e alcances.

Os homens já são apreendidos pelo direito antes de nascer e, por meio dele, suas vontades adquirem existência, produzindo consequências mesmo depois da morte. O direito organiza, sistematiza e dá sentido a certas relações entre os homens: relações de produção, relações de subordinação, relações de apropriação de bens.

Organiza também e dá sentido a aspectos relativos à constituição biológica do grupo. Define a estrutura familiar, estabelece o estatuto legal da prole, permite certo tipo de uniões e proíbe outras. Esta multiplicidade de funções, que permeiam a vida social e penetram os menores resquícios da vida individual, não é conhecida pelos sujeitos assim determinados, ou em seu caso não é compreendida.

Portanto, não podemos, desde já, considerar a trindade revolucionária francesa como uma revelação histórica dos direitos humanos, quando muito uma intenção, senão a emanação universal de suas negações ao povo.

“Presume-se que o direito das sociedades modernas seja conhecido de todos. São

inescusáveis o erro ou a ignorância. Os homens são livres e iguais diante da lei e, por conseguinte, estão igualmente capacitados70 para a celebração de qualquer ato jurídico.” (CARCOVA, 1998, p. 13-14). Essa não é a verdade. Trata-se de uma verdade que não é bem essa, parafraseando Machado de Assis71. Carcova (1998, p. 15) nos diz que: “Sabemos todos,

70 Carcova (1998, p. 21), ainda a esse respeito, diz que: “Em qualquer país, e sobretudo na Espanha, há uma minoria

muito limitada, muito bem atualizada e uma imensa maioria em condições de gravíssimo atraso. E é por isso – sustentava – que o direito equiparou todos e por cima, impondo seu conhecimento em igualdade de condições tanto ao rústico como ao presidente do Superior Tribunal. Para a grande Espanha, silenciosa, o direito é conhecido da maneira como Israel conhece o seu Deus, pelas costas. Quer dizer, por seu lado negativo – concluía –, pelo dinheiro e pelo sangue que lhe custa.”

mesmo os juristas, que estas pressuposições – essenciais à vida do direito – não passam de um conjunto de ficções.”

De outra forma, podemos também considerar que a caracterização do gênero humano como espécie racional distintiva das demais espécies por suas diferenças é perdida quando se imprime para o homem as condições e comportamentos das outras espécies. Considerar apenas as condições peculiares dos instintos como definidoras do comportamento do homem quando junto aos demais indivíduos de sua espécie, como muitas vezes é feito pelo direito, parece-nos haver um proposital afastamento da racionalidade. Seria como se o condicionamento social por meio de leis e regras impusesse ao gênero humano um nivelamento de suas ações e necessidades e, consequentemente, promovesse a desconstituição de suas relações (já elaboradas) com a natureza, significando, com isso, que em suas produções e transformações históricas não se encontram contidas o processo evolutivo que o distingue, em sua existência, dos outros seres vivos. Como se suas necessidades se limitassem à nutrição e ao alívio ou estimulo de sensações de dor ou prazer. Se essa for a igualdade preceituada nos imperativos legais, tudo bem, ela tem cumprido seus objetivos.

Conservar, imobilizar comportamentos para que sejam sempre repetidos. Normatizar, criar regras, padrões que limitam alternativas, também limitam a racionalidade, por óbvio, a condição humana. É nivelamento com o qual a ascendência é o rebaixamento

das capacidades inerentes ao gênero humano e, ao mesmo tempo, do direito de “ser”

humano. Seria como se disséssemos afirmativamente ser racional admitir como verdade que as expectativas, as oportunidades e necessidades são todas iguais72. As circunstâncias são estanques e são sazonalidades cujas consequências são previsíveis e podemos todos, tal como nas manadas73 ou nos bandos, gregariamente dispormo-nos dos impulsos (para fugir do perigo e garantir a sobrevivência) e seguirmos regiamente as leis e ordens impostas como se também essas fossem réplicas das leis da natureza. Sabemos não que é assim a forma como a igualdade é tratada, dissimula-se essa realidade. Temos, então, como animais racionais, que nos determos um pouco mais a esse respeito.

72 Como se tivéssemos todos as possibilidades de, se agrupados, nossas características fossem indistintas e

nossas reações da mesma forma. Um coletivo de seres iguais em que só os desgarrados correm riscos.

73 Malinowski (2000, p. 159), ao discorrer sobre o papel dos instintos no comportamento coletivo dos animais,

oferece-nos elementos que trazemos para demonstrar o quanto a sujeição ao sistema exige do homem a rejeição de sua racionalidade se entregar-se as regras, normas ou leis não condizentes com a realidade na

qual o gênero humano é considerado em sua totalidade. Vejamos: “O comportamento coletivo dos animais

serve a todos os processos, envolve todos os instintos, mas não é um instinto específico. Poderia chamar -se um componente inato, uma modificação geral de todos os instintos, que faz os animais da espécie cooperarem nas questões mais vitais. É importante observar que em todo comportamento coletivo dos animais a cooperação é governada por adaptações inatas e não por algo que possa ser chamado organização

Vejamos o que Sánchez Vázquez (2001, p. 127-130) menciona acerca do princípio igualitário:

Um princípio igualitário, e o mais universal de todos, é o dos direitos humanos – à liberdade, à vida, à felicidade, à segurança –, que o homem possui pelo fato de ser homem. Não há, pois, limites ou exceções em seu desfrute e são merecedores deles todos os seres humanos.

Um segundo princípio igualitário – ao qual já nos referimos – é o da igualdade de todos perante a lei.

Um terceiro princípio igualitário, que goza de grande prestígio entre liberais e socialdemocratas, é o da igualdade de oportunidades.

Um quarto princípio igualitário, ao qual já se aludiu, é o da satisfação das necessidades básicas ou, em certos casos, mínimas, tais como alimentação, habitação, saúde, trabalho, auxílio-desemprego, amparo à velhice e à infância desvalida. É o princípio que inspira a política social que atende, sobretudo, aos mais necessitados.

Nos quatro tipos mencionados de igualdade: 1) de direitos humanos; 2) perante a lei; 3) de oportunidade e 4) de satisfação de necessidades básicas, trata-se de uma igualdade com a qual se enfrenta desigualdades reais.

Quatro princípios igualitários com os quais teríamos uma humanidade dignamente consagrada em seus valores estruturantes, para que a condição racional se libertasse do imperativo axiológico, já que suas necessidades materiais não seriam amarras à irracionalidade e sim à confirmação da higidez física como elemento de sanidade e da racionalidade, condição sem a qual a emancipação humana não se realiza74.

Na pesquisa, primeiramente, preocupamo-nos em identificar qual a dimensão da valorização de um direito na vida do trabalhador. Sobretudo, se arduamente conquistado, pressupondo-se, dessa forma, tratar-se de processo de resistência e negação da realidade e referentes decisivos para as ações classistas e para a emancipação.

→ Q12. Abrir mão de um direito arduamente garantido em favor de outra pessoa necessitada é uma ação:

74 Potyara Pereira (2008, p. 67) considera que: “A chave da distinção entre necessidades básicas e as demais categorias [de necessidades] […] repousa num dado fundamental que confere às necessidades básicas (e

somente a elas) uma implicação particular: a ocorrência de sérios prejuízos à vida material dos homens e à atuação destes como sujeitos (informados e críticos), caso essas necessidades não sejam adequadamente

satisfeitas. ‘Assim, as necessidades humanas básicas estipulam o que as pessoas devem conseguir se querem evitar sérios e prolongados prejuízos’, constituindo, a satisfação dessas necessidades, uma condição necessária à prevenção de tais prejuízos.”

No Gráfico 19, consta- tamos que 7% das pessoas que responderam à pergunta, esco- lheram a opção abrir mão de

um direito em favor de outra pessoa é uma ação que sempre deve ser exercida independen- temente das condições. Pode-

mos, com esse dado destacar certa tendência social na qual

reflexos humanitários operam uma espécie de ética da bondade da qual, pensamentos orientados pelo imperativo categórico de Kant (2003a, p. 103) podem oferecer um suporte

considerável: “Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa sempre valer ao

mesmo tempo como princípio de uma legislação universal.” Mas, está mais bem

constatado o sentido moral no qual o “relativismo ético” indica o caráter definidor para o

agir. A maior parte dos sujeitos da pesquisa, correspondente a 69% das respostas, declarou que deve ser exercida dependendo da situação e da pessoa necessitada. Entre os sujeitos da pesquisa, 11% disseram que deve ser exercida se houver exigência legal ou se

garantida a recuperação do direito, deixando evidenciar que a adesão à ordem

estabelecida é tendência na qual podem estar implicados os limites daquilo que de fato representa a lei ou os direitos pensados sob a mesma ótica, sobretudo, quando não há resistência a tudo que eles negam.

Žižek (2011, p. 58) menciona que, “[...] as exigências de novos direitos (que

causariam uma verdadeira redistribuição do poder) foram atendidas, mas apenas à guisa de

‘permissões’.” Nessas exigências, ou seja, quando se diz: buscar novos direitos na atualidade,

estamos, na realidade tentando recuperar direitos perdidos no tempo75. Direitos que,

75 Gaulejac (2007, p. 136-137) sintetiza o período histórico em que o processo neoliberal se acentua. Destaca

suas consequências para o mundo do trabalho e, também, seus reflexos para as classes econômicas: “A partir dos

anos 1980, o capital retomou seus ‘direitos’. A lógica financeira adiantou-se às outras. Embora o crescimento tenha

permanecido positivo, aumentaram as distâncias entre os mais ricos e os mais pobres, os altos e os baixos salários, os trabalhadores protegidos e os trabalhadores em situação precária. Como se o capitalismo tivesse perdido suas virtudes e reaparecido como um sistema econômico injusto, opondo os interesses dos acionistas, ávidos de lucro, e os interesses dos assalariados, que não têm outros bens a não ser sua força de trabalho. Paradoxalmente, é no momento em que os regimes comunistas desmoronam que a análise marxista parece mais pertinente que nunca, ao menos quanto a esse ponto. A guerra econômica substituiu a guerra fria. Nada vem barrar a vontade de poder e a busca de lucro das grandes empresas capitalistas. Não tendo mais um inimigo comum, diante do qual eram necessários compromissos, as empresas lutam entre si. A prática generalizada das demissões, o estabelecimento sistemático de planos sociais, as violações do direito do trabalho e até o cerco social não são verdadeiramente

Fonte: elaborado por José Reginaldo Inácio, 2012.

Gráfico 19 – Distribuição das respostas segundo a opinião sobre abrir mão de um direito.

efetivamente, não significavam direito algum. Como disse Žižek (2011, p. 58), a “[...]

‘sociedade permissiva é exatamente aquela que amplia o alcance do que os sujeitos têm

permissão de fazer sem, na verdade, lhes dar poder adicional.” Não se trata de direitos. Portanto, retomando a análise em curso, não só a exigência legal, que em si já conota uma negação de direito, mas a garantia da recuperação de um direito têm que ser encaradas como a expressão de sua inexistência, ou, no mínimo, sua renúncia. Ao citar Jean-Claude Milner,

Žižek (2011, p. 58), reforça sua ideia e complementa um ponto importante dessa reflexão: Os que detêm o poder conhecem muito bem a diferença entre direito e

permissão. […] O direito, no sentido estrito da palavra, dá acesso ao

exercício de um poder à custa de outro poder. A permissão não diminui o poder de quem a concede, não aumenta o poder de quem a recebe.

Sintetizando, podemos dizer que não se recupera quando não se teve como (e em) nosso poder um direito, mas uma permissão contingente de direito.

Retomando ao Gráfico 19, foi de 13% a porcentagem dos sujeitos da pesquisa que declararam que abrir mão de um direito é uma ação que não deve ser exercida, deixando as contradições aqui já destacadas como um referente para as suas respostas; todavia, traremos outro elemento presente no debate ético citado por Sánchez Vázquez. Trata-se do “egoísmo ético”.

Sánchez Vásquez (1993, p. 172), nesse sentido, adverte que:

A tese fundamental do egoísmo ético se pode formular como segue: cada um deve agir de acordo com o seu interesse pessoal, promovendo, portanto, aquilo que é bom ou vantajoso para si. O egoísmo ético tem seu fundamento numa doutrina psicológica da natureza humana, ou da motivação dos atos humanos, segundo o qual o homem é psiquicamente constituído de tal modo que o indivíduo sempre tende a satisfazer o seu interesse pessoal. Ou seja, o homem é por natureza um ser egoísta. No passado esta doutrina foi defendida por Thomas Hobbes (1588-1679) e, no nosso tempo, com variados matizes, por Moritz Schilick e outros.

A ética não pode ser tratada como elemento residual em processo no qual seu vigor é que pode (ou não) garantir validade a moral. Se, para atingir determinado fim, signo de bem material, porém comum a determinado coletivo, for necessário deixar de lado alguns valores (éticos), isso tem sido admitido como prática comportamental válida. Um “bem” ou benefício, admitido como bem comum, que, para sua consumação, há a necessidade de que a

repreensíveis, pois são necessários para o sucesso da empresa e, portanto, para sua sobrevivência. Durante a guerra, a finalidade é clara: vencer ou morrer.”

banalização de um mal social seja continuadamente consagrada, isso traz consequências das quais a própria história é testemunho76.

Quando colocamos em xeque a ética em detrimento daqueles à margem dos direitos,