• Nenhum resultado encontrado

O contexto social totalizante ao qual nos referimos já possibilita certa compreensão conceitual do que temos como fundamental a ser considerado: a palavra social como expressão conclusiva do tema central desta tese. Não é sem sentido que, ao considerá-la, tenhamos dado maior validade aos termos constitutivos nos conceitos até aqui apresentados como diferenciais que dimensionam as relações humanas no espaço comum ou particular em que o singular e o universal podem ser vistos como complementares ou limitados ao mesmo tempo, dependendo da realidade vivida ou de onde se encontram (presentes) as pessoas como sujeitos que se relacionam e vivem em sociedade.

É importante considerar quando Lukács (2009, p. 73) nos diz que:

A sociedade burguesa separa o homem público do homem privado, o

“cidadão” do “burguês”. O desenvolvimento desta sociedade provoca,

13 “TESE D. These; E. Thesis; F. Thèse; I. Tesi. A. Posição (θέσις) de uma doutrina que nos comprometemos a

defender contra as objeções que lhe podem ser feitas. De onde o emprego desta palavra: 1º (com um sentido menos preciso), para designar a doutrina de um filósofo sobre um ponto determinado, as conclusões sustentadas por um advogado num discurso de defesa de uma causa, a ideia defendida por um homem político numa discussão ou num discurso, etc.; cf. as expressões romance de tese, peça de tese; 2º (no uso universitário), para designar as memórias

ou as obras compostas em vista da obtenção do grau de doutor; essas “teses”, no princípio, apenas consistiam numa

simples folha onde eram enunciadas em termos formais as proposições que o candidato se comprometia a defender. B. Por oposição a antítese, em Kant, o primeiro membro das antinomias, que afirma, sobre cada questão, a existência de um termo último, no qual se detém a pesquisa após um número de intermediários finito e que é primeiro na ordem do ser (começo do tempo, elemento simples das coisas, ato livre, ser necessário por si mesmo). C. Por oposição a antítese e a síntese: primeiro termo de um sistema formado por três conceitos, ou três proposições, de que os dois primeiros termos se opõem entre si e de que o último levanta essa oposição por meio do estabelecimento de um ponto de vista superior, de onde decorre que os dois precedentes se veem conciliados (HEGEL). Cf. HAMELIN,

Essai…, cap. I. NOTA: A tese, neste último sentido, pode ser considerada como relativa ou como não relativa à sua

antítese. HAMELIN, no texto citado, admite o primeiro ponto de vista: “O ser exclui o nada e o nada o ser, mas é

impossível encontrar algum sentido a um ou a outro fora dessa função de excluir o seu oposto.” IBID., 1. FICHTE,

pelo contrário, considera a tese como subsistindo primeiro por si mesma, sem ser comprometida na relação (mas

reservando, contudo, numa certa medida, a virtualidade dessa relação): “Fichte dá o nome de tese a essa ação

absoluta do Sujeito por si mesmo, em que o Sujeito se põe pura e simplesmente a si mesmo sem relação com o que quer que seja de estranho a ele, deixando vazio o lugar do predicado para a possibilidade de uma determinação ao

infinito do Sujeito…… e ele nota que é precisamente a natureza da tese que, ao pôr a unidade absoluta do Espírito, funda a unidade do sistema.” Xavier LÉON, La philosophie de Fichte, p. 22, nota.” (LALANDE, 1996, p. 1134).

compulsoriamente, a atrofia da dimensão cidadã do homem (dimensão que, nesta sociedade, é desde o início abstrata e contraditória).

A sociedade ou o social, assim considerado, precisa ser compreendido por essa e para além dessa contradição que é admitida e admite uma referência de dominação e subordinação enquanto regra e acaba por ser complementar e totalidade, ao mesmo tempo, da estrutura conceitual e teórica passível de pesquisa. Dessa forma, são vistas como possibilidades e necessidades, oferecidas e impostas, presentes na amplitude social como realidade efetiva para a prática de pesquisa (qualitativa) aonde ética e trabalho podem ser observados.

Verificada a necessidade objetiva deste processo, é preciso constatar que a limitação do homem unicamente à dimensão privada da sua personalidade equivale a mutilar o homem inteiro e real, ainda que gradualmente o individualismo burguês, mesmo o mais pessimista, possa sentir-se à vontade no marco dessa mutilação. (LUKÁCS, 2009, p. 73).

O social14, como conceito, só nos dá mais argumentos para seguirmos defendendo

nossas posições com a pretensão de vislumbrar o para além da mera interpretação – sobretudo daquilo que se contempla na realidade ou na condição social como necessidade premente de

14 “SOCIAL D. Sozial, gesellschaftlich; E. Social; F. Social; I. Sociale. A. Que pertence à sociedade, ou diz respeito à sociedade enquanto tal, isto é, aos fenômenos e às relações que a constituem. ‘Não existe falta ou mesmo erro que não tenha conseqüências sociais, sobretudo nas nossas sociedades civilizadas e democráticas… em que cada um tem

sempre uma função não só na família, mas também no Estado.’ FOUILLÉE, A ciência social contemporânea, livro I,

cap. III. ‘Tudo aquilo que se passa num grupo social é uma manifestação da vida do grupo como tal e por

consequência não é social, tanto como tudo o que se passa num organismo não é propriamente biológico.’ FAUCONNET e MAUSS, art. Sociologia, Grande Encyclopédie, vol. XXX, p. 166. Cf. DURKHEIM, Regras do

mét. Sociol., cap. I: ‘O que é um fato social?’. Contrato social. Física social. Estática social, dinâmica social, as duas

grandes divisões estabelecidas por Auguste COMTE no estudo das sociedades; elas correspondem respectivamente à

teoria da ordem e à do progresso (Curso de filosofia positiva, 50ª lição: ‘Considerações preliminares sobre a estática

social ou teoria geral da ordem espontânea das sociedades humanas’, e 51ª lição: ‘Leis fundamentais da dinâmica

social, ou teoria geral do progresso natural da humanidade”). Social Statics é também o título de uma das primeiras

obras de SPENCER (1848); ele aplica esta expressão ao equilíbrio dos interesses e das pretensões individuais numa sociedade normalmente constituída; a dinâmica social (E. Social dynamics) é para ele o movimento pelo qual se faz a adaptação recíproca dos indivíduos e da sociedade. Ciências sociais (D. Soziale Wissenschaften, Sozialwiss, Gesellschaftswiss; E. Social sciences; F. Sciences sociales; I. Scienze sociali); termo muito amplo que se aplica não só à Sociologia, mas também a todas as ciências relativas à sociedade: a Economia, a História, a Geografia humana, o Direito, a Moral, a Pedagogia, etc. A Ciência social (expressão particularmente usada na escola LE PLAY), a ciência que tem como objeto os fenômenos sociais. B. Especificamente (oposto à política): diz respeito às relações entre as classes da sociedade, na medida em que diferem pela natureza e pela importância dos seus rendimento. ‘As

lutas sociais; as reformas sociais.’ Questão social, primitivamente, a questão de saber como deve ser organizada a

sociedade. Por consequência, problema que consiste em resolver as dificuldades econômicas e morais que a

existência das classes sociais e o fato da miséria levantam. ‘A questão social apresenta-se principalmente nos nossos dias sob a forma de um problema de riqueza material.’ P. LEROUX, ‘Do individualismo e do socialismo’, Oeuvres,

tomo I, p. 368. Muito usual neste sentido (D. Soziale Frage; E. Social question; F. Question sociale; I. Questione sociale). Economia social. C. Num sentido normativo: que é útil ao bem da sociedade (por oposição a anti-social).

‘A palavra social engloba um conceito de finalidade e de moralidade, numa palavra, de aperfeiçoamento da sociedade.’ HAUSER, ‘Dos diversos sentidos do adjetivo social’, Revue int. de l’ens., 1902, p. 25. Cf. observações

sobre Socialismo. D. Que vive em sociedade. ‘É nesta perspectiva que precisamos colocar-nos quando queremos

apreciar os fatos tão admiráveis que a história dos animais sociais apresenta.’ E. PERRIER, Anatomie et physiologie

alteração – não deixando entrever como realidade dada e consumada, pelo senso comum, as ideias e os ideais cultuados a partir do “individualismo burguês”. Se for assim, podemos dizer que está dado o sinal para desconstituir a integralidade do homem enquanto sujeito individual e coletivo, desfigurando a condição racional da ação social enquanto atributo fundamental do gênero humano.

A Teoria Social, como amálgama resultante dessa elaboração, emerge como um produto da práxis humana. Facilita a análise o enfoque da constituição do ser social, na tensão da relação concreto-abstrato, pelo emprego da Dialética. Pois somente a Dialética penetra a essência dos elementos do real criado, como um eixo transverso, referenciado, contraditoriamente, tanto para a formação social como categoria abstrata e/ou quanto ao modo de produção como categoria concreta. Ambas as categorias estão intimamente inseridas, inter-relacionadas, interatuantes e problematizadas pela Lógica Dialética, na constrição total, formada pela Teoria Social. (CANOAS, 2007, p. 12, grifo nosso).