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Nesta pesquisa, objetivamos mostrar o tratamento dado às categorias Tempo, Aspecto e Modalidade nos materiais didáticos de Francês e Português Língua Estrangeira, utilizados nos cursos de Extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para tanto, selecionamos a coleção didática Latitudes, de Francês Língua Estrangeira, com três volumes, três cadernos de exercícios e três guias pedagógicos. De Português Língua Estrangeira, a coleção didática

Bem-Vindo!, com cinco volumes e dois cadernos de exercícios, totalizando 16 livros. A

seleção dos livros foi baseada em três critérios: (a) serem de Língua Estrangeira; (b) serem utilizados em nível de Extensão e (c) serem atuais.

A teoria seguida na pesquisa foi a perspectiva Funcionalista, que concebe a língua em sua interatividade, isto é, nas mais diversas situações de uso, reconhecendo que a língua é mutável, heterogênea. Para isso, a análise foi pautada nos seguintes parâmetros: (i) Tempo: correlação forma(s)-função(ões) e mecanismos de codificação temporal (morfossintáticos e semântico-discursivos); (ii) Aspecto: traços aspectuais de duratividade (habitualidade x iteratividade) e telicidade e mecanismos de marcação Aspectual (aspectos inerente e composicional); (iii) Modalidade: mecanismos de marcação da modalidade por meio do Verbo, Advérbio e do Adjetivo (em posição predicativa) e correlação dos usos modais à fonte e ao alvo.

Na comparação dos percentuais obtidos para os materiais didáticos de Francês e

Português Língua Estrangeira quanto à categoria Tempo, percebemos que os exercícios de

Português Língua Estrangeira se sobressaíram no 1º parâmetro: correlação forma-funções (0,52%), com 4 exercícios, contra (0,09%), com 2 exercícios em relação aos materiais de Francês. Ainda no 1º parâmetro, na correlação função x formas, o percentual dos materiais de Português também estiveram em destaque (1,30%), com 10 exercícios contra (0,94%), com 21 exercícios, do total de 768 exercícios de Português contra 2.232 de Francês. Ao analisarmos o 2º parâmetro, mecanismos de codificação temporal, verificamos que mecanismos morfossintáticos, no material de Português LE, tem percentual de (4,81%) face aos exercícios para os mesmos mecanismos nos materiais de Francês, com percentual de (4,39%). Quanto aos mecanismos semântico-discursivos, o percentual de (1,03%), correspondendo a 23 exercícios nos materiais de Francês se sobressaiu frente ao percentual de (0,78%), correspondendo a 6 exercícios nos materiais de Português Língua Estrangeira.

Em relação à comparação dos percentuais obtidos para os materiais didáticos de

Francês e Português Língua Estrangeira quanto à categoria Aspecto, verificamos para o 1º

parâmetro: traços aspectuais, haver um equilíbrio percentual nos materiais de Francês (1,34%), representando 30 exercícios e nos materiais de Português (1,30%), representando 10 exercícios, sendo estes voltados, também, para o traço duratividade, mesmo que o total de exercícios nos materiais de Francês (2232) seja superior ao total de exercícios nos materiais de Português (768). Nos materiais de Francês, apenas 30 exercícios tratam da categoria Aspecto, sendo o traço duratividade correspondendo a 29 exercícios e telicidade a um exercício. Quanto à marcação aspectual, os aspectos inerente e composicional nos materiais de Português sobressaíram-se, 1,17% (9 exercícios) e 1,30% (10 exercícios) em relação aos de Francês, 1,12% (25 exercícios) e 1,20% (27 exercícios).

Quanto à comparação dos índices obtidos para a categoria Modalidade, dos 2.232 exercícios no conjunto de materiais didáticos analisados em Francês Língua Estrangeira para mecanismos de marcação da modalidade, apenas 186 (8,32%) atividades representaram

o trabalho com a Modalidade, considerando-se um índice baixo, mas melhor do que alguns índices para Tempo e Aspecto. Destas atividades, 135 são relacionadas ao verbo (6,04%), 15 ao advérbio (0,67%) e 36 ao adjetivo em posição predicativa (1,61%). Dos 768 exercícios nos materiais de Português, o percentual para verbo 4,03%, com 31 exercícios; advérbio 1,17%, com 9 exercícios e adjetivo em posição predicativa 0,39%, com 3 exercícios, portanto, se compararmos os materiais de Francês e de Português, os percentuais para verbo e adjetivo (em posição predicativa) mostraram-se maiores nos materiais de Francês que nos de Português. Apenas o percentual do advérbio foi superior 1,17%, com 9 exercícios nos materiais de Português em relação aos de Francês. Na correlação dos usos modais à fonte e ao alvo, 13 exercícios, cujo índice é 0,58%, nos materiais de Francês contra 14 exercícios, representando 1,82% nos materiais de Português. Separadamente, fonte e alvo nos materiais de Português apresentaram índices maiores que nos de Francês: 0,39% e 1,43% contra 0,18% e 0,40%, respectivamente.

O estudo revelou abordagem do Complexo TAM (Tempo, Aspecto e Modalidade, tanto nos Livros Didáticos de Francês quanto nos de Português Língua Estrangeira, embora com percentuais reduzidos, o que pode ser interpretado de modo insuficiente, conforme os padrões aqui analisados, embora visualizemos certo progresso quanto aos exercícios coletados. Para a categoria Tempo nos materiais de Francês, observamos que há preocupação dos autores em conceituar as formas (estruturas) verbais, o que pode facilitar a aprendizagem, quando ao

aluno é destinada atividade para justificar o emprego de uma ou outra forma, além de os guias pedagógicos fornecerem instruções quanto ao uso de algumas formas verbais como é o caso da variação entre formas de futuro e da menção a diferenças temporais: futuro simples e futuro próximo. Nos materiais de Português, os exercícios estruturais de completar lacunas com formas verbais estão sendo substituídos por exercícios de reflexão sobre o uso da língua, além de haver substituição de frases isoladas por gêneros diversos textuais como e-mail, carta, ofício, cartão postal etc, visando ao desenvolvimento de atividades de análise linguística.

Quanto à categoria de Aspecto no Francês, destacamos recorrência dos advérbios e circunstanciadores temporais para expressar frequência; exercícios de transformação de estruturas, por exemplo, do imperfeito para o gerúndio, sem que se analisem traços aspectuais. Os cadernos de exercícios trazem atividades de preenchimento de lacunas com base em circunstanciadores durativos, mas não há análise crítico-reflexiva das noções aspectuais que eles podem aportar. Os livros da coleção Latitudes (vol. 1, 2 e 3) trouxeram mais exercícios sobre os traços aspectuais que os guias (vol. 1, 2 e 3) e os cadernos de exercícios (vol. 1, 2 e 3). Em relação ao material de Português, destacamos que há atividades que poderiam ser utilizadas para o desenvolvimento da análise aspectual e que os exercícios focalizam muito mais a comunicação do que a análise de termos nocionais da categoria Aspecto. Nos dois cadernos de exercícios, há vários textos que, em vez de serem somente trabalhados no âmbito da interpretação textual, deveriam, também, ser aproveitados para questões concernentes ao estudo aspectual.

A quantidade de atividades nos materiais didáticos de Francês para a categoria Modalidade (199) foi superior às duas outras categorias de Tempo (144) e Aspecto (82) e, para os materiais didáticos de Português, a quantidade de atividades tanto para a categoria Tempo (57) quanto para Modalidade (57) foi a mesma. Para a categoria Aspecto (29), o número foi bem menor em relação às duas outras (Tempo, Modalidade) tanto nos materiais de Português quanto de Francês.

Como desdobramentos, sugerimos análise do tratatamento dado ao Complexo TAM ou mesmo a uma só categoria em materiais didáticos editados no exterior, que não sejam necessariamente na França, mas, por exemplo, no Canadá, na Suíça ou em países africanos, cuja língua oficial é o Francês; o mesmo poderia ocorrer em relação a materiais de Português, editados em Portugal, Brasil, Angola, Timor Leste etc. Esperamos que esta pesquisa motive professores, alunos e pesquisadores a analisar e trabalhar o complexo Tempo, Aspecto e

Modalidade (TAM) na aula de LE, pelo viés funcionalista, tendo em vista que todo e qualquer estudo de língua empreendido pode auxiliar no desenvolvimento bem sucedido do processo de aquisição, ensino, aprendizagem e avaliação de língua, visando a desenvolver as habilidades de ouvir, falar, ler e escrever em LE preconizadas no Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas (CECRL), de modo a permitir que aluno se comunique com sucesso em todos os âmbitos da vida em sociedade.

Esperamos, também, que sirva como referência para o aprimoramento de obras didáticas de Francês-LE e de Português-LE, pois na medida em que o material didático oferecer o conteúdo aqui tratado, os professores de LE poderão lidar, por exemplo, com possíveis questionamentos frente a este fenômeno linguístico, ainda desconhecido por muitos na Academia. Levando em consideração que, no processo de ensino de LE, o aluno é tão importante quanto o professor, já que este juntamente com o método são instrumentos de conhecimento, o propósito aqui, além da análise do complexo TAM em materiais didáticos de línguas estrangeiras, foi o de proporcionar, também, reflexões acerca de como as aulas de línguas estrangeiras podem ser direcionadas quando o foco é a língua em uso e seus valores temporais, aspectuais e modais. O fato de os cadernos de exercícios da obra Bem-Vindo, de PLE, dissociaram-se por origem dos alunos (latina ou anglo-saxônica) pode ter sido para facilitar o reconhecimento, em suas línguas maternas, de determinadas estruturas, não implicando, necessariamente, separação e sim atendimento a um público específico. Em relação às categorias sob análise, Tempo, Aspecto e Modalidade, não há diferenças significativas entre esses cadernos.

O conhecimento do conteúdo ora tratado traz para a aprendizagem da LE qualidade no desempenho linguístico tanto de alunos quanto de professores, na medida em que o saber teórico vai-se transformando em fazer pedagógico, motivo pelo qual elaboramos as fichas analíticas, para sistematizar e viabilizar este conhecimento para a prática na sala de aula.

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