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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 193-200)

SEGUNDA PARTE – DIREITO DOS MINORITÁRIOS

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Após descrever a evolução histórica e as relações de poder nas companhias, na primeira parte; assim como, enumerar e testar seis diferentes fundamentações das tutelas dos acionistas minoritários, na segunda parte; o trabalho apresenta conclusões conseqüentes da abordagem crítica, da limitação do objeto no corte epistemológico definido, do respeito ao método escolhido e da literatura selecionada para revisão.

A pesquisa identificou dezesseis espécies de direitos particulares dos acionistas minoritários na legislação vigente e os classificou em três categorias: políticos, patrimoniais e de informação. Além destes direitos, tutelas de proteção foram identificadas em diversos contextos: a) em documentos para-legais como nos Regulamentos de Mercados, exemplificados nos Anexos A e B; b) nos crimes positivados pela Lei 10303/2001; c) nas modernas teorias de responsabilização de atores societários como nas novas formas de desconsideração da pessoa jurídica; d) nas regras legais de funcionamento do mercado estruturadas como deveres dos administradores ou controladores; e, e) nos mecanismos reivindicatórios.

Conclusões pertinentes foram obtidas sobre cada tópico discutido, quanto à evolução das sociedades por ação foi constatado que:

I – Os processos descritos na evolução histórica das sociedades de capital, promotoras das grandes empresas, são adaptações econômicas visando à matização da eficiência com a redução dos custos de transação. Este objetivo demonstra como a existência das pessoas jurídicas justifica-se especificamente nas pessoas naturais que as compõem e na maximização de suas satisfações.

II – Na concepção da empresa, assim como nas práticas de mercado das quais derivam as normas empresariais, foi demonstrada a necessidade do uso da multi, inter e transdisciplinaridade entre o Direito, a Administração e a Economia, apenas exemplificando. III – Na evolução histórica das grandes companhias após o século XIX, foi possível observar fenômenos como a separação da propriedade e do controle, a proposição da democracia acionária e a separação da compreensão da sociedade e da empresa como fatores que apenas aumentavam a importância das tutelas estudadas graças às novas formas de controle.

IV – A máquina que assegura o capitalismo e o modo de vida contemporâneo é a grande empresa representada pela sociedade por ações, e sua atualização, de tempos em

tempos, adicionando inovações para coibir excessos, foi e é necessária, coibindo a concorrência desleal com as legislações antitrustes; evitando abusos de administradores com a despersonalização da pessoa jurídica; e, defendendo o investimento e baixando o custo das transações com as tutelas dos minoritários.

V – Uma democracia acionária pode ser uma ilusão, porém não se pode argüir a extinção de direitos societários pela falta de exercício fático. De fato, a idéia de democracia é considerada utópica e matematicamente contraditória para sociedades humanas que adotam o voto singular – e nem por isso é descartada – o que reafirma a necessidade da busca pela democracia em relação às sociedades por ações, onde o desequilíbrio de poder em uma votação é ainda maior.

VI – A sociedade por ações, como organização jurídica da macroempresa internacional, historicamente consiste em instrumento de eficácia insubstituível na mobilização de poupanças requeridas para os grandes investimentos – impossíveis muitas vezes a pequenos grupos de investidores ou sob os parâmetros de sociedades pessoais. Gradativamente, com a evolução de seu regramento, este ente provocou, diretamente, mudanças cruciais em âmbitos econômicos, sociais e políticos vitais para o modo de vida ocidental e que, conseqüentemente, não podem ser ignoradas pelo Estado.

Quanto às relações de poder nas companhias contemporâneas foi evidenciado que: VII – O poder de controle pode ser resumido como a aptidão efetivamente exercida de determinar as decisões e o funcionamento da empresa, podendo ser dividido em interno ou externo. O controle é interno se é exercido de dentro da sociedade e se subdivide em ordinário – quando decorrente da detenção da maioria acionária – e não ordinário – quando deriva de mecanismos diversos, como acordos de acionistas, contratos ou expedientes legais. O controle é considerado externo quando há poder de fato sendo exercido sobre a sociedade por entes estranhos à sua formação, como a empresa que se coloca sob o domínio fático de credores.

VIII – A noção de controle interno, base da legislação vigente, resta demonstrada como insuficiente para explicar os movimentos econômicos modernos em sua completude. Assim, ramos específicos do Direito definem conceitos próprios – como a ‘influência dominante’ do Direito da Concorrência.

IX – Soluções jurídicas, baseadas na regra do conflito, como o controle difuso dos interesses transindividuais societários foram demonstradas como legais e viáveis, mas insuficientes.

X – As soluções organizativas de conflitos foram demonstradas como as mais eficazes – por eliminar as fontes dos problemas em vez de conceber forma de dirimi-los – além de apresentarem-se como principais propostas na evolução das práticas administrativas como aquelas expressas pela governança corporativa.

Quanto à questão específica das soluções para-legais, como as advindas da tendência da governança corporativa, concluiu-se que:

XI – O debate sobre governança corporativa, com base nos argumentos expostos, deve ser multi e interdisciplinar e pautado em comparações de estruturas e sistemas e considerado como uma resposta inevitável ao processo histórico e econômico global que impõe novos e uniformes regramentos a realidades distintas em nome de um valor universal: a eficiência, meta da análise da AED e da Teoria da justiça como eficiência.

XII – Tanto os avanços na gestão e na regulação – desde o início do Direito Econômico, passando às normas de proteção dos minoritários até as novas regras de fiscalização contábil como Sarbanes-Oxley-Act – são avanços jurídicos com conseqüências e causas concretas que impõem novos desafios à Ciência Jurídica, como a outras ciências, e que não podem ser desfeitos ou ignorados sem um alto custo.

XIII – Já que é um desejo socialmente sentido viver sob um sistema de mercado, que há demanda para uma existência baseada no sistema de produção da grande empresa, que ainda há necessidade socialmente sentida de elevação da eficiência, e conseqüentemente do consumo, é inevitável vigiar – consertando e aperfeiçoando a máquina que assegura ao capitalismo seu funcionamento além das fórmulas positivadas.

Quanto à fundamentação dos direitos estudados no Direito Constitucional, foi evidente:

XIV – O Estado Democrático de Direito é a síntese histórica de dois conceitos: o constitucionalismo, que significa limitação do poder e proteção de valores e direitos fundamentais; e, a democracia, que representa a soberania popular, ou nacional, visando o bem comum. Devem existir, nestes termos, domínios reservados à Constituição e outros sujeitos à deliberação majoritária dos órgãos eletivos – estes são os principais argumentos na limitação da aplicação dos comandos constitucionais nas relações já reguladas por legislações próprias.

XV – Nas matérias em que não haja reserva constitucional, vigora a supremacia da lei, nos termos em que a disciplina foi aprovada pelo Congresso Nacional. A decisão política do legislador somente deixará de prevalecer se for contrária à Constituição. Ao Judiciário, no sistema pátrio, cabe a missão de interpretar o direito posto, inclusive integrando

os comandos normativos mediante valorações concretas e escolhas necessariamente fundamentadas, não podendo, portanto, criar direito diverso do legislado – deliberado segundo processo democrático (salvo na hipótese já descrita de inconstitucionalidade).

XVI – Não se observam na legislação vigente incompatibilidades reconhecidas pela doutrina ou pela jurisprudência, da LSA até a Lei 10.303/01, os diplomas societários restam completamente compatíveis com os princípios constitucionais analisados, quais sejam: os implícitos, da boa fé, da função social do contrato e da razoabilidade; e, os expressos, da função social da propriedade e do equilíbrio econômico-financeiro.

XVII – Nas tentativas de aplicação de fundamentações dos direitos dos acionistas minoritários no Direito Constitucional houve uma dupla negativa: a primeira, na impossibilidade na identificação e no reconhecimento de princípios implícitos; e, a seguida, na insuficiência de penetração da teoria da horizontalização dos Direitos Fundamentais, ou em sua eficácia direta, na prática brasileira. Dos dados obtidos, resulta a idéia de que se pode defender a relação de emanação constitucional dos dispositivos de proteção estudados em uma lógica retórica, mas que não restam evidências concretas que indiquem a relação fática entre os comandos da Constituição e as tutelas estudadas, pelo menos na legislação e prática jurídicas pátrias.

XVIII – Devido a fatores organizacionais de produção, como a economia de escala, a grande empresa é a unidade de trabalho primaz do mundo contemporâneo. Gerida pelos particulares ou pelo Estado, esta modalidade jurídica de organização privada constitui a forma das instituições fundamentais na evolução econômica do mundo ocidental, representando a resposta primeira às demandas de produção, consumo, investimento e desenvolvimento de tecnologias. Desta forma, o ente estudado resta intimamente vinculado ao interesse público, enquanto exerce função social em larga escala, e importa para a sobrevivência de consumidores, investidores, empregados e fornecedores, assim como, para a manutenção de uma sociedade desenvolvida e aberta à iniciativa privada – valores constitucionalmente positivados – resultando em vetor unitário de viabilização de direitos subjetivos públicos como o desenvolvimento econômico e o bem estar social.

Quanto à fundamentação do objeto de estudo na AED e na teoria da justiça como eficiência concluiu-se que:

XIX – Desde seus primórdios, a evolução do Direito Societário, como parte do Direito Privado, é demonstrada com as práticas, regramentos e costumes de cada época típicos das tecnologias disponíveis, mas com a busca de um elemento comum: a eficiência. Também é observado que a evolução da técnica, inclusive jurídica, propicia a elevação da eficiência e

da racionalidade neste ramo da atividade humana reduzindo gradativamente o desperdício, o desequilíbrio, os abusos e todos os outros fatos que possam ensejar insatisfação social.

XX – Ainda observando a evolução do Direito Societário, com a progressiva elevação da eficiência continuada historicamente com o objeto deste trabalho, conclui-se que é possível também a justificação das tutelas estudadas pela AED, assim como é possível observar que sua prática, difusão e desenvolvimento restam como necessidades prementes para a elevação do padrão de vida em toda a sociedade.

XXI – Evidencia-se o esvaziamento da importância da AED sem a teoria da justiça como eficiência, e vice-versa, em uma relação de meio e fim.

XXII – Identifica-se na AED e na teoria da justiça uma solução científica para a busca primaz da axiologia e filosofia jurídicas, substituindo hipóteses por pressupostos e inaugurando a possibilidade de Direito como ciência em sua forma e conteúdo, como nem mesmo Kelsen (2006) concebeu como viável.

Quanto à fundamentação com base no surgimento de novos valores morais, pela análise dos objetivos jurídicos de tipos penais correlatos verificou-se que:

XXIII – Em certos casos, com a dinamização das relações e o surgimento de novas regras, é possível observar-se o aparecimento de novos valores morais na forma de bens jurídicos tutelados. Porém, no caso estudado, não resta claro o surgimento de uma nova moral advinda de revolução técnica ou social, mas, sim, o desenvolvimento contínuo e o aprimoramento dos valores e das normas que os positivam. A existência e o fácil reconhecimento de valores como respeito pela propriedade representada pela ação, o repúdio aos abusos e a defesa de interesses societários – mesmo que transindividuais – surgem com as primeiras sociedades por ações, entretanto, as inovações debatidas não se situam no campo axiológico, da definição dos valores, mas, sim, do jurídico, da regulação das práticas.

XXIV – Quanto à hipótese do surgimento de novos bens jurídicos pode-se afirmar que, dentre as normas estudadas, a possibilidade aventada não pode ser confirmada, por exemplo: a) nos crimes da Lei 10.303/01 os objetos jurídicos eram quase que totalmente dirigidos ao Direito Econômico; b) nos dezesseis direitos particulares em três categorias (políticos, de informação e patrimoniais), ou mesmo nas tutelas dirigidas ou nos direitos gerais de acionistas, os novos dispositivos apresentavam apenas evoluções de valores tutelados a muito tempo e inerentes às funções societárias.

Quanto à fundamentação motivada nas opções de políticas públicas concluiu-se que:

XXV – A reforma da Lei das Sociedades por Ações, iniciada em 1997 e consagrada com a Lei 10.303/2001, teve como forte inspiração as recomendações de práticas de governança corporativa tutelando especificamente acionistas minoritários. Estas modificações sucessivas foram motivadas pelo crescimento da participação privada no mercado brasileiro – bastando lembrar que, antes de 1990, a maioria das grandes empresas brasileiras eram estatais – e propiciaram o processo de privatização e a abertura do mercado que hoje tem função vital na economia pátria com a captação de recursos externos.

XXVI – A política governamental de substituir o endividamento público pela participação acionária, permitindo que o capital estrangeiro entrasse no país na forma de investimento direto, resultou em grandes mudanças na adaptação da economia brasileira à globalização e à maior competitividade internacional dela decorrente. Desta forma, as mudanças normativas estudadas constituíram parte vital na transição da economia brasileira, do mercado restrito e cativo, decorrente da política de substituição de importações para um novo modelo, mais aberto e moderno, com um mercado de capitais um pouco mais fortalecido.

XXVII – As inovações pátrias, legais e normativas, estudadas representam avanços parciais. O mercado de capitais brasileiro ainda precisa crescer e se democratizar muito para promover um sistema efetivo de investimentos que seja capaz de propiciar o tal almejado desenvolvimento – como direito subjetivo presente na CF/1988 e associado ao bem- estar social – com mais produção, riqueza, emprego e distribuição de renda – mas esta evolução legislativa envolve, necessariamente, uma opção política – gênese e fim de qualquer operação jurídica.

Como uma síntese final evidencia-se que:

XXVIII – Quanto ao objeto estudado, concebe-se que todos os acionistas, em princípio, devem ter tratamento igualitário e compatível à natureza e quantidade de sua participação no capital. Desta forma, as tutelas específicas de minorias não devem ser entendidas como prerrogativas especiais apenas justificadas pela quantidade ou natureza das ações possuídas por certo grupo, mas, sim, como prerrogativas funcionais com o fim específico de evitar a violação de direitos pela maioria por meio de abusos, mantendo um equilíbrio mínimo dentro do quadro acionário.

XXIX – Os avanços procedimentais e legislativos descritos não podem arrefecer a busca por novas alternativas; neste sentido, estudos mais aprofundados em especificidade das tutelas estudadas são aconselhados, assim como, a busca constante de atualização do tema nos mais diversos setores: no âmbito jurídico, com o surgimento de futuras legislações ou

entendimentos jurisprudenciais; no âmbito econômico, com novas práticas societárias, contratuais e cambiárias; ou, em âmbito acadêmico, por inovações intelectuais.

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