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Participação dos Minoritários na Composição do Conselho de Administração

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 168-171)

SEGUNDA PARTE – DIREITO DOS MINORITÁRIOS

4 PROTEÇÃO DOS MINORITÁRIOS

4.3 TUTELA DOS MINORITÁRIOS NA LEGISLAÇÃO PÁTRIA ATUAL

4.3.5 Participação dos Minoritários na Composição do Conselho de Administração

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Em grande parte das vezes, nas grandes companhias mercantis contemporâneas a propriedade é dissociada da gestão. Embora 90% das grandes companhias tenham origem em organizações familiares (PERIN JUNIOR, 2004), ao atingir certo grau de complexidade e dispersão, as sociedades por ações usualmente buscam profissionais especializados – sem relações patrimoniais com a sociedade – para ocuparem funções relativas a sua administração. Ascarelli (1945) já defendia que quanto maior a difusão das ações entre o público, maior seria a dissociação entre a propriedade e a gestão.

Foi exatamente o acréscimo da complexidade das atividades produtivas e gerenciais das sociedades que determinaram a necessidade de um órgão de administração específico para fiscalizar a gestão dos executivos – e este é o Conselho de Administração, órgão que controla a diretoria ao representar os interesses dos sócios.

A importância deste órgão é comprovada historicamente pela sua existência em sociedades como a Companhia Siderúrgica Nacional sob a vigência da legislação anterior (Lei 2.627/1940) em que não era sequer previsto. Na atualidade, a legislação impõe o sistema bipartido de administração, as sociedades por ações no Brasil, entre a Diretoria – como órgão executivo – e o Conselho de Administração – como órgão deliberativo intermediário entre a Assembléia Geral e a Diretoria. Na legislação brasileira o Conselho de Administração é constituído por acionistas pessoas físicas, em número mínimo de três, e sua escolha cabe à Assembléia Geral; este órgão é obrigatório nas sociedades anônimas abertas, nas sociedades anônimas de capital autorizado e nas sociedades de economia mista.

Este modelo de sociedade por ações composta por cinco órgãos sociais, adotado pelo Brasil, apresenta pequenas variações em sistemas estrangeiros, sendo então sistema consagrado mundialmente. Mesmo em sistemas nominalmente unitários de administração, como o norte-americano, existem dois níveis decisórios o board of directors (que não exerce funções executivas) e os officers, que gerem a sociedade – equivalentes à dualidade pátria.

Na estrutura das sociedades por ações cabe à Assembléia Geral, como órgão exclusivamente deliberativo, representar a coletividade dos acionistas e tem a competência de definir os rumos da companhia; o Conselho de Administração é órgão deliberativo composto por acionistas que representam grupos ou conjuntos de acionistas na sociedade; compete à Diretoria, composta de administradores – sócios ou não sócios, a representação e a administração da sociedade; e, por fim, o Conselho Fiscal, como fiscalizador dos negócios sociais, é órgão colegiado de existência obrigatória e funcionamento facultativo (exceto nas sociedades de economia mista quando é sempre permanente).

A competência do Conselho de Administração é expressa no art. 142 da LSA e consiste em: a) fixar orientações gerais dos negócios; b) eleger os administradores; e, c) fiscalizar a gestão da companhia. Dessa forma, este órgão deve ser representativo para ser legitimo, sem ignorar os interesses financiadores da atividade empresária e sem permitir o monopólio de controladores.

A própria definição legal de controlador, como descrito na LSA art. 116, decorre do poder de eleger a maioria dos administradores da companhia, mas este não é um poder absoluto. Atenuando a relação de poder, a legislação prevê formas capazes de proporcionar certo nível de participação aos minoritários no Conselho de Administração.

O primeiro avanço neste sentido foi o voto múltiplo, presente na LSA, no art. 141, e reforçada com a lei 10.303/01 com a inclusão dos parágrafos 4º e 5º. O processo de eleição dos componentes do Conselho de Administração pelo voto múltiplo consiste na possibilidade de acionistas representando, no mínimo, um décimo do capital social votante atribuir a cada ação tantos votos quanto sejam os membros do Conselho, sendo-lhes facultado cumular os votos num só candidato ou distribuí-los entre quantos desejar.

A faculdade do voto múltiplo pode ser requerida até 48 horas antes da Assembléia Geral e tem como objetivo proporcionar maior legitimidade na representação por proporcionar a eleição de membros, mesmo contra a disposição dos controladores, e em até certos casos, contra a maioria – garantindo a defesa de interesses minoritários.

Exemplificando, para clarear o entendimento, se um conselho é composto de 8 membros, cada ação terá direito de 8 votos. Cada acionista pode dispersar seus votos ou concentrá-los, possibilitando que um grupo minoritário detenha, dependendo de fatores de organização e dispersão dos grupos votantes, a maior possibilidade de participação de minorias.

Ainda sobre o voto múltiplo, pode-se assegurar que, se existem 8 vagas simultâneas para membros do conselho e um acionista que possui 13% das ações desta companhia, e se esse minoritário concentrar todos os seus votos em apenas um candidato, já garante matematicamente sua representação – mesmo se isso for contra a vontade dos outros sócios representativos de 87% da sociedade.

A instrução da CVM 282/98, que alterou a de nº 165, regulamentou o voto múltiplo fixando uma escala, em função do capital social, de participação acionária mínima necessária ao requerimento do procedimento do voto múltiplo para a eleição dos membros do Conselho de Administração. Segundo esta norma, o percentual mínimo varia entre 10% de

participação (para sociedades com capital inferior a R$10.000.000) até 5% de participação – para sociedades com capital social superior a R$100.000.001.

Amendolara (2003), ao ressaltar que: “independente do voto múltiplo a Lei 10.303/01 estabeleceu a participação de acionistas com direito a voto e preferencialistas no Conselho de Administração”, se refere aos § 4º e 5º adicionados ao art. 141 da LSA, a saber:

Artigo 141 [...]§ 4o Terão direito de eleger e destituir um membro e seu suplente do conselho de administração, em votação em separado na assembléia-geral, excluído o acionista controlador, a maioria dos titulares, respectivamente: I - de ações de emissão de companhia aberta com direito a voto, que representem, pelo menos, 15% (quinze por cento) do total das ações com direito a voto; e II - de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito de emissão de companhia aberta, que representem, no mínimo, 10% (dez por cento) do capital social, que não houverem exercido o direito previsto no estatuto, em conformidade com o art. 18.

§ 5o Verificando-se que nem os titulares de ações com direito a voto e nem os titulares de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito perfizeram, respectivamente, o quorum exigido nos incisos I e II do § 4o, ser-lhes-á facultado agregar suas ações para elegerem em conjunto um membro e seu suplente para o conselho de administração, observando-se, nessa hipótese, o quorum exigido pelo inciso II do § 4o.

Deve-se ressalvar este dispositivo pela regra prática: sempre que, cumulativamente, a eleição do Conselho de Administração se der pelo sistema de voto múltiplo, com minoritários e preferencialistas elegendo seus conselheiros, os controladores terão direito de eleger número igual aos eleitos por esses acionistas, mais um, o que significa que a norma visa a proteção dos interesses dos minoritários, mas não o abuso deste direito com a tomada de controle através de representações desproporcionais.

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 168-171)