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DEVERES E SUSPENSÃO DE DIREITOS

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 96-99)

PRIMEIRA PARTE – SOCIEDADE POR AÇÕES

3 PODER NA SOCIEDADE POR AÇÕES

3.3 DEVERES E SUSPENSÃO DE DIREITOS

Quanto aos deveres – também descritos na diferenciação de pressupostos e requisitos – eles podem ser examinados de forma genérica, como deveres dos sócios, ou de maneira especifica, como dos acionistas. Borba (2004, p.38) ilustra que “o dever básico e fundamental do sócio em relação à sociedade é o de integralizar suas cotas”, e mesmo neste caso incide uma particularidade com a sociedade por Ação de Cobrança prevista na LSA (art. 107, I), além das soluções disponíveis no NCC (art. 1004).

O Código Civil vigente permite três alternativas básicas à situação do sócio remisso (aquele que subscreve e não integraliza fração da sociedade no prazo), a saber: 1) que se devolva o valor pago excetuado de mora e dos custos decorrentes do descumprimento excluindo o sócio; 2) que se reduza a participação do remisso ao valor efetivamente pago; ou, 3) pode-se exigir indenização pelo atraso definindo novo prazo. A LSA propõe uma solução

particular (art. 103) ao permitir que a sociedade promova a venda das ações do remisso, disponibilizando ao mesmo o saldo após a dedução dos juros, da multa e dos custos; ou, no caso da venda não baste para o pagamento do debito do acionista, pode a sociedade proceder à cobrança judicial em relação ao saldo descoberto.

Restiffe (2006, p. 177) indica então duas soluções aos sócios remissos nas sociedades por ações, abertas ou fechadas no trecho: “A companhia, diante de um acionista remisso, tem duas opções: i) cobrança do valor a integralizar; ou ii) alienação das ações do remisso na bolsa de valores, por meio de leilão especial”.

A responsabilidade dos sócios nas S/A é limitada após a integralização, mas a própria LSA ressalva, no artigo 108, que, no caso das ações não integralizadas, os alienantes continuarão responsáveis, solidariamente com os adquirentes, pelo pagamento das prestações que faltarem para integralizar as ações transferidas – até dois anos após a alienação.

Em relação a outros deveres gerais, Borba (2004, p. 39) arremata que:

O Contrato Social poderá estabelecer outros deveres para o sócio, cumprindo lembrar que, independentemente de previsão contratual, há um dever – o dever de lealdade – que, embora difuso, estará tanto mais presente quanto maior for o grau de identificação do sócio com a vida social.

Considerando então as obrigações específicas dos acionistas, ratifica Requião (2003) a posição de Borba (2004) a repetir que:

A principal obrigação dos acionistas é realizar, nas condições determinadas nos estatutos ou no boletim de subscrição, as entradas e prestações de suas ações. Além disso, tem o sócio, como todo membro de uma coletividade constituída e organizada, o dever de lealdade para com a sociedade. (REQUIÃO, 2003, p. 145).

Sobre este segundo dever, baseado no princípio da boa fé – já presente no BGB – e positivado como princípio fundamental societário no BGHZ há um aprofundamento em item específico, mas seu enunciado, como ensina Wolfang Schilling (apud REQUIÃO, 2003, 146), é:

Nenhum sócio pode exercitar seus direitos para conseguir vantagens particulares estranhas à sociedade ou para causar-lhe danos ou a outros sócios. De outro lado, ele não deve antepor seus interesses àqueles da sociedade (BGHZ, 14,15).

Outra obrigação usualmente adotada por sócios em relação à sociedade é o compromisso arbitral, de certo esta possibilidade deve ser prevista no estatuto ou em contrato entre acionistas, mas há respaldo legal para tal relação na Lei 9307/1996 – que dispõe sobre arbitragem. Prevista clausula compromissória ou compromisso arbitral, os litigantes terão que se submeter ao arbitramento, visto que o eventual processo judicial que propuserem poderá ser extinto, segundo o comando do artigo 267, VII, do Código de Processo Civil.

A possibilidade da clausula arbitral pelo §3o que a Lei 10303/01 adicionou ao art.109 da LSA pode parecer um instituto de dinamização das relações ao evitar a morosa justiça brasileira, mas Borba (2004, p. 327) alerta que:

Essa norma afronta o equilíbrio contratual, posto que fere ao controlador, que tem poder de alterar o estatuto a prerrogativa de fixar as regras para a solução, mediante arbitramento, das controvérsias entre ele e os minoritários ou a companhia.

Esse argumento não é falso, mas como resposta pode-se afirmar que é cabível, em todo caso, a interpretação de todos os dispositivos legais devem ser operados sob a luz dos princípios e regras que coíbem o abuso de direito, o voto abusivo e as práticas não eqüitativas. A possibilidade de instituir a cláusula aumenta os poderes do controlador, mas o faz aumentando as possibilidades de dinamização dos conflitos sociais.

Os temas dos direitos e dos deveres encontram-se associados na previsão do artigo 120 da LSA – que confere competência para a assembléia geral de suspender o exercício dos direitos de acionista ao sócio que não cumprir seus deveres legais ou institucionais. Mesmos os direitos ditos essenciais podem ser suspensos como explica Borba (2004, p. 322):

A suspensão abrangerá tanto os direitos modificáveis como os essenciais, pois suspender não significa privar, tanto que o acionista, uma vez cumprida a obrigação, recupera com efeitos ex tunc, os direitos que estavam suspensos.

Ressalva-se a esse argumento que certos direitos não podem retroagir, por contingências lógicas, como o direito de voto em uma assembléia realizada durante o processo de suspensão, mas que cessa imediatamente a suspensão tão logo é cumprida a obrigação.

A suspensão do exercício dos direitos dos acionistas constitui sanção aplicada pela assembléia geral ao acionista que não cumprir suas obrigações. Se o acionista não paga suas obrigações, evidentemente ele não votará na assembléia. Não atendendo às chamadas de capital não receberá dividendos, a não ser sobre o que efetivamente investiu. Requião (2003, p. 162-163) ilustra que “a sanção é regulada pelo artigo 120, extensiva ao exercício de todos os direitos, e a causa será o não cumprimento de qualquer obrigação imposta pela lei ou pelo estatuto, que prejudique ou perturbe a vida social”.

Relembra Requião (2003) como ressalvas significativas à matéria dos direitos e deveres dos acionistas: 1) que a legislação reconhece a isonomia em relação às classes de ações no Direito Brasileiro – isso significa que ações da mesma classe devem conferir mesmos direitos e obrigações; e, 2) que os meios processos ou ações que a lei confere ao acionista para assegurar seus direitos, não podem ser extintos por estatuto ou por decisão da

assembléia geral. Também é válido citar que, no capítulo terceiro, há um estudo detalhado a cada um dos direitos referidos.

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 96-99)