• Nenhum resultado encontrado

Direito de recesso ou retirada

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 164-166)

SEGUNDA PARTE – DIREITO DOS MINORITÁRIOS

4 PROTEÇÃO DOS MINORITÁRIOS

4.3 TUTELA DOS MINORITÁRIOS NA LEGISLAÇÃO PÁTRIA ATUAL

4.3.3 Direito de recesso ou retirada

Define-se direito de recesso, retirada ou dissidência como a faculdade do sócio insatisfeito de retirar-se da sociedade. Esta insatisfação geralmente decorre da aprovação, pela Assembléia Geral ou outro órgão decisório, de matérias que conflitam com os interesses pessoais do sócio. Neste caso, a sociedade deve efetuar o pagamento do reembolso de suas ações ou cota-parte.

Muitas vezes esta faculdade decorre do estatuto ou contrato social, mas também há legislação sobre o tema – mesmo que as previsões normativas sejam erráticas ao longo do tempo. A origem do instituto no Brasil é o Decreto-Lei 3.708/19 que, versando sobre as Sociedades por cotas Limitadas, enunciava:

Artigo 15. Assiste aos sócios divergentes da alteração do contrato social a faculdade de se retirarem da sociedade, obtendo o reembolso da quantia correspondente ao seu capital, na proporção do último balanço aprovado (grifo nosso).

O Código Civil posterior condicionou o direito expresso no excerto legal ultracitado asseverando que:

Artigo. 1077. Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subseqüentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no artigo 1031.

Em uma evolução cronológica, é vital lembrar que em relação às sociedades por ações, o Decreto-Lei 2.627/40, vigente até 1976, manteve a disposição anterior e que a Lei 6.404/76, ao tratar do tema em seu artigo 107, assegura aos acionistas o direito de retirada, nos casos previstos em lei, como “direito essencial”. Em resumo, a consolidação do direito de retirada, nesta fase, é explicada por Perin Junior (2004) como um mecanismo político decorrente das diretrizes fixadas ao assegurar a retirada da sociedade se não forem mantidas as mesmas prerrogativas existentes no momento de seu ingresso.

Depois de 1976, existiram diferentes legislações com intenções diversas – ora acrescendo ora diminuindo – em relação às possibilidades de retirada inscritas no artigo 137 e seguintes da LSA de 1976. Dentre elas, a de maior destaque foi a proposta pelo senador Edison Lobão, a Lei 7.958/89, que extinguiu o direito de retirada previsto nos incisos VI (incorporação da companhia em outra, sua fusão ou cisão) e VII (participação em grupo de sociedade) do art. 136. O próprio senador registrou que o projeto pretendia “defender a agilidade das sociedades anônimas e evitar que os pequenos acionistas embaracem a vida dinâmica das empresas”, ou seja, a lei era justificada pelo casuísmo e consistente na revogação de direitos contrária às tendências mundiais.

Desta polêmica, restou demonstrado que o recesso não é um direito inderrogável por lei expressa como os direitos essenciais que não podem ser modificados ou suprimidos – devido à natureza das sociedades por ações – como o direito de participar nos lucros, de participar do acervo em caso de liquidação e de fiscalizar a gestão dos negócios.

A Lei 9.457/97 (Lei Kandir) interferiu, como a Lei 7.958/89 (Lei Lobão), no direito de recesso, modificando a LSA ao criar mais limitações ao direito de recesso – ampliando a Lei Lobão para facilitar os processos de privatização de empresas estatais. A Lei 9.497/97, ao modificar os art. 136 e 137 da LSA provocou discussões doutrinárias sobre a eventual eliminação do recesso para hipóteses de incorporação, fusão, cisão e participação em grupos de sociedades. Amendolara (2003, p.94) explica o retrocesso da Lei Lobão na necessidade casuística de promover os programas de privatização do governo, especialmente do Sistema Telebrás.

De fato, como muitos institutos jurídicos no país, o direito de retirada era objeto de abusos gerando a “industria do recesso” – quando ações eram adquiridas para ser liquidadas com a retirada – o que, segundo as alegações da época, trazia malefícios às empresas. De fato, este argumento não é compatível com uma economia de mercado em que vise dar, além de segurança, liquidez ao investimento. Ademais, vetar a retirada do

investimento em certo empreendimento é condicionar negativamente a eficiência de todo o sistema – forçando a aplicação de recursos em um negócio sem atratividade ao mercado.

A Nova LSA (Lei 10.303/2001) pretende regular a questão de forma equilibrada, como explica Perin Junior (2004, p. 105):

Outrossim, a Lei 10.303/2001. recém-aprovada, restringe bastante a possibilidade de haver exclusão do exercício do direito de retirada – como já dissemos – por acionistas dissidentes de deliberação que aprovar operação de fusão ou incorporação de sociedades, na medida em que passa a exigir que os dois requisitos instituídos pela lei de 1997 – liquidez e dispersão – sejam atingidos de forma cumulativa.

A nova lei, 10.303/2001, outorga a CVM poderes para definir o índice representativo de liquidez que deve ser considerado para efeito do inciso II do art. 137. diversos autores, como Arnold Wald (2002), indicam que a nova redação possibilitará na maioria das companhias – pelo menos a médio prazo, até o mercado atingir níveis superiores de pulverização – o exercício, pelos acionistas dissidentes, de deliberações que aprovem reestruturação societária, o direito de retirada.

As possibilidades legais de retirada, na legislação vigente para as sociedades por ações, encontram-se nos artigos 136 e 137 da LSA e ocorrem: 1) na criação de ações preferenciais sem guardar proporção com as demais classes sem previsão estatutária; 2) nas alterações nas preferências, vantagens ou condições de uma ou mais classes de ações preferenciais; 3) na redução do dividendo obrigatório; 4) fusão, cisão ou incorporação da companhia; 5) na mudança de objeto social; e, ainda é possível a retirada quando a sociedade promove sua anexação a grupo de sociedades, como prevê o artigo 265 do mesmo diploma.

Por fim, é válido citar que em outros casos de exclusão do sócio que não constituem saída voluntária também remanesce o direito de reembolso baseado na relação entre o patrimônio líquido social e sua participação social, mesmo fora da regulação da LSA, como nos casos dos artigos 1085 (quando sócio põe em risco sociedade) e 103 (na incapacidade superveniente) do NCC consagrando esta fórmula como universal.

4.3.4 Tutela dos Acionistas Minoritários na Hipótese de Fechamento do Capital de

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 164-166)