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MECANISMOS REIVINDICATÓRIOS

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 172-176)

SEGUNDA PARTE – DIREITO DOS MINORITÁRIOS

4 PROTEÇÃO DOS MINORITÁRIOS

4.4 MECANISMOS REIVINDICATÓRIOS

4.4.1 Ombudsman

Existem, no sistema legislativo eleito no corte epistemológico, três mecanismos de que se podem valer os investidores para resolver questões relativas às operações em suas relações com as sociedades corretoras. O ombudsman é um profissional cuja função básica é ouvir queixas, solucionar dúvidas ou controvérsias que envolvam investidores e intermediários do mercado, como as sociedades corretoras, ou a própria Bolsa de Valores.

Este termo, segundo o Dicionário Oxford (2001, p. 993)100 significa “an official appointed to

investigate individuals’ complains against maladministration, especially that of public authorities. From swed., ‘legal representative’.”

Partindo da definição sintética e restrita de um dicionário para a complexidade da

New Columbia Encyclopedia (HARRIS, 1975, p. 203)101 ombudsman teria dois sentidos básicos: o da origem, no serviço público; e o da modernidade, este sim de interesse do mercado de capitais e típico da iniciativa privada. A definição pioneira é demonstrada no excerto:

Ombudsman [Swed.=agent or representative], public official appointed to deal with individual complains against government acts. The office originated in Sweden in 1809 when the Swedish legislature created a risksdagens justitieombudsman, or parliamentary agent of justice, and in the 20th cent. it has been adopted by a number of countries […].

Quanto à atualidade privada, prossegue a mesma obra afirmando que:

[...] As a governament agent serving as an intermediary between citizens and the government bureaucracy, the ombudsman is usually independent, impartial, universally accessible, and empowered only to recommend. In the United States the term ombudsman has been used more widely to describe any machinery adopted by private organizations (e.g. large business corporations and universities). (HARRIS, 1975, p. 203).

Este vocábulo deriva do idioma sueco, no sentido primário de representante dos cidadãos, mas, no século XX, o termo foi usado tanto no âmbito privado como público – para designar um elo imparcial entre uma instituição e sua comunidade de usuários – evoluindo no mercado de valores para representar o profissional contratado por uma instituição qualquer para receber críticas, sugestões e reclamações e, agindo de forma imparcial, ser capaz de defender os interesses de toda a comunidade. Uma expressão equivalente no idioma português seria o termo ouvidor102 (COLLINS, 1989).

Esclarece sobre seu funcionamento na Bovespa Amendolara (2003, p. 177-178), com autoridade de quem já trabalhou deste ente, que:

As reclamações e consultas destinadas ao ombudsman deverão ser encaminhadas por meio do serviço de atendimento ao público da Bovespa. A consulta será por ele examinada que verificará se a demanda constitui matéria de sua competência. Em até 48 horas o investidor, sendo pertinente a demanda, será solicitado a formalizar sua demanda por escrito, em um documento assinado. Com esse documento o ombudsman inicia o processo de atendimento do investidor, buscando solucionar a questão amigavelmente através de acordo.

100

THE CONCISE OXFORD DICTIONARY. New York: Oxford University Press Inc., 2001.

101

HARRIS, Willian H. et alli. The New Columbia Encyclopedia. London: Columbia University Press, 1975.

102

COLLINS, Michael et alli. Michaelis: pequeno dicionário inglés-português, português-inglês. São Paulo: Melhoramentos, 1989.

4.4.2 Câmaras de Arbitragem

Instituída como câmara arbitral para atuação em bolsa, nos termos da Lei 9.307/1996, a Câmara de Arbitragem do mercado tem por objetivo atuar na composição de conflitos que possam surgir nos segmentos especiais de listagem da Bovespa, como o Novo Mercado (Anexo B) ou nos níveis diferenciados de governança corporativa (Anexo A). O acesso a estes “segmentos especiais de mercado” dependem do compromisso, voluntário, de transparência e governança corporativa, dentre os quais se destaca o prévio compromisso e reconhecimento da autoridade de uma instância arbitral, específica e técnica, para dinamizar a solução de conflitos relacionados ao mercado de capitais.

Segundo as normas internas da Bovespa, a Câmara de Arbitragem do Mercado tem a finalidade de atuar na solução de eventuais conflitos que possam surgir em razão, da aplicação, validade, eficácia, violação, interpretação das disposições contidas na LSA., nos Estatutos Sociais das companhias, nas normas editadas pelo Conselho Monetário Nacional, pelo Banco Central do Brasil e pela CVM, nos regulamentos da BOVESPA inclusive o Regulamento do Novo Mercado (ANEXO B), o nível 2 de governança corporativa (ANEXO A) e contratos correlatos, e nas demais normas aplicáveis ao funcionamento do mercado de capitais em geral.

Por meio de regras próprias, a Câmara de Arbitragem do Mercado proporciona uma alternativa para solução de controvérsias, com a vantagem de trazer mais agilidade e economia, menos formalismo, além de árbitros especializados nas matérias a ser decididas. Os custos e os prazos para a resolução de conflitos em um órgão como este é incomparavelmente mais vantajoso que a busca de uma solução por meio dos órgãos judiciais.

Dessa forma, com a instauração dessa câmara arbitral, a Bovespa propicia decisões mais técnicas, baratas e rápidas propiciando mais segurança e menor custo aos investimentos nos mercados a que esta instância é imposta.

Quanto à definição, o fundo de garantia da Bolsa é uma exigência legal que possui a finalidade de ressarcir os clientes de seus associados dos prejuízos que lhes sejam ocasionados por ato doloso ou culposo dos membros da entidade. Há quatro hipóteses de reclamação que ensejam a garantia expressa por esta reserva, a saber: - na inexecução ou infiel execução de ordens; - no uso inadequado de numerário entregue às sociedades corretoras para operação em bolsa; - no uso inadequado referente à entrega de valores mobiliários para venda ou para custódia; e, - na entrega o comitente de valores mobiliários ilegítimos ou de circulação proibida.

Na Bovespa, o acesso ao Fundo de Garantia depende de um processo administrativo com foro na sede da própria Bolsa de Valores em que se encontra localizada a sede ou dependência da corretora que efetuou a operação, o prazo da ação é de seis meses, contados da ocorrência do fato, e o órgão competente para deliberação é o Conselho de Administração da Bolsa.

Há ainda a possibilidade de recurso administrativo em relação à decisão do Conselho de Administração, este recurso é destinado a CVM, o prazo é de dez dias contados da deliberação, este recurso conta com efeito suspensivo e é final em âmbito administrativo.

As indenizações são efetuadas em valores da mesma espécie e, quando esgotados os procedimentos recursais, a Bolsa deverá pagar em três dias, se o valor é definido pecúnia, ou em quinze dias, se o valor é de natureza mobiliária.

Soluções para-legais como o fundo de garantia em bolsa – além dos direitos e das outras tutelas descritas – descrevem a dogmática conceitual do objeto estudado. É fato que as faculdades descritas sejam o cerne do tema, porém sua abordagem só será sistematicamente integrada depois de estudadas suas possíveis fontes de fundamentação.

No documento Direito dos Acionistas Minoritários (páginas 172-176)