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A ação política que se desenvolveu sobre os lavradores na Baixada se deve, em larga medida, aos dirigentes das Associações de Lavradores e da Fede- ração das Associações de Lavradores do Estado do Rio de Janeiro (Falerj). De âmbito estadual, a Falerj coordenava as ações de suas associadas, que se voltavam para o nível municipal.

Vale ressaltar aqui o importante papel desempenhado pelos comunistas na Falerj. Eles orientaram sua formação e acompanharam seu trabalho. Havia, entre os dirigentes da federação, camponeses que eram membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ou que eram “área de infl uência” dele. Alguns dos dirigentes vinculados ao PCB eram mesmo oriundos da cidade, com passagem pelo movimento operário ou por organizações de favelados, e que se deslocaram para o trabalho no campo.24

A criação de uma entidade estadual de representação dos lavradores precedeu a formação de associações locais e teve na Baixada, justamente, seu ponto de partida. De forma mais específi ca, foi na região de Xerém, em Duque de Caxias, que a entidade foi criada, no início dos anos 50. Sua base era composta de lavradores que vinham sendo alvo de tentativas de expulsão.

Irradiando-se de Duque de Caxias, o trabalho de organização era feito a partir de áreas que enfrentavam problemas de despejo. Era na própria luta, nas resistências contra os despejos, e também nas ocupações, que eram criadas as associações. Dessa forma, apesar de se dirigirem para os lavradores em geral, era sobre os posseiros que, na prática, as associações concentravam suas atenções. Ao mesmo tempo, embora seu âmbito fosse municipal, eram os posseiros das áreas mais mobilizadas, dentro de cada município, que controlavam as associações.

Da mesma maneira que suas associadas, a Falerj centrava suas ações sobre os posseiros, fazendo convergir suas atividades particularmente para a Baixada, apesar de sua pretensão de abarcar todo o estado do Rio. Seus quadros mais atuantes eram posseiros vindos, em grande parte, de Duque de Caxias e de Nova Iguaçu, e que se revezavam nos principais cargos de direção (Grynszpan, 1987, p.137-42).

24 Para uma análise mais detida das relações entre o PCB e a Falerj, ver Grynszpan (1987,

Contribuindo para a afi rmação da presença de posseiros na Baixada, essas organizações, é fundamental destacar, conformavam seus próprios representados. Ao mesmo tempo, ao projetarem o posseiro como um novo ator político, apresentando-se como suas legítimas representantes e porta-vozes, elas impunham a si mesmas no campo político. Assim, à medida que era através da luta que se afi rmava a presença do posseiro, era também, basicamente, através dela, da mobilização, que o grupo ligado à Falerj afi rmava sua presença e sua força políticas.

É preciso ver, contudo, que, se a ação política foi central na conformação dos próprios grupos de posseiros, isso não pode ser creditado tão-somente às relações que uma das forças presentes no campo fl uminense, no caso a Falerj, infl uenciada pelo PCB, entreteve com os lavradores. Na verdade, uma vez que se afi rmava como um novo ator na cena política, o posseiro passava a ser objeto de disputas entre diversos agentes que buscavam es- tender sobre ele o seu controle e que, em assim fazendo, contribuíam para legitimar e consolidar sua presença na região.

Alguns líderes tradicionais e novos políticos em ascensão passaram a de- senvolver uma estratégia de atração dos posseiros, incluindo-os em seus dis- cursos e programas. Esse foi o caso do governador petebista Roberto Silveira. Ele, que já durante a sua campanha havia prometido proteção aos posseiros e uma reforma da estrutura agrária do estado, criou, logo no início de seu governo, em 1959, o Plano de Colonização e de Aproveitamento de Terras Devolutas e Próprias do Estado. O plano teria um executor e atuaria como um órgão do governo, voltando-se para os problemas e os confl itos de terra.

Na verdade, o Plano de Colonização funcionou como um instrumento para a criação de bases do governo e para o fortalecimento da liderança individual de Roberto Silveira no campo. Suas realizações eram apresenta- das pelo jornal Última Hora, ligado ao PTB, como frutos da ação pessoal do governador, ao mesmo tempo em que eram promovidas manifestações de lavradores, em Niterói, como o objetivo de agradecer a ele pelo que vinha sendo feito.25

É certo que diversas áreas tiveram sua desapropriação decretada pelo plano. Igualmente através dele, contudo, foram formadas associações e mesmo uma outra federação de lavradores paralela àquelas controladas pelos comunistas.

Foi principalmente nas áreas em que o Plano desenvolveu alguma atuação que o governo Roberto Silveira criou suas associações, congregando-as, a partir de 1960, numa Federação dos Lavradores do Estado do Rio de Janeiro (FLERJ). A cooptação parece ter representado um mecanismo importante para a formação dessas associações de lavradores e, da mesma forma, para a competição com a já existente Falerj. Foi através da criação do Plano,

em larga medida, que a FLERJ pôde penetrar e disputar algumas das áreas controladas por aquela outra federação (Grynszpan, 1987, p.308-11).

Com a morte de Roberto Silveira, em fevereiro de 1961, a FLERJ perdeu o apoio do Plano. O vice-governador Celso Peçanha, eleito pelo Partido Social Democrático (PSD), que havia, ainda nos anos 50, rompido com o PTB após um longo período de aliança na política estadual, mostrou-se sensível às pressões da Falerj e de entidades de trabalhadores urbanos ligadas a grupos de esquerda, nomeando para o Plano um diretor por elas aprovado.

A FLERJ, entretanto, passou a contar com o apoio da Federação dos Cír- culos Operários Fluminenses (FCOC), que, através dela, procurou ampliar sua infl uência no campo. Entidade leiga criada nos anos 30 a partir do Rio Grande do Sul, os Círculos Operários inseriam-se, então, num movimento geral da Igreja Católica no sentido de promover sua doutrina e de reforçar seus vínculos com os trabalhadores. Atuando diretamente junto aos sindi- catos, eles tinham em vista, ainda, como um de seus principais objetivos, conter a ascendência da esquerda entre os operários (Wiarda, 1969; Sch- neider, 1965; Bruneau, 1974).

Apesar de, inicialmente, ter uma atuação voltada para os trabalhadores urbanos, os Círculos Operários buscaram também estabelecer bases junto aos camponeses. Eles lograram alcançar força considerável nas áreas rurais de estados como São Paulo e o próprio Rio de Janeiro.26

Em sua atuação no estado do Rio, juntamente com a FLERJ, os Círculos Operários desenvolveram uma intensa disputa com a Falerj e com o PCB, contando com o apoio, inclusive fi nanceiro, do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) (Dreyfuss, 1981, p.310). Nessa disputa, que teve nos posseiros um de seus principais móveis, seu discurso se baseava em categorias como formação, promoção, conscientização e família.27 Suas

linhas básicas de ação eram a criação de organizações e a assistência moral, material e, principalmente, jurídica, aos posseiros.28 Ações como as ocupa-

ções eram condenadas enfatizando-se que, se o objetivo era obter terras, isso deveria ser feito através de meios estritamente legais.29

Em sua disputa pelos lavradores, FLERJ e FCOF, por um lado, e Falerj e PCB, por outro, buscavam neutralizar-se mutuamente, ao mesmo tem-

26 Para um estudo detalhado da formação da estrutura dos Círculos Operários, ver Wiarda

(1969). Para uma análise de sua atuação específi ca no campo fl uminense, ver Grynszpan (1987, particularmente os capítulos 4 e 5).

27 Cf. Conclusões do VIII Congresso Nacional dos Círculos Operários, 1962, e Centro de Treinamento

de Trabalhadores Rurais do Estado do Rio de Janeiro – CETTRERJ, s/d. Documentos cedidos por

Eduardo Príncipe, que trabalhou junto à FCOF na formação de organizações camponesas.

28 Relatório da Diretoria da Federação dos Círculos Operários Fluminenses, 1963. Documento cedido

por Eduardo Príncipe.

29 Entrevista com Laécio de Figueiredo Pereira, antigo presidente da FCOF, realizada em 1986.

Ver também declarações do padre Antônio da Costa Carvalho, assistente eclesiástico da FCOF nos anos 60, em Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4/3/1964, 1o caderno, p.4.

po em que tentavam ampliar as próprias áreas de atuação. Para tanto, procuravam deslegitimar as pretensões de seu opositor, apontando sua inconsistência, denunciando sua inautenticidade, negando que houvesse uma correspondência entre suas propostas e os “verdadeiros” interesses aos quais se dirigiam.

Ainda que criticando o radicalismo e o açodamento da Falerj e das esquer- das, ainda que investindo no refreamento da mobilização, é preciso ver que a FLERJ e a FCOF se dirigiam, também elas, aos posseiros, reconhecendo-os e contribuindo, assim, para consolidar a sua presença. Ao mesmo tempo, isso levava a que, ao combaterem a moderação e o legalismo extremados das lideranças sob a infl uência da FCOF, os dirigentes da Falerj, por seu turno, ter- minassem por enfatizar, ainda mais, a combatividade, a mobilização e a luta. É claro, contudo, que a confi guração de forças presentes no campo fl umi- nense, particularmente na Baixada, atuando entre os posseiros, teve outros elementos além dos já referidos. Um deles, bastante importante, foi o grupo do então deputado federal Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque. Tenório construiu sua liderança política justamente na Baixada, a partir de Duque de Caxias, utilizando-se da violência e do clientelismo.30

Foi mais claramente na disputa pelo governo fl uminense, em 1962, que Tenório, candidato pelo Partido Social Trabalhista (PST), começou a se aproximar dos posseiros. A cobertura que o seu jornal, Luta Democrática, fazia dos confl itos no campo do estado do Rio, antes lacunar, passou en- tão a tornar-se sistemática. O periódico assumiu, de forma explícita, uma postura favorável às associações de lavradores e à Falerj, defendendo suas ações e seus interesses. Mais ainda, o próprio Tenório começou a intervir diretamente em algumas lutas, prestando seus serviços de advogado, pro- videnciando a soltura de lavradores presos, pressionando autoridades por soluções favoráveis aos lavradores e denunciando violências na tribuna da Câmara.

O que garantia espaço no Luta Democrática era, principalmente, a mobi- lização e a luta pela terra. Era, portanto, para os posseiros que o grupo de Tenório voltava suas atenções, e que o candidato destinava uma grande parte das medidas agrárias propostas em seu programa de governo.31

Deve-se ressaltar, entretanto, que os interesses de Tenório com relação aos posseiros extrapolaram o momento do pleito de 1962. Se a aproximação mais efetiva se iniciou a partir daqui, ela, todavia, não fi ndou com a sua derrota para o petebista Badger Silveira, irmão de Roberto Silveira. Pelo contrário, o Luta Democrática manteve sua posição favorável aos lavrado- res e, mais ainda, um grupo ligado ao jornal e a Tenório iniciou um tipo de ação que ia bem além da mediação com as autoridades, do apoio e da

30 Para um estudo da trajetória de Tenório Cavalcanti, ver Beloch (1986). 31 Cf. Luta Democrática, Rio de Janeiro, 12 e 13/8/1962.

cobertura das lutas. Esse grupo passou a promover, ele mesmo, resistência e, principalmente, ocupações de terras.32

O que estava em jogo era a tentativa de formar uma máquina tenorista no campo com base em esquemas clientelísticos. Não se buscava o fortale- cimento das organizações camponesas, mas, sim, a afi rmação da liderança pessoal de Tenório e também de seu grupo, que passavam a se mostrar, eles mesmos, como distribuidores de terras aos posseiros. A execução desse projeto, contudo, acabaria gerando tensões entre o grupo e a sua antiga aliada, a Falerj (Grynszpan, 1987, p.325-29).

Sem procurar percorrer todo o leque de forças que atuavam no campo fl uminense, concentrando-se na Baixada, o que importa marcar, enfi m, é que a entrada dos posseiros na cena política provocou deslocamentos e rearranjos. Reivindicações e palavras de ordem até então veiculadas apenas pelas esquerdas foram adotadas também por outros setores.

As desapropriações, feitas a princípio pelo Governo estadual e depois pelo Federal, passaram a ser disputadas por políticos que procuravam mostrá-las como fruto de sua intervenção.33 Igualmente pequenos políticos,

buscando ascender a afi rmar sua liderança, bem como obter ganhos eleitorais mais imediatos, tentaram promover ações como resistências e ocupações.

A própria ação do governo João Goulart, através da Superintendência de Política Agrária (Supra), criada ao fi nal de 1962 com a incumbência de planejar e executar medidas de reforma agrária, contando, para tanto, com poderes especiais de desapropriação, contribuiu para que se formasse no estado do Rio um contexto favorável à mobilização através de resistências e ocupações.34 E foi na Baixada, justamente, que a intervenção do Governo

Federal se fez sentir de maneira mais evidente.

Foram quinze as áreas que tiveram a sua desapropriação decretada pela Supra, em todo o Brasil, até o fi nal de 1963. Delas, cerca de 50%, isto é, sete, localizavam-se no estado do Rio, sendo praticamente todas, com ex- ceção de apenas duas, situadas na Baixada.35 Além dessas, duas outras áreas

seriam desapropriadas pela Supra ainda antes do golpe de 1964, ambas na

Baixada. Tratava-se das fazendas Agro-Brasil, em Cachoeiras de Macacu,

e Tocaia, em Magé.

32 Para uma análise detida da atuação do grupo de Tenório no campo fl uminense, ver Grynszpan

(1987, particularmente os capítulos 4 e 5).

33 Ver, por exemplo, o caso da desapropriação da Fazenda São Lourenço, em Duque de Caxias,

em agosto de 1961, que era disputada por Badger Silveira e Bocayúva Cunha, do PTB e por Tenório Cavalcanti. Última Hora, edição do estado do Rio de Janeiro, Niterói, 21/8/1961, 2o

caderno, p.1; Luta Democrática, Rio de Janeiro, 22/8/1961, p.2.

34 Foi a partir de 1963, com o início das atividades da Supra, que as ações desapropriatórias,

até então encaminhadas pelo governo estadual, passaram a ser de iniciativa federal.

35 Relação das áreas desapropriadas no Brasil, Serviço de Planejamento Territorial da Supra. Do-

cumento cedido por Eduardo Martins, antigo técnico do Plano de Colonização de Terras Devolutas e Próprios do Estado.

É certo que o caminho que levava do decreto de desapropriação à coloni- zação das terras pelos lavradores era longo e tortuoso. Para que pudesse ser imitido na posse de um terreno, consumando a desapropriação, o governo deveria efetuar o pagamento da indenização que, segundo o parágrafo 16 do artigo 141 da Constituição de 1946, seria justa e em dinheiro. Como a justeza da indenização era passível de julgamento, isso signifi cava que o pagamento não levava, necessariamente, à efetivação da desapropriação. Na verdade, muitas vezes a indenização nem mesmo chegava a ser paga, limitando-se o governo, que alegava não dispor de recursos sufi cientes, a publicar sucessivos decretos de desapropriação, que caducavam após algum tempo, possibilitando assim a reprodução das condições de confl ito. Apesar disso, é igualmente certo que os decretos de desapropriação, sempre divul- gados amplamente pelos jornais, por si sós, já representavam um tento a favor dos posseiros, legitimando suas aspirações. O próprio fato de serem avidamente disputados por diversos agentes é indicativo de sua importância política naquele momento.

O Governo Federal também procurava extrair ganhos políticos das desa- propriações e, igualmente, da mobilização. Através delas, ele tanto poderia aumentar sua credibilidade junto aos camponeses e outros setores quanto pressionar o Congresso para que aprovasse medidas mais efetivas que pos- sibilitassem a realização da reforma agrária.36 Nessa investida, a Baixada, o

maior colégio eleitoral do estado e vizinha à cidade do Rio de Janeiro, um dos mais importantes centros políticos do país, ocupou um lugar estratégico.

Percebe-se, portanto, que a entrada dos posseiros no espaço político pro- vocou deslocamentos e gerou ainda ao seu redor um processo de disputas. Desse processo, um dos resultados foi o reconhecimento de sua existência e de seus problemas. Mais do que isso, porém, foi a própria presença numé- rica dos posseiros que se ampliou em meio às disputas. Ainda que fossem distintas as representações que cada agente buscava impor dos posseiros, ainda que não fossem coincidentes suas propostas de ação, um efeito claro da competição foi o reforço da mobilização e da luta, das resistências e, principalmente, das ocupações.

CONCLUSÃO

As questões desenvolvidas neste artigo têm um âmbito mais amplo do que o caso fl uminense, ou mesmo o campesinato. De fato, elas dizem respeito ao

36 O governo João Goulart vinha se empenhando para que a Constituição fosse reformada,

permitindo que as desapropriações fossem feitas não em dinheiro, mas em títulos da dívida pública. As fortes resistências por parte dos setores conservadores, no entanto, difi cultariam a aprovação da medida, levando os grupos de esquerda a iniciar uma série de mobilizações, visando a pressionar o Congresso. Sobre esta questão, ver Camargo (1981).

problema geral da formação, da inserção e da participação política de grupos e atores sociais, e seria mesmo interessante que também fossem aplicadas a outros atores, em outros cenários. O que busquei, com o estudo das lutas pela terra na Baixada, foi demonstrar que esses grupos e atores podem ser conformados pela ação política, que tanto pode conferir novos contornos a grupos preexistentes quanto pode, propriamente, constituir grupos em si.

Essa ação se desenvolve por via de um trabalho de arregimentação, de agrupamento, de organização e de mobilização. Através dele o grupo se objetiva, apresentando-se com organizações, porta-vozes e lutando por seus interesses.

Igualmente importante é o trabalho de nomear e tornar público o novo ator. O que se joga através dele, mais do que a simples atribuição de rótulos, é a imposição de uma forma de percepção do espaço social que, de um só golpe, legitime as pretensões do novo ator e deslegitime as de seus inimigos. Não basta, por isso mesmo, nomear apenas o novo ator. É preciso nomear também, ao mesmo tempo, seus inimigos e os problemas de que se afi rma ser ele vítima. É dessa forma que se pode entender de que modo um fato cotidiano, corriqueiro, como a saída de lavradores das terras da Baixada, pode se transformar num despejo, numa questão social, num problema político.

Viu-se como, no caso analisado, a Justiça e a imprensa se constituíram em arenas privilegiadas das lutas pela nominação. Na primeira, os embates se faziam por intermédio de advogados, que, esgrimindo seus argumentos, procuravam associar não apenas a legitimidade, mas igual, e principalmente, a legalidade aos lavradores. Já na segunda, o que se tratava era de confor- mar uma imagem pública para os posseiros e seus problemas. Para tanto, foram também importantes, além da imprensa, os eventos políticos, como as manifestações produzidos nas cidades.

A inserção de um novo ator no espaço político transforma seus princípios de divisão, provocando deslocamentos e rearranjos, gerando disputas que, por sua vez, se refl etem sobre o próprio ator e sua representação. Assim, pôde-se ver como a afi rmação do posseiro, na Baixada, produziu em torno dele uma competição. Esta, por seu turno, além de contribuir para o seu reconhecimento no campo político, terminou por reforçar a mobilização e, por conseguinte, a própria presença de posseiros através de ocupações de terras. Dessa forma, a análise do caso das lutas pela terra, na Baixada, permite-me acrescentar que, se a ação política é conformadora de atores, ela não se dá de forma isolada, solitária. A competição e a diversidade po- líticas são, do mesmo modo, constituidoras das características sociais do novo ator. E mais, o próprio locus geográfi co onde a ação se concentra pode passar, em função dela, a ser percebido de forma distinta, como ocorreu na

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAVI, H. Revolução no campo. In: Problemas e perspectivas do socialismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.

ARAÚJO, F. G. B. Lutas pela terra na Baixada da Guanabara. Rio de Janeiro, 1982. Dissertação (Mestrado em ) – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.