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CIDADANIA EM CONSTRUÇÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES NO PROCESSO DE “EXCLUSÃO”/INCLUSÃO

I. O PERCORRER METODOLÓGICO

1.1 Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa-ação, que segundo Thiollent (2000, p. 9) :

... é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou partipativo.

Esta participação supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional e que tem como objetivo central oferecer ao pesquisador e grupos participantes, meios de “responder com maior eficiência aos problemas da situação em que vivem em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora” (p. 8). A pesquisa-ação tem o seu real alcance ao que é denominado nível microssocial (indivíduos, pequenos grupos). Nela, os pesquisadores desempenham papel ativo na realidade observada, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas para a solução dos problemas encontrados. Consiste, portanto, em uma ação planejada. Entretanto, a participação do pesquisador não deve nunca substituir a autonomia do grupo (Thiollent, 2000).

Este mesmo autor apresenta os três principais aspectos da estratégia metodológica de uma pesquisa-ação, que foram seguidos pela autora, cuja síntese é a seguinte :

1. Ampla interação entre pesquisador e pessoas implicadas na investigação;

2. Estabelecimento das prioridades dos problemas pesquisados e das soluções a serem encaminhadas. O objeto da investigação na realidade não é constituído apenas pelas pessoas, mas pela situação social em que diferentes problemas são encontrados.

Para alcançar este aspecto, foi realizado inicialmente um diagnóstico situacional a partir de dados demográficos (dados quantitativos) para a análise da

realidade local. O diagnóstico é uma leitura da realidade que permite a compreensão (conhecimento ou identificação dos problemas) e a sistematização das prioridades, inclusive as de saúde de uma população, bem como o conhecimento de suas características sócio-econômicas e culturais. Em um segundo momento, procurou-se elaborar um Planejamento Participativo com o qual a população pudesse discutir seus problemas em busca de soluções para as dificuldades encontradas. Houve momentos de reflexão da população com a pesquisadora sobre a realidade concreta num processo dialógico bidirecional democrático, uma vez que se acredita que só a partir do diálogo e da participação ocorre à transformação.

3. O objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou esclarecer uma situação observada.

Há em torno do processo todo um acompanhamento das decisões. Para implantar o embrião da cooperativa denominado ReciclaReal houve um período de discussão e amadurecimento da situação. Este processo ocorreu entre 06/05/2002 a 07/10/2002, num total de 27 reuniões, quase sempre realizadas semanalmente. Às vezes, ocorriam duas reuniões na mesma semana. Estas aconteciam no Centro de Saúde Real Parque, no período das 19h00min. às 22h00min, ocasião em que a autora era a diretora técnica de serviço. Todas as reuniões foram registradas em atas. Este processo desencadeou a etapa seguinte: a implantação do ReciclaReal.

A pesquisa-ação pretende que o cientista social coloque os seus instrumentos a serviço da construção, junto aos excluídos, de uma sociedade mais igualitária e justa. Permite trabalhar com grupos oprimidos, com o objetivo de construírem juntos uma realidade vivida, e a partir daí, identificar meios de superação. São nos movimentos sociais que os excluídos conseguem se reapropriar de sua identidade e autonomia, com a invenção de novas maneiras de trabalho, incluindo a produção de conhecimentos.

Segundo Brandão (1990), uma pesquisa problematizadora em Ciências Sociais implica em recusar os mitos da objetividade e neutralidade para assumir uma postura intencional política. Não se limita a captar ou constatar como se vive e fala determinado grupo social, mas como acontece sua postura:

Prever o que seria necessário fazer com vistas a dissolver os conflitos e reforçar a coesão social. (...) O que nos interessa é mergulhar na espessura do real, captar a lógica dinâmica e contraditória do discurso de cada ator social e de seu relacionamento com outros atores, visando a despertar nos dominados o desejo da mudança e a elaborar, com eles, os meios de sua realização (BRANDÃO, 1990, p. 25).

O mesmo autor afirma que não devem ser esgotadas as alternativas de novas buscas e caminhos para decifrar a realidade. Brechas que estão escondidas podem ser descobertas. A realidade não é estática, é dinâmica e, por isto, é importante interrogar-se sempre. É com este desejo que o cientista social deve ter como proposta político-pedagógica a pesquisa-ação que busca o envolvimento do pesquisador no processo de mudança. Desta maneira, ele adota dupla postura: a de observador crítico e a de participante ativo. Em outras palavras:

A finalidade da pesquisa-ação é de favorecer a aquisição de um conhecimento e de uma consciência crítica do processo de transformação pelo grupo que está vivendo este processo, para que ele possa assumir, de forma cada vez mais lúcida e autônoma seu papel de protagonista e ator social (BRANDÃO, 1990, p. 27).

O objetivo do pesquisador é clarificar para o grupo, a prática vivida e preservar uma distância crítica da realidade. A sua verdadeira inserção reside no limiar entre a identificação com os protagonistas do grupo e a do distanciamento necessário que lhe permita uma reflexão crítica. Deve observar a rede de relações sociais em que vive a comunidade com seus desafios e possibilidades de mudanças. Este trabalho implica em dois momentos distintos: construção inicial de suas hipóteses de base, a partir de uma problemática, e a verificação da consistência destas hipóteses iniciais em entrevistas realizadas com os protagonistas da experiência.

Segundo Thiollent (2000), há dois tipos de objetivos da pesquisação: objetivo prático e o de conhecimento. Assim, a pesquisa ação no Real Parque visou: