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VI. QUANDO TUDO COMEÇOU: O NÚCLEO DO REAL PARQUE

6.2 O problema do lixo no Brasil

O Brasil produz cerca de 125.000 toneladas diárias de lixo urbano. Somente 15% têm seu destino em aterro sanitário; 67% vão para lugares a céu aberto; 13% para aterro controlado e apenas uma pequena parte, 5% a 10%, reciclados. (MAGERA, 2003).

De acordo com Froes (2005), consultor da área ambiental, é preocupante a situação dos resíduos sólidos no Brasil por falta de uma política adequada. A maioria dos municípios brasileiros, em torno de 80% (mais de 5,5 mil), não recebe nenhum tipo de tratamento e tem seus resíduos sólidos domiciliares e industriais destinados a lixões. Na grande maioria das cidades brasileiras, a coleta regular não ultrapassa os 60% de seus respectivos territórios. Provavelmente, mais de 500 mil pessoas sobrevivam da “catação” de materiais recicláveis no país, mercado que gera mais de um milhão de empregos.

Em outras palavras: nem sempre os lixos são coletados pelo poder público. Dados da Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria-Geral da Presidência da República (2005) mostram que a coleta de lixo cresceu 2,7% entre 2003 e 2004. Em 1999, havia 20,0% das residências sem atendimento por serviço de coleta de lixo e em cinco anos, esta parcela caiu para 14,2%. Apesar destes dados mostrarem uma melhora, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, (2000) revela que o Brasil destina cerca de 64% dos seus resíduos, sem tratamento, ora degradando o solo (em lixões), ora em cursos d’água e ora no ar. Esta disposição inadequada é um grave problema de Saúde Pública, comprometendo muitas vezes o abastecimento doméstico de água, de forma permanente. Constitui-se, portanto, num dos agravantes importantes para o recrudescimento de epidemias, como a dengue e a febre amarela.

Dados da UNICEF mostram que os catadores estão presentes em 3.800 municípios brasileiros. Estima-se que 10 a 20% dos resíduos urbanos acabam alimentando 90% das indústrias de reciclagem de plástico, vidro, papel, alumínio e ferro, fazendo do país um dos campeões mundiais de reciclagem de alumínio. Se, por um lado, isto é um dado bastante positivo, contribuindo para a limpeza do planeta, por outro, é um meio de subsistência de muitos, apresentando um quadro de como as pessoas vivem em condições subumanas. Detecta-se, desta maneira, a discrepância da distribuição de renda que se concentra em apenas 10% da população, gerando enorme quantidade de lixo, enquanto quase um terço dos habitantes do país passa fome. Em alguns países como o Japão, a reciclagem de materiais está associada à modernidade, enquanto que no Brasil, liga-se às condições de subsistência, devido à miséria de parte da população (PROGRAMA NACIONAL LIXO & CIDADANIA, 2005).

O lixo do Brasil é considerado um dos mais ricos do mundo, contendo uma quantidade enorme de materiais que poderiam ser reciclados. É constituído de objetos de todos os tipos como papel, papelão, vidros, plásticos, algumas vezes, objetos de valor e alimentos vencidos que, muitas vezes, são o único meio de sobrevivência de milhares de pessoas que vivem à margem da sociedade.

O Brasil tornou-se atualmente o campeão em reciclagem de latas de alumínio, ultrapassando o índice de reciclagem32 dos EUA e Japão. Em 1989, o índice de reciclagem de latas no Brasil era em torno de 40,40%, em 1996, este índice atingiu 70%, (CALDERONI, 1999). O alumínio dos materiais recicláveis é o que mais tem valor, pois apresenta como vantagem não degradar e pode ser reciclado inúmeras vezes, sem perder suas características no processo de aproveitamento, diferente de outros materiais, como as garrafas plásticas que, quando recicladas, não podem ser utilizadas para guardar alimentos. Por isso, o seu valor residual é muito alto. 75 latinhas de alumínio correspondem a 1 kg de alumínio e são utilizados apenas 5% da energia que seria utilizada na produção, a partir do alumínio primário. Reciclar alumínio tem o gasto de 1/10 dos custos da mineração e

32 Por índice de reciclagem entende-se o percentual representado entre o total de latas usadas na reciclagem e o total de latas fabricadas, no mesmo período. (CALDERONI, 1999)

refino do minério a partir da bauxita33. Segundo a Alcoa do Brasil (2006), reciclar uma lata de alumínio economiza a luz elétrica que daria para o funcionamento de uma televisão durante três horas. Uma lata reciclada volta às prateleiras do supermercado em 90 dias, mas Calderoni é ainda mais otimista afirmando que 42 dias é o ciclo completo entre consumo/reciclagem/consumo. Em 2004, segundo dados da Compromisso Empresarial com a Reciclagem, associação sem fins lucrativos dedicado à promoção de reciclagem, o Brasil reciclou 9 bilhões de latas de alumínio, representando 121 toneladas (CEMPRE, 2006). Este dado representa que 95,7 % de produção de latas foram recicladas em 2004, números que superam paises industrializados, como o Japão e Estados Unidos. Em 2004, os USA recuperaram apenas 51% de suas latinhas. Uma lata de alumínio demora 100 anos para degradar na natureza. (CEMPRE, 2006). Em termos de controle ambiental, afirma Calderoni (1999), quem ganha com a reciclagem é a natureza, pois consegue reduzir 97% de poluição da água, 95% da poluição do ar, quando comparada à poluição que a matéria prima virgem produziria. Além do mais, a bauxita tem os seus dias contados, com duração estimada em cerca de 50 a 100 anos no mundo. O que se pode inferir com estes dados é que bilhões que estavam perdidos no lixo, podem ser recuperados conseqüentes à economia obtida pela bauxita, como também pela energia. Esta economia é feita sem nenhum esforço das prefeituras, pois os catadores de latas de alumínio se, de um lado, estão limpando o planeta, o fazem sem nenhuma consciência, por outro lado, o fazem, para tirar a sua subsistência, com uma remuneração mensal de 300,00/mês segundo Calderoni (1999).

O vidro, semelhante ao alumínio, pode ser reciclado inúmeras vezes sem sofrer degradação e perda de qualidade. 46% das embalagens de vidro são recicladas no Brasil. Destes, 40% são oriundos das indústrias de envaze, 40% do mercado difuso, 10% de bares, restaurantes e hotéis e 10% refugo da indústria. Além de voltar a produção de embalagens, pode ser usado na composição de asfalto para a pavimentação, construção de sistema de drenagem para enchentes, produção de fibras de vidro, bijuterias e tintas reflexivas. Os vidros para reciclagem não podem conter espelhos, lâmpadas, cristais, vidro usado em automóveis, por terem composição química diferente e, se misturados, perdem a qualidade, podendo

33 Bauxita: é o minério de alumino responsável pela quase totalidade de produção de alumínio primário. (CALDERONI, 1999)

causar trincas nas embalagens. Os cacos não podem estar misturados com terra, louças, pedras e cerâmicas, da mesma maneira, poderá haver a formação microparticulas. Eles devem ser separados pela cor, para que não haja alterações do padrão e de valor agregado ao produto. Os frascos de medicamentos podem ser reciclados se medidas cautelosas forem tomadas, como serem coletados separadamente, se não estiverem contaminados. (CEMPRE, 2006)

A reciclagem de papel é diferente da lata de alumínio e vidro. O papel perde muito em suas propriedades ao ser reciclado. No Brasil, ainda não existe a cultura do papel reciclado como nos paises adiantados, tais como os Estado Unidos, onde mais da metade dos papéis de escritório é reciclada. No entanto , o que há a ressaltar é que em muitos casos, o custo da fabricação de papel a partir do papel reciclado é maior que a partir da celulose virgem. (CEMPRE, 2006).

A maior demanda (86%) de papel reciclado se origina das indústrias e comércio. Em 2004, 33% do papel que circularam no Brasil foi advieram do papel reciclável, em torno de duas mil toneladas. No Brasil, existem 22 tipos de aparas, nome genérico dado ao resíduo de papel industrial ou doméstico. As aparas mais nobres são aquelas que não tê m impressão ou qualquer revestimento, as denominadas "brancas de primeira". São consideradas aparas mistas aquelas formadas pela mistura de vários tipos de papéis. (CEMPRE, 2006).

O lixo que advém do papel de escritório é formado por diversos tipos de papéis, assim a coleta deve ser separada em categorias. O papel branco (de computador) é o mais valioso. Com menor valor, são os papéis que contem diferentes fibras e cores, os denominados mesclados, também coletados para reciclagem. Os papéis vegetais, parafinados, carbono, plastificados e metalizados, não são encaminhados para reciclagem, bem como papéis usados para fins sanitários. (CEMPRE, 2006).

Nos Estados Unidos, em 2003, o papel de escritório constituía 3,3% do lixo. O papel demora a degradar em aterros quando não há contato com ar e água, mas, em local seco pode permanecer durante anos. Nos Estados Unidos, foram encontrados em aterros, jornais da década de 50, ainda em condições de serem lidos. (CEMPRE, 2006).

O papel ondulado, popularmente chamado de papelão, embora o termo não seja tecnicamente correto, é usado basicamente em caixas para transporte de produtos para fábricas, depósitos, escritórios e residências. Este material tem uma camada intermediária de papel entre suas partes exteriores, disposta em ondulações, na forma de uma sanfona. É classificado conforme sua resistência e teor de mistura com outros tipos de papel em três categorias. No Brasil, foram reciclados, em 2004 79% do volume total de papel ondulado. Nos EUA, a recuperação de embalagens de Papelão Ondulado atingiu em 2003, 74%. O valor do papel ondulado varia muito conforme a região e o preparo do material após a separação do lixo. Em São Paulo, o papel e o papelão - incluindo o papel ondulado - correspondem a 18.8% do lixo. Em São Paulo, o papel e papelão corresponderam a 11% do peso do lixo urbano em 2003. (CEMPRE, 2006).

O Plástico filme é uma película plástica normalmente usada como sacos de lixo, sacolas de supermercados, embalagens de leite (exceto tetrapak), lonas agrícolas (impermeáveis para proteção de grãos já colhidos, preservação de umidade do solo, e estufas para culturas sensíveis) e proteção de alimentos que vão ao microondas e geladeira. Os principais consumidores de plástico filme separado do lixo são as empresas que fabricam artefatos plásticos com matéria prima reciclável, como eletrodutos e sacos de lixo. No Brasil, o maior mercado é o da reciclagem primária, em que não existe uma separação por tipo de resina. Economizam-se até 50% de energia com o uso de plástico reciclado. (CEMPRE, 2006).

No Brasil, em media 16,5% dos plásticos rígidos e filme são reciclados, o que equivale a cerca de 200 mil toneladas por ano. Na Europa, há anos a taxa de reciclagem é de 22%, sendo que em alguns países, a prática é regulada por legislações rigorosas diferentemente do Brasil, onde a reciclagem acontece de forma espontânea. Ele é de difícil degradação nos aterros sanitários. Atualmente esta sendo estudada sua substituição por plásticos biodegradáveis e fotodegradáveis (que se degradam pela ação da luz). (CEMPRE, 2006).

O plástico rígido é a matéria-prima básica de diversos produtos.Cerca de 77% das embalagens no Brasil são plásticas, tais como recipientes para produtos de garrafas de refrigerantes, limpeza e higiene, potes de

alimentos, baldes, utensílios domésticos, fibras têxteis, tubos e conexões, calçados, eletrodomésticos, além de outros produtos. O consumo brasileiro é em torno de 3,9 milhões de toneladas de plástico por ano. O plástico pode ser reprocessado, gerando novos artefatos plásticos na produção de baldes, cabides, garrafas de água sanitária, conduítes e acessórios para automóveis, além de gerar energia. (CEMPRE, 2006).

De um total de plásticos rígidos e filme, 16,5% dos consumidos no Brasil retornam à produção como matéria-prima, sendo que, destes, 60% advêm dos resíduos industriais e 60% do lixo urbano. (CEMPRE, 2006).

Segundo dados recentes do Ministério do Desenvolvimento Social, com base em 76 municípios, no Brasil, existem cerca de 1,8 milhões de pessoas que vivem nas ruas do lixo. Cerca de 45.000 crianças, em todo o Brasil, trabalham na catação de lixo, sendo que 30% delas se acham marginalizadas da escola (PROGRAMA NACIONAL LIXO & CIDADANIA, 2005).