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VI. QUANDO TUDO COMEÇOU: O NÚCLEO DO REAL PARQUE

6.1 A questão ambiental

A dinâmica do descarte começou ficar evidente na sociedade a partir dos anos 60, período de transição do sistema fordista para a acumulação flexível, período em que ficou acentuada a efemeridade dos produtos, como mecanismo de aceleração do giro dos bens no consumo. Nasce a cultura da descartabilidade, conseqüente à produção de mercadorias: pratos, copos, talheres, embalagens guardanapos, roupas etc. Isto expressa jogar fora bens produzidos, criando um grande problema ambiental sobre o que fazer com o lixo. (HARVEY, 1992)

Os problemas sócio-ambientais têm se tornado foco de amplas discussões a partir da década de 70, com a Conferência de Estocolmo (1972) e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) em 1992, no Rio de Janeiro, também conhecida por Eco 92, em que foi desenvolvido um documento, com 179 países participantes – a Agenda 21, que se constitui numa tentativa de realizar, em escala planetária, um método de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (OPAS (a), 2006). Em conferências realizadas em anos anteriores e a partir da Eco 92, ficou evidenciada que a proteção do meio ambiente e da saúde é o centro de um novo modelo de desenvolvimento a ser criado, denominado de “desenvolvimento humano sustentável”, centrado na dimensão humana. Organismos internacionais como OMS, OPAS, UNICEF e governos assumiram compromissos de atuar nos problemas de saúde ambiental em suas respectivas áreas. Um dos aspectos mais relevantes destes esforços é a

participação da população nas possíveis soluções no que tange às suas necessidades. Tais compromissos já tinham sido expressos na Conferência Internacional sobre Atenção à Saúde, em Alma-Ata, na Rússia, em 1978, que destacou principalmente o trabalho inter-setorial para alcançar a saúde. Com o surgimento das novas tecnologias e com o advento do desenvolvimento industrial, o crescimento do desemprego e a fome no mundo passaram a ser vistos como problema, não só na área da saúde, mas também do meio ambiente. A Eco 92 advertiu o mundo de que se deve estabelecer um vínculo positivo entre o crescimento econômico e o ambiente sustentável e em seu princípio de n.0 10 proclamou a participação e a informação de todos os cidadãos, revelando a melhor maneira de se tratar as questões ambientais. (VIEIRA, BREDARIOL, 1998)

A Carta Pan-americana, acordada na Conferência Pan-americana sobre Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Humano Sustentável (COPASADHS), realizada em Washington (1995), estabelece q ue:

A participação dos indivíduos e das comunidades para manter e melhorar seus ambientes de vida deve ser promovida e apoiada. A participação comunitária deve basear-se em estratégias para o desenvolvimento sustentável incluindo a atenção primária do ambiente, a atenção primária à saúde e a educação das crianças e adultos. Em cada nível da organização social e política devem-se estimular e apoiar redes de interesses e pessoas que atuem em colaboração, a fim de fomentar a integração de preocupações e recursos setoriais nos processos de desenvolvimento (OPAS (a), 1999, p. 16).

Segundo a OPAS (a) (1999), a conceituação de Atenção Primária Ambiental (APA), foi pela primeira vez utilizada na Itália, em 1991. Este conceito sofreu várias transformações e hoje se constitui numa síntese de várias conferências realizadas entre 1995 e 1998, em atenção ambiental:

A atenção primária ambiental (APA) é uma estratégia de ação ambiental, basicamente preventiva e participativa em nível local, que reconhece o direito do ser humano de viver em um ambiente saudável e adequado, e a ser informado sobre os riscos do ambiente em relação à saúde, bem-estar e sobrevivência, ao mesmo tempo em que define suas responsabilidades e deveres em relação à proteção, conservação e recuperação do ambiente e da saúde. Constitui-se, assim, em uma proposta de associação organizada e voluntária (OPAS (a), 1999, p. 28).

Tem como princípios básicos: participação da comunidade, organização, prevenção e proteção ambiental, solidariedade e eqüidade, integralidade, diversidade que visa a assegurar e a viabilizar transformações

importantes a partir da conscientização e da participação comunitária através de políticas ambientais do Estado. A política ambiental deve ser organizada a partir de ações que garantam sua organização na defesa dos direitos ambientais, buscando iniciativas que minimizem o dano ambiental através da educação, pesquisa, participação cidadã, o que implica no compromisso dos cidadãos e do Estado em assegurar um meio-ambiente saudável, de co-responsabilidades, respeitando a diversidade do ecossistema.

Os seis princípios básicos da APA são complementados pelas seguintes características: descentralização, implica em transferir capacidades reais tanto políticas, técnicas, financeiras e administrativas a instâncias regionais e locais. A mais importante é a municipal, pois a população pode “desenvolver sua capacidade de decisão sobre assuntos comuns e cotidianos”; intersetorialidade e

interdisciplinaridade, vistas sob várias óticas, ou seja, organizações de base,

municípios, comissões de vizinhança e ONGs; co-gestão pública - privada e

autogestão, propiciar espaços de discussão e solução conjunta dos problemas e

desenvolver sua própria capacidade de gestão na elaboração, execução e manejo financeiro dos projetos. Isto se constitui num importante desafio para o Estado e especialmente para as ONGs em que momento, entregar estas ferramentas à população; coordenação, desenvolver instâncias de coordenação entre instituições e grupos. Trabalho pró-ativos que administrem os problemas locais, de acordo com sua capacidade tecnológica, normativa e com a disponibilidade de recursos;

eficiência, permite utilizar os recursos disponíveis da maneira mais apropriada para a

proteção ambiental, abrindo espaço à inovação, à diversidade de atividades, metodologias e práticas locais; autonomia política e funcional, os atores locais não devem perder sua autonomia. Suas ações e declarações sempre têm que refletir o sentimento de quem representam.

A Constituição Federal, promulgada em 6 de outubro de 1988, garante em seu capitulo VI, artigo 225, referente ao meio ambiente, que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) Para assegurar a efetividade desse direito, incube ao Poder Público (...) promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. (BRASIL, 1988, p. 140-141).

Embora faça parte da Lei Magna e esta garanta a participação social, o que se assiste é um escasso comprometimento do Poder Público e baixa participação referente a assuntos relacionados aos resíduos sólidos.