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Consequências do descumprimento dos indicadores de qualidade da prestação do serviço

A Lei no 9.427/96, que criou a ANEEL, prevê, em seu artigo 3o, inciso X, a possibilida-

de de a agência impor multas às concessionárias, observado o limite de 2% de seu faturamento por infração.

Art.  3o  Além das atribuições previstas nos incisos II, III, V, VI,

VII, X, XI e XII do art. 29 e no art. 30 da Lei no 8.987, de 13 de

fevereiro de 1995, de outras incumbências expressamente pre- vistas em lei e observado o disposto no § 1o, compete à ANEEL:

(Redação dada pela Lei no 10.848, de 2004) (Vide Decreto no

6.802, de 2009).

X —fixar as multas administrativas a serem impostas aos con- cessionários, permissionários e autorizados de instalações e serviços de energia elétrica, observado o limite, por infração, de 2% (dois por cento) do faturamento, ou do valor estimado da energia produzida nos casos de autoprodução e produção independente, correspondente aos últimos doze meses ante- riores à lavratura do auto de infração ou estimados para um período de doze meses caso o infrator não esteja em operação ou esteja operando por um período inferior a doze meses.

Essa matéria foi posteriormente regulamentada pela Resolução no 63/04, que

aprova os procedimentos para regular a imposição de penalidade aos concessioná- rios e prevê as sanções que podem ser aplicadas em caso de descumprimento da regulação em vigor:

Art. 2o As infrações tipificadas nesta resolução sujeitarão a in-

fratora às penalidades de: I —advertência;

II —multa;

III —embargo de obras; IV —interdição de instalações;

V —suspensão temporária de participação em licitações para ob- tenção de novas concessões, permissões ou autorizações, bem como de impedimento de contratar com a ANEEL e de receber autorização para serviços e instalações de energia elétrica; VI —revogação de autorização;

VII —intervenção administrativa;

VIII —caducidade da concessão ou da permissão.

A aplicação das penalidades de que trata esse artigo compete ao superinten- dente responsável pela ação fiscalizadora, nos casos de advertência, multa, em- bargo de obras, e interdição de instalações. Nos casos de suspensão temporária de participação em licitações para obtenção de novas concessões, permissões ou autorizações, bem como de impedimento de contratar com a ANEEL e de receber autorização para serviços e instalações de energia elétrica, revogação de autori- zação e intervenção administrativa, a sanção compete à diretoria colegiada, por proposta do superintendente responsável. Compete apenas ao poder concedente, por proposta da ANEEL, a sanção de caducidade da concessão ou da permissão.

A resolução tipifica os atos que constituem infrações sujeitas a essas sanções. No que tange à multa, determina o art. 6o:

Art. 6o Constitui infração, sujeita à imposição da penalidade de

multa do Grupo III:57

57  A penalidade de multa do Grupo III ao qual se refere o artigo é uma multa de até 1% do faturamento da empresa.

I —descumprir as disposições legais, regulamentares e contra- tuais relativas aos níveis de qualidade dos serviços e do forne- cimento de energia elétrica;

O critério de fixação das multas previstas nessa resolução está detalhado em seu art. 14:

Art. 14 Sem prejuízo do disposto em regulamento específico ou contrato de concessão, os valores das multas serão determina- dos mediante aplicação, sobre o valor do faturamento, nos ca- sos de concessionários, permissionários e autorizados de insta- lações e serviços de energia elétrica, ou sobre o valor estimado da energia produzida, nos casos de autoprodução e produção independente, correspondente aos últimos doze meses anterio- res à lavratura do Auto de Infração, dos seguintes percentuais: Grupo I: até 0,01% (um centésimo por cento);

Grupo II: até 0,10% (dez centésimos por cento); Grupo III: até 1% (um por cento);

Grupo IV: até 2% (dois por cento).

O relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) intitulado Arrecadação de

multas administrativas constatou que “o volume de arrecadação mais expressivo

coube à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com R$ 193,30 milhões, o que representa 20,4% do total arrecadado pelas 16 entidades ao longo da série analisada”.58,59 No entanto, mesmo tendo sido a agência que mais arrecadou multas administrativas, a ANEEL ainda assim arrecadou apenas uma pequena porcenta- gem das multas aplicadas. De fato, apenas 7,86% das multas aplicadas foram arre- cadadas entre 2009 e 2011, como mostra a Tabela 1.3.

Tabela 1.3

Multas administrativas aplicadas e arrecadadas entre 2009 e 201160

Entidades Número de multas (unidades)

Montante aplicado (R$ milhares)

Valor arrecadado (R$ milhares)

Relação entre valores de multas pagas e

aplicadas

ANEEL 740 1.048.008,49 82.359,29 7,86%

58  Relatório TCU. Arrecadação de multas administrativas. Exercício de 2009. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/contas/contasgoverno/con- tas09/Textos/Ficha%204%20-%20Arrecadacao%20de%20Multas.pdf>.

59  A série analisada levava em conta os anos de 2005 a 2009.

60  Os valores utilizados na tabela foram obtidos no Relatório e parecer prévio sobre as con- tas do Governo da República do TCU, do exercício de 2011, em conjunto com o relatório do TCU sobre a arrecadação de multas administrativas do exercício de 2009. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/contas/contasgoverno/Con tas2011/index.html#tab7>.

O percentual foi um pouco mais elevado entre 2006 e 2008:

Tabela 1.4

Multas administrativas aplicadas e arrecadadas entre 2006 e 200861

Entidade Multas aplicadas (Unidades) Montantes de multas aplicadas (R$ milhares) Arrecadação efetiva de multas (R$ milhares)

Relação entre valores de multas pagas e

aplicadas

ANEEL 681 491.171,80 114.575,00 23,32 %

Além disso, a relação entre o montante não arrecadado e os valores em exe- cução judicial foi de apenas 2%,62 ou seja, somente 2% das multas aplicadas pela ANEEL, mas não arrecadadas, foram objeto de execução judicial.

Sendo assim, observa-se que há uma grande dificuldade na efetiva arre- cadação das sanções pecuniárias impostas pelo poder público, questão que é comum a todas as agências reguladoras, não sendo uma peculiaridade do setor elétrico.

Todavia, se as multas têm como objetivo incentivar as concessionárias a cum- prir os indicadores de qualidade, esses dados sugerem que tal mecanismo não tem sido efetivo em desincentivar o descumprimento da regulação setorial. Nesse sen- tido, pode ser interessante avaliar outras sanções ou mecanismos de dissuasão de práticas infrativas que não sejam apenas multas.

Como mencionado, a Resolução no 63/04 prevê outros tipos de penalidade,

que não apenas as multas.

Art. 10 Constitui infração, sujeita à penalidade prevista no inciso V do art. 2o desta Resolução,63 a inexecução total ou parcial de obrigações legais, regulamentares e contratuais, de que possa resultar grave prejuízo às atividades do setor de energia elétrica

61  Os valores utilizados na tabela foram obtidos no relatório do TCU sobre a arrecadação de multas administrativas do exercício de 2009. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/por tal/page/portal/TCU/comunidades/contas/contasgoverno/contas09/Textos/Ficha%20 4%20-%20Arrecadacao%20de%20Multas.pdf>.

62  O relatório do TCU Versão simplificada das contas do Governo da República do Exercício de 2009 sobre arrecadação de multas administrativas relata: “Para o total das entidades, a relação entre os valores em execução judicial e o montante não arrecadado, no período 2005 a 2009, foi de 15%. Em alguns casos, entretanto, o valor é excepcionalmente reduzido, como ocorre com a ANCINE (0%), a ANAC (0,9%), a ANS (1,9%), a ANEEL (2,0%), o Ibama (2,2%), a ANTT (3,4%) e a CVM (5,6%).” Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/ TCU/comunidades/contas/contas_governo/contas_09/Textos/Ficha%204%20-%20Arrecada cao%20de%20Multas.pdf>.

63  A infração do inciso V do art. 2o é a de suspensão temporária de participação em licitações

para obtenção de novas concessões, permissões, autorizações, bem como de impedimento de contratar com a ANEEL e de receber autorização para serviços e instalações de energia elétrica.

ou que representem, nos termos do § 3o do art. 17 do Anexo do

Decreto no 2.335/97, reiterada violação ou descumprimento de:

I —padrões de qualidade de serviços; [...]

Art. 12 A concessão e a permissão de serviços e instalações de energia elétrica estarão sujeitas à intervenção administrativa nos termos da legislação, em especial da Lei no 8.987, de 1995,

a qual poderá ser decretada em caso de:

I —inadequação dos serviços prestados ou da exploração de instalações concedidas ou permitidas, não resolvida no prazo determinado; [...]

Art. 13 A concessão e a permissão de serviços de energia elé- trica estarão sujeitas à declaração de caducidade, nos termos da legislação, em especial da Lei no 8.987, de 1995, bem assim

do respectivo contrato de concessão ou permissão, quando: I —o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou deficiente, tendo por base, as normas, critérios, indicadores e parâmetros definidores da qualidade do serviço;

Portanto, existem outros instrumentos à disposição da ANEEL para dissuadir casos graves de má prestação de serviços.

Além da regra geral da Resolução no 63/04, merece destaque que há, na nor-

matização setorial, previsão de outras consequências em caso de descumprimento de certos indicadores de qualidade específicos, que serão analisados em seguida.

Nesse sentido, merece destaque a normatização acerca de DIC, FIC e DMIC, indicadores cuja finalidade e forma de mensuração já foram destacados anterior- mente neste capítulo. A regulação em vigor estabelece que, quando há violação desses limites, a distribuidora deve compensar financeiramente a unidade consu- midora. A compensação deve ser feita por meio de um crédito na fatura, devendo ser apresentada em até dois meses após o mês em que houve a interrupção. Além disso, há também um limite de compensação anual. A ultrapassagem desse limite pode caracterizar o descumprimento das disposições regulamentares relativas à qualidade dos serviços de energia elétrica para fins de fiscalização,64 com sanção prevista na Resolução no 63/04.

Os indicadores DEC e FEC, por sua vez, foram introduzidos como partes da Componente Q que, por sua vez, é parte do Fator X. A Componente Q influenciará os reajustes tarifários; conforme esclarece a agência reguladora, “o Fator Q tem por finalidade incentivar a melhoria da qualidade do serviço prestado pelas distribuido-

ras ao longo do ciclo tarifário, alternado as tarifas de acordo com o comportamento de indicadores de qualidade”.65 Se a qualidade da energia elétrica piorar, a redução da tarifa é maior, e se melhorar a redução é menor.66

Nesse particular, importante registrar que, no período 2009–2011, o DEC– Limite Brasil foi sistematicamente violado, o que demonstra deterioração des- se importante indicador de qualidade do fornecimento de energia, conforme o Gráfico 1.1.67

Gráfico 1.1

Histórico dos índices de qualidade do fornecimento de energia elétrica: análise e prioridades —ANEEL

* Média móvel junho de 2011

Fonte: Apresentação ANEEL. Diretor Romeu Donizete Rufino. O histórico dos índices de qualidade do fornecimento de energia elétrica: análise e prioridades, 19/10/2011

No caso de violação dos índices DER e FER, os arts. 160 e 161 da Resolução no 414/10 da ANEEL preveem a aplicação de penalidades nos termos de resolução

específica.

65  PRORET. Módulo 2. Revisão tarifária periódica das concessionárias de distribuição. Submó- dulo 2.5. Fator X. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/cedoc/aren20114576.pdf>. 66  Relatório ANEEL 2011.

67  Fonte: Apresentação ANEEL. Diretor Romeu Donizete Rufino. O histórico dos índices de qualidade do fornecimento de energia elétrica: análise e prioridades, 19/10/2011.

16,65 2007 2004 2008 11,53 11,81 11,72 14,77 12,53 18,01 12,12 15,81 2005 16,04 11,37 2003 18,77 2009 11,35 18,40 2010 11,32 18,52 16,14 16,75 2002 dec apurado 2001 fec apurado 2006 2011* 16,37 12,89 22,36 24,36 19,29 20,61 16,19 13,50 17,02 22,64 17,86 19,28 17,03 17,63 18,20 18,53 20,04 14,55 21,03 21,68 16,44 dec limite fec limite 15,63 22,25 18,68 16,11 14,20

Estudo de casos relacionados às concessionárias do Rio