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Perdas em um comparativo global

Comparando com outros países, as perdas comerciais atingem percentuais próximos a 9% da energia consumida. No Brasil, esse percentual se aproxima de 17%. De 38 paí- ses analisados recentemente, o Brasil é o oitavo que mais deixa de arrecadar, próximo à Venezuela, Índia e Colômbia.

Em um momento que tanto se alardeia a modicidade tarifária, é relevante considerar que a extinção dessas perdas reduziria a tarifa, no Brasil, em 5%. Ao considerarmos apenas o Rio de Janeiro, onde esse problema é histórico e se agrava, esse percentual subiria para o expressivo patamar de 17%, só na área de concessão da Light, uma das distribuidoras do estado.

Sob a ótica da sustentabilidade, o que o Brasil perde com a energia furtada e fraudada daria para abastecer Minas Gerais por um ano. Por certo, muitas usinas que hoje estão em construção e são tão questionadas sob o enfoque ambiental não precisariam sair do papel. Mais grave ainda é quando essa questão é analisada sob a ótica da escassez de energia, atual fase do nosso país.

As irregularidades no consumo de energia elétrica comprometem o serviço e sua qualidade, e combater esse ilícito é fundamental para a sustentabilidade do setor. Hoje, como dito anteriormente, se consideramos a realidade da Light, clientes e consumidores adimplentes pagam 17% mais do que deveriam em razão dos ilíci- tos praticados. O fluxo de caixa das distribuidoras e do Estado fica comprometido e com isso recursos setoriais acabam sendo direcionados para novos empreendi- mentos de geração de forma a produzir energia adicional para compensar aquela energia desviada por irregularidades e desperdiçada por não ser utilizada de forma racional e eficiente para toda a sociedade.

Inúmeros levantamentos realizados pelas distribuidoras indicam que aqueles que se favorecem dessas irregularidades são também clientes com condições de quitar suas faturas. No setor industrial e comercial, os que manipulam a medição têm “benefícios” no mercado ao oferecerem produtos mais baratos e, portanto, mais acessíveis, tendo em vista que a energia efetivamente consumida não está sendo considerada na composição do seu preço final.

A utilização dessas ilicitudes gera prejuízos em cadeia, uma vez que (i) a con- cessionária deixa de receber a contraprestação pelo serviço prestado; (ii) a compe- tição comercial entre as empresas se torna desleal; (iii) aumentam o desemprego, já que postos de empregos são fechados, uma vez que muitos comércios não con- seguem competir com aqueles que, de forma ilícita não contemplam a energia no custo dos seus produtos; e (iv) o Estado deixa de arrecadar seus impostos.

Estudo realizado em 2008 pela Light concluiu que na classe residencial o per- centual de irregularidade era de 75% nas áreas informais, 20% nas áreas residenciais de alto luxo e 15% no setor residencial urbano. Na classe comercial, os maiores frau- dadores individuais eram motéis, hotéis, panificadoras, supermercados e postos de gasolina; na classe industrial, frigoríficos e fábricas de gelo.

Como se não bastasse, ainda que a distribuidora efetue fiscalizações periódi- cas, o referido estudo verificou que nos 12 meses após a normalização havia reinci- dência em 10% dos clientes em áreas informais, 10% dentre os maiores consumido- res e 15% dos consumidores residenciais.

Claro está, portanto, que estamos diante de um problema complexo que en- volve também uma racionalidade de incentivos e até de padrões de ética, uma vez que há clientes de áreas residenciais de alto luxo e empresas que podem pagar pela energia efetivamente consumida.

Só para se ter a dimensão do problema, os valores mencionados correspon- dem a 11% do faturamento anual do setor elétrico, e acarreta uma majoração de 5% (média Brasil) sobre o valor das tarifas segundo o referido relatório do TCU.

Além disso, importante reiterar, a energia elétrica que deixou de ser faturada nesse período seria suficiente, segundo o próprio TCU, para abastecer Minas Gerais

Figura 1.1

Estudo elaborado pela Deloitte que demonstra o impacto das perdas comerciais no Brasil e na Light

Fonte: Relatório Deloitte, set. 2010

Índia piB Brasil ligHt Índia perdas Brasil ligHt Índia desviO/anO Brasil ligHt Índia perdas nãO tÉcnicas Brasil ligHt u$ 1.287 trilhões u$ 16 bilhões (redução da receita anual das distribuidoras)

u$ 1 bilhões (redução da receita anual das light)

espírito santo u$ 8,1 bilhões

(redução da receita anual das distribuidoras)

u$ 1.571 trilhões minas gerais * califórnia (usa) * 21% (2010) * 6,1% (2009) * 6,1% (2009) u$ 96 bilhões (rio de janeiro — 2008 — 2o piB do Brasil)

durante um ano inteiro, ou, ainda, correspondente a 35% de toda a energia que será produzida pela Usina de Santo Antônio, no rio Madeira, em Roraima.

Cabe ainda registrar que, segundo a ANEEL, com base em medições realiza- das desde a geração da energia até sua entrega ao usuário final, o que se perde com essas irregularidades seria suficiente para abastecer uma cidade com 19 mi- lhões de unidades consumidoras durante um mês.

Observa-se que, passados 19 anos do início das privatizações e depois de bilhões de reais de investimentos em novas tecnologias no combate às irregulari- dades, os índices de perdas comerciais hoje apurados são muito similares ao desse recente passado, em especial no estado do Rio de Janeiro (apesar de Light e Ampla estarem na vanguarda da tecnologia no combate a perdas). Isso mostra que, muito embora existam tecnologias cada vez mais sofisticadas e atuais, as distribuidoras ainda não foram capazes de inibir ou mitigar os efeitos daqueles que constituem uma verdadeira indústria da fraude e furto de energia.

Por maior que seja a fiscalização e os investimentos realizados para combater o furto e a fraude no consumo de energia elétrica, não há um controle social efetivo, na medida em que tais práticas não são consideradas como ilícitas. As concessio- nárias, apesar de detectarem as irregularidades e tomarem as medidas cabíveis, mais tarde se surpreendem ao verificarem que esses mesmos usuários voltaram a cometer o furto ou a fraude no consumo de energia para conseguir benefícios com faturamento menor do que aquele efetivamente consumido.

A redução das perdas comerciais trará benefícios como: (i) uma melhor qua- lidade de serviços; (ii) redução do número de interrupções de energia provocada pelo manuseio da rede elétrica por pessoas não qualificadas; e (iii) ausência de sobrecarga no sistema. Há também o benefício econômico para o consumidor, o mercado e o próprio Estado, com a alocação eficiente dos custos de produção e distribuição de energia para toda a sociedade.

Ao longo dos anos as medidas adotadas pela Light para combater as perdas comer- ciais representam vultosos investimentos, chegando à casa de bilhões de reais de investimento em novas tecnologias —medidores eletrônicos, blindagem de rede, ins- peções e fiscalizações periódicas, parcerias com a Delegacia especializada, estudos e pesquisas científicas. São esforços institucionais para melhoria e redução das perdas comerciais, o que traria resultados para o consumidor e toda a sociedade.

Além dos investimentos e da perda de arrecadação em razão das práticas de furto e fraude de energia, foi também necessário adquirir mais energia para atender aos consumidores, clientes e usuários para não comprometer a qualidade do servi- ço prestado. No entanto, há uma nítida preocupação, pois esse quadro de perdas comerciais não se sustenta ao longo do tempo, seja em relação aos consumidores ou mesmo diante dos acionistas da empresa.