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Regulação do setor elétrico brasileiro

A evolução do marco regulatório do setor elétrico do país é apresentada esquemati- camente na Figura 1.1. As reformas setoriais de 1993 deram origem ao marco regula- tório do setor elétrico brasileiro. Em 1995, a implantação do programa de privatiza- ções do setor elétrico conduziu à criação da ANEEL (1996) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) (1998), sedimentando as bases institucionais, tanto estra- tégicas quanto operacionais do setor elétrico no país.

O ano de 2001 foi marcado pela crise dos “apagões” e pelo consequente ra- cionamento do uso de energia elétrica.

Em 2004, foi criada a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e, em 2005, a Câmara de Comércio de Energia Elétrica (CCEE). Ambos são órgãos ligados ao Ministério das Minas e Energia, voltados para planejamento energético e comercia- lização de energia elétrica, respectivamente.

Os principais marcos do novo arcabouço regulatório, que serão discutidos a seguir, são a Lei no 10.848/04, o Decreto no 5.163/04, a Lei no 9.074/95 e Lei no

Figura 1.1a

Linha do tempo do setor elétrico no Brasil de 1993 a 2004

Fonte: INSTITUTO ACENDE BRASIL. Sistema legal e regulatório do setor elétrico no Brasil, 2012

Figura 1.1b

Linha do tempo do setor elétrico no Brasil de 2005 a 2012

Fonte: INSTITUTO ACENDE BRASIL. Sistema legal e regulatório do setor elétrico no Brasil, 2012

199 200 200 200

criação da aneel

(agência reguladora) interrupção do programa de privatizações

desenvolvimento de

novo marco regulatório revisão de lastro de termoelétricas e gás natural lançamento do programa de privatizações criação do Ons (Operador nacional do sistema) aprovação do novo arcabouço regulatório (lei 10.848)

primeiro leilão de energia segundo as novas regras:

energia existente criação da epe (empresade pesquisa energética) racionamento início das reformas setoriais 1993 1995 1996 1998 2000 2001 2003 2004 199 200 200 200 2005 2007 2008 2010 2011 2012 2003 primeiro leilão de “energia nova” cpi da privatização 3º leilão de “empreendimento estruturante”: leilão da uHe de Belo monte

3º ciclo de revisão tarifária das distribuidoras

falta de gás natural para termoelétricas no leilão (caso petrobras) ataques institucionais

à agência reguladora

1º leilão de “fontes alternativas (pcHs e Biomassa)

1º leilão de “empreendimento estruturante”: leilão da uHe

de santo antônio 2º ciclo de revisão tarifária das distribuidoras

2º leilão de “empreendimento estruturante”: leilão da uHe de jirau alto risco de racionamento > novo procedimento Operacional

de curto prazo Definições para Renovação de Concessões mudança de paradigma?: redução da carga tributária no setor tjlp (taxa de juros de longo prazo) atinge nível inferior a 6%

MP 579

A Lei no 10.848/04 estabelece as regras para a comercialização de energia

elétrica entre concessionários, permissionários e autorizados de serviços e insta- lações de energia elétrica, bem como destes com seus consumidores, e altera leis anteriores pertinentes a essa área.

A atividade de distribuição passou a ser orientada para o serviço de rede e de venda de energia somente a consumidores regulados (cativos). Essa venda passou a ser coordenada pela CCEE e as distribuidoras passaram a ser obrigadas a estabelecer contratos multilaterais com todos os geradores vencedores dos leilões realizados pela ANEEL para compra de energia tanto no curto quanto no longo prazo. Os distribuidores deixaram de poder comercializar energia para consumido- res livres. Para estes, passaram a ter apenas a função de provedores de rede, e por esse serviço passaram a receber valores definidos nas Tarifas de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD).

As distribuidoras focaram então exclusivamente no serviço regulado de trans- porte a varejo de energia elétrica, e passaram a ter de incluir na sua análise de inves- timentos a ação do regulador que avalia se o investimento é “prudente”, a parcela que vai pertencer à base de remuneração e o corte devido à economia de escala traduzido pelo Fator X.

A partir do início da implantação das diretrizes impostas pelo Decreto no

5.163/04, mesmo na vigência dos atuais contratos de concessão que contemplam o

self-dealing, as atividades de geração e distribuição foram segregadas. As empre-

sas de distribuição tiveram de constituir empresas próprias para abrigar essas uni- dades, estabelecendo contratos bilaterais cobrindo o período hoje abrangido pelo contrato de self-dealing vigente. Findos esses contratos, não foram mais admitidos aqueles que detinham geração para atendimento próprio, permitindo-se apenas os contratos de compra e venda entre partes relacionadas, quando decorrentes de processo de contratação via CCEE, ou seja, por meio de leilões promovidos pela ANEEL.

Os temas satisfação do consumidor, qualidade e conteúdo técnico decorrem da aplicação eficiente dessa regulamentação. A melhoria da qualidade na produ- ção, distribuição e comercialização de energia, assim como a implantação de indi- cadores de qualidade como DEC/DIC e FEC/FIC,1 são consequências do esforço de aprimoramento do conteúdo técnico e da busca por mais qualidade, assim como a preocupação com a contínua melhoria da satisfação do cliente. Pode-se dizer que praticamente todos os indicadores de qualidade e monitoramento técnico e opera- cional presentes nas contas de energia elétrica apresentam pelo menos, uma, duas ou todas estas três funções: conteúdo técnico, qualidade e satisfação do cliente. O que se faz necessário avaliar é se esses índices são suficientes para traduzir a satisfação do consumidor e que outros mecanismos precisam ser postos em práti-

ca para garantir a efetividade desses indicadores, aliada à crescente satisfação do consumidor.

Outorga e prorrogação das concessões e permissões de serviços públicos são definidas pela Lei no 9.074/95 que, em seu art. 25, § 1o, estabelece que “os contratos

de concessão e permissão conterão, além do estabelecido na legislação em vigor, cláusulas relativas a requisitos mínimos de desempenho técnico da concessionária ou permissionária, bem assim, sua aferição pela fiscalização por meio de índices apropriados. O parágrafo 2o do mesmo artigo cita: “No contrato de concessão ou

permissão, as cláusulas relativas à qualidade técnica, referidas no parágrafo ante- rior, serão vinculadas a penalidades progressivas, que guardarão proporcionalidade com o prejuízo efetivo ou potencial causado ao mercado.”

A qualidade dos serviços de energia elétrica, manifestada nas referidas leis tem sido objeto de supervisão da ANEEL por meio de indicadores que a expressam em termos de valores associados a grupos de consumidores, bem como por valores individuais, que representam a qualidade oferecida a determinado consumidor. Na sistemática de supervisão da qualidade, são contemplados enfoques sobre:

• continuidade do fornecimento e qualidade do atendimento comercial (as- pectos do relacionamento do consumidor com a área comercial da conces- sionária);

• conformidade (aspectos relacionados à tensão de fornecimento); • satisfação do consumidor;

• segurança dos serviços prestados.

Com o reconhecimento dos direitos do consumidor, pela Lei no 8.078/88, as

empresas de energia elétrica deparam com um novo ambiente —uma arena compe- titiva— onde terão melhores condições de sobrevivência. As empresas mais adaptá- veis às novas regras do ambiente empresarial buscam um gerenciamento adequado por meio de organização interna, estratégias, melhorias de processo e moldagem de uma nova visão e cultura organizacional.