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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Download/Open (páginas 108-111)

O intento desse estudo foi alcançado que era explicar a experiência de integração curricular nos cursos do PROEJA, oferecidos pelo Instituto Federal de Educação de Pernambuco. Os dados aqui apresentados revelaram avanços e contradições na implantação do PROEJA no IFPE, nos Campi de Belo Jardim, Pesqueira, Recife e Vitória de Santo Antão, os quais vivenciam cursos do PROEJA e foram alvos específicos dessa investigação. O avanço pode ser a existência de sua oferta no IFPE, mediante o Decreto 5.840/2006 que o instituiu, apesar de sua existência em um contexto bastante hostil a essa prática.

Constatou-se que as práticas sociais e pedagógicas se apresentam de forma paradoxal. Os Campi pesquisados passaram por uma profunda reforma educacional nos anos 1990, modificando suas práticas político-pedagógicas nas quais predominam o modelo empresarial. Consequentemente, a organização curricular não atende aos princípios da integração que é a busca da superação da dualidade entre trabalho manual e trabalho intelectual, conforme defende Frigotto, Ciavavatta, Ramos, Saviani entre outros e, nem estão consoantes com as especificidades da EJA na forma como está disposto na literatura.

E isto, responde a questão inicialmente levantada: os currículos dos cursos do PROEJA do Instituto Federal de Educação de Pernambuco foram concebidos na perspectiva da integração? Pois ficou constatada na organização curricular a adoção de um ensino voltado para as habilidades e competências, as quais educam o indivíduo de forma mecanizada para servir ao capitalismo. Isto se confirma na tese de Ramos, Deluiz, entre outros. Em todas as escolas analisadas, os cursos são concomitantes travestidos de integrados. Destaca-se que os referidos planos seguem a legislação vigente sem instigar uma discussão mais ampla e crítica sobre o contexto da educação. Não há passagem de momentos de reflexão sobre a importância da educação na formação humana.

Os dados evidenciaram que as concepções dos cursos pesquisados estão reduzidos a cumprir um papel meramente auxiliar do processo de trabalho. Essa visão restrita não consegue oportunizar aos educandos da EJA apreender as contradições e tensões presentes nas dimensões dialéticas da relação da escola, sociedade e mundo do trabalho.

Como a escola não está separada da sociedade, da qual faz parte, as profundas mudanças sociais em decorrência de novas configurações assumidas pelo capitalismo acarretam desigualdades sociais e culturais as quais atingem a educação. Assim sendo, foi preciso considerar as condições materiais e sociais da escola, bem como os desafios que os professores enfrentam para desenvolver as atividades do trabalho docente.

Quanto à questão: Em que medida a integração se verifica na vivência concreta desses currículos nas escolas? As análises possibilitaram constatar que muitos professores e membros da equipe pedagógica possuem um conhecimento fragmentado do PROEJA e dos princípios da integração. Porém, em suas declarações, admite a necessidade de se ter um conhecimento teórico-metodológico aprofundado dessa modalidade de ensino. Quanto ao trabalho pedagógico, os resultados evidenciaram que muitos professores apresentaram uma concepção tradicional de ensino em contraposição ao ensino numa perspectiva de construção histórica do conhecimento, como explica Ramos (2005, p. 106):

Apreender o sentido dos conteúdos de ensino implica reconhecê-los como conhecimentos construídos historicamente e que se constituem, para o trabalhador, em pressupostos a partir dos quais se podem construir novos conhecimentos no processo de investigação e compreensão do real.

95 De acordo com os dados, existem alguns fatores que complicam a construção de um projeto articulado para esses cursos, tais como: a rotatividade de professores (professores com contrato temporário e a forma de organização da vivência das disciplinas), falta de investimento em capacitação dos profissionais envolvidos, ausências de espaços e tempos para discussões e debates, objetivando apropriar-se de conhecimento acerca da EJA e do currículo integrado, bem como pensar sobre a própria prática e trocar experiências.

Em relação às seguintes indagações: Que espaços e tempos foram ou vêm sendo ressignificados na direção de garantir as condições institucionais para a implantação de um currículo integrado nessas escolas?

Qual a participação dos diversos segmentos da área pedagógica no processo de elaboração e vivência de currículos integrados?

Como essas escolas organizam suas estruturas ou bases de apoio técnico-pedagógico e administrativo para assessorar os docentes na implantação e vivência do currículo integrado?

O que se percebeu foi uma resistência de muitos professores a essa modalidade de ensino, bem como o descaso da instituição que implantou o programa apenas para cumprir o Decreto 5.840/2006. Os planos de cursos do PROEJA pertencentes aos quatro campi são cópias dos cursos do ensino regular e não estão apropriados às especificidades do público da EJA, além de não estarem integrados. As condições de sua implantação ocorreram sem muito diálogo e discussões, visto que a maioria dos professores está no curso de forma abnegada, sem nenhuma afinidade ou preparação técnica para lidar com essa modalidade de ensino.

Portanto, a concepção e a materialização de um currículo que integre os conhecimentos da formação geral e profissional é muito complexo, pois implica uma prática de discussão sobre currículo na escola e, isso não faz parte do hábito das escolas pesquisadas. É necessário buscar uma prática social e pedagógica dos professores e dos profissionais envolvidos com o programa, na tentativa de superar a prática educativa corrente que está restrita à formação do indivíduo, visando incorporá-lo às relações de produção da sociedade capitalista.

Quanto aos dados referentes aos alunos, é importante destacar que os objetivos dos alunos do PROEJA quando se matriculam no curso, são a formação e a qualificação profissional para exercer uma profissão de imediato. Para eles basta o aprendizado de alguns conteúdos bastante específicos como, por exemplo: em Mecânica, entender o processo de funcionamento de uma furadeira, ou ainda em Agroindústria, como processar o leite para obter os seus derivados.

Esses aprendizados são importantes, porém essas atividades não se realizam sem condições prévias de compreensão das Ciências Naturais e Humanas. A educação precisa ser integral, para poder ajudar os jovens e adultos a compreenderem, por exemplo, quais são as causas reais do desemprego em massa, os efeitos da globalização na vida das pessoas, o papel da mídia na formação de opiniões e as causas da violência.

Por fim, essas questões precisam ser compreendidas no sentido de formar pessoas comprometidas com a realidade social no âmago de qualquer curso, isso porque não basta condicionar os jovens e adultos a exercer atividades manuais e ser manipulados a aceitar condições precárias de trabalho.

Finalmente, o PROEJA foi implantado de forma impositiva, pois os alunos, a comunidade externa, vários componentes da equipe pedagógica e os professores não participaram da construção do projeto político pedagógico nem houve informações suficientes sobre a oferta dos cursos do PROEJA na instituição. Dessa forma, a comunidade interna e externa sequer teve tempo de amadurecer a proposta do referido programa.

Portanto, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica não possibilitou aos sujeitos envolvidos com essa modalidade de ensino se apropriar

96 conceitualmente sobre os problemas e necessidades desse público. E assim poder de fato propor uma educação fundamentada nos interesses da classe trabalhadora

Enfim, a EJA sozinha, não vai gerar as transformações estruturais. Contudo, o reconhecimento da educação enquanto espaço formal, oferecida com qualidade é um recurso indispensável para a compreensão dos fundamentos da desigualdade e possibilidade de lutar por mudanças sociais. Assim, o PROEJA pode trazer benefícios para a classe trabalhadora à medida que possibilite uma formação que articule os conhecimentos gerais e profissionais de maneira que os conteúdos sejam “conscientização”, conforme Freire (1983). Assim, torna-se possível uma leitura do mundo e das relações de poder que perpassa a sociedade capitalista, ao mesmo tempo, possibilitar para alguns egressos do PROEJA sua entrada no mercado de trabalho.

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