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Políticas Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e Técnico

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2. O SURGIMENTO DE NOVAS DEMANDAS DE QUALIFICAÇÃO E A

2.5. Políticas Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e Técnico

As políticas curriculares do governo Lula representam a continuidade das políticas curriculares do seu antecessor, FHC, o qual engendrou a reforma do ensino médio e técnico oficializada pelo Decreto 2.208/1997, que estabeleceu a separação conceitual e estrutural entre essas duas formações. E para consubstanciar melhor essa mudança, foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - PCNEM - (Parecer CNE/CEB nº 15/1998 e Resolução CNE/CEB nº 3/1998) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Técnico (Parecer CNE/CEB nº 16/1999 e Resolução CNE/CEB nº 04/1999).

Todo o texto dos PCNs tem como concepção mais ampla os princípios gerais da reforma, o que para Lopes (2004, p. 198-199) “Os PCNEM e PCNET são constituídos de uma associação de concepções pedagógicas diversas, legitimadas no meio educacional, que

28 incorporou discursos híbridos numa perspectiva crítica e não-crítica de currículo”. Tanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio quanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Técnico, é possível ver com nitidez um discurso ligado à submissão da educação ao mundo produtivo, conforme esclarece Lopes (2004a, p. 199):

Há um privilégio conferido ao discurso das competências e à possibilidade de avaliação constante dos sujeitos sociais: os saberes são mobilizados em um saber- fazer. O currículo por competências fragmenta as atividades em supostos elementos componentes (as habilidades), de forma que possam servir de medida às atividades individuais. Dessa forma, o currículo por competências constitui-se facilmente em um modelo de regulação da especialização e de gerenciamento do processo educacional. Também dessa forma sustenta-se a ideia de que é possível controlar a atividade de professores e alunos, como forma de garantir a eficiência educacional a partir do controle de metas e resultados (controle da entrada ‘insumos’ e da ‘saída’ de produtos).

O currículo por competência privilegia o saber técnico em detrimento de outros saberes importantes, como os saberes cotidianos e populares. A questão fundamental para o novo capitalismo consiste em produzir um tipo de pessoa com uma nova identidade e nova subjetividade e que seja compatível com seus valores e objetivos. Para isso, recorre aos meios educacionais, mobilizando de todas as formas o eu do indivíduo, numa “lavagem cerebral”, como explica Silva (1999 p.80-1):

Os meios pedagógicos do novo capitalismo (em todas as suas formas) estão ativamente envolvidos num processo de interpelação, de mobilização do eu. Sua descrição do trabalhador ideal, daquele trabalhador apropriado às novas condições da produção, não teria nenhuma importância, nenhum efeito, se não se dirigissem imperativamente ao sujeito que querem transformar, dizendo: ‘você é isso’ ou, mais precisamente, ‘você deve ser isso’. Um exemplo é dado pela ênfase que atualmente se dá ao conceito de ‘empregabilidade’. (Gentille, 199; Taddei, 1998). O conceito de ‘empregabilidade’ desloca a responsabilidade do desemprego, da estrutura social e econômica para a pessoa que busca trabalho. ‘seu emprego depende unicamente de suas qualificações’, isto é, de seu grau de ‘empregabilidade’.

Para o citado autor, mais do que uma simples noção, o termo, “empregabilidade” é uma forma de transformação da subjetividade, da identidade. O discurso da “empregabilidade” não se limita a descrever em que consiste a empregabilidade. Ele se dirige à pessoa, dizendo: “você é um ser empregável”, “você deve ser um ser empregável”. Como todo processo de interpelação, ele será eficaz se a própria pessoa se tornar capaz de dizer: “sim, eu sou um ser empregável”. Para a política neoliberal, a lógica econômica é envolvente e totalizante, tudo fica mercantilizado, o que para Silva (1990, p. 82), “torna-se uma verdadeira e completa visão de mundo. Não se trata apenas de que tudo vira mercadoria: nós devemos pensar sempre em termos de mercadoria”. É preciso, através de uma pedagogia crítica, pensar em processos formadores que superem a pedagogia da inculcação e da alienação para formar trabalhadores conscientes, politécnicos, autônomos e humanos.

A reformulação curricular proposta nos PCNs está pautada em alguns princípios como: flexibilização, contextualização, interdisciplinaridade e estética da sensibilidade. Esse princípio tem como objetivo incorporar nos alunos determinada forma de pensar e agir que será muito útil no seu futuro como trabalhador. A proposta dos PCNs e DCNs tem como horizonte a formação de um novo padrão comportamental a ser incorporado conforme as novas formas de organização da produção. Trata-se de formar indivíduos satisfeitos em se tornarem “colaboradores” nos negócios da empresa, sentindo-se importantes, porém, modestos.

29 Nas reformas educacionais em geral o currículo assume uma posição fundamental que a própria reforma do currículo é confundida como reforma educacional. Lopes (2004b, p. 110) explica que:

As reformas educacionais são constituídas pelas mais diversas ações, compreendendo mudanças nas legislações, nas formas de financiamento, na relação nas diferentes instâncias do poder oficial (poder central, estados e municípios), na gestão das escolas, nos dispositivos de controle da formação profissional, especialmente na formação de professores, na instituição de processos de avaliação centralizada nos resultados. As mudanças nas políticas curriculares, entretanto, têm maior destaque, a ponto de serem analisadas como se fossem em si a reforma educacional.

Com as reformas, o currículo oficial assumiu enfoque prescritivo de um projeto neoliberal focado no desenvolvimento de competências em detrimento de uma formação integrada que aliasse cultura, trabalho, ciência e técnica, enfim, centrado na pessoa humana e não no mercado de trabalho. O fato é que mesmo com a aprovação do Decreto 5.154/2004, fruto da tentativa de superação da dualidade da educação, não houve interesse do Governo Lula em apoiar a construção de novas Diretrizes Curriculares Nacionais coerentes com uma nova concepção de ensino integrado e, também, desenvolver no âmbito federal e estadual uma política de implementação do ensino médio integrado.

Para ajustar os PCNS ao novo decreto, consta no Parecer CNE/CEB nº 39/2004 a solicitação do Conselho Nacional de Educação para: “[...] em caráter de urgência, manifestação da Câmara de Educação Básica, com vistas à adequação das Diretrizes Curriculares Nacionais no que se refere à educação profissional técnica de nível médio (ao Decreto 5.154/2004), para orientar os sistemas de ensino e as escolas na imediata implantação do referido Decreto”. E em resposta, o Ministério da Educação convalidou as mesmas Diretrizes com seus princípios e conteúdos, mantendo as condições necessárias para que a classe dominante continuasse a exercer a sua hegemonia. Essa atitude contribuiu para “resolver” no palco da democracia restrita calar a voz e as ações dos descontentes.

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