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O PROEJA: limites e possibilidades

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3. EJA: O RESGATE DE UMA DÍVIDA SOCIAL

3.3. O Decreto 5.840/2006 e a Institucionalização do PROEJA: A formação Integral dos

3.3.4. O PROEJA: limites e possibilidades

O PROEJA é um programa pertencente às políticas públicas sociais, com o objetivo de atender grupos marginalizados, que pela sua condição social ameaça a paz e o avanço do capitalismo, pois, o desemprego, a violência e a pobreza decorrente dessa classe, força o governo a conter esses problemas, mediante uma política de investimento que visa manter a paz social vigente, pela conciliação entre as classes, no sentido de minimizar as desigualdades sem as eliminar. Assim, elas contribuem para a não modificação da relação fundamental entre os capitalistas e os assalariados. Assim sendo, Hortz (2009, p. 9) chama a atenção para o seguinte:

Faz-se necessário conhecer e refletir sobre as pretensões do Documento Base do PROEJA e demais documentos legisladores do Programa, verificando em que medida o PROEJA pode beneficiar a classe trabalhadora, bem como em que aspecto podemos continuar pressionando o Estado para que essa política social se efetive, até o seu limite, com ganhos para esta classe.

Para a referida autora (2009, p. 9), “as políticas sociais são campos de tensão e há algumas possibilidades do PROEJA atender as reivindicações dos trabalhadores”, mas estas oportunidades são limitadas pelos princípios do sistema capitalista, constituído de exploradores e explorados. O PROEJA, segundo Hortz (2009 p. 9-10):

É um programa que traz benefícios à classe trabalhadora ao possibilitar o acesso à educação e à profissionalização elevando o nível de escolaridade de uma população historicamente excluída do sistema educacional. Se a formação oferecida a esses sujeitos conseguir se efetivar integrando os conhecimentos de formação geral e de formação profissional com qualidade, será possível prover os alunos com conhecimentos que antes não possuíam, ampliando o conhecimento destes sobre a realidade social e econômica, demonstrando inclusive as contradições presentes no sistema capitalista. A educação profissional nesta perspectiva poderá ainda – ao menos para alguns trabalhadores estudantes e/ou egressos do PROEJA – contribuir para a inserção no mercado de trabalho, em ocupações formais e rentáveis.

Para o PROEJA, se de fato conseguir formar jovens e adultos no sentido da politecnia, isto é, integrar a formação geral com a formação profissional tendo o trabalho como princípio educativo, e que os conhecimentos escolares possibilitem a compreensão da realidade social e que as relações de exploração possam ser entendidas e assim estimular à luta para a transformação desta sociedade injusta e desigual, pode-se dizer que o programa cumpriu seu papel.

Outros fatores que interferem na viabilização de uma proposta compatível com a EJA é a falta de preparação adequada das instituições escolares para trabalhar com um alunado que tem características bem peculiares e necessidades específicas. Também deverão enfrentar e superar problemas referentes às condições materiais das escolas, à estrutura curricular, ao material didático e à formação dos professores. Além do mais, para que o PROEJA cumpra de verdade com seu propósito, é necessário que o Ministério da Educação (MEC) revogue as Diretrizes Curriculares Nacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais e todos os documentos legais que o orienta, pois são incompatíveis com a proposta do PROEJA, visto que as necessidades apresentadas pela classe trabalhadora só poderão ser atendidas numa escola se ela tiver sintonia com o saber historicamente produzido, o que para Paixão (2009, p.15):

O processo de exclusão da classe trabalhadora do saber formal escolar só poderá ser superado quando o projeto educacional do país demonstrar coerência com as necessidades da maioria, propondo uma revisão da proposta do ensino que é

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destinada aos trabalhadores: fragmentada e centrada numa formação aligeirada para as demandas do marcado de trabalho. Porém isso ainda é uma utopia.

É importante considerarmos a educação da classe trabalhadora numa perspectiva gramsciana, que visa formar integralmente o indivíduo, contemplando seu desenvolvendo de maneira ampla, os aspectos sociais, afetivos e cognitivos, preparando o cidadão no sentido de compreender a realidade social e especialmente, entender que a expansão do capitalismo gerou o desemprego estrutural, que segundo Hortz (2009, p. 11):

Não existem e nem existirão vagas no mercado de trabalho para que todos os trabalhadores possam garantir sua sobrevivência, mesmo estes possuindo escolarização e qualificação para o exercício de funções supostamente requeridas pelo mercado de trabalho. Nesse contexto econômico e social, percebemos que as funções do PROEJA são limitadas à própria lógica do capital, e para se reduzir significativamente a pobreza e a marginalidade, consequências deste modo de produção, seria necessário a sua negação e a construção de uma nova sociedade.

As funções do PROEJA ficam limitadas pelas próprias contradições expressas no sistema capitalista. Sobre isto, Hortz (2009, p. 11) afirma que:

[...] escolaridade e qualificação não são suficientes para a inclusão social, [...] não garantem emprego, já que o setor produtivo supriu a necessidade de recursos humanos pelo maquinário e os trabalhadores de que precisam não necessitam ter, em sua maioria, um elevado grau de instrução para exercer suas funções. O processo de produção acaba gerando trabalhadores baratos e descartáveis para garantir a produtividade a custos baixos e que possam possibilitar maior competitividade para as empresas.

Essa política social não vai conseguir gerar emprego e renda; assim, as contradições do sistema capitalista que poderão ser compreendidas mediante os conhecimentos adquiridos de forma qualitativa pelo PROEJA, ajudarão os alunos a tomarem consciência das discrepâncias sociais e, assim, poderem intervir para a transformação e não para a sua perpetuação.

Enfim, a função reparadora tenta “ressarcir” os transtornos causados pela exclusão social capitalista, à medida que restabelece a reintegração dos alunos jovens e adultos que tiveram sua trajetória escolar interrompida na idade própria ou não tiveram a oportunidade de exercer um trabalho que lhe garantisse sua sobrevivência.

O PROEJA, ao exercer a função reparadora, oferecendo aos jovens e adultos os conhecimentos de uma formação geral e profissional de forma integrada, estaria exercendo as funções equalizadoras e qualificadoras. A função equalizadora se propõe a reduzir as diferenças de conhecimentos entre os que estudaram no ensino regular e os alunos do PROEJA, de modo que possam ingressar no “mundo do trabalho” e possam sobreviver. Isto contribui para a minimização da pobreza e situação de risco de marginalidade para o aluno- trabalhador. Mas, segundo o Documento Base do PROEJA, a inserção dos alunos desse Programa no mundo do trabalho só será possível se o mesmo exercer a função qualificadora, transmitindo conhecimentos gerais que possibilitem a formação de um trabalhador flexível, apto a desenvolver várias atividades conforme as mudanças produtivas e, ao mesmo tempo, profissionalizar para o exercício de determinada função.

Para Hortz (2009, p. 13), o PROEJA como uma política social tem como foco atender aos anseios da classe trabalhadora, no sentido de diminuir a pobreza, “possibilitando que o público do PROEJA também consuma contribuindo para garantir a reprodução do sistema capitalista”. Dessa forma, as justificativas presentes no Documento Base do PROEJA para

48 requisitar estas funções são semelhantes aos dos organismos internacionais. Porque, como explica Fávero, Rummert, Vargas (2009, p. 8):

(...) a educação só pode ser compreendida como parte essencial de um processo com múltiplas determinações e não como chave mágica que promove a inclusão na sociedade de mercado, em que a competitividade e o individualismo se impõem como valores supremos.

O PROEJA, apesar dos seus impasses, pode ser considerado como uma conquista dos trabalhadores, pois incorpora suas reivindicações, no sentido de beneficiar esse público, ainda que de forma restrita.

O presente capítulo desenvolveu uma abordagem crítico-reflexiva sobre a institucionalização do PROEJA mediante uma análise da proposta do Programa em seus elementos constituintes como: objetivos e finalidades, as funções da EJA, a fundamentação legal e seus limites e possibilidades de se concretizar como uma política de inclusão social para a classe trabalhadora.

O capítulo seguinte pontuará os aspectos que devem fundamentar o currículo integrado para o PROEJA tendo como perspectiva uma educação politécnica, cujos princípios são basilares para uma educação libertadora e transformadora.

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4. O PROEJA E O CURRÍCULO INTEGRADO

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