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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Saúde mental: saberes e fazeres (páginas 139-145)

ESCUTA PSICOLÓGICA NA SAÚDE MENTAL: UMA EXPERIÊNCIA DE ACOLHIMENTO NO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas pessoas buscam por ajuda psicológica inicialmente com receio. Tal fato se deve principalmente aos estereótipos atribuídos ao profi ssional de psicologia por parte da sociedade. Os mitos as- sociados à Psicologia e a história da profi ssão contribuem para a construção de uma imagem distorcida. A expectativa de cura “má- gica” e o medo de ter os pensamentos “adivinhados” permeiam o imaginário popular. Muitos usuários, quando iniciadas as ativida- des de implantação da Escuta Psicológica no CAPS, se dirigiram às plantonistas questionando sobre o papel do psicólogo, ora apre- ciando o acolhimento recebido em outras situações em que tiveram contato com a psicologia, ora apresentando desconforto por receio do que o profi ssional poderia descobrir sobre sua vida. Superada esta etapa de reconhecimento e reconfi guração sobre a psicologia, os usuários passaram a buscar as plantonistas de forma mais tran- quila, sem falsas expectativas ou receios. Podemos considerar que o momento inicial, ainda que pautado em fantasias, foi importante para desconstrução da imagem distorcida e para o estabelecimento de vínculos mais sólidos, pautados em dados reais da experiência cotidiana de contato com as plantonistas, favorecendo ao estabele- cimento de relações mais confi áveis.

A postura das extensionistas na atividade de Plantão de Escuta Psicológica, compreendida na sua real dimensão, consolidou aquilo

que entendemos ser relevante para a desconstrução da noção de clí- nica como um lugar de isolamento terapêutico. Ao contrário, a pro- posta do Plantão de Escuta Psicológica é consolidar-se como uma prática clínica ampla, defi nida como espaço de produção de subjeti- vidades e sociabilidades, na qual o sujeito em sofrimento psíquico deixa de ser objeto de saber para tornar-se sujeito (YEHIA, 2004; PALMIERI; CURY, 2007). Nesta direção, a pessoa com transtorno mental, que por tal condição vive situações de preconceitos e de ex- clusão social/familiar, tem no momento da “escuta” a possibilidade de se despir dos rótulos e construir uma autoimagem pautada em aspectos emergentes na relação permeada pela aceitação e compre- ensão da plantonista.

A qualidade da relação estabelecida (plantonista - usuário) evi- dencia a necessidade de se olhar o portador de transtorno mental não mais no rastro da história da “loucura”, como o limitado e im- provável, mas como um ser de possibilidades, em movimento cons- tante (AUGRAS, 1986), favorável ao desenvolvimento e ao equilí- brio, de modo coerente com o contexto no qual este se encontra, com as relações estabelecidas e com o desenvolvimento de estraté- gias para o seu bem-estar. Ainda que sejam relevantes as condições individuais de cada pessoa para o desenvolvimento de estados mais saudáveis, não cabe conceber a avaliação da pessoa em sofrimento psíquico de forma isolada do seu contexto.

Assim, a proposta do Plantão de Escuta Psicológica se consoli- dou não apenas como um recurso para promover saúde e qualidade de vida àqueles que, em situações de urgência, encontraram aco- lhimento imediato através desta modalidade de atendimento, mas como um caminho para avaliar a dimensão subjetiva dos usuários de serviço de saúde mental através da compreensão da relação des- te com seus sentimentos e sofrimentos, indissociáveis do seu en- torno, como seres constituídos e constituintes do mundo.

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CAPÍTULO 6

BEM-ESTAR SUBJETIVO DE IDOSOS EM

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