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insatisfações dos académicos no ensino superior

4. considerações finais

Não se pode dizer que os académicos estejam particularmente satisfeitos, como vimos. Além disso, os académicos dizem que gostariam de ocupar o seu tempo de trabalho de modo diferente. Com efeito e de um modo geral, os académicos gostariam de despender o seu tempo, sobretudo no ensino (34,8%) e na investigação (30,0%), ou em tarefas associadas, como é o caso da orientação de trabalhos/teses/dissertações académicas (11,9%), o que vem na linha dos estudos que assinalam estas atividades como sendo as centrais do trabalho académico. Depois viria o desenvolvimento profissional (6,7%) e o aconselhamento académico e educativo (5,4%). Os dados obtidos mostram algum desfasamento face a tarefas que, com as recentes alterações aos estatu- tos das carreiras docentes, passaram a ter mais visibilidade.

Os dados do nosso estudo reforçam a ideia de que são múltiplas as dimen- sões associadas à satisfação no trabalho, realçando o carácter complexo e mul- tidimensional deste constructo (Seco, 2002). Por outro lado, mostram que os académicos não estão particularmente satisfeitos e que gostariam de utilizar o seu tempo de modo diferente do que acontece.

Os resultados obtidos merecem particular atenção, não apenas da parte dos académicos mas sobretudo dos decisores políticos, das próprias instituições e dos seus responsáveis, no sentido de atuarem positivamente relativamente a dimensões e atividades que menos satisfazem os académicos. Dos dados obti- dos conclui-se que as instituições de ensino superior têm um amplo caminho a percorrer relativamente a diferentes dimensões estratégicas e de gestão em que podem ou devem atuar.

Portugal passou, em pouco tempo, de um sistema de ensino superior de elites para um sistema de massas, apresentando sinais de estabilização e até de alguma diminuição na última década, o que tem levado ao aumento da com- petição entre as instituições e a sinais de reorganização da rede ou mesmo de fusões entre instituições. As condições de trabalho dos académicos têm vindo a deteriorar-se e a transformar-se numa incógnita que interpela cada vez mais a academia, nomeadamente no que se refere ao modo como se perspetivam as missões do ensino superior, da profissão académica e da segurança no trabalho. As mudanças introduzidas em 2009 acabaram por se traduzir em altera- ções significativas, a que não são alheias mudanças ocorridas na legislação de trabalho em geral. Além disso, as mudanças ocorridas abriram caminho a que cada instituição possa regular, com maior ou menor diferenciação o trabalho académico no seu interior.

Parece-nos que continua atual a necessidade de profunda reflexão a que há uma década se referiam autores como Altbach (2000) e Enders (2000). Os atuais estatutos da carreira docente enunciam de forma explícita funções mais diversificadas do que no passado e abrem caminho a todo um conjunto de tarefas que são remetidas para a autonomia das instituições, o que colo- ca os académicos perante mudanças e desafios na sua carreira que, por um lado, remetem para a complementaridade entre as várias atividades, mas por outro, colocam também a questão da competição entre as mesmas, dada a valorização diferenciada que possam ter na organização e gestão das carreiras académicas. Dada a diversidade de papéis hoje atribuídos aos académicos e as mudanças de que vem sendo alvo o ensino superior e a influência dos contex- tos em que o mesmo se insere será natural que a profissão académica venha a atravessar momentos de tensão, ambiguidade e indefinição, marcados por alguma nebulosidade quanto ao seu futuro.

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