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a inclusão financeira dos estudantes da escola suPerior de educação e ciências sociais do instituto Politécnico de leiria

e ciências sociais do instituto Politécnico de leiria

3. a inclusão financeira dos estudantes da escola suPerior de educação e ciências sociais do instituto Politécnico de leiria

3.1. introdução

O principal objetivo do presente estudo é o de avaliar a inclusão financeira dos estudantes da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Po- litécnico de Leiria. Em particular, o estudo proposto assume como objetivos a análise da inclusão financeira daqueles estudantes e a compreensão dos hábitos de gestão das suas contas bancárias. Analisam-se ainda os fatores tidos em conta aquando da escolha pelos inquiridos de determinados produtos bancários.

3.2. metodologia

A metodologia utilizada foi essencialmente quantitativa. Assim, devido ao elevado número de inquiridos, recorreu-se essencialmente ao inquérito por questionário. O referido inquérito encontra-se subdividido em 5 partes: ca-

racterização dos inquiridos, por sexo, idade e curso; inclusão financeira, onde se

pretende aferir se os inquiridos têm conta bancária, e, caso não tenham, tentar compreender a respetiva razão; planeamento de despesas e poupança, que visa compreender se o inquirido e sua família fazem poupanças e se tem emprésti- mo bancário; hábitos de gestão da conta bancária, onde se pretende compreen- der se os inquiridos controlam regularmente o saldo da sua conta e através de que meio; escolha de produtos bancários, cujo principal objetivo é perceber se os inquiridos subscrevem outros produtos financeiros além da conta bancária e de que forma selecionam esses produtos.

A aplicação dos questionários ocorreu na semana de 9 a 13 de abril de 2012. As perguntas constantes no inquérito por questionário aplicado têm por base o Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa realizado pelo Banco de Portugal (2010) e o inquérito por questionário aplicado a alu- nos do ensino secundário da Região de Lisboa por Machado (2011)1. A deter-

de aplicar perguntas já testadas noutros trabalhos (de modo a poder comparar os resultados obtidos com os encontrados por outros autores) e pelo facto de serem estudos recentes aplicados à população portuguesa.

3.2. resultados obtidos

A população inquirida foi constituída pelos estudantes do primeiro ano dos cursos de licenciatura de Educação Social (regimes diurno e pós-laboral) e Relações Humanas e Comunicação Organizacional da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (ESECS-IPL), matriculados no primeiro ano curricular, em regime presencial, no ano letivo 2011/12, tendo totalizado 93 inquiridos. Conforme mostra o Gráfico 1, 44% dos alunos são do curso de Relações Humanas e Comunicação Organizacio- nal, 34% do curso de Educação Social do regime diurno e 22% do curso de Educação Social do regime pós-laboral. O tratamento separado dos alunos dos diferentes regimes do curso de Educação Social prende-se com o facto de o público que frequenta cada um dos regimes ter características bastante diferentes (no regime pós laboral, mais velhos e na sua maioria trabalhadores estudantes). A maioria dos inquiridos é do sexo feminino (83%). Quanto à idade, 80% dos inquiridos tem idade igual ou inferior a 25 anos, 4% entre os 235 e os 30 anos, 8% entre os 30 e os 35 anos e 7% com 40 anos ou mais (Gráfico 2).

Gráfico 1. Inquiridos por curso Gráfico 2. Inquiridos por idade

Quando se analisa o nível de inclusão financeira dos estudantes da ESECS- -IPL (Gráfico 3), constata-se 96,8% dos inquiridos tem conta bancária. Este é um resultado bastante positivo, quando comparado com o apresentado pelo Banco de Portugal, que revela que cerca de 11% dos entrevistados afirmam não ser titulares de qualquer conta bancária.

Conforme mostra o Gráfico 4, os 5 estudantes que não têm conta bancária justificam-no pelo facto de não terem rendimentos que justifiquem a abertura de uma conta (3 alunos), porque a conta de outra pessoa é suficiente (1 aluno) e devido aos custos elevados (1 aluno). Os resultados mostram também que, além da conta bancária, 51,9% dos inquiridos tem um depósito prazo, 49,4% possui cartão de crédito e 7,6% tem crédito automóvel (Gráfico 5).

No que diz respeito ao planeamento de despesas e poupança, os inquiridos atribuem elevada importância a esse planeamento (81,7% considera muito

importante, 18,3% considera importante). No que se refere aos hábitos de pou-

pança, cerca de 82% dos inquiridos revela que a família costuma fazer pou- panças – de salientar que as opções pouco importante e nada importante não fo- ram selecionadas pelos inquiridos. Ao nível dos hábitos de poupança, o Banco de Portugal (2010, p. 8) revela que “cerca de 48% dos entrevistados afirmam não fazer poupanças. Desses, a esmagadora maioria (88%) aponta como razão o facto de o nível de rendimento não o permitir”. Perguntou-se também se a família dos inquiridos tem algum empréstimo bancário: 48,4% dos estudantes respondeu que a família tem empréstimo bancário. Constatou-se que as famí- lias que contraíram empréstimos bancários fizeram-no principalmente com o objetivo de comprar casa (85,4%) e/ou carro (17,1%).

O estudo pretende também analisar o comportamento dos inquiridos no que se refere respetivos hábitos de gestão da conta bancária. Conforme mostra o Gráfico 6, 57,6% dos inquiridos controla os movimentos da conta através de multibanco, 8,7% através do extrato bancário, 8,7% através da ca- derneta e 7,6% pela internet. Quanto à periodicidade com que controlam os movimentos e o saldo da conta (Gráfico 7), 53,3% dos estudantes controla os movimentos e o saldo da sua conta pelo menos uma vez por semana, 21,7% pelo menos uma vez por mês e 13% diariamente. Os restantes inquiridos ou não responderam à pergunta (3,3%) ou fazem aquele controlo menos de uma vez por mês (1,1%) ou raramente (7,6%).

Gráfico 5.

Os estudantes foram também questionados acerca dos critérios de escolha do banco onde têm conta (Gráfico 8) e das razões que os levaram selecionar os produtos bancários subscritos (Gráfico 9). Constata-se que a recomenda- ção de um familiar/amigo (50%) e a exigência da entidade patronal (11,96%) são para principais razões para a escolha do banco – este resultado coincide com o obtido pelo Banco de Portugal (2010) que revela que a maioria dos entrevistados escolheu o seu banco por recomendação de familiar ou amigo. Razões financeiras para a escolha do banco surgem com percentagens de res- posta abaixo dos 10%, entre as quais destacamos “custos baixos” (9,78%) e “remuneração da conta” (2,17%). Também na escolha de produtos financeiros, o “conselho de familiares/amigos” surge como a principal razão para a seleção destes produtos.

Entre os inquiridos que subscreveram depósitos a prazo ou outros produ- tos, cerca de 33% dos inquiridos sabe o valor aproximado ou exato da taxa de juro associada aos produtos que subscreveu. Quanto à taxa de juro do em- préstimo bancário, cerca de 20% dos respondentes conhece o valor exato ou aproximado daquela taxa.

Gráfico 6. Hábitos de gestão da conta bancária

– método de controle Gráfico 7. Hábitos de gestão da conta bancária – periodicidade de controle

Foi também perguntado aos inquiridos se comparam as taxas de juro co- bradas (ou oferecidas) pelos bancos antes de subscreverem um empréstimo bancário (ou um depósito a prazo). No que se refere à subscrição de depósitos a prazo, aproximadamente 20% dos inquiridos compara as taxas de juro ofe- recidas pelos bancos. Quanto aos empréstimos bancários, 37% dos inquiridos compara as taxas de juro.

A última pergunta constante no Questionário refere-se ao facto de os inqui- ridos lerem (ou não) a informação que o banco fornece antes de fazerem uma poupança ou contraírem um empréstimo. Os resultados obtidos, evidenciados no Gráfico 10, revelam que 32,6% dos estudantes lê a informação fornecida com muito detalhe, 38% lê com algum detalhe, 15,2% lê com pouco detalhe e 5,4% não lê.

Em jeito de conclusão, podemos referir que a elevada percentagem de in- quiridos com conta bancária e outros produtos financeiros como depósitos a prazo e cartão de débito é reveladora do alto nível de inclusão financeira dos estudantes. Os resultados revelam também que os estudantes são sensíveis a questões de poupança e que têm hábitos de gestão regular da conta bancária. Constata-se ainda que razões não financeiras estão na base de decisões finan- ceiras, nomeadamente no que se refere à escolha do banco e à subscrição de produtos financeiros.

4. conclusões

A crise financeira de 2008 colocou em destaque a profunda importância do sector financeiro para a economia globalizada. Governos de vários países do mundo e diversas organizações internacionais têm vindo a desenvolver estu- dos para aferir os comportamentos e conhecimentos financeiros das popula- ções e têm também vindo a desenvolver estratégias com vista à promoção da respetiva literacia financeira e inclusão financeira.

O estudo proposto teve como principal objetivo analisar o grau de inclusão financeira dos estudantes da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Para levar a cabo este objetivo aplicou-se um inquérito por questionário aos alunos do 1º ano dos cursos de licenciatura de Educação Social e de Relações Humanas e Comunicação Organizacional daquela instituição. Os resultados obtidos mostram o elevado nível de inclu- são financeira dos estudantes, apesar destes apresentarem algumas lacunas em

termos de hábitos de gestão das contas bancárias e na tomada de decisões da escolha de produtos e serviços financeiros.

Assim, tendo em conta os resultados obtidos, e respeitando o Plano Nacio- nal de Formação Financeira (Banco de Portugal, 2011) que define a estratégia de literacia financeira em Portugal para o período 2011-15, recomenda-se a adoção de medidas que promovam o aumento da literacia financeira dos es- tudantes de ensino superior. Em particular, incentiva-se a implementação de medidas destinadas a estes estudantes que visam uma melhor compreensão da informação disponibilizada pelas entidades que operam no sistema finan- ceiro e uma escolha adequada e responsável de produtos e serviços financeiros, ponderando os respetivos custos e rentabilidades. Será também importante sensibilizar os estudantes para a importância da poupança, enquanto elemen- to que reforça o património e permite fazer face a despesas imprevistas e ocasionais. Neste sentido, sugere-se o desenvolvimento e implementação de ações de formação/educação financeira que divulguem a existência do sistema de serviços mínimos bancários e que abranjam temáticas como a gestão das finanças pessoais, a aplicação de poupanças, a elaboração de um orçamento familiar e a apresentação de formas de crédito legais e eficientes para financia- mento de projetos pessoais e/ou profissionais.

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legislação:

Decreto Lei 27C/2000 de 10 de Março. (endnotes)

1 O inquérito por questionário aplicado por Machado (2011) teve por base o National Financial Capability Study 2009

integração curricular de educação