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Lei que define as bases do enquadramento jurídico do voluntariado

para o desenvolvimento comunitário – estudo de caso

1 Lei que define as bases do enquadramento jurídico do voluntariado

enQuadramento teórico (Re)Descobrir o voluntariado

A sociedade atual evidencia grandes mudanças, a todos os níveis, nomeadamente mudanças de valores, talvez provenientes da crise que se vive em Portugal. A so- ciedade necessita cada vez mais de cidadãos conscientes, ativos e solidários, para que as suas necessidades e problemáticas sejam minimizadas ou colmatadas.

Tal como refere Pinto (2004), a sociedade atual reclama novas formas de so- lidariedade, sendo que o voluntariado está no cerne desta questão, e é a melhor de entre elas. Compreende-se facilmente que uma sociedade contemporânea, centrada no individualismo, reclama atitudes novas que abram a porta ao altru- ísmo. É por isso que se torna necessário multiplicar as iniciativas de voluntariado. Neste sentido, o voluntariado é uma temática que tem sido igualmente alvo de transformações ao longo da história. Antigamente, o voluntariado evi- denciava duas grandes características, a assistencialista e a caridade, em que a Igreja Católica era das únicas instituições ligadas a esta prática. Atualmente, o voluntariado estende-se a mais instituições, tendo alargado as suas áreas de atuação e as suas características. Esta ação mantém, no entanto, uma caracte- rística comum o facto de ser uma prática não remunerada e não obrigatória.

De acordo com o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (2009), esta prática visa o exercício livre de cidadania ativa e solidária. Isto porque, o voluntariado encontra-se ao serviço dos indivíduos, das famílias e das comunidades, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e bem- -estar dos seus beneficiários.

Logo, o trabalho voluntário distingue-se, essencialmente, por ser uma prá- tica livre, que permite ao voluntário estar em contacto direto com as popu- lações e áreas do seu interesse. Esta é a característica primordial do trabalho voluntário, o de ser livre.

Neste contexto, o voluntariado é exercido em tantos domínios quantos os da atividade humana. Encontramos, por isso, voluntários em domínios tão diversos como a ação social, a saúde, a educação, a cultura, o ambiente, a defesa dos di- reitos humanos, o desenvolvimento local, a proteção civil, a cooperação para o desenvolvimento, a ajuda humanitária, a política de desenvolvimento, a investi- gação e a igualdade de oportunidades. Para Chambel (2011), os voluntários são cidadãos comprometidos com causas, convictos de que a participação de todos é essencial a uma efetiva alteração de comportamentos e mentalidades.

Neste sentido, o voluntariado encontra-se associado a uma atuação que provoca a modificação de atitudes, que promove particularmente a prática da participação ativa dos cidadãos e, portanto, o exercício pleno de cidadania.

Autores como Serapioni, Ferreira, Lima e Marques (s/d), defendem que o voluntariado para além de ser entendido como uma atividade pessoal, é igual- mente uma ação privilegiada de vida. Deste modo, o dinamismo da sociedade civil encontra e expressa no voluntariado o espaço por excelência do exercício de uma cidadania ativa e participada.

Perante o exposto, o voluntariado possui uma potencialidade e utilidade social. O voluntariado assenta em primeiro lugar na possibilidade do cidadão estar integrado e responsabilizado por determinadas questões e funções.

Salienta-se ainda, o facto de o voluntariado constituir sempre um instru- mento educativo/formativo trabalhando, nomeadamente, ao nível da sociali- zação informal ou não intencional. Fonseca (2001) refere que esta prática am- plia os horizontes sociais, colocando a pessoa em contacto com outros grupos, desenvolvendo competências e capacidades.

o desenvolvimento comunitário

O conceito de desenvolvimento é bastante complexo e dinâmico, ao qual lhe es- tão associadas diferentes perspetivas. “É, desse ponto de vista, um dos conceitos com mais possibilidades de alimentar diálogos (ou confusões) interdisciplinares e de estabelecer pontes e rupturas entre a teoria e a prática” (Amaro, 2003:37). Ao longo dos tempos, o conceito de desenvolvimento sofreu diversas trans- formações. De acordo, com Caride, Freitas e Vargas (2007), a análise do de- senvolvimento manteve-se nos seus inícios abrigada pelas teorias económi- cas, sendo o desenvolvimento designado pelos clássicos de corrente liberal e socialista de crescimento económico. Este crescimento económico estava fortemente ligado à busca de uma vida melhor, através da acumulação de bens e poder. Para Martins (2002), o seu estudo permaneceu, inicialmente, associado a questões económicas, tendo sido ligado ao progresso material e à modernização tecnológica.

No século XX, o desenvolvimento passou a assentar sobretudo na lógica do bem-estar dos divíduos, centrado na perspetiva social que visa garantir as condições mínimas de subsistência. Atualmente, o conceito de desenvolvi- mento incorpora outras vertentes, não só de ordem económica, mas também social e ambiental. Estas vertentes direcionam-se especificamente para uma vertente mais humana.

No entanto, como defendem Chenery e Taylor (1968) citados por Caride, Freitas e Vargas (2008), fatores como a modernização e o crescimento econó- mico, pilares do bem-estar, acabaram por impulsionar profundas desigualda- des entre diferentes países, ainda hoje não superadas, às quais está associada a distinção entre países desenvolvidos e os países em desenvolvimento.

Relativamente à temática do desenvolvimento existem diferentes conceitos, entre eles o conceito de desenvolvimento local ou comunitário, sobre os quais nos debruçamos de seguida.

O desenvolvimento comunitário visa satisfazer as carências concretas da população e criar condições para o crescimento económico e social, destacan- do o papel do indivíduo como ser participativo e ativo na comunidade. Para Caride, Freitas e Vargas (2007), o desenvolvimento comunitário é, portanto, um instrumento de participação da população, no qual a comunidade assume um papel preponderante, por ser um meio que orienta as necessidades dos seus indivíduos. Logo, este conceito está intimamente ligado à participação ativa das populações, contribuindo, assim, para a consolidação da identidade local e do envolvimento coletivo.

Arroteia (2008) defende que o desenvolvimento comunitário está associa- do o progresso social, que se traduz na mudança de comportamentos e ati- tudes das pessoas que estão inseridas nas comunidades. Só assim é possível um progresso na melhoria da qualidade de vida das pessoas inseridas nas comunidades.

Viveiros e Albino (2008) relatam que o desenvolvimento comunitário é um desafio permanente, espaço de construção de uma cidadania ativa e funda- mento da democracia participativa. De acordo com aqueles autores, a comu- nidade é o nervo central para a sustentabilidade da construção de alternativas de desenvolvimento dos territórios, capaz de gerar sinergias criativas localiza- das no envolvimento das populações. Os autores afirmam ainda, que persiste um desafio do desenvolvimento local e comunitário, que reside no facto de associada à realidade social se encontrarem soluções participadas, integrado- ras e valorizadoras das gentes e dos recursos comunitários.

Em síntese, a comunidade é um espaço de vida onde se concretizam os pro- blemas, as necessidades, os projetos e as esperanças de um amplo grupo de pessoas que, a partir da sua organização em diversas instituições, pretendem dar resposta aos desafios do seu meio. Portanto é, por si só, um espaço comunitário que assume a ligação e a cooperação com os seus protagonistas, as organizações e os seres humanos, assumindo diversas funções entre as quais se destacam: a socialização, o controlo social, a promoção da participação social, a formação de uma identidade coletiva, a consolidação de laços de solidariedade e a produção, distribuição e consumo de bens (Caride, Freitas e Vargas, 2007).

metodologia e os resultados obtidos

O principal objetivo do presente estudo é o de perceber em que medida o trabalho voluntário promove o desenvolvimento comunitário. Neste sentido pretende-se compreender o contributo do Banco das Mãos Amigas do Sul para o desenvolvimento comunitário do concelho onde está inserido. Assim, a investigação proposta enquadra-se no âmbito do estudo de caso, que se insere na metodologia qualitativa. A escolha da abordagem qualitativa deriva do âm- bito do estudo, uma vez que pretendemos analisar e compreender o contexto real do estudo em questão.

Neste sentido, foi pertinente selecionar algumas técnicas e instrumentos de pesquisa e recolha de dados, para que fosse possível e exequível a realização do estudo, nomeadamente o inquérito por entrevista, em que se optou pelas entrevistas semiestruturadas, as notas de campo e a pesquisa documental.

Dentro do universo de pessoas a inquirir, selecionámos o corpo técnico do Banco das Mãos Amigas do Sul, as diretoras das instituições integradoras do voluntariado e os voluntários, constituindo este um grupo de dez pessoas com características muito específicas e distintas. Reportando-nos às idades do gru- po, que se submeteu ao inquérito por entrevista, estas estão compreendidas entre os vinte e dois anos os setenta e cinco anos.

Após a análise e tratamento dos dados, importa referir os principais resul- tados obtidos.

Para o corpo técnico do Banco, o trabalho voluntário para além de ser uma atividade importante na promoção do bem-estar dos sujeitos-beneficiários, é uma realidade que traz efeitos positivos para a comunidade, porque aumenta a consciência coletiva e torna a comunidade mais altruísta. Por outro lado, inerentes ao voluntariado, estão benefícios não só para os próprios voluntários, mas também para as pessoas que recebem este apoio. Existe, portanto, uma partilha de experiências e uma aprendizagem mútuas.

As diretoras das instituições integradoras de voluntariado referem, sobre- tudo, que o voluntariado é relevante para a comunidade que beneficia desta ação, porque as voluntárias asseguram um trabalho importante e eficaz, que os próprios recursos humanos da instituição não conseguem fazer, porque lhes competem outro tipo de funções.

Para as voluntárias, o seu trabalho é indispensável, porque revelam que na sua comunidade existem falhas e necessidades que podem ser diminuídas com a sua ação, entre elas, a falta de conversação e a solidão na população idosa. Só por este motivo, o trabalho voluntário já contribui para o desenvol- vimento comunitário, porque as voluntárias detetam necessidades na comuni- dade e, são elas próprias que lhes dão respostas, com o apoio do Banco e das instituições. Surge, neste sentido, o testemunho de uma voluntária que mostra que o seu trabalho é bem visto pela comunidade, porque é um trabalho que

visa a solidariedade, referindo ainda que as suas funções são distintas das dos próprios funcionários das instituições integradoras de voluntariado.

Em conclusão, os resultados obtidos mostram que o voluntariado promove o desenvolvimento comunitário do concelho onde se insere o Banco. A este nível, as informações fornecidas pelos inquiridos são unânimes no que se re- fere à perceção positiva do voluntariado no desenvolvimento da comunidade.

conclusão

A presente investigação teve como objetivo primordial verificar se o volun- tariado promove o desenvolvimento comunitário. Caride, Freitas e Vargas (2007) remetem-nos para a influência da ação voluntária no desenvolvimento. O desenvolvimento das pessoas e dos grupos sociais está diretamente ligado às condições do conforto e bem-estar, que estão inerentes à condição de vida do ser humano. O voluntariado é uma ação gratuita, com vista a auxiliar aquele que precisa, promovendo o bem-estar do sujeito-beneficiário, sendo esta uma das condições do desenvolvimento comunitário. Ou seja, o desenvolvimento comunitário tem em conta a existência de pessoas integradas na comunidade, que face às necessidades detetadas, tentam dar as melhores e/ou possíveis res- postas a essas necessidades.

O estudo proposto assumiu como principal objetivo analisar se o volunta- riado contribui para o desenvolvimento comunitário, recorrendo a um estudo de caso. De modo a dar resposta a este objetivo foram inquiridos o corpo técnico do Banco das Mãos Amigas do Sul (estrutura em estudo), as diretoras das instituições integradoras do voluntariado e os voluntários.

Os dados obtidos mostram que, todo o grupo inquirido tem uma opinião muito positiva e muito próxima no que respeita ao contributo do voluntariado para o desenvolvimento comunitário. Constata-se que o trabalho voluntário traz alguns benefícios para a comunidade, nomeadamente no que se refere ao facto deste trabalho fazer aumentar a consciência coletiva, a solidariedade e o altru- ísmo. Por outro lado, o voluntariado é um trabalho importante e muito eficaz para as instituições que promovem o voluntariado e, permite minimizar e dar resposta a determinadas necessidades e problemas existentes na comunidade.

Neste sentido, torna-se urgente que as comunidades locais criem iniciati- vas que visem a promoção do voluntariado. É exemplo disso o facto da co- munidade local estudada, ter criado a estrutura Banco das Mãos Amigas do Sul, que tem como principal objetivo colmatar as necessidades da população através da promoção do voluntariado, funcionando como um apoio para a comunidade e para as instituições nela presentes. Compreende-se facilmente que uma sociedade contemporânea, centrada no individualismo, tenha a ne- cessidade de reclamar novas atitudes e novos comportamentos que abram a porta a um altruísmo (Pinto, 2004). É por isso que se torna necessário multi- plicar as iniciativas de voluntariado.

Realça-se neste âmbito a visão de Trilla (2004) quando refere que as ins- tituições, como estruturas organizadas da ação social, se transformam nos melhores instrumentos para o desenvolvimento da comunidade.

referências

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legislação

Lei nº71/98 de 3 de Novembro (estabelece as bases do enquadramento jurí- dico do voluntariado);