• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I –Introdução

3. Considerações metodológicas

Este trabalho de investigação incide, como mencionámos anteriormente, sobre o modo como os diferentes actores sociais e institucionais representam os processos associados à protecção do ambiente e à promoção do desenvolvimento socioeconómico nas áreas rurais (particularmente nos casos do Parque Natural de Montesinho e da Serra da Freita), análise que tem em conta as transformações que estas áreas sofreram ao longo das últimas décadas. O modo como essas representações são integradas na elaboração e implementação de políticas, programas e medidas e para as áreas rurais, é também matéria de incidência desta tese. A Figura 1.1 sintetiza a estrutura metodológica adoptada neste trabalho.

Figura 1.1 – Estrutura Metodológica da Investigação

Perspectiva Teórica

- a sociedade face às questões ambientais a nível global - a sociedade portuguesa face às questões ambientais

Desenvolvimento de um quadro teórico de referência - as transformações das áreas rurais e o seu actualmente

reconhecido carácter multifuncional (a nível global e nacional) - a função ambiental das áreas rurais a nível internacional e nacional - a tomada de decisão e implementação de políticas de protecção do ambiente e de desenvolvimento rural (nível global e nacional)

Perspectiva Prática

- recolha e tratamento de informação relativa às representações e

Análise dos casos de estudo – PN de Montesinho e Serra da Freita práticas sociais e institucionais sobre os processos de protecção ambiental e de desenvolvimento socioeconómico (utilizando a técnica do Inquérito por Questionário e a técnica do Inquérito por Entrevista) - recolha e tratamento de informação documental relativa às políticas, programas e medidas de protecção do ambiente e de desenvolvimento rural.

Teoria versus Prática - resultados da análise empírica que tornam visíveis as diferenças em

termos de representações e práticas face ao ambiente e ao desenvolvimento rural,

- resultados da análise empírica que evidenciam a necessidade de aquelas diferenças serem integradas nos processos de tomada de decisão e implementação das várias políticas, programas e medidas (ambientais de desenvolvimento) para as áreas rurais

- formas de integração das diferenças de representações e práticas no sentido de aumentar a legitimidade e melhorar a eficácia dos instrumentos de política para as áreas rurais existentes ou a implementar

De um modo genérico, podemos dizer que esta tese foi desenvolvida seguindo um modelo de estrutura de investigação científica tradicional, no qual se destacam as seguintes fases:

i) a contextualização do objecto de investigação na literatura sobre as relações entre a sociedade e as questões ambientais; sobre as áreas rurais, as suas transformações e a sua reconhecida função ambiental actual e ainda sobre as políticas de protecção do ambiente e de desenvolvimento rural;

ii) a caracterização da sociedade portuguesa face às questões referidas e a análise das políticas de desenvolvimento para as áreas rurais, designadamente da forma como representam e integram as (outras) diferentes representações sociais sobre o ambiente rural;

Capítulo I - Introdução

iii) a recolha de informação relativa às representações e práticas sociais e institucionais face aos processos de protecção do ambiente e de promoção do desenvolvimento socioeconómico nas áreas do Parque Natural de Montesinho e da Serra da Freita; iv) o tratamento e a análise dos resultados obtidos no processo de recolha de

informação, à luz das perspectivas teóricas fornecidas pela recolha e análise bibliográfica; a elaboração de conclusões e de recomendações sobre a diversidade de representações e práticas face ao ambiente e ao desenvolvimento rural e o modo como aquela diversidade pode ser integrada nas políticas, programas e medidas para as áreas rurais, por forma a aumentar a sua legitimidade e a sua eficácia. O trabalho de campo consistiu, como já foi referido, na recolha de informação relativa às representações e práticas face aos processos de protecção do ambiente e de promoção do desenvolvimento social e económico, nas áreas do Parque Natural de Montesinho (PNM) e da Serra da Freita (SF). A recolha de informação, processou-se essencialmente através da realização de Inquéritos por Questionário (IQ) aos habitantes e visitantes de ambas as áreas e através de Inquéritos por Entrevista (IE) às entidades políticas, nomeadamente aos Presidentes das Câmaras Municipais e aos Presidentes das Juntas de Freguesia das duas áreas. Foram também realizados Inquéritos por Entrevista a outras entidades (designadamente aos dirigentes das Associações das Desenvolvimento Local (ADL) existentes e ao Director do Parque Natural) com intervenção nestas áreas. Foi recolhida igualmente informação de carácter documental que, por um lado, permitiu enquadrar legalmente as intervenções políticas (quer as de carácter ambiental, quer as associadas ao desenvolvimento socioeconómico) e por outro lado, permitiu caracterizar as áreas em estudo do ponto de vista da sua evolução demográfica, social e económica. Seleccionámos as áreas mencionadas – i.e. o Parque Natural de Montesinho e a Serra da Freita – sobretudo pelas suas características marcadamente rurais. Efectivamente, ambas conheceram e conhecem um acentuado decréscimo populacional e um grande envelhecimento das populações residentes. Em ambas as áreas a base económica assenta essencialmente na actividade agrícola e na pecuária, com situações de pluriactividade muito generalizadas. Por outro lado, estas áreas foram seleccionadas tendo também em atenção o seu potencial de atracção de visitantes. Estes casos foram igualmente considerados significativos, do ponto de vista da demonstração do argumento central desta tese, pelo facto de poderem ser (exactamente pelas suas características, a que mais tarde dedicaremos maior atenção) caracterizados como áreas marginalizadas pelos modelos de desenvolvimento dominantes em Portugal nas últimas décadas e, por isso mesmo, também poderem ser entendidas como áreas remotas e profundas. Por outro lado, a diferença de estatuto legal das duas áreas, em termos de protecção do ambiente, é uma circunstância que se nos afigurou relevante, já que enquanto o PNM é institucionalmente reconhecido como um espaço rural extraordinário, do ponto de vista

ambiental, a SF é apenas aquilo que, por oposição, podemos designar como um espaço rural vulgar. Acreditamos que a diferença de estatuto mencionada se revela fundamental em termos das diversas representações e práticas desenvolvidas por habitantes, visitantes e entidades político-administrativas, face aos processos de protecção do ambiente e de promoção do desenvolvimento social e económico. Um dos casos de estudo é constituído por dezasseis freguesias (e quarenta e oito lugares) da área do PNM, área legalmente protegida desde 1979 (Decreto-Lei nº 355/79 de 30 de Agosto). Esta área situa-se na região do Nordeste Transmontano, englobando um total de trinta e cinco freguesias e de noventa e dois lugares que fazem parte dos concelhos de Bragança e Vinhais (pertencentes ao Distrito de Bragança). Nesta área, foram realizados duzentos e vinte inquéritos por questionário aos seus habitantes e cento e cinquenta questionários aos seus visitantes. A selecção das freguesias, respectivos lugares e dos indivíduos a inquirir foi feita segundo critérios que explicitaremos no capítulo VII deste trabalho, que é dedicado justamente à apresentação dos aspectos metodológicos.

A área designada neste trabalho como Serra da Freita constitui, como dissemos antes, o outro caso de estudo e é o resultado da confluência de três maciços montanhosos da região Centro do país, a saber: a Serra da Gralheira, a Serra de Montemuro e a Serra da Arada. É uma área sem estatuto legal de protecção, embora esteja integrada no Biótopo Corine. Como se trata de uma área que não tem limites facilmente definidos optámos neste trabalho por considerar os limites propostos pelo GAAPE (1996) no âmbito do Programa de Desenvolvimento Integrado da Serra da Freita, que, por sua vez considera os limites da área proposta como Biótopo Corine, alargando-os um pouco. A área da SF que considerámos é constituída por dez freguesias e por cinquenta lugares. Na realidade a área total da SF engloba dezanove freguesias e setenta e oito lugares, que fazem parte de três concelhos – Arouca, Vale de Cambra (pertencentes ao distrito de Aveiro) e S. Pedro do Sul (pertencente ao distrito de Viseu). Nesta área foram realizados duzentos e um inquéritos por questionário aos habitantes e cento e cinquenta questionários aos visitantes. Tal como referimos para a área do PNM, os critérios que estiveram na base da selecção das freguesias, respectivos lugares e amostras da população residente e dos visitantes serão explicitados no capítulo VII deste trabalho.

Muito sinteticamente, através da metodologia desenvolvida, procurámos obter o conhecimento que permitisse a resposta aos objectivos desta tese, assim como a comprovação do seu argumento central e das hipóteses que o procuram operacionalizar e que serão igualmente apresentadas no capítulo VII.

Capítulo I - Introdução