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Capítulo I –Introdução

4. Organização da tese

A tese encontra-se estruturada em onze capítulos. Neste primeiro capítulo apresenta-se uma síntese da temática geral e dos objectivos da tese, do âmbito da investigação, dando particular destaque a um dos contributos fundamentais para este trabalho – o da sociologia do ambiente – devido à sua juventude como área disciplinar. Apresentam-se igualmente algumas considerações breves sobre a metodologia da investigação e a forma como a tese se encontra organizada.

No segundo capítulo, que é de natureza teórica, procuramos compreender as razões subjacentes ao entendimento crescente dos problemas ambientais como problemas sociais, nas sociedades modernas. Depois, procuramos dar conta da emergência do ambiente como uma questão social e política nas sociedades contemporâneas, analisando os diversos factores que conduziram a essa emergência, assim como as suas consequências. Fazemos uma síntese da evolução daquilo a que podemos chamar por agora a sensibilidade social para as questões ambientais, determinando o papel que tiveram na formação dessa sensibilidade algumas catástrofes ambientais e alguns acontecimentos de carácter político- institucional e científico. Realizamos igualmente uma síntese do papel desempenhado na formação dessa sensibilidade social por factores como os mass media, as Organizações Não Governamentais (ONG’s), os processos de educação formal e o discurso político, entre outros. Após esta síntese debatemos a temática dos valores sociais subjacentes às crescentes preocupações sociais e institucionais com o ambiente, desenvolvendo e ilustrando as diversas abordagens teóricas, que pretendem explicar a emergência destes valores nas sociedades modernas, tendo essencialmente por base os fenómenos associados à globalização, à modernidade e à pós-modernidade. Este capítulo procura ainda explicitar o modo como o poder político tem incorporado as necessidades e preocupações sociais com as questões do ambiente, observando esse poder político a partir da sua dupla função de tradutor e formador da sensibilidade social. No último ponto do segundo capítulo, procura-se debater o valor social do ambiente e da natureza nas sociedades contemporâneas, tendo em atenção a identificação destes dois conceitos, em termos da sua representação social; a diversidade que ambos os conceitos encerram e, consequentemente, a diversidade de procuras e de formas de consumo dos bens ambientais e dos bens naturais nas sociedades actuais.

No terceiro capítulo, procuramos observar a emergência do ambiente ao nível nacional como uma questão social, salientando igualmente os principais factores que se lhe encontram subjacentes. Argumentamos que em Portugal, apesar do despertar tardio da opinião pública para as questões e problemas ambientais, podemos reconhecer o mesmo tipo de factores que observamos em outros países ocidentais, na base da emergência e consolidação de uma sensibilidade para essas mesmas questões. Depois desta constatação geral, fazemos a

caracterização da opinião pública nacional face às questões ambientais, com recurso aos dados publicados no âmbito do Eurobarómetro – Os Europeus e o Ambiente (CCE, 1986; 1988; 1992; 1995 e 1999) e no âmbito dos I e II Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos Portugueses sobre o Ambiente (Ferreira de Almeida, 2000 e 2001). No terceiro ponto deste capítulo, caracterizamos e analisamos as respostas políticas face às preocupações da sociedade civil portuguesa no domínio do ambiente, observando também o papel de tradutor e de formador do poder político neste domínio. Salientamos ainda o papel da União Europeia (UE) como factor impulsionador do interesse do poder político (e em certa medida também do interesse social) pelas questões do ambiente em Portugal, a partir da data de adesão deste último àquele organismo. Finalmente, o terceiro capítulo da tese aborda e debate, ainda que com alguma escassez de dados, o valor social e institucional que o ambiente e a natureza possuem em Portugal, analisando a existência de uma identificação de ambos os conceitos. Concluímos pela existência de uma identificação (social e institucional) do ambiente como natureza e como campo.

O quarto capítulo começa por apresentar uma síntese das principais transformações das áreas rurais nas sociedades ocidentais. Discute-se o papel fundamental das áreas rurais, nas sociedades e economias do pós-guerra, como áreas de produção de alimentos e como áreas- reserva de mão-de-obra para, respectivamente, as populações e actividades de carácter urbano e industrial. Debate-se, em traços gerais, os requisitos que determinaram a marginalização ou a integração dos vários tipos de áreas rurais nos processos de desenvolvimento económico dominantes. Posteriormente, analisa-se a natureza multifuncional que é hoje reconhecida às áreas rurais e as novas funções desempenhadas por estas áreas no contexto da sociedade entendida globalmente. Esta análise realiza-se na sequência da observação e análise das transformações ocorridas, mas igualmente observando a multifuncionalidade das áreas rurais como factor de integração nos modelos de desenvolvimento actualmente dominantes nas sociedades modernas. Após a explicitação do reconhecimento socio-institucional das áreas rurais como multifuncionais, especificamos a análise para o nível da função ambiental que estas áreas desempenham, tendo como base o contexto de crescente valorização social de que o ambiente e a natureza são actualmente alvo. A função ambiental das áreas rurais é analisada a partir de dois pontos principais: o primeiro consiste no debate da identificação ambiente=natureza=campo, como uma construção social e como um processo exterior às dinâmicas socioeconómicas daquelas áreas. No segundo ponto discute-se a diversidade de procuras e de consumos das áreas rurais, devido ao seu reconhecimento socio-institucional como reservas de qualidade ambiental. O quarto capítulo conclui-se com o debate acerca do surgimento de uma nova dicotomia rural/urbano, motivada não já pelas tradicionais oposições, mas pelas diferentes

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representações e práticas relativas ao ambiente, de que, justamente, a diversidade em termos de procuras e consumos nos dá conta.

De uma forma geral, o quinto capítulo procura discutir as questões mencionadas no capítulo anterior, mas tendo em conta o contexto português. Neste sentido, o quinto capítulo inicia-se com o enquadramento das transformações das áreas rurais portuguesas nas transformações globais sofridas pelo país a partir dos anos sessenta. Estas transformações são sintetizadas na apresentação (com recurso a dados estatísticos e outros de natureza documental) das principais tendências de transformação da sociedade e economia portuguesa no período considerado. Tendo por base esta análise caracterizamos depois os processos de transformação das áreas rurais portuguesas desde o Estado Novo até à actualidade, enfatizando a sua posição maioritariamente residual em termos económicos e a sua posição central em termos ideológicos e sociais. Este último aspecto é particularmente importante nos quarenta e oito anos de regime fascista em Portugal, mas as ramificações ideológicas dessa perspectiva são ainda prevalecentes, quer no domínio social, quer no domínio político, condicionando, de certa forma, as medidas e as intervenções para e nas áreas rurais. É justamente através da análise da (re)descoberta institucional (e social) das áreas rurais em Portugal que procuramos seguidamente observar o lugar que estas áreas ocupam actualmente no nosso país, sobretudo tendo em atenção o reconhecimento da sua multifuncionalidade e, mais especificamente, da sua função ambiental.

O capítulo sexto procura discutir os diferentes paradigmas de desenvolvimento socioeconómico em geral e de desenvolvimento rural em particular. Procura igualmente observar como se tem processado a integração das preocupações ambientais nesses paradigmas. Após esta introdução, de carácter mais geral, observamos a identificação entre o rural e o agrícola em Portugal e a sua prevalecente manifestação. Observamos ainda que, essencialmente sob o impulso da UE, aquela identificação começa a deixar de ser tão saliente ao mesmo tempo que, a nível da tomada de decisões e de implementação de medidas de política, se assiste à descoberta de que as áreas rurais extravasam em muito o sector agrícola. A partir desta discussão, procuramos analisar o lugar que as questões ambientais têm ocupado (e ocupam actualmente) nas políticas, programas e medidas relativos ao desenvolvimento das áreas rurais, em Portugal. Ainda neste contexto, é discutida a questão da legitimidade e da eficácia que pode ser atribuída às políticas públicas (e aos programas e medidas que delas decorrem) que visam a protecção do ambiente e o desenvolvimento das áreas rurais portuguesas. O capítulo, com base na discussão anterior, conclui-se no debate da existência (ou não) de uma nova (ou renovada) subalternização das áreas rurais ao pensamento político-social dominante, tomando essencialmente como base a regulamentação de espaços protegidos como sintoma da construção institucional (incorporando em parte a construção social) do ambiente rural. Esta discussão realiza-se

tendo como pressuposto que as áreas protegidas portuguesas se localizam maioritariamente em áreas que podemos classificar como rurais. Finalmente, procuramos observar e analisar os conflitos que surgem potencialmente (de modo latente ou evidente) na instituição das áreas rurais como áreas protegidas.

O sétimo capítulo é dedicado à apresentação e discussão das hipóteses de trabalho, dos casos de estudo e da metodologia seguida, designadamente no que concerne à recolha e tratamento da informação empírica. No primeiro ponto deste capítulo apresentam-se as hipóteses de trabalho que o argumento principal da tese suscitou, assim como a sua justificação e o modo como foram operacionalizadas. No segundo ponto apresentamos a justificação para a selecção dos casos de estudo, assim como a sua caracterização em termos demográficos e socioeconómicos. Finalmente, apresentam-se os procedimentos metodológicos adoptados na recolha e análise da informação empírica, nomeadamente os relativos aos processos de selecção e constituição das amostras (em termos da selecção das freguesias, selecção dos habitantes e dos visitantes a incluir na análise empírica, na área do PNM e da SF) e os relativos à elaboração dos vários instrumentos de recolha da informação (designadamente os inquéritos por questionário e por entrevista). Especificamos e justificamos a forma como foram construídos estes instrumentos e debatemos de forma breve as suas vantagens e desvantagens em termos da recolha e do tratamento da informação. Por último, apresentamos a forma como a informação recolhida foi tratada de modo a produzir dados susceptíveis de confirmar ou infirmar as hipóteses de trabalho e o argumento da tese.

Os oitavo e nono capítulos apresentam uma estrutura muito semelhante. Basicamente distinguem-se por apresentarem separadamente as conclusões que decorrem da informação empírica, para as áreas que constituem os casos de estudo, ou seja, respectivamente o PNM e a SF. No primeiro ponto de ambos os capítulos é debatida a importância de possuir (ou não possuir, como no caso da SF) um estatuto legal de protecção. Faz-se igualmente referência à evolução histórica, da área protegida, no caso do PNM e aos seus objectivos passados e actuais. No caso do capítulo dedicado à SF discutem-se especificamente as consequências da ausência do estatuto legal de protecção, procurando igualmente fazer a história da proposta de protecção desta área, datada do final dos anos setenta. No segundo ponto de ambos os capítulos, analisamos o processo de valorização ambiental, a partir da perspectiva institucional, nas duas áreas, essencialmente através da análise dos programas e das medidas de protecção existentes, dos seus objectivos e do discurso dos responsáveis pelas várias instituições com intervenção em ambas as áreas. O ponto seguinte, em cada um dos capítulos, é dedicado à análise da valorização social do ambiente, por um lado, através do lugar que os factores ambientais detêm na procura externa das duas áreas e por outro lado, através do lugar que os mesmos factores detêm no quotidiano dos seus residentes. A partir desta análise, procuram-se tipificar as diversas valorizações do ambiente nas duas áreas. A

Capítulo I - Introdução

relação entre a protecção do ambiente e a promoção do desenvolvimento socioeconómico é analisada ao nível das representações das entidades, dos habitantes e dos visitantes do PNM e da SF, no terceiro ponto deste capítulo. Neste contexto, salientamos a secundarização dos aspectos ambientais face aos aspectos do desenvolvimento como uma representação comum entre os habitantes da área em análise. A mesma relação (protecção do ambiente/promoção do desenvolvimento socioeconómico) é analisada ao nível das representações de habitantes e visitantes. Salientamos a secundarização dos aspectos ambientais face aos aspectos do desenvolvimento, representação comum entre os habitantes nas duas áreas em análise, ao mesmo tempo que enfatizamos a sobrevalorização dos aspectos ambientais por referência aos aspectos do desenvolvimento, representação generalizada entre os visitantes em ambas as áreas, muito particularmente na área do PNM. Esta análise permite que se discuta o peso social do estatuto legal da área do PNM como ‘área protegida’. Ambos os capítulos se concluem pela tentativa de identificação da existência de conflitos em termos de representações e de práticas entre os vários agentes em presença. Neste contexto, procura- se estabelecer a existência de dois universos que coexistem, por um lado o rural que é espaço vivido e por outro o rural que é espaço visitado e idealizado.

O décimo capítulo procura fazer a síntese do que foi dito nos capítulos anteriores. Neste sentido, discute-se a importância e as consequências da crescente valorização social e institucional do ambiente rural, quer para os casos estudados, quer a um nível de maior generalização. Desenvolve-se o debate acerca das áreas rurais e das suas relações com o exterior, tendo em conta as representações externas sobre o seu ambiente e procura-se distinguir, em termos de desenvolvimento socioeconómico, as consequências das visões relativas ao que definimos antes como o rural vivido e o rural visitado. Com base em tudo o que ficou dito, discutimos ainda se o ambiente se constitui como vantagem ou desvantagem para o desenvolvimento das áreas rurais profundas em Portugal. Finalmente, debatemos o modo como se posicionam as políticas de desenvolvimento rural e de protecção ambiental (em termos da sua formulação e implementação) face à diversidade de representações das áreas rurais e do seu ambiente. Esse posicionamento é analisado e debatido, sobretudo em termos da incorporação das diferentes representações e práticas nas políticas e ainda em termos da definição de um modelo de gestão dessas diferenças, de molde a permitir quer a sua integração efectiva, quer uma maior legitimidade e eficácia do processo de implementação das próprias políticas.

O décimo primeiro capítulo apresenta as conclusões, respondendo aos objectivos de investigação explicitados no ponto 1 desta introdução e apresentando ainda algumas recomendações relativas a formas de gestão das diferenças observadas entre os vários actores em presença nas áreas rurais, em termos das suas representações, práticas, necessidades e interesses.

Capítulo II – A Emergência do Ambiente como Questão Social