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Capítulo III A Emergência do Ambiente como Questão Social e Política

4. O valor social do ambiente e da natureza em Portugal

Observámos como Portugal partilha, muito genericamente, características das sociedades desenvolvidas ou do centro. Vimos que, de acordo com os dados do Observa de 1997 e 2000, se nota uma mudança em termos de valores sociais para valores de tipo ecocêntrico ou biocêntrico, i.e., valores que sugerem uma maior valorização da natureza e do ambiente. A este facto não é alheio o crescimento económico rápido que o país conheceu, sobretudo a partir de meados dos anos oitenta e que veio proporcionar a melhoria generalizada das condições materiais de vida. Esse crescimento económico, no entender dos vários autores consultados, não se fez sem que simultaneamente se verificassem níveis de degradação

ambiental importantes e sem que os recursos naturais não fossem, muitas vezes, utilizados de forma abusiva. Também não é alheia à alteração dos valores sociais relativos ao ambiente a crescente mediatização dos problemas ambientais como graves. Por outro lado, vimos que a sociedade portuguesa é bastante heterogénea e que basicamente balança entre a adesão a valores que Ferreira de Almeida (1994) designa como rurais, ou tradicionais, que apelam ao colectivo, à importância das redes familiares e de interconhecimento e a adesão a valores que o mesmo autor designa como individualistas. Entre um extremo e outro desta escala, encontramos muitas configurações simbólicas, nem sempre fáceis de definir e conhecer. Um aspecto importante é que a nossa sociedade se complexificou em todos os seus níveis. Isto é, como refere Ferreira de Almeida (2000: 1), “verdade a todos os níveis: isso é verdade no que respeita às dimensões políticas, às dimensões económicas, às dimensões sociais de natureza mais global, às dimensões simbólicas”. Uma parte importante desta complexificação da nossa sociedade (e das sociedades contemporâneas) deve-se aos fenómenos associados à globalização, a que já aludimos. Globalmente, esta complexidade crescente da sociedade portuguesa, como das outras, envolve uma maior importância das dimensões simbólicas, ou seja, dos significados que são atribuídos às coisas e ao mundo, das representações que se fazem da própria sociedade e dos seus problemas. Vimos no capítulo II que representações e práticas sociais constituem um processo de elevada interacção. Mas, como também dissemos, nem sempre as representações de uma dada questão são consistentes com a prática social face a essa mesma questão. Ou seja, nem sempre as preocupações e as atitudes são consistentes com os comportamentos sociais. A isto pode associar-se o que dissemos no ponto anterior, acerca da descoincidência que observamos, em Portugal, entre os níveis de preocupação ambiental e as práticas ou comportamentos. Tal descoincidência, em conjunto com outras fragilidades da sociedade portuguesa nesta matéria, impede-nos de concluir pela existência de uma consciência ambiental alargada, no nosso país. Mas, como pergunta Ferreira de Almeida (2000: 2) “não será essa confessada descoincidência entre o que se faz e o que se admite dever fazer um indicador de disponibilidade para alterar modos de agir, caso um conjunto de condicionamentos venha a tornar-se mais favorável?”. Na verdade, esta descoincidência parece-nos mais duradoura do que Ferreira de Almeida pretende, uma vez que os dados que consultámos indiciam a sua prevalência há mais de duas décadas, sem alterações de fundo.

No ponto quatro do II capítulo referimos que diferentes contextos sociais possuem representações também diferentes, muitas vezes mesmo opostas, do mesmo ambiente e da mesma natureza. Ou, mais ainda, representações diversas do que é o ambiente e do que é a natureza. Sabemos que essas diferenças são socialmente construídas e se encontram, assim, extremamente dependentes de variáveis sociográficas, tanto como da utilização que os diferentes contextos sociais fazem dos recursos naturais e do modo como deles depende

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a evolução dos sistemas técnico-económicos dominantes nesses contextos. No domínio da valorização social do ambiente e da natureza, estas noções “têm denotação imprecisa, têm larga disponibilidade semântica, mesmo quando utilizadas no campo científico” (Ferreira de Almeida, 2000: 5). Assim, em Portugal como em outros países, como vimos antes, “dificilmente falaremos das mesmas coisas quando se evoca a natureza, o ambiente ou a ecologia. Aos termos natureza e ambiente, estão subjacentes, por um lado, uma pluralidade de julgamentos de valor que cada um vai construindo em função da respectiva capacidade cognitiva e da diversidade de informação disponível e, por outro lado, opiniões, culturas, representações” (Lima, Coimbra e Figueiredo, 2000: 7). Esta polissemia dos conceitos, que já apontámos, transporta consigo inúmeras dificuldades de definição destas noções. Vimos que, a maioria dos portugueses inquiridos pelo Observa em 1997 identificava o ambiente com os elementos biofísicos, i.e., com a natureza, e esta com os elementos naturais, ou seja, como uma realidade separada do Homem e da sua acção. Lima, Coimbra e Figueiredo (2000) referem que a natureza surge para os inquiridos pelo Observa como sendo justamente definida pelos elementos que a compõem. Estes autores distinguem três grandes dimensões na concepção de natureza apresentada pelos portugueses:

1. uma primeira dimensão que se caracteriza pelo verde (o campo, os espaços verdes) e pelos elementos que compõem a natureza (62,2%);

2. uma segunda dimensão que apela a valores e sensações pessoais, como a calma e a liberdade (17,1%);

3. finalmente, uma terceira dimensão em que é visível a intervenção humana e que vê a natureza como sendo negativa já que a associa sobretudo à degradação (13,6%). Procurando comparar estas noções de natureza que os portugueses revelam com as concepções propostas por Godard (1989) e Feldmann (1994), que expusemos anteriormente, verificamos que não existe uma correspondência imediata. No entanto, ressalte-se a proximidade entre a segunda dimensão apontada por Lima, Coimbra e Figueiredo (2000) e a ‘natureza inspiradora’ (Godard, 1989) ou a ‘natureza bela’ (Feldmann, 1994). De facto, é a natureza encarada como experiência sensível, a natureza susceptível de provocar sensações, através da sua vivência. Trata-se, como vimos antes, de uma natureza que é concebida como estando para além do Homem. A terceira dimensão proposta por Lima, Coimbra e Figueiredo aproxima-se das concepções de ‘natureza a proteger’ (Godard, 1989) ou de ‘natureza em perigo’ (Feldmann, 1994). Como vimos, esta noção de natureza baseia-se no pressuposto que o Homem destrói a natureza e pode ser encontrada em todas as civilizações, embora não tenha sido tão dominante em nenhuma delas como o é hoje no contexto da modernidade reflexiva. No entanto, através da análise de Lima, Coimbra e Figueiredo (2000), verificamos que em Portugal a concepção de natureza que predomina é justamente aquela que não conseguimos associar às tipologias de Godard e de Feldmann, já

que aparentemente pode encerrar várias componentes – ou seja, a natureza que é definida através das suas componentes. A concepção dominante na sociedade de risco ou na era da modernidade reflexiva – a natureza ameaçada ou em perigo – não tem uma expressão significativa no nosso país.

Podemos observar que em Portugal há uma percepção essencialmente positiva de natureza. É também uma noção relativamente objectiva, associada a valores biocêntricos “no sentido em que a natureza é, sobretudo, representada pelos objectos que a compõem: flora, fauna, água, ar e outros elementos meteorológicos” (Lima, Coimbra e Figueiredo, 2000: 10). Deste modo, cremos poder dizer que a valorização da natureza em Portugal tem bastante mais a ver com a sua qualidade de ‘natural´ do que com a sua característica (dominante na era da pós-modernidade) de socializada. Em Portugal, segundo estes dados a natureza é ainda encarada como qualquer coisa de extra-social para utilizar a expressão de Giddens (1991). Isto significa que a valorização da natureza em Portugal não terá ainda predominantemente subjacente o seu fim anunciado como natural e a sua ressurreição como socializada (Giddens, 1991). Ao associarem também a natureza ao campo e aos espaços verdes, os portugueses identificam estes como sendo essencialmente naturais. Ou seja, ainda que representem maioritariamente a natureza como algo exterior ao Homem, incluem nessa exterioridade aspectos que a intervenção humana ajudou a definir.

Em relação à valorização social do ambiente na sociedade portuguesa, vemos que, de acordo com Lima, Coimbra e Figueiredo (2000) ele é representado de modo mais negativo do que a natureza. É percepcionado com base numa perspectiva mais antropocêntrica e “mais do que uma noção sem conteúdo, o termo ambiente, apesar de ser utilizado há cerca de vinte anos, denota grande largueza semântica” (idem: 13). Como vimos no ponto anterior, a maior parte dos portugueses define o ambiente como natureza, ou seja como biofísico. Apenas 16,3% o encara como sociobiofísico e 10,5% definem o ambiente como pertencente à esfera social, ou seja, como o espaço de convívio, de relacionamento social. A noção de Tester (1994: 1) que já mencionámos, de que o “o ambiente é construído, não encontrado”, não parece colher grande adesão em Portugal. Lima, Coimbra e Figueiredo (2000) avançam quatro grandes representações de ambiente:

1. o ambiente como noção moral e ética, agregando as respostas relativas à conservação, harmonia/equilíbrio, respeito, etc. (8,5%);

2. o ambiente como noção política e social, agregando as respostas associadas à participação, civismo, informação, ordem, responsabilidade etc. (2,4%);

3. o ambiente como natureza e poluição, agregando as respostas relativas à poluição, fauna, flora, espécies, natureza, etc. (34,1%);

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4. o ambiente associado ao quadro de vida quotidiano e vivência pessoal. São agregadas nesta categoria as respostas associadas a limpo/sujo; espaço, saúde, espaços verdes, ruído, qualidade de vida, etc. (26%).

Observamos que as concepções dominantes de ambiente são a sua identificação com a natureza, com a poluição e com o vivido. Procurando enquadrar estas definições com a tipologia proposta por Sauve (1994), que apresentámos no ponto quatro do segundo capítulo, verificamos que o ambiente em Portugal é representado tanto como um problema que é necessário resolver (a poluição), quanto como natureza, pela valorização dos elementos biofísicos na sua definição, como ainda como meio de vida, ou seja, espaço de vivência e experiência pessoal. Por outro lado, verificamos que o ‘ambiente comunitário, definido por Sauve (1994) como o espaço para acção colectiva e cívica, de participação, não conhece no nosso país senão uma muito reduzida expressão.

Estas representações de natureza e de ambiente conhecem algumas variações, de acordo com as variáveis sociográficas dos indivíduos. Assim, observa-se que a concepção da natureza como socializada e não como natural surge essencialmente nos indivíduos com maior capital escolar. Inversamente, a noção de natureza como natural surge mais associada aos inquiridos que possuem o ensino básico. Conclusões idênticas podem ser retiradas com base nos grupos etários, em que observamos que os mais jovens são aqueles que definem a natureza como algo a proteger e os mais velhos os que a definem como natural e sem intervenção humana. Relativamente à concepção de ambiente, observa-se que os inquiridos mais idosos são os que atribuem ao ambiente um significado social, de convívio. São os mais jovens e com escolaridade de nível superior os que sobretudo definem o ambiente como socio-biofísico. Estes dados, em face das análises precedentes não podem ser considerados surpreendentes.

As representações de natureza e de ambiente associam-se, como observado no ponto quatro do capítulo anterior, de modo estreito com as procuras e os consumos sociais de que são alvo aqueles aspectos. Basicamente, argumentámos nesse ponto que a natureza e o ambiente são procurados e consumidos socialmente, de acordo com a forma como são representados e valorizados. Assim, embora a escassez de dados e de literatura científica neste domínio seja o traço dominante, não podemos deixar de referir que em Portugal, tendo em conta a definição do ambiente como natureza e tendo em conta a definição desta última essencialmente como natural, estamos perante procuras e consumos de bens fortemente associados às componentes naturais. Aquilo que é procurado e desejado pelos portugueses como objecto de consumo, neste domínio, é aparentemente a natureza representada como natural e não a natureza vista como socializada.

Neste terceiro capítulo, procurámos analisar a emergência do ambiente como questão social em Portugal, bem como os valores sociais subjacentes a essa mesma emergência. Procurámos igualmente dar conta das respostas políticas às preocupações da opinião pública portuguesa com as questões ambientais. Apesar da escassez de dados e de literatura na matéria, observámos ainda alguns dos contornos da valorização social da natureza e do ambiente em Portugal.

Desde logo, concluímos que a emergência das questões ambientais em Portugal ocorreu bastante mais tarde do que na maioria dos países ocidentais e desenvolvidos, particularmente do que nos países da UE. Tal facto fica a dever-se à especificidade do contexto histórico, social, político e económico do país. Se bem que a sociedade portuguesa tenha sofrido, principalmente nos últimos trinta anos, transformações que podemos caracterizar como rápidas e profundas, que tiveram como causas decisivas a emergência e consolidação da democracia, por um lado, e a adesão à UE por outro, ela pode ser ainda entendida como uma sociedade semi-periférica (Reis, 1993; Santos, 1990a, 1990b, 1993, 1994). Pode ser assim caracterizada já que, como vimos, partilha traços das sociedades desenvolvidas e modernas (como os relativos aos padrões de reprodução social e ao consumo) e traços das sociedades em vias de desenvolvimento (como os que se referem aos padrões de produção, às relações salariais e à existência de um Estado internamente fraco e externamente forte). Apesar desta característica, observa-se uma aproximação da sociedade portuguesa com as sociedades centrais em termos de valores sociais, ainda que neste campo, como em outros que mencionámos, se reconheça a existência de uma enorme heterogeneidade, já que partilhamos representações e valores sociais tanto com os países do centro como com os países da periferia.

A crescente abertura de Portugal ao exterior, iniciada timidamente nos anos sessenta e consolidada no pós-25 de Abril funcionou igualmente como impulsionadora da partilha e de valores, representações e práticas sociais com as sociedades desenvolvidas, especialmente com as europeias. As transformações ocorridas contribuíram para alterar o comportamento cívico dos portugueses, ainda que Portugal possua os índices de associativismo, activismo e participação política mais baixos da Europa (e.g. Braga da Cruz, 1994). Esta situação constitui o reflexo da herança do Estado Novo e da repressão da maior parte das formas de organização social e cívica. Decorre também do peso tutelar do Estado português sobre a sociedade civil, sobretudo nos anos imediatamente seguintes à Revolução de Abril. Apesar disto, são visíveis na sociedade portuguesa novas formas de participação pública, alternativas aos canais institucionais que indiciam a necessidade de revisão destes, bem como comprovam o descrédito e a desconfiança dos portugueses face ao Estado e às suas instituições.

Capítulo III – A emergência do ambiente como questão social e política em Portugal

Como dissemos, o contexto histórico e social específico do país, não deixou de condicionar todas estas transformações e a sua orientação, tal como não deixou de condicionar o modo como os portugueses representam as questões associadas ao ambiente. Ainda que a emergência destas como questões e preocupações sociais tenha sido tardia, concluímos que na sua génese se encontram os factores que globalmente são apontados como estando subjacentes à formação e consolidação da consciência ou sensibilidade ambiental. De entre estes destacámos, pelo seu poder de influência na sociedade portuguesa na última década (como em todas as sociedades contemporâneas desenvolvidas), os mass media. Estes tiveram um papel decisivo não apenas no colocar do ambiente como um assunto público, mas no próprio modo como ele é socialmente representado e valorizado. Pela acção dos mass media e igualmente pelo crescimento económico, pela melhoria global das condições de vida e pela adesão à UE, observámos que existe uma partilha acentuada de atitudes e preocupações sociais com as questões do ambiente com os países da Europa. Essa partilha não é, no entanto, generalizada às práticas face ao ambiente. Como vimos, existe no nosso país uma descoincidência bastante acentuada entre as atitudes e os comportamentos ambientalistas. Se as representações sociais revelam preocupação com o ambiente, as práticas são completamente inconsistentes, se exceptuarmos as práticas associadas à economia doméstica, como a poupança de água e de energia. Observámos assim, que a opinião pública portuguesa se revela mais frágil do que a europeia, no que ao ambiente diz respeito. Tal fragilidade vai buscar, parcialmente, à ausência de informação reconhecida pelos portugueses, a sua causa. Da análise das atitudes e comportamentos dos portugueses face ao ambiente, não podemos concluir pela existência de uma consciência ambiental (que supõe consistência entre representações e práticas), mas apenas por uma sensibilidade para as questões ambientais (que se traduz numa preocupação generalizada com o ambiente).

À semelhança do que aconteceu com a entrada das questões ambientais na agenda social em Portugal, também a sua emergência na agenda política foi mais tardia que nos outros países ocidentais, sendo que só a partir de meados da década de oitenta podemos falar em preocupação política com estas questões. Tal ficou a dever-se à instabilidade política e governativa observada nos primeiros anos da democracia e à existência de problemas e questões que mereciam maior urgência no seu tratamento, nomeadamente a questão do crescimento económico. Após termos revisto, de forma breve, a história da política ambiental em Portugal, concluímos que inicialmente ela possuía um carácter conservacionista, que se traduziu sobretudo na protecção de determinadas áreas e recursos naturais. Também na década de oitenta se assiste a uma viragem das políticas conservacionistas para políticas que reflectiam mais preocupações com as questões do ordenamento do território e com o uso dos recursos naturais segundo a sua vocação específica. A adesão à UE revelou-se também

fundamental neste domínio e veio acelerar a produção de legislação de natureza ambiental, assim como veio alargar o âmbito das mesmas. Se, como observámos, podemos dizer que actualmente estão criadas as condições formais de uma política de ambiente, constatamos em oposição que a sua aplicação tem sido feita de forma muito discricionária e selectiva. O Estado português parece enfermar do mesmo problema da sociedade portuguesa, neste domínio, ou seja, de uma inconsistência crónica entre as atitudes e as práticas. Esta descoincidência entre a ‘law in books’ e a ‘law in action’ é igualmente uma das características das sociedades semi-periféricas e indicia a existência de um Estado Paralelo ou Subterrâneo, como vimos, i.e., um Estado contraditório e complexo, com pouca eficácia e legitimidade em termos públicos. Mais do que a prática, vimos que o discurso político (governativo e partidário) do pós-25 de Abril, apesar de inicialmente instável, tem respondido às preocupações sociais com o ambiente. Observámos que, em termos do discurso político sobre o ambiente, se verificou um alargamento importante do próprio conceito, assim como o reconhecimento da sua horizontalidade e transversalidade a todas as esferas da governação política.

Finalmente, abordámos neste capítulo a questão da valorização do ambiente e da natureza, sendo de salientar uma vez mais a escassez de literatura e de dados nesta área. Ainda assim, vimos que Portugal não partilha inteiramente das características da sociedade de risco nesta matéria, dado que a natureza é essencialmente concebida como extra-social, ou seja, como natural e não como socializada. Existe uma grande identificação social entre a noção de natureza e a noção de ambiente e este facto condiciona as respectivas procuras e consumos sociais. Como veremos nos dois próximos capítulos, as áreas rurais parecem cada vez mais corresponder a esta identificação social do ambiente com a natureza e com o campo, mercê das transformações que nelas ocorreram. Essas transformações, como argumentaremos, colocam actualmente as áreas rurais não já como áreas de produção de alimentos e de reserva de mão-de-obra, mas essencialmente como áreas multifuncionais, nas quais o ambiente desempenha um papel cada vez mais relevante.

Capítulo IV – As Áreas Rurais – de Produtoras de