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4. VETO PRESIDENCIAL NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

4.2. Constituição Federal de 1967

Diferente da CF/46 que buscava em seu texto ressaltar a volta da democracia e o fortalecimento do poder Legislativo, a CF/67 é o reflexo da alteração de comando estatal passado pelo Brasil à época, que por meio de golpe militar deixava de ser uma democracia (ou uma promessa de democracia) e passava a ser uma ditatura (tirania) (FAUSTO, 2004; CARVALHO, 2004; CARDOSO, 1978).

Seguindo o processo legislativo estipulado em 1946, a sanção e o veto ainda eram representantes dos momentos finais desse processo (artigo 46 da CF/1967). O processo legislativo regular estava previsto na seção V – do processo legislativo (do artigo 49 ao 62).

A CF/67 traz uma sistematização maior quanto à técnica legislativa. A sua seção V (do processo legislativo) traz uma inovação organizativa, elencando os tipos possíveis de lei, e, consequentemente, de projetos de lei. A CF/46 fazia remissão aos tipos de projetos de lei durante passagens de alguns artigos, que tratavam de outros temas centrais, como o artigo

67, § 8º, que especificava a lei complementar. Isso pode ser explicado com a justificativa de que a CF/46 estava preocupada com as atribuições de início para propositura de projeto de lei de cada poder do Estado, buscando reorganizar a separação dos poderes, concedendo autonomia, principalmente, ao Legislativo. A CF/67, por sua vez, preocupa-se em aprimorar a técnica processual, prevendo tipos específicos de leis, inclusive sendo uma forma de limitar mais os poderes do poder Legislativo, por conta ditadura vivida no país.

O artigo 49, da CF/67, traz os tipos de leis que poderiam ser criados, cujos os quais temos até hoje: (a) emenda à Constituição52; (b) leis complementares à Constituição; (c) leis Ordinárias; (d) leis Delegadas; (e) decretos-leis53; (f) decretos legislativos; e (g) resoluções. Assim como a constituição atual, cada tipo de lei tinha um procedimento, minimamente, delimitado pela constituição.

A emenda à Constituição precisava de 4/5 de uma das Casas para poder ser proposta como projeto de lei. A votação era realizada em sessão conjunta, no prazo máximo de 60 dias, contados a partir do recebimento da proposta, e só seria aprovada caso conseguisse a maioria absoluta das duas Casas nas duas sessões exigidas. E, assim como ocorre atualmente, a promulgação era feita diretamente pela mesa do Senado Federal (artigos 51 e 52 da CF/67).

As leis Ordinárias e Complementares seguiam um rito mais simples, com a diferença de que as Complementares deveriam ser aprovadas pela maioria absoluta de cada Casa, enquanto as Ordinárias pela maioria simples (artigos 53, 61 e 62 da CF/67).

As leis Delegadas, diferente das atuais, podiam ser delegadas tanto para o presidente da república quanto para comissões internas do Congresso Nacional. No mais, seguiriam o trâmite comum de lei Ordinária, para votação e promulgação (artigos 56 e 57, da CF/67).

Os Decretos-leis seriam utilizados pelo poder Executivo em caso de urgência e interesse relevante, em casos de finanças públicas e segurança nacional, desde que não importasse em aumento de despesas. O Decreto-lei criado era julgado pelo Congresso em até 60 dias, sob pena de que se convertesse, automaticamente, em lei (artigo 58, da CF/67).

Nos demais casos, por se tratar de matéria considerada interna, e sem força específica de lei, não tinham este procedimento detalhado e não passavam por uma fase de sanção e promulgação pelo presidente da república.

52 O artigo 50 traz especificações sobre este tipo legislativo.

53 Este, especificamente, é considerado pela doutrina de direito constitucional, como sendo similar à atual Medida Provisória.

Com exceção das Emendas à Constituição, os projetos de lei aprovados no Congresso Nacional deveriam ser remetidos ao presidente da república, para que fossem sancionados e promulgados, ou, então, que os vetasse totalmente ou parcialmente, em até 10 dias, sob pena de considerar-se aprovado o projeto de lei (artigos 46; 61, § 1º; 62, §§ 1º e 2º e; 83, inciso I, da CF/67).

Caso ocorresse o veto, o presidente da república deveria comunicá-lo ao presidente do Senado Federal em até 48 horas e apresentar as razões para o ato. E, diante disso, deveria ser convocada a sessão conjunta para decidir quanto à manutenção ou suspensão deste veto54.

Interessante destacar que a tabela citada por Grohmann (2013) apresenta que o tempo para manifestação do Congresso ao veto era de 45 dias e, caso não apreciado em tal período, considerar-se-ia aprovado (p. 40). Contudo, dentro do andamento regular do veto (artigos 46; 61, § 1º; 62, §§ 1º e 2º e; 83, inciso I, da CF/67) isso não é especificado. O artigo 54 da CF/67 faz referência ao prazo de 45 dias para o Congresso apreciar os projetos de lei feitos pelo presidente da república, caso este solicitasse e, caso não fosse apreciado em tal prazo, este seria declarado aprovado55. No entanto, não há referência a veto presidencial. Inclusive quanto à natureza jurídica do veto presidencial, este, como apresentado no início, não se caracteriza como início de projeto de lei, pelo contrário, representa a fase final em que deve haver controle do ato do poder Legislativo pelo Executivo (TAVARES, 2009, pp. 1213- 1230; FERREIRA FILHO, 2012, pp. 188-216).

Outro prazo que discordo do autor são os 15 dias para manifestação do presidente da república quanto à sanção ou veto do projeto de lei (GROHMANN, 2013, p. 40). Isso porque, o artigo 62, § 1º, da CF/67 estipula o prazo de 10 dias úteis56. Por isso, apesar de

54 Vide: artigo 62 da CF/1967.

55 CF/67, artigo 54 - O Presidente da República poderá enviar ao Congresso Nacional projetos de lei sobre qualquer matéria, os quais, se assim o solicitar, deverão ser apreciados dentro de quarenta e cinco dias, a contar do seu recebimento na Câmara dos Deputados, e de igual prazo no Senado Federal. § 1 º - Esgotados esses prazos, sem deliberação, serão os projetos considerados como aprovados. § 2º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, findo o qual serão tidas como aprovadas. § 3º - Se o Presidente da República julgar urgente a medida, poderá solicitar que a apreciação do projeto se faça em quarenta dias em sessão conjunta do Congresso Nacional, na forma prevista neste artigo. § 4º - Os prazos fixados neste artigo não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional. § 5º - O disposto neste artigo não é aplicável à tramitação dos projetos de codificação, ainda que de iniciativa do Presidente da República.

56 CF/67, artigo 62 - Nos casos do art. 46, a Câmara na qual se concluiu a votação enviará o projeto ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. § 1 º - Se o Presidente da República julgar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á, total ou parcialmente, dentro de dez dias úteis, contados, daquele em que o receber, e comunicará dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal, os motivos do veto. Se a sanção for negada quando estiver finda a sessão legislativa, o Presidente da República publicará o veto. O veto parcial deve abranger o texto de artigo, parágrafo, inciso, item, número ou alínea.

considerar completa a tabela apresentada por Grohmann, não irei adotar esta definição quanto ao prazo e consequência da não aprovação.

Retomando a regulação do processo legislativo e do veto, a sessão de votação quanto ao veto deveria ser conjunta entre as casas e precisaria de 2/3 dos votos dos membros para rejeitá-lo (artigo 62, § 3º, da CF/67). Esta é uma modificação frente à CF/4657, que trazia que o coeficiente de votação do quórum seria 2/3 dos presentes na votação, enquanto a CF/67 estipula 2/3 dos membros.

Derrubado o veto ou mantido, o presidente da república tinha 48 horas para sancionar o projeto de lei. Caso não o fizesse, o presidente do Senado Federal tinha o mesmo prazo para realizar o ato. Na hipótese deste também não o fazer, quem deveria fazê-lo era o vice-presidente do Senado Federal (artigo 62, § 4º, da CF/67).

Por último, havia a limitação temporal para se repropor os projetos de leis rejeitados ou não sancionados. Estes não poderiam ser repropostos na mesma sessão legislativa58. A única exceção a essa regra era caso a maioria absoluta da Câmara votasse pelo processamento do projeto.

Interessante destacar que as matérias referentes ao artigo 4659 não passavam pelo crivo do presidente da república, sendo sancionadas diretamente pelo presidente do Senado Federal (artigo 62, §5º, da CF/67).

Cabe apenas mencionar que o presidente da república, desde a CF/67 era eleito pelo voto indireto, por meio da escolha dos delegados representantes dos estados (indicados pelas assembleias legislativas de cada estado) e pelo Congresso Nacional (artigo 76, da CF/67). Isso oposto ao Congresso Nacional, que era eleito de forma direta (artigos 41 e 43 da CF/67).

Quanto ao STF, a sua composição era de 16 ministros, e tinha como atribuição – que destaco como importante à pesquisa – julgar mandados de segurança contra parlamentar, a representação de inconstitucionalidade do procurador-geral da república e, por último, o recurso extraordinário no caso de o tribunal inferior decidir pela constitucionalidade de lei

57 CF/46, artigo 70 – Nos casos do art. 65, a Câmara onde se concluir a votação de um projeto enviá-lo-á ao Presidente da República, que, aquiescendo, a sancionará. § 3º - Comunicado o veto ao Presidente do Senado Federal, este convocará as duas Câmaras para, em sessão conjunta, dele conhecerem, considerando-se aprovado o projeto que obtiver o voto de dois terços dos Deputados e Senadores presentes. Nesse caso, será o projeto enviado para promulgação ao Presidente da República.

58 Sessão Legislativa é o período anual de trabalho do Congresso Nacional. Este período, durante a vigência da CF/67 foi de 1º de março à 30 de junho e de 1º de agosto a 30 de Novembro. Vide: artigo 31 da CF/1967. 59 “Aprovação de tratados internacionais, declaração de guerra e paz, autorização para ausência do Presidente da República, aprovação da incorporação de territórios ou Estados, decretar a intervenção federal ou suspendê-la e julgar as contas do Presidente da República”.

estadual ou municipal frente à constituição (artigos 113; 114, inciso I, alíneas “i” e “l” e, inciso III, alínea “c”).

Dos casos selecionados e analisados nesta pesquisa, apenas o Recurso Extraordinário nº 45.631 pertence a este período. Este caso não ocorreu a nível da União, sendo o arguidor, quanto a um problema com o veto, um cidadão e o Legislativo, no Estado do Paraná. O STF conheceu do caso, portanto, controlou-o, e julgou-o de maneira a alterar o status quo da questão, determinando abusivo o ato do chefe do poder Executivo, no caso.