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Publicação de projeto de lei que não tem o veto mantido

5. O VETO PRESIDENCIAL NO STF: UMA VERTENTE DA RELAÇÃO ENTRE OS

5.3. Publicação de projeto de lei que não tem o veto mantido

No grupo 3 estão inseridos casos que discutem pontos relacionados à publicação de projeto de lei que não tenha o veto mantido. Em outras palavras, são casos em que o Executivo recusa-se a cumprir com o seu dever de publicação, e a parte interessada questiona essa omissão, via Judiciário. Na tabela a seguir estão expostas as principais informações referentes aos casos deste grupo.

Tabela IX – Grupo 3 - Publicação de projeto de lei que não tem o veto mantido Grupo 3 - Publicação de projeto de lei que não tem o veto mantido

Instrumento e nº Relator Decisão Colegiada ou Monocrática? Proponente Autoridade Coatora Data da Proposit ura Data do Julgamento Duração dos autos (propositura a julgamento) A favor de quem? RE 43995 Antônio Villas Colegiada Cidadão - Banco do União Não

Boas Brasil informaç ão

RE 43288

Victor

Nunes Colegiada Cidadão

Prefeitura de Recife Não contém informaç ão 26/10/1965 +/- 14 anos Legislativo (CM de Recife) RE-RG

706103 Luiz Fux Colegiada

Prefeitura de Lagoa Santa/MG Mesa Diretora da Câmara Municipal de Lago Santa/MG 15/08/20 12 27/09/2012 1 mês e 13 dias - (apenas reconhecimento da repercussão geral). Indeterminável

Tabela 9 - Grupo 3 – Publicação de projeto de lei que não tem o veto mantido. BISPO, Nikolay Henrique. Fonte: planilha de casos - Apêndice IV.

O presente grupo é composto por três casos com decisão colegiada. Dois casos são de origem municipal e um de origem federal. O único caso sob égide da CF/88 é o RE-RG 706103, os demais casos, RE 43995 e RE 43288, foram julgados na vigência da CF/46. Apesar de no RE 43995 a autoridade questionada ser a União, a origem do processo, assim como os demais, é de instâncias inferiores. Quanto aos arguentes, em dois casos figuram Cidadão e em um o Executivo municipal.

A percepção de análise, em termos de relação entre os poderes, é diferente dos grupos anteriores e dos posteriores (sendo similar, apenas, ao grupo 5 – instrumento para arguição do veto), visto que nos dois casos em que há julgamento do mérito, o arguidor é Cidadão. Devido a isso, a autoridade que participa da problemática é, apenas, o Executivo.

Os três casos tiveram os pressupostos de conhecimento do processo preenchidos e, portanto, é possível afirmar que em todos os casos houve controle, pelo STF, da questão. Contudo, faz-se a ressalva quanto ao RE-RG 706103, que teve decisão apenas quanto a existência de repercussão geral. O STF dá provimento, portanto altera o status quo da questão, apenas no RE 43995; no RE 432888, o STF nega provimento.

O RE 43995 foi julgado em agosto de 1960, portanto na vigência da CF/46. Em 1956 foi publicada a Lei 983, que previa o reajuste das dívidas dos pecuaristas. Essa lei foi promulgada e sancionada apenas quanto à parte não vetada; a parte do projeto de lei que foi vetada retornou ao Legislativo para que este a apreciasse. O Legislativo decidiu pela rejeição do veto e, então, essa parte do projeto de lei foi publicada. O Banco do Brasil, parte interessada na causa, questiona a interpretação dada pelos tribunais inferiores, e pelo Executivo, de que a essa parte da lei entraria em vigor depois do período de vacatio légis. Isso porque, caso esse entendimento fosse aceito, o cidadão (que é interessado na causa) passaria a dever não mais ao Banco do Brasil; e, caso fosse interpretado que a parte do projeto de lei

entraria em vigor de forma retroativa, o cidadão passaria a dever ao Banco do Brasil82. O STF decidiu que a parte vetada entraria em vigor juntamente com o resto da lei, portanto haveria uma espécie de efeito ex tunc83. Dessa forma, a decisão fez com que a questão fosse alterada, visto que o entendimento dos tribunais inferiores vinham sendo o oposto ao do STF. Mediante essa decisão, houve alteração do status quo da questão.

Nesse caso não há evidência de conflitos entre Legislativo e Executivo, apenas a menção da oposição do veto e a rejeição pelo Legislativo. Contudo, não há documentos ou informações necessárias para fazer qualquer inferência.

O RE 43288 foi julgado em 1965. Em Recife foi editado determinado projeto de lei tributária, que, entre outras coisas, concedia isenção a um determinado cidadão. O Executivo municipal rejeita parte desse projeto de lei e, entre as partes vetadas, estava a isenção ao cidadão específico. O Legislativo municipal rejeita o veto e o envia para que o Executivo publique a parte do projeto de lei. Contudo, o prefeito rejeita-se a fazer e, por conta disso, o cidadão que era favorecido pela lei estava sendo autuado fiscalmente. O cidadão decide entrar com interpelação judicial para questionar o ato do Executivo.

A justiça de nível inferior decidiu que deveria o Executivo municipal publicar a lei de maneira integral. O prefeito, alegando haver omissão por parte do tribunal a quo, recorreu da decisão ao STF via RE, sob alegação de decisão ultra petita e inconstitucionalidade da matéria que tivera o veto rejeitado. O STF decidiu denegar o recurso, por entender que o tribunal a quo determinou que o prefeito cumprisse determinação constitucional. O STF realça que não tomou outra decisão por conta do largo prazo de tempo entre a origem da questão (a lei é de 1951) e a data de julgamento (1965).

Por último, o RE-RG 706103, como informado, ocorre sob a égide da CF/88 e tem julgado apenas o reconhecimento da repercussão geral. Nesse caso, o Prefeito de Santa Lagoa teria rejeitado publicar parte do projeto de lei que tivera o seu veto negado pela Câmara. Esta decide questionar o ato via Judiciário, por meio de ADI. O tribunal a quo decidiu ser inconstitucional, em parte, a lei, pois teria o prefeito inovado o processo legislativo ao não cumprir com sua obrigação de publicação. O prefeito, então, recorreu da decisão ao STF, por meio de RE, afirmando que a lei em questão já havia atingido o seu objetivo (era uma lei de execução de obras) e que a CF/88 prevê que, na hipótese de o

82 Este caso não é claro e não contém muitas informações.

83 Inclusive esta decisão confirma uma das regras do grupo anterior. Os grupos não foram juntados, por conta das peculiaridades dos casos.

Executivo não publicar projeto de lei, quem deve fazê-lo é o presidente da respectiva Casa do Legislativo. O STF decidiu existir repercussão geral e o caso está à espera para julgamento.

O gráfico a seguir apresenta informações quanto ao tempo de decisão neste grupo.

Gráfico 12 – Grupo 3 – Tempo de Decisão

Gráfico 12 - Grupo 3 - Tempo de decisão. BISPO, Nikolay Henrique. Fonte: Apêndice IV.

Por conter apenas três casos no grupo, a média geral de julgamento é alta, chegando a aproximadamente 2204 dias, o que equivale a quase seis anos. Ultrapassando, assim, em praticamente quatro anos o prazo máximo estipulado como razoável.

Quando se analisa esse ponto pelo viés dos instrumentos, faz-se todas as observações já feitas nos tópicos anteriores, de que se tratam de casos que chegam ao STF via recurso e que acabam perdendo a característica de urgência. Mas, mesmo assim, o prazo para resolução dos dois REs em comento é muito alto. Contudo, não consigo pensar em nenhuma hipótese, que seja minimamente consistente, para explicar esse fato.

Quanto às possíveis regras que se podem extrair desses casos, é possível sistematizar duas:

(1) Parte de projeto de lei que tenha o veto rejeitado deve ser promulgado por publicação simples e terá vigência considerada desde o início da vigência do resto da lei.

(2) O Executivo deve publicar lei que tenha sido promulgada pelo legislativo, após a rejeição ao veto.

No geral, este grupo confirma algumas regras dos grupos anteriores, mas devido a sua peculiaridade fática, o desentranhamento desses para um grupo próprio possibilita maior potencialidade analítica na apresentação dos dados, por conseguir evidenciar os pontos de maneira exclusiva. Não é possível observar a relação dos poderes de maneira incisiva, como tem ocorrido nos grupos anteriores, porque os arguidores pertencem à categoria Cidadão e os instrumentos de questionamento, o RE, possibilitam menor análise dessa relação, na maioria das situações.