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Construção e aplicação dos utensílios heurísticos: inquérito do tipo checklist dos

No documento UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO (páginas 100-105)

CAPÍTULO II – ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DO

3. Dispositivos de recolha e de tratamento de dados: a constituição e a análise do acervo

3.3. Construção e aplicação dos utensílios heurísticos: inquérito do tipo checklist dos

A definição das dimensões de análise – A genealogia do processo político

CLE/CME; Os modos de configuração dos CME e os contextos nacional, regional e local; A mobilização dos CME pelas autarquias; A apropriação dos CME pelos actores locais – revela-se um momento determinante da construção do objecto de estudo. Estes eixos de análise (fruto da relação intrínseca entre a teoria e a empiria) estabelecem

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doravante o rumo da investigação (tanto teórico como metodológico); assumem-se como as coordenadas intelectuais a partir das quais se avança um conjunto de interrogações e de hipóteses devidamente especificadas e se constroem novos instrumentos heurísticos e hermenêuticos; revelam-se como constituintes da estrutura da investigação na medida em que se são as suas traves mestras, suportes tanto do estudo intensivo e monográfico como do extensivo e comparativo.

As técnicas de produção e de selecção de informação ajustam-se a este desenho metodológico, a esta ligação intrínseca e complementar entre o estudo monográfico e o estudo comparativo. Se as notas de campo e a análise documental correspondem às duas primeiras fases de reconhecimento do terreno de investigação, de recolha de informação e de ensaio da categorização de análise, o inquérito do tipo checklist às autarquias e a entrevista aos presidentes de câmara dizem respeito a uma terceira fase de finalização da recolha (em que se acede à opinião dos actores autárquicos), de confirmação e de classificação de toda a informação. Optámos pela construção e aplicação de um dispositivo misto, composto por uma checklist25 e por um guião de entrevista a cada presidente de câmara26; pretendemos desta forma completar o acervo documental dos onze CLE/CME da AMLT/CULT.

3.3.1 Inquérito do tipo checklist

O conhecimento exaustivo das diferentes plataformas empíricas (as onze autarquias da AMLT/CULT) e a comunicação directa com os autarcas e com os técnicos das divisões de educação levaram-nos a optar pela checklist: trata-se de um utensílio heurístico estruturado em função das questões de pesquisa e das dimensões de análise, dando maior incidência ao carácter histórico dos CLE/CME e aos aspectos de pendor diacrónico e factual relacionados com as suas instalações e modos de funcionamento27. A checklist estrutura-se em dois grandes blocos – Processo de

25 O início do processo de elaboração e aplicação das Checklist às 11 autarquias da CULT foi em Junho

de 2008.

26 O início do processo de construção do guião de entrevista foi em Setembro de 2008.

27 Consultar a este propósito o guião da checklist dos CLE/CME (cf. Anexo II, 6. Inquérito tipo checklist:

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transição/instalação do CLE/CME e Composição e funcionamento do CME; as perguntas variam consoante cada bloco, podendo ser directas e/ou indirectas; prevêem- se diversos formatos das respostas (aberta, curta, em quadro ou tabela, em lista); recolhem-se tanto dados qualitativos, como quantitativos (Afonso, N., 2005: 102-106). Esta checklist sai do esquema tradicional do inquérito não tanto pela sua construção (Ferreira, V. 1986: 165-195) mas mais pela flexibilização da sua aplicação, como garante de um maior controlo das rotinas de recolha e de apuramento de informação28. Em vez de enviarmos o inquérito para cada uma das autarquias inquiridas, optámos por uma estratégia diferenciada29. O volume de informação recolhida pelas notas de campo e pela análise documental permitiu-nos responder à maioria das questões colocadas; numa fase inicial, preenchemos as checklists mencionando as fontes a que se reportam; posteriormente, foram enviadas para as autarquias para serem completadas e validadas pelos actores autárquicos, especialmente pelos chefes de divisão e pelos vereadores da educação30. Este trabalho de complemento e de validação desenvolveu-se em duas modalidades possíveis: em alguns casos foi feita por via electrónica pela autarquia, com o registo de todas as rectificações e informações complementares; noutros casos foi feita presencialmente, num trabalho conjunto entre a investigadora e o responsável autárquico. Nas duas situações resultaram registos escritos tidos como constituintes do

corpus da investigação: mensagens electrónicas que referem a metodologia de intervenção e as opiniões dos chefes de divisão neste processo de validação das

checklists31; notas de campo descritivas e interpretativas da validação presencial32. Implicados no trabalho empírico os actores autárquicos reflectem sobre as estruturas de

28 A nossa insistência e persistência não foram suficientes para que o processo de validação das checklists

tivesse ficado completo. Referimo-nos às checklists dos CLE/CME da Chamusca, de Coruche, da Golegã e de Rio Maior: enviadas para as respectivas autarquias entre 2009 e 2010 (por inúmeras vezes) em momento algum foram remetidas após validação.

29 Opta-se por enviar as checklists já previamente preenchidas, para que os chefes de divisão e/ou os

vereadores da educação completem e validem a informação. Desta forma não se perde informação (desconhecida para muitos chefes de divisão e autarcas); não se exige um trabalho exaustivo de resposta a um inquérito a quem não se mostra interessado em responder; controla-se a informação inventariada e a respectiva validação.

30 Consultar a este propósito as checklists integradas nos dossiês dos CLE/CME, já preenchidas e

validadas (cf. Anexo I, Dossiês dos CLE/CME das onze Autarquias da AMLT/CULT).

31 Para se ter a dimensão do trabalho desenvolvido e da interacção estabelecida entre a investigadora e os

chefes de divisão/técnicos superiores das onze autarquias, consulte-se os exemplos dos protocolos de observação e de comunicação com a autarquia da Azambuja (cf. Anexo II, 5. Protocolos de observação e comunicação).

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funcionamento dos CLE/CME, reajustam as informações constantes nas checklists, propõem novos dados. Virgínia Ferreira (1986) a propósito da intervenção dos inquiridos (em número restrito) na preparação, lançamento e tratamento do questionário refere o seguinte:

A condição ideal é que eles próprios participem desde o início em todos os trabalhos relativos à preparação do questionário e acompanhem a codificação das respostas. O objectivo será a uniformização das soluções e das interpretações ao longo de toda a cadeia de levantamento e de tratamento de dados, que têm um carácter muito menos teórico do que os próprios investigadores estão dispostos a admitir, não passando muitas vezes de assunções taken-for-granted, para usar os termos dos etnometodólogos (Ferreira, V., 1986: 191).

A apresentação sumária da checklist não é suficiente para dar conta da abrangência deste utensílio heurístico e hermenêutico. A exigência da pesquisa empírica leva-nos a fazer escolhas que se revelam determinantes para a construção do objecto de estudo. A opção pela checklist, por todo este trabalho de inventariação e de sistematização das informações sobre as estruturas organizacionais e funcionais dos CLE/CME, sobre os seus tempos e espaços, sobre os actores autárquicos e outros actores locais condiciona o rumo da investigação e das estratégias adoptadas. Dito de outro modo, a opção pela checklist leva-nos a uma análise tão fina e tão minuciosa sobre os processos de apropriação da política dos CLE/CME à escala local, que nos orienta para um estudo intensivo e monográfico de cada um destes processos políticos em cada um dos municípios da AMLT/CULT. Simultaneamente, ajuda-nos na construção do guião de entrevista aos presidentes de câmara e na finalização da grelha de categorização de análise de conteúdo.

3.3.2 Entrevistas aos presidentes das câmaras municipais

O guião de entrevista aos presidentes das câmaras33 da AMLT/CULT completa o dispositivo misto de recolha de informação sobre o processo político do CLE/CME em cada município (a par da checklist). Tem por objectivo orientar um conjunto de entrevistas no sentido de recolher as suas opiniões sobre o papel dos CLE/CME no espaço educativo local, sobre a crescente intervenção das autarquias no campo educativo e o seu significado no contexto das políticas da descentralização, sobre as relações que se estabelecem com os actores locais. Adoptámos a entrevista

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semidirectiva, informativa e retrospectiva (na perspectiva interpretativa) como a técnica privilegiada da análise das políticas públicas; através dela temos a possibilidade de interagir com os autarcas, de orientar o diálogo através de questões mais ou menos dirigidas, de os levar a falar, a argumentar e a interpretar os tópicos que vão sendo lançados ao longo da conversa.

O guião revela-se nesta interacção verbal um instrumento heurístico fundamental. É construído, tal como refere Natércio Afonso (2005: 99-100), a partir das questões de pesquisa e dos eixos de análise: Do CLE ao CME: genealogia do processo político

CLE/CME; Os modos de configuração dos CME e os contextos nacional, regional e local; Mobilização do CME pelas autarquias. Tem como tema central os processos de constituição e de funcionamento dos CLE/CME e os actos de decisão de política local: organiza-se em quatro blocos temáticos em que o primeiro se refere à justificação da entrevista e os três seguintes se reportam aos eixos de análise referenciados anteriormente; em cada bloco e em função dos objectivos gerais e específicos apresentam-se as respectivas questões (num total de doze); a cada questão corresponde um conjunto de tópicos de gestão que serve para particularizar e direccionar as questões em função de cada entrevistado e de cada CLE/CME.

Ultimado o guião, contactámos directamente cada presidente de câmara; redigimos e enviámos uma carta-tipo34; contextualizámos o nosso trabalho e solicitámos-lhes as entrevistas. A partir do momento em que remetemos a carta e até à concretização da entrevista decorreram, em alguns casos, meses de espera35, o que nos obrigou a uma constante reformulação das estratégias de investigação. Todos os presidentes de câmara responderam positivamente ao pedido: uns concedem a entrevista na 1.ª pessoa36; outros delegam essa responsabilidade nos seus vereadores da

34 A este propósito consultar a carta-tipo aos presidentes de câmara a solicitar-lhes a entrevista (cf. Anexo

II, 5. Protocolos de observação e comunicação).

35 Entre a primeira entrevista, ao presidente da Câmara de Benavente, e a última, ao presidente da Câmara

da Golegã, decorrem cerca de 10 meses. Consultar a este propósito o inventário geral das entrevistas (cf. Anexo II, 3. Inventário geral das entrevistas).

36 Os presidentes das Câmaras de Azambuja, de Almeirim, de Alpiarça, de Benavente, de Coruche, de

Salvaterra de Magos, de Santarém, da Golegã e da Chamusca; este último faz questão de completar a sua entrevista, com uma entrevista à sua vereadora da Educação.

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educação37. Com todos os entrevistados seguimos as orientações de Bogdan e Biklen (1994: 136-137): solicitámos a gravação da entrevista (a que todos acederam); estabelecemos protocolos de entendimento e de validação da mesma; deixámos que se habituassem à nossa forma de questionar; ficámos atentos aos seus interesses dando margem para clarificações, para novas questões e novas respostas; respeitámos as suas vontades mostrando flexibilidade na orientação da entrevista38. Fizeram-se doze entrevistas com duração variável39, tendo sido todas devidamente transcritas e enviadas para os seus autores para serem por eles validadas40. Com a validação das entrevistas41 deu-se por terminado o processo de constituição do acervo documental dos CLE/CME das autarquias na AMLT/CULT.

3.4. Tratamento do acervo documental dos CLE/CME: grelha de categorização de

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