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Estudo extensivo e comparativo

No documento UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO (páginas 115-125)

CAPÍTULO II – ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DO

4. Arquitectura da investigação: a complementaridade entre o estudo intensivo e

4.2. Estudo extensivo e comparativo

A abordagem extensiva e comparativa sustenta-se na ideia de confrontar os onze processos políticos dos CLE/CME, não entre si, mas relativamente à política nacional, na perspectiva de identificar, relacionar e problematizar as convergências e as divergências, as semelhanças e as dissemelhanças dos CLE/CME e dar visibilidade à dimensão nacional da política, valorizando simultaneamente as outras escalas de acção pública.

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Este exercício teórico e metodológico apoia-se nos estudos comparativos internacionais de políticas públicas que entendem a comparação «como postura e método de investigação» (Mons, 2007: 17). Segundo Hassenteufel (2004:109-115; 2005:113-132), esses estudos têm por objectivo descrever e explicar as diferenças e os pontos comuns entre conteúdos e processos (tanto de decisão como de operacionalização) da acção pública nos diferentes países. Essas investigações trazem novos elementos de reflexão sobre as políticas educativas entendidas às escalas global, nacional e local: por um lado (por serem estudos transnacionais), permitem um olhar descentrado da própria realidade nacional; por outro (por serem estudos nacionais), possibilitam a divulgação e reflexão em cada país das análises sobre problemas que podem parecer internos, mas que eventualmente são comuns a outros países. Neste contexto, a análise comparativa descreve e evidencia as semelhanças e as dissemelhanças entre as políticas educativas nos diferentes países (conteúdos e processos) e procura formular hipóteses explicativas.

O diálogo interdisciplinar entre a análise das políticas públicas e a educação comparada deixa transparecer esta postura intelectual, a emergência de uma espécie de

pensamento mundial (Nóvoa & Yariv-Mashal, 2005: 8) que investe em novas perspectivas para entender a educação, não como uma instituição nacional mas antes uma componente racionalizada de uma tecnologia mundial de progresso e modernização, a que não é estranha os modos de apropriação local (Madeira, 2007: 98- 99).

Nóvoa & Yariv-Mashal (2005: 6-9) referem-se ao interesse que os observatórios / grupos internacionais de investigação e as instâncias supranacionais (organizações governamentais e não governamentais, agências de financiamento) vêem demonstrando pela comparação em educação: os primeiros, interessados em integrar nos seus estudos sobre políticas educativas transnacionais aspectos da racionalidade e da metodologia comparativa; os segundos, empenhados na criação de instrumentos que facilitem a compreensão dos problemas educativos que não se restrinjam à escala nacional e se alarguem às escalas global e local.

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O quadro nacional não é mais uma referência essencial das políticas educativas, que tendem a organizar-se através de regulações globais e de decisões tomadas pelas escolas e pelas comunidades locais. Os debates centralização/descentralização, o questionar das formas de intervenção do Estado ou a privatização do ensino não são mais do que a parte visível de uma crise profunda do “modelo escolar” tal como se consolidou no século XIX (Nóvoa & Yariv-Mashal, 2005: 8-9)

Este interesse em integrar na análise das políticas públicas aspectos da racionalidade e da metodologia comparativa é por nós partilhado. As estratégias metodológicas adoptadas para estudos transnacionais (a mesma grelha de análise, sobre o mesmo tipo de terreno, para se recolher o mesmo tipo de dados) são agora adoptadas, por analogia, para esta investigação à escala local que abrange os onze CLE/CME. A complementaridade metodológica do estudo intensivo e monográfico com o estudo extensivo e comparativo permite-nos, nas mesmas escalas de observação e de análise empírica (as autarquias da AMLT/CULT), cruzar o local e o nacional.

Neste contexto, percebe-se mais claramente a intenção e a abrangência do estudo intensivo e monográfico em cada CLE/CME (de que resulta os dossiês incluídos no anexo I). Os dossiês passam a funcionar como base de dados (como repositório de todo o trabalho empírico desenvolvido anteriormente) do exercício comparativo e das relações que se estabelecem numa mesma problemática.

A comparação é feita à luz de quatro entradas analíticas, correspondentes aos quatro eixos ou dimensões de análise; as partes que se tratam em cada eixo têm um sentido que decorre da globalidade do processo em cada um dos CLE/CME. Esse dispositivo (comum ao estudo intensivo e monográfico) é agora trabalhado transversalmente; todo o corpus inventariado e/ou construído é sujeito a uma leitura transversal da análise de conteúdo dos onze CLE/CME. Passa-se da segmentação e da descrição do estudo intensivo e monográfico (dimensão local da política) para a condensação e interpretação de dados do estudo extensivo e comparativo (dimensão nacional da política) desenvolvida em quatro eixos de análise; o essencial das monografias é incorporado na tese, não verticalmente mas horizontalmente, numa perspectiva interpretativa à luz da problemática da descentralização e da territorialização das políticas educativas.

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Trabalham-se os quatro eixos ou dimensões de análise mobilizando todo o corpus documental inventariado e/ou construído, assim como todos os produtos resultantes do tratamento das fontes. Convém, no entanto, referenciar que o material empírico utilizado na abordagem do 4.º eixo de análise diverge do utilizado nos restantes no que diz respeito à ausência de entrevista aos actores locais48. Dá-se primazia ao corpus documental inventariado, com maior incidência para as actas dos CLE/CME, tendo em vista a recolha dos testemunhos dos actores locais.

A centralidade do dispositivo de análise é transposta para a produção narrativa da tese, pois «o trabalho da escrita não pode ser separado do processo analítico» (Afonso, N., 2005: 122): isto significa que os quatro eixos de análise (as metacategorias e as correspondentes categorias e subcategorias) se assumem como estrutura da narrativa da segunda parte, correspondendo aos quatro capítulos abordados segundo um esquema comum, conforme se ilustra na figura seguinte.

Figura 2.5. Estrutura analítica e narrativa da 2.ª parte da tese.

48 Para os actores locais não se recorre à entrevista semidirectiva tal como se faz para os actores

autárquicos. Justifica-se esta opção pela impossibilidade operacional de entrevistar todos os representantes e convidados dos onze CME. Como em cada CME existem entre treze a dezasseis representantes (conforme as entidades representadas) sem contar com os convidados, entende-se perfeitamente a impossibilidade de se entrevistar todos os actores locais.

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Cada um dos quatro capítulos está dividido em três subcapítulos: o primeiro, introdutório, onde se justifica o seu enquadramento teórico e metodológico; o segundo, de apresentação e discussão de dados; o terceiro, de síntese interpretativa, no qual se sistematizam as ideias estruturantes defendidas ao longo do subcapítulo e se avançam com as correspondentes inferências.

As monografias desempenham deste modo um papel determinante na redacção dos quatro capítulos que se seguem. O seu registo descritivo e narrativo influencia a escrita e interage na apresentação e na discussão de dados. São as monografias, conjuntamente com as checklists e a análise de conteúdo (transversal) que dão sustentabilidade à argumentação apresentada. Dito de outro modo, as monografias são constantemente convocadas para o corpo da tese, quer em extractos de textos, quer em notas de rodapé (verdadeiros links para os dossiês dos CLE/CME) onde se particulariza e contextualiza localmente as interpretações e as inferências que se vão retirando relativamente à dimensão nacional da política.

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SEGUNDA PARTE

____________________________________________________________ A análise dos onze CLE/CME da Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo:

99 Breve apresentação

Os dispositivos teórico e metodológico apresentados anteriormente dão a conhecer de uma forma descritiva, mas também esquemática, a arquitectura desta investigação e a estrutura analítica e narrativa desta tese: por um lado, perspectivam o cruzamento entre a abordagem vertical, intensiva e monográfica (dimensão local da política dos CLE/CME), e a abordagem transversal, extensiva e comparativa (dimensão nacional da política dos CLE/CME); por outro, concretizam o cruzamento destas duas lógicas de investigação, num exercício de comparação materializado nesta segunda parte (tomando por base as monografias e o restante acervo documental). As figuras representativas da arquitectura da investigação (Figura 2.2) e da estrutura analítica e narrativa da segunda parte da tese (Figura 2.5) ilustram todo este trabalho: ajudam-nos a visualizar todos estes processos e apresentam-nos de uma forma esquemática os capítulos e os subcapítulos que se seguem. Importa agora completar estas informações. No esquema da figura 3.1 apresentamos, de uma forma muito breve, a leitura transversal e comparativa das quatro dimensões de análise, correspondente a cada um dos quatro capítulos desta tese, com a referência pontual ao seu enquadramento teórico, aos seus dados, aos seus processos e às suas propostas interpretativas:

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Na primeira dimensão de análise (capítulo III) abordamos a genealogia do processo político dos CLE/CME nas suas três fases ou ciclos  a) do pré-CLE, das Comissões de Ensino, b) do CLE, c) do CME (correspondentes aos três subcapítulos). A comparação remete-nos para a análise interpretativa deste processo à luz da sua historicidade, da influência dos contextos locais e da maior ou menor informalidade dos processos políticos.

Na segunda dimensão de análise (capítulo IV) abordamos os modos de configuração dos CME através dos seus processos de construção, dos seus regimentos e do seu funcionamento (correspondentes aos três subcapítulos). A comparação remete- nos para a análise interpretativa da diversidade destes processos à luz do jogo entre regulação de controlo (da Administração Central sobre a Administração Local) e regulação autónoma (das estratégias que se vão construindo), resultando modos diferentes de interpretar as normas, de estruturar as organizações.

Na terceira dimensão de análise (capítulo V) abordamos a mobilização dos CME pelas autarquias através das áreas de intervenção dos seus autarcas e do balanço que fazem destas entidades (correspondentes aos dois subcapítulos). A comparação remete- nos para a análise interpretativa da centralidade do Poder Local nestes processos (no sentido da construção de uma ordem de política educativa local), de «outro» CME idealizado com outros referenciais, tendo em conta outros princípios e outros valores da descentralização.

Na quarta dimensão de análise (capítulo VI) abordamos a apropriação dos CME pelos actores locais através das suas áreas de intervenção e das suas perspectivas (correspondentes aos dois subcapítulos). A comparação remete-nos para a análise interpretativa dos interesses em jogo, das alianças, dos referenciais e do protagonismo dos próprios actores locais nestes processos, análise essa feita à luz da trilogia teórica  acção pública, regulação e conhecimento.

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CAPÍTULO III – DO CONSELHO LOCAL DE EDUCAÇÃO (CLE)

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