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Tratamento do acervo documental dos CLE/CME: grelha de categorização de

No documento UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO (páginas 105-110)

CAPÍTULO II – ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DO

3. Dispositivos de recolha e de tratamento de dados: a constituição e a análise do acervo

3.4. Tratamento do acervo documental dos CLE/CME: grelha de categorização de

A descrição dos processos de pesquisa, de organização e de tratamento do acervo documental dos CLE/CME ajuda-nos a sistematizar os procedimentos metodológicos desenvolvidos ao longo da pesquisa e da análise empírica; dá visibilidade à relação intrínseca entre as técnicas de recolha e de organização de dados (pesquisa e análise documental, observação participante e notas de campo, inquérito do tipo checklist e

checklists dos CLE/CME, guião de entrevista e as entrevistas aos autarcas) e as técnicas de tratamento desses mesmos dados (análise de conteúdo). Sabemos como todos estes processos se interligam e como os diferentes instrumentos heurísticos antecipam a definição das categorias de análise: como o guião de leitura exploratória e de pré-análise

37 Os presidentes das Câmaras do Cartaxo e de Rio Maior delegaram nos seus vereadores da educação a

responsabilidade de concederem a entrevista.

38 Temos os casos das entrevistas à presidente de Câmara de Alpiarça e ao presidente de Câmara da

Chamusca em que não se segue o guião conforme previsto. De imediato respondemos a esta mudança adequando as questões a cada contexto de entrevista.

39 Consultar a este propósito o Inventário geral das entrevistas (cf. Anexo II, 3. Inventário geral das

entrevistas).

40 A este propósito consultar a carta-tipo de envio e validação da entrevista (cf. Anexo II, 5. Protocolos de

observação e comunicação). Todos os presidentes e vereadores têm a possibilidade de rectificar e/ou alterar a entrevista conforme o acharem necessário: uns dão feedback do processo e outros não propõem qualquer alteração.

41 As entrevistas, devidamente transcritas e validadas, estão integradas nos respectivos Dossiês (cf. Anexo

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da documentação dos CLE/CME contribui para um primeiro ensaio dos eixos/dimensões de análise; como as checklists e a entrevistas validam a codificação destas metacategorias e desenvolvem novas unidades de significação, novos núcleos de sentido, a partir dos quais se definem as categorias e as subcategorias. Processos morosos e pormenorizados em que se classifica o material empírico, se ensaia a sua codificação, se isolam as unidades de registo e se identificam os núcleos de sentido através dos temas. Tal como Bardin (1995), o nosso interesse pela análise de conteúdo (qualitativa) é a inferência fundada num tema e não na frequência da sua aparição. No entanto, a análise qualitativa não rejeita nenhuma forma de quantificação:

Fazer uma análise temática consiste em descobrir os «núcleos de sentido» que compõem a comunicação e cuja presença ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objectivo analítico escolhido. O tema, enquanto unidade de registo, corresponde a uma regra de recorte (do sentido e não da forma) que não é fornecida uma vez por todas, visto que o recorte depende do nível de análise e não de manifestações formais reguladas (Bardin, 1995: 105-106). A partir do momento em que a análise de conteúdo decide codificar o seu material, deve produzir um sistema de categorias. A categorização tem como primeiro objectivo (da mesma maneira que a análise documental) fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos. Na análise quantitativa as inferências finais são, no entanto, efectuadas a partir do material reconstruído (Bardin, 1995: 119).

3.4.1 Grelha de categorização da análise de conteúdo

A definição e a validação do plano de categorias é uma das fases fundamentais da construção do objecto de estudo; passa-se então da descrição e da classificação do

corpus empírico para a sua interpretação em função do nosso quadro teórico e conceptual e das características concretas das fontes, dos sentidos que lhes são próprios. As categorias «são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registo, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento, esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos» (Bardin, 1995: 117). Adopta-se como critério de categorização a unidade temática.

A grelha de categorização da análise do acervo documental dos onze CLE/CME da AMLT/CULT42 é o instrumento hermenêutico por excelência. A partir deste

42 Convém consultar a Grelha de categorização de análise do acervo documental dos CLE/CME

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dispositivo é possível avançar nas novas fases de construção do objecto de estudo: operacionalizar o processo de decomposição do corpus empírico em unidades temáticas; estabelecer a relação entre estas mensagens e as problemáticas que lhes estão subjacentes; interpretar as mensagens de cada unidade temática; traçar a arquitectura da investigação; propor um conjunto articulado de argumentos teóricos e metodológicos que justifiquem estas inferências. Atente-se no quadro 2.2 (correspondente a uma versão simplificada da grelha de categorização existente no anexo II) e perceba-se a relação existente entre os dispositivos teóricos e metodológicos apresentados e os universos empíricos de que se ocupam:

Esta relação directa entre o quadro teórico e conceptual e o corpus empírico leva- nos a esclarecer o sentido desta codificação. Sabemos que o estudo incide fundamentalmente na medida da criação dos CME (Decreto-Lei n.º 7/2003), integrada num cenário mais alargado das políticas de descentralização da administração que vêm envolvendo as autarquias como parceiros no provimento da educação, responsabilizando-as, cada vez mais, pela gestão da política educativa no espaço local. À luz da análise das políticas públicas, a construção do nosso objecto de estudo faz-se a partir dos conceitos-chave: regulação; regimes de conhecimento; instrumento e

instrumentação da acção pública; são postos em evidência os processos políticos dos CLE/CME e a sua historicidade, a operacionalização da política em diferentes escalas de acção pública, os referenciais cognitivos e normativos dos CLE/CME, os actores (autárquicos e outros actores locais) e os seus conflitos de interesses. Se percorrermos o sistema de categorização (das metacategorias às categorias e às subcategorias) e os indicadores de referência, percebemos a relação que se estabelece entre uns e os outros: como a análise interpretativa de cada unidade temática (definida pela categoria e pela subcategoria) se pode alterar em função dos indicadores de referência; como o facto de existir ou não CLE num dado município altera esta análise; como a diversidade de tipologias dos concelhos estudados e as suas ofertas educativas influem também neste exercício analítico. Simultaneamente, percebemos os pressupostos substantivos que estão subjacentes a todo o sistema de categorização e que nos reportam ao código de leitura da análise da acção pública.

categorização de análise, principalmente das subcategorias omitidas no quadro 2.2, da página 84 (cf. Anexo II, 8. Grelha de categorização de análise do acervo documental dos CLE/CME).

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Quadro 2.2

Grelha de categorização de análise do acervo documental dos 11 CLE/CME da AMLT/CULT

Meta

Categorias Categorias Subcategorias

43 Indicadores I Do CLE ao CME Genealogia do processo a. Criação/constituição do CLE b. Mobilização do CLE pelos actores autárquicos/e outros actores locais c. Transição do CLE para

o CME 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) Existência/ausência do CLE II Os modos de configuração dos CME e os contextos nacional, regional e local

d. Constituição dos CME

e. Regimentos dos CME/ Regras de funcionamento f. Modos de funcionamento dos CME 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15) 16) 17) 18) 19) 20) 21) 22) 23) 24) 25) 26) 27) 28) 29) 30) 31)

Tipologia do município: geográfica / populacional / política

Oferta educativa / escolar

III A mobilização dos CME pelas

autarquias

g. Áreas de intervenção das autarquias operacionalizadas através dos CME h. Avaliação dos CME

pelas autarquias

32) 33) 34) 35) 36) 37) 38) 39) 40)

41) 42) 43) 44)

Autarcas: presidente de Câmara, presidente da Assembleia Municipal, presidentes das Juntas de Freguesia, vereador da Educação, outros vereadores, chefes de Divisão, técnicos da autarquia

Perfis profissionais e pessoais dos autarcas

IV A apropriação do CME pelos actores locais

i. Intervenção dos actores locais no CME j. Perspectivas dos actores

locais sobre o CME

45) 46) 47) 48)

49) 50) 51) 52) 53)

Actores locais: entidades representadas / representantes; convidados; Agrupamentos e Escolas; Professores; Centro de Formação; ANMP; CULT;

associações: agrícolas, comerciais e industriais; empresas de assessorias …

Perfis profissionais e pessoais dos actores locais

Fontes: Grelha de categorização de análise do acervo documental dos onze CLE/CME da AMLT/CULT (cf. Anexo II, Grelha de categorização de análise do acervo documental dos onze CLE/CME da AMLT/CULT).

43 Neste quadro as subcategorias encontram-se unicamente identificadas por um número, omitindo-se a

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3.4.2 Análise de conteúdo do acervo documental dos CLE/CME

A análise de conteúdo do acervo documental dos CLE/CME desenvolve-se em duas fases interdependentes e complementares. A diferença entre uma e a outra desenha-se na tipologia do estudo desenvolvido.

– A primeira fase diz respeito ao estudo intensivo e à análise vertical de cada CLE/CME. Abrange a totalidade do corpus de cada entidade, recortado e classificado em unidades temáticas (definidas pelo sistema de categorização); cada recorte ou unidade de sentido é integrado na correspondente metacategoria/categoria/subcategoria e identificado por tipologia de fonte; as unidades de sentido são anotadas conforme os contextos de análise e as inferências dai resultantes. A cada processo de análise corresponde uma grelha de categorização integrada no dossiê correspondente (Anexo I)44.

– A segunda fase diz respeito ao estudo extensivo e à leitura transversal da análise de conteúdo dos onze CLE/CME. Constituem-se tantas grelhas quantas as metacategorias, as categorias e as subcategorias que se comparam. Atente-se no exemplo da leitura transversal da metacategoria I – Do CLE ao CME: genealogia

do processo – em que se faz o cruzamento das onze leituras verticais (por CLE/CME) tendo por referência as respectivas categorias e as subcategorias45; perceba-se como se comparam as análises verticais e dai se retiram inferências sobre as convergências e as divergências, as semelhanças e as dissemelhanças nas genealogias dos processos políticos dos CLE/CME.

Salienta-se a morosidade e a reflexividade deste processo de tratamento, de análise e de interpretação da informação qualitativa (mas também quantitativa); o investimento faz-se de uma forma continuada, num esforço de aperfeiçoamento constante do dispositivo de análise. Fazendo nossas as palavras de Natércio Afonso (2005), «a formatação do dispositivo não é prévia ao tratamento de dados. Pelo

44 Consultar a este propósito a análise de conteúdo do acervo documental de cada CLE/CME incluída no

respectivo dossiê (cf. Anexo I, Dossiês dos 11 CLE/CME da AMLT/CULT).

45 Para se ter a noção do trabalho desenvolvido, consulte-se a grelha comparativa da metacategoria I

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contrário, constrói-se e consolida-se à medida que os dados vão sendo organizados e trabalhados no processo analítico e interpretativo» (2005: 118).

4. Arquitectura da investigação: a complementaridade entre o estudo intensivo e

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