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Capítulo 3: Metodologia

6. A CONSTRUÇÃO DO GUIÃO

A construção do guião, o “instrumento de gestão da entrevista” (Afonso, 2005: 99), foi precedida pela realização de três entrevistas exploratórias a três diretores.

Para tal, procedeu-se à elaboração de um esboço do que viria a ser um primeiro guião da entrevista e programou-se a realização desses encontros, os quais tiveram “como função principal revelar determinados aspectos do fenómeno estudado em que o investigador não teria espontaneamente pensado por si mesmo e, assim, completar as pistas de trabalho sugeridas pelas leituras.” (Quivy e Campenhoudt, 1995: 69).

De facto, como referem os mesmos autores, estas entrevistas servem para

“encontrar pistas de reflexão, ideias e hipóteses de trabalho, e não para verificar hipóteses pré- estabelecidas. Trata-se, portanto, de abrir o espírito, de ouvir, e não de fazer perguntas precisas,

de descobrir novas maneiras de colocar o problema, e não de testar a validade dos nossos esquemas.” (id.: 70)

A primeira entrevista exploratória aplicou-se a um diretor de escola, com uma vasta experiência na gestão escolar (tinha-se aposentado recentemente) e que não pertencia ao CE. O objetivo foi dialogar, em particular, sobre a sua experiência no âmbito da gestão da sua escola, de modo a afinar o que viria a constituir o conteúdo relacionado com o desenvolvimento da função de diretor de escola.

A partir dessa entrevista, introduziram-se alterações a esse primeiro documento orientador, inclui-se a parte relativa ao CE e fizeram-se mais duas entrevistas, desta vez a ex-membros do CE51. A realização destas entrevistas desenvolveu-se de acordo com os

mesmos princípios da primeira entrevista e revelaram-se (todas as três) de grande utilidade para a elaboração do guião da entrevista.

“A entrevista exploratória é uma técnica surpreendentemente preciosa (...) dado que bem utilizada, pode prestar serviços inestimáveis. Cada vez que, pressionados pelo tempo, julgamos dever saltar esta etapa exploratória arrependemo-nos depois amargamente. Permite sempre ganho de tempo e economia de meios. Além disso, e não é o menor dos seus atrativos, constitui, para nós, uma das fases mais agradáveis da investigação: a da descoberta, a das ideias que surgem e dos contactos humanos mais ricos para o investigador.” (Quivy e Campenhoudt, 1995: 70)

A estrutura da entrevista ganhava a sua forma final, organizada em temas, dentro dos quais estavam formuladas questões-base que funcionavam como introdução (uma espécie de roteiro) para o conteúdo a abordar. De facto, a ideia central foi a de apresentar as questões com um nível de abrangência tal que permitisse um desenvolvimento da questão e nunca uma resposta de tipo afirmativa ou negativa. O princípio de que o entrevistado poder-se-ia expressar livremente tinha de estar presente também na conceção do guião.

Concluindo, realizaram-se três entrevistas exploratórias, após as quais se elaborou o guião definitivo da entrevista (ver quadro n.º 12 e anexo 1). Ao mesmo tempo que este processo decorreu, ia-se revisitando a bibliografia sobre a recolha de dados qualitativos (entrevistas semi-estruturadas), pois essa nova leitura permitiria uma maior eficácia no desenvolvimento do processo de recolha da informação. Era importante ter bem presente

51 Tinham sido substituídos como resultado dos concursos de diretores desenvolvidos na sequência da publicação do DL 75/2008 e dos respetivos procedimentos concursais.

que uma “entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo.” (Bogdan e Biklen, 1994: 134).

A estrutura do guião da entrevista foi organizada em três partes, estando cada uma delas organizadas em blocos temáticos e em temas, cada um destes com objetivos específicos que orientaram a formulação das questões.

Quadro n.º 12 – Estrutura do guião da entrevista, orientadora das questões a formular.

1.ª PARTE – A CONSTRUÇÃO DA AUTO-IMAGEM DO DIRETOR

BLOCOS TEMAS OBJETIVOS

1. A entrada na função

Motivações Perceber que motivações fizeram o diretor entrar para o mundo

da gestão escolar, que funções ocupou durante esse período e que razões o fizeram avançar para a presidência do órgão de gestão.

O primeiro ano Ter uma perspetiva do que foi o 1.º ano de desempenho das novas funções, ficando a conhecer o mais fácil e mais difícil nesse período, que momentos tinham sido considerados mais significativos e que avaliação fazia desses primeiros tempos. Identidade

profissional (momento 1)

Identificar o modo como o diretor se via a si próprio, profissionalmente, no final desse(s) primeiro(s) tempos(s), isto é, quem julgava que era, como se autodefinia e, também, como pensava que era visto pelos outros trabalhadores da escola. 2. A atividade e

as suas dimensões

A atividade Obter a caraterização de um dia típico da atividade do diretor: em que domínios ela era desenvolvida, que situações dominavam essencialmente a sua atenção e se havia áreas de trabalho reservadas exclusivamente para ele.

O espaço e os elementos simbólicos da atividade

Perceber como estava organizado o espaço da direção e o que justificava tal opção.

Nota: Relativamente à componente simbólica (identificação das áreas de trabalho, nomeadamente nas secretárias; uso de cartões pessoais com a identificação da função), ela foi usada para tentar saber se a perceção exterior da função era algo considerado importante ou não.

As relações

internas Conhecer a relação estabelecida com os docentes, com os assistentes operacionais e com os profissionais da secretaria, mas também com os órgãos que compõem a escola: Conselho Geral, Conselho Pedagógico e Conselho Administrativo. Identificar o modo de funcionamento da Direção.

As relações com os encarregados de educação

Saber que opinião o diretor tem sobre a relação que mantém com os encarregos de educação e com a Associação de Pais.

As relações com a autarquia e a comunidade

Identificar os pontos fortes e fracos do relacionamento com a autarquia e com interesses económicos, sociais e culturais da comunidade e em torno de que assuntos ocorre este tipo de relacionamento.

A relação com a administração da educação

Perceber como o diretor define a relação estabelecida com a então denominada Direção Regional de Educação.

Balanço Compreender quais são os momentos sentidos como mais difíceis, positivos e negativos da atividade e como o diretor olha para a função atualmente, bem como as modificações que foi sentindo ao longo do tempo.

A formação Identificar se o diretor tem feito formação na área da

administração escolar/educacional ao longo dos anos de desempenho da função e porque motivo tal ocorreu.

3. Os

referenciais Princípios e valores Conhecer as linhas orientadoras de ação da escola. Missão

Visão

Concretização Perceber como as linhas orientadoras referidas anteriormente se expressam no Projeto Educativo da escola e que mais-valia tal traz no seu funcionamento.

Identidade profissional (momento 2)

Saber como o diretor se vê a si próprio, profissionalmente, ao fim de todos os anos de experiência na gestão escolar.

Regimes de gestão

O DL 769-A/76 Perceber que opinião os diretores têm sobre a experiência nestes regimes de gestão.

Nota: Este bloco consistiu num conteúdo que foi aplicado só a quem teve experiência de trabalho nestes regimes.

O DL 172/91

2.ª PARTE – O MOMENTO ATUAL

BLOCOS Temas OBJETIVOS

4. Opinião

geral constitucional O XVII governo Conhecer a opinião que os diretores têm sobre a ação desenvolvida pelas ministras da educação destes governos. O XVIII governo constitucional 5. As medidas políticas A avaliação do desempenho dos professores

Analisar as medidas de política educativa lançadas pelos XVII e XVIII governos constitucionais e aferir da influência que elas tiveram na atividade do diretor.

Os rankings e a avaliação externa das escolas O Conselho das Escolas O novo regime de gestão Balanço final Identidade profissional (momento 3)

Identificar o modo como os diretores se viam a si próprios, profissionalmente, depois de todas as experiências tidas na gestão escolar, particularmente após a intervenção no âmbito do Conselho das Escolas, isto é, como se autodefinem profissionalmente; quem são enquanto diretores.

3.ª PARTE – O FUTURO DA GESTÃO ESCOLAR EM PORTUGAL

BLOCOS Temas OBJETIVOS

5. O futuro ... Perspectivas... Identificar, considerando as alterações na política educativa e a adquirida proximidade com o poder político no seio do Conselho das Escolas, qual pensam os diretores poder vir a ser a evolução da gestão escolar em Portugal.”