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Construtivismo Cognitivista

No documento Aprendizagem do Cálculo para economistas (páginas 44-47)

CAPÍTULO 2 Revisão de literatura

2.3 Teorias da aprendizagem

2.3.2 Construtivismo Cognitivista

Em termos epistemológicos, na procura da gênese da inteligência, Jean Piaget, autor da presente teoria, trabalhou arduamente até aos 85 anos, idade com que faleceu. São bastante expressivos os números da sua produção científica: cerca de 70 livros e mais de 400 artigos.

Jean Piaget, biólogo de formação, investigou sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos, ou seja, estudo dos mecanismos utilizados na formação do conhecimento lógico, da gênese e da evolução do conhecimento humano. O conhecimento passa pela noção de espaço, de tempo, de ente, relação de causalidade, entre outras noções.

Ao contrário do que acontece no inatismo, outra teoria racionalista, aqui Piaget (1974) defende que o comportamento dos seres vivos não é inato nem é, ao contrário do que acontece nas correntes behavioristas, resultado de condicionamentos. O autor da teoria defende que o comportamento é fruto da interação entre o meio e o indivíduo. Defende que o desenvolvimento do comportamento humano é uma construção que resulta da relação estabelecida entre o indivíduo e o meio em que se insere. A capacidade de o indivíduo se adaptar a situações novas é consequência das interações que o mesmo faz com o ambiente, quanto mais complexa a interação pela qual o indivíduo passar maior a sua capacidade de enfrentar novas interações e, também, maior a sua inteligência. Assim, gradualmente o indivíduo supera o seu conhecimento.

Para o construtivismo cognitivista, o indivíduo só absorve um determinado conhecimento se estiver preparado para absorvê-lo, quer dizer, só o absorve se estiver em condições de agir sobre os entes de conhecimento do seu meio de modo a inseri-los num sistema de relações. Não se forma conhecimento na ausência de conhecimento anterior que garanta a sua assimilação e ou transformação. As primeiras formações de conhecimento do indivíduo são sustentadas pela estrutura

hereditária previamente constituídas, estas formações de conhecimento passam por representações básicas que, à medida que se vão relacionando entre si e à medida que o indivíduo se vai desenvolvendo, amplia-se e proporciona a absorção de novos conhecimentos, dando origem a sistemas de conhecimentos mais complexos e peculiares. Piaget constatou, assim, que existe o construtivismo sequencial, ou seja, que a construção da inteligência passa por etapas ou estádios que se sucedem, progressivamente complexos, relacionados uns com os outros. Dito de outra maneira, para o autor, construtivismo sequencial é o desenvolvimento da inteligência num sistema crescentemente complexo, onde cada estádio — etapa de desenvolvimento em que o indivíduo apresenta determinado leque de características — é resultante do anterior e o primeiro resultante da estrutura hereditária previamente constituída (Piaget, 1974).

Estádios de desenvolvimento genético-cognitivo da criança postulados por Piaget (1974):

• Sensório-motor (0 a 2 anos); • Pré-operatório (2 a 7 anos); • Operatório concreto (7 a 12 anos); • Operatório lógico-formal (12 a 16 anos).

2.3.2.1 Conceitos da teoria

Assimilação e acomodação

O conceito de estrutura cognitiva é central para a teoria de Piaget. Segundo Piaget (1974) estruturas cognitivas são padrões de ação física e mental subjacentes a atos específicos de inteligência e correspondem a estágios do desenvolvimento infantil.

Para Piaget (1974), assimilação é uma integração de novo conhecimento em estruturas prévias — provocando modificação ou não, sem descontinuidade em relação ao estado precedente —, acomodando estas à nova situação.

A assimilação e a acomodação são dois processos muito aflorados por Piaget. Para o autor, assimilação significa integrar elementos externos (dados percetuais, motores, concetuais ou proposicionais)na estrutura mental do indivíduo. Assimilação é como os seres humanos percebem e adaptam-se a novas informações. É o processo de encaixar novas informações em esquemas cognitivos pré-existentes. Assimilação é o processo no qual novas experiências são reinterpretadas de modo a se encaixarem em ideias antigas. Ocorre quando os seres humanos se deparam com informação nova ou com a qual não estão familiarizados e, na tentativa de buscar sentido, recorrem a informação aprendida previamente.

A título de exemplo, consideremos um aluno que até ao presente momento tenha aprendido apenas equações lineares. Isto significa que o aluno, na sua estrutura cognitiva, tem esquemas de equações lineares. Quando apresentadas a este aluno equações não lineares, consideremos para o caso equações do segundo grau, tendencialmente e em função das semelhanças — ambas são

igualdades, ambas têm um membro esquerdo e um membro direito, ambas têm uma incógnita que aparece pelo menos uma vez —, o aluno encara a equação do segundo grau como se de uma equação linear se tratasse. A distinção entre ambos tipos de equações, do primeiro grau e do segundo grau, ocorrerá mediante um processo denominado acomodação. Para tal, diante da manifestação de confusão por parte do aluno, o professor deverá intervir apresentando-lhe o novo conceito. A partir daí o aluno passará a ter uma nova estrutura cognitiva e, consequentemente, um novo esquema.

Agora o aluno passa a ter mais um esquema, para além do esquema para equação do primeiro grau, agora também tem o esquema para equação do segundo grau. Para Piaget, entende-se por acomodação toda a modificação dos esquemas de assimilação sob influência de situações exteriores, ou seja, do meio em que se insere o indivíduo. Ela tem lugar quando, em função das particularidades que a compõem, uma nova informação ou um novo estímulo não é assimilado pelo indivíduo, levando- o a criar um novo esquema ou a modificar um previamente existente, o que, em qualquer dos dois casos, resulta em mudança na estrutura cognitiva.

A assimilação, associada a crescimento e a mudança quantitativa, e a acomodação, associada a desenvolvimento e a mudança qualitativa, constituem a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas. Na assimilação o esforço mental é feito no sentido de ajustar a informação ou o estímulo à estrutura cognitiva do indivíduo, já na acomodação o esforço mental é feito no sentido de ajustar a estrutura cognitiva à informação ou ao estímulo com que o indivíduo se depara.

Segundo Piaget (idem), a acomodação é o processo de, diante de nova informação, alterar esquemas pré-existentes para encaixar a nova informação. Ela acontece quando o esquema existente não funciona adequadamente e, consequentemente, carece de mudança para lidar com a nova informação. A acomodação é incontornável porquanto consiste na forma pela qual as pessoas continuam a interpretar novos conceitos, novos esquemas, novas estruturas, em suma, novas situações. Através da assimilação e da acomodação o cérebro humano reequilibra-se depois de o equilíbrio ter sido abalado por uma situação nova.

Para Piaget (idem), assimilação e acomodação devem sempre coexistir. Para o autor são dois processos indissociáveis. A assimilação de um objeto num esquema mental é precedida da acomodação a certa medida das particularidades do objeto. Por exemplo, para reconhecer (ou seja, assimilar) um copo, o indivíduo deve-se primeiro focar (ou seja, acomodar) nos contornos do objeto. Para tal, o indivíduo precisa de reconhecer (ou seja, assimilar) o tamanho do objeto e, assim, se vai desenrolando a dependência entre assimilação e acomodação. Não existe assimilação sem acomodação e não existe acomodação sem assimilação.

À medida que o indivíduo vai-se desenvolvendo, melhora a capacidade de equilibrar os processos de assimilação e acomodação. Quando ambos estão equilibrados, desencadeiam esquemas da inteligência operativa. Por outro lado, quando um processo domina o outro, desencadeiam representações pertencentes à inteligência figurativa.

Adaptação

Para Piaget (1986) é um processo dinâmico e contínuo mediante o qual, procurando continuamente reconstituir-se e reequilibrar-se, a estrutura hereditária do organismo interage com o meio externo. Deste modo, é um processo que se encontra na essência do funcionamento intelectual e biológico. O indivíduo modifica o meio e este modifica o indivíduo. Este facto produz continuamente desequilíbrios e desajustes na estrutura do indivíduo através da ocorrência de dois processos distintos, porém, dissociáveis: a assimilação e a acomodação. Daí o caráter dinâmico e contínuo da adaptação, não por opção, mas sim por necessidade.

Organização

Segundo o autor (idem) não se produz adaptação, portanto procura contínua de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, a partir de uma fonte desorganizada. A adaptação é sustentada por uma organização inicial expressa no esquema — origem da ação que o indivíduo empreende sobre os objetos do conhecimento. O pensamento, que consiste na interiorização da ação, organiza-se através da constituição de esquemas que se formam pelo processo de adaptação. Portanto, a adaptação e a organização são processos indissolúveis do pensamento.

Esquema

Para o autor (idem) trata-se do modelo de atividade utilizado pelo organismo para incorporar os estímulos que recebe pelos seus órgãos do sentido do meio à sua volta. Os primeiros esquemas do indivíduo, que são inatos, são os reflexos. A partir deles cria-se novos esquemas que dão lugar ao surgimento sucessivo de mais esquemas e, consequentemente, melhoram a capacidade de interação do indivíduo com o meio à sua volta.

O processo contínuo de adaptação resulta na produção, pelo indivíduo, de novos esquemas ou na evolução dos esquemas pré-existentes. Desta forma e parafraseando Wadsworth (1989), os esquemas são estruturas mentais ou cognitivas através das quais os indivíduos intelectualmente adaptam-se e organizam o meio à sua volta. Os esquemas constituem-se, assim, em processos dentro do sistema nervoso e em objetos, ou seja, trata-se de um fenómeno dinâmico e não estático. Os esquemas são construtos hipotéticos, ou seja, são inferidos e não são observáveis.

No documento Aprendizagem do Cálculo para economistas (páginas 44-47)