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Construtivismo Interacionista

No documento Aprendizagem do Cálculo para economistas (páginas 47-52)

CAPÍTULO 2 Revisão de literatura

2.3 Teorias da aprendizagem

2.3.3 Construtivismo Interacionista

Para Lev Vygotsky e seus seguidores, a interação com os outros e com o meio em que estamos inseridos são os factores principais que desencadeiam o desenvolvimento socio-cognitivo. Os mesmos defendem que o desenvolvimento é impulsionado pela linguagem, reconhecem a estrutura dos estádios apresentada por Piaget, no entanto, propõem uma outra conceção da dinâmica evolutiva. Para Jófili (2002), as teorias de Piaget e de Vygotsky diferem em três aspetos: (1) desenvolvimento versus aprendizagem: Piaget defende que o desenvolvimento precede a aprendizagem ao passo que Vygotsky defende que a aprendizagem pode e deve anteceder o desenvolvimento; (2) interação social

versus interação com os objetos: enquanto Piaget enfatiza a interação com os objetos, Vygotsky enfatiza a interação social. Nesta interação, Vygotsky introduz os conceitos das zonas de desenvolvimento — Zona de Desenvolvimento Real, Zona de Desenvolvimento Proximal e Zona de Desenvolvimento Potencial; (3) interação horizontal versus interação vertical: Vygotsky dá maior ênfase à interação do aluno com os seus pares — horizontal —, ao passo que Piaget dá maior ênfase à interação do aluno com o professor — vertical — como mediador da sua interação com objetos.

Segundo Kozulin et al. (2003), a abordagem de três questões atuais torna, consequentemente, a teoria de Vygotsky atual apesar de ter surgido na primeira metade do século XX. As questões referem-se a: (1) multiculturalismo; (2) mediação; (3) potencial de aprendizagem.

Multiculturalismo

The issues of culture and learning have been inseparable for centuries for the simple reason that one of the main goals of learning is the transmission of culture from generation to generation. Nevertheless, the majority of educators were oblivious of this cultural element until confronted with it in the reality of the multicultural classroom. In a monocultural environment culture remains mostly invisible, and educators start paying attention to it only when two or more cultural patterns are empirically present in the same classroom at the same time. One may say that Vygotsky had a certain advantage in this respect because he worked in a period of great social upheaval that put different social and ethnic groups into the same educational focus. The issues of literacy, as well as ethnic and cultural diversity, were much more obvious for Vygotsky and his colleagues than for their Western contemporaries. Half a century later the same issues became a focal point in many Western classrooms.12 (Kozulin et al., 2003, p. 15)

12 As questões de cultura e de aprendizagem têm sido inseparáveis há séculos, pelo simples motivo de

que um dos principais objetivos da aprendizagem é a transmissão da cultura de geração para geração. No entanto, a maioria dos educadores estavam alheios a este elemento cultural até serem confrontados com ele na realidade da sala de aula multicultural. Num ambiente monocultural, a cultura permanece na sua maioria invisível e os educadores começam a prestar atenção nela somente quando dois ou mais padrões culturais estão empiricamente presentes na mesma sala de aula ao mesmo tempo. Pode-se dizer que Vygotsky teve uma certa vantagem a este respeito porque trabalhou em um período de grande agitação social que colocou diferentes grupos sociais e étnicos no mesmo foco educacional. As questões da alfabetização, bem como a diversidade étnica e cultural, eram muito mais óbvias para Vygotsky e seus colegas do que para os contemporâneos ocidentais. Meio

Vygotsky’s tentative answer to this challenge lies in his radical reorientation of learning theory from an individualistic to a sociocultural perspective. The key concept in this new orientation is that of psychological tools. Psychological tools are those symbolic artifacts — signs, symbols, texts, formulae, graphic organizers — that when internalized help individuals master their own natural psychological functions of perception, memory, attention, and so on (see Kozulin, 1998). Each culture has its own set of psychological tools and situations in which these tools are appropriated. Literacy in its different forms constitutes one of the most powerful of psychological tools.13 (idem)

Nota-se que as descobertas de Vygotsky foram, em boa medida, fruto das influências do contexto em que estava inserido. A abordagem sobre multiculturalismo é de grande importância porquanto remete-nos à necessidade de atendermos às peculiaridades de cada aluno na sala de aula sob pena de os professores pouco ou nada comunicarem na tentativa de transmitirem os seus conhecimentos na sala de aula.

Mediação

For a long time the predominant model of learning was that of acquisition (see Sfard, 1998). Children were perceived as containers that must be filled with knowledge and skills by teachers. The major disagreement among educators related to the degree of activity expected of the child. More traditional approaches portrayed the child as a rather passive recipient of prepackaged knowledge, whereas Piagetians and the proponents of discovery learning expected children

século mais tarde, os mesmos problemas se tornaram um ponto focal em muitas salas de aula ocidentais.

13 A tentativa de resposta de Vygotsky a este desafio reside na reorientação radical da teoria da

aprendizagem de uma perspectiva individualista para uma sociocultural. O conceito-chave nesta nova orientação é o de ferramentas psicológicas. As ferramentas psicológicas são artefatos simbólicos — sinais, símbolos, textos, fórmulas, organizadores gráficos — que, quando internados, ajudam os indivíduos a dominar suas próprias funções psicológicas naturais de perceção, memória, atenção, etc. (ver Kozulin, 1998). Cada cultura tem seu próprio conjunto de ferramentas psicológicas e situações em que essas ferramentas são apropriadas. A alfabetização em suas diferentes formas constitui uma das mais poderosas ferramentas psicológicas.

to be independent agents of acquisition. In time it became clear that the acquisition model is wanting both theoretically and empirically. On the one hand, the child proved to be much more than a passive recipient of information; on the other hand, independent exploration often led to the acquisition of immature concepts and neglect of important school skills. A search for an alternative learning model moved to the fore such concepts as mediation, scaffolding, apprenticeship, and organization of learning activities.14 (Kozulin et al., 2003, p. 16)

Vygotskian theory stipulates that the development of the child’s higher mental processes depends on the presence of mediating agents in the child’s interaction with the environment. Vygotsky himself primarily emphasized symbolic tools–mediators appropriated by children in the context of particular sociocultural activities, the most important of which he considered to be formal education. Russian students of Vygotsky researched two additional types of mediation – mediation through another human being and mediation in a form of organized learning activity. Thus the acquisition model became transformed into a mediation model (...).15 (Kozulin et al., 2003, p. 17)

Quanto à mediação, a teoria de Vygotsky ressalta que o seu modelo de aquisição de conhecimento é mediado, sendo feito de duas formas: mediação através de um outro ser humano e mediação através de atividade de aprendizagem organizada. A teoria chama atenção para o risco de

14 Durante muito tempo, o modelo predominante de aprendizagem foi o de aquisição (ver Sfard, 1998).

As crianças eram percebidas como recipientes que devem ser enchidos com conhecimentos e habilidades pelos professores. O maior desacordo entre os educadores diz respeito ao grau de atividade esperado da criança. As abordagens mais tradicionais retrataram a criança como um destinatário bastante passivo do conhecimento pré-embalado, enquanto piagetianos e os proponentes do aprendizado de descobertas esperavam que as crianças fossem agentes independentes de aquisição. Com o tempo ficou claro que o modelo de aquisição quer-se teorica e empiricamente. Por um lado, a criança provou ser muito mais do que um destinatário passivo de informações; Por outro lado, a exploração independente muitas vezes levou à aquisição de conceitos imaturos e à negligência de habilidades importantes da escola. A procura por um modelo de aprendizagem alternativo moveu para a frente conceitos como mediação, andaimes, aprendizado e organização de atividades de aprendizagem.

15 A teoria de Vygotsky estipula que o desenvolvimento dos processos mentais superiores da criança

depende da presença de agentes mediadores na interação da criança com o meio ambiente. O próprio Vygotsky enfatizou principalmente ferramentas simbólicas — mediadores apropriados por crianças no contexto de atividades socioculturais particulares, o mais importante dos quais ele considerou a educação formal. Estudantes russos de Vygotsky pesquisaram dois tipos adicionais de mediação — mediação através de outro ser humano e mediação em uma forma de atividade de aprendizagem organizada. Assim, o modelo de aquisição tornou-se um modelo de mediação (...).

se fazer uma aprendizagem sem mediação, o que pode levar à aquisição de conceitos imaturos e à negligência de habilidades importantes.

Potencial de aprendizagem

The history of intelligence testing carries in itself an inherent paradox. On the one hand, one of the most importante aspects of intelligence testing is its ability to predict the future performance of the child. On the other hand, the educational system that from the very beginning has been the major customer of psychometric testing aims at discovering and realizing children’s learning potential, that is, their ability to change under the influence of instruction. The disparity between the stable psychometric properties of intelligence quotient (IQ) testing and the dynamic nature of a child’s learning ability revealed itself in a number of IQ controversies. Gradually, alternative systems of dynamic assessment have emerged (Lidz, 1987; Sternberg & Grigorenko, 2002). What United all these systems was the introduction of the learning phase into the assessment situation. Instead of studying the child’s individual performance, dynamic assessment focuses on the difference between performance before and that after the learning or assistance phase.16 (idem)

Zona de Denvolvimento Proximal (ZDP) é um conceito central no construtivismo interacionista. Segundo Kozulin (2003), o conceito da teoria de Vygotsky refere que a aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial, ou seja, é a distância que vai daquilo que o indivíduo já tem como seu conhecimento e aquilo que ele pode aprender. Para esta teoria, é aqui que está reservada a atuação da educação, partindo do conhecimento do indivíduo, estimulando o desenvolvimento do potencial, ou seja, utilizando a ZDP do indivíduo para o desenvolver. O desenvolvimento do conhecimento potencial torna-o conhecimento real, abrindo,

16 A história dos testes de inteligência traz em si um paradoxo inerente. Por um lado, um dos aspetos

mais importantes dos testes de inteligência é a sua capacidade de prever o desempenho futuro da criança. Por outro lado, o sistema educacional que desde o início tem sido o principal cliente do teste psicométrico tem como objetivo descobrir e dar conta do potencial de aprendizagem das crianças, ou seja, sua capacidade de mudança sob a influência da instrução. A disparidade entre as propriedades psicométricas estáveis do teste de quociente de inteligência (QI) e a natureza dinâmica da capacidade de aprendizagem de uma criança revelou-se em várias controvérsias de QI. Gradualmente, surgiram sistemas alternativos de avaliação dinâmica (Lidz, 1987; Sternberg & Grigorenko, 2002). O que uniu todos esses foi a introdução da fase de aprendizagem na situação de avaliação. Em vez de estudar o desempenho individual da criança, a avaliação dinâmica centra-se na diferença entre o desempenho antes e depois da fase de aprendizagem ou assistência.

assim, lugar para novos conhecimentos potenciais. Este processo feito de forma cíclica resulta no desenvolvimento do indivíduo. No construtivismo de Vygotsky, as interações jogam um papel crucial e determinante. Considera-se conhecimento real aquilo que o sujeito é capaz de fazer sozinho, enquanto o conhecimento potencial é aquilo que o sujeito consegue fazer com a ajuda de outros.

No documento Aprendizagem do Cálculo para economistas (páginas 47-52)