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Contextualização dos resultados na conjuntura pós-moderna

7.3 Interpretação dos Resultados

7.3.1 Contextualização dos resultados na conjuntura pós-moderna

procuramos abordar a temática num espectro amplo e suas implicações à BCI e OC. A terminologia indica por si só uma alteração do atual período em relação à modernidade. Kumar (1997) enfatiza a dimensão temporal, sublinhando que a descrença na verdade e a desconfiança

sobre a razão incide numa grande mistura, tornando passado e presente aceitáveis como referência na construção das inovações. Nossa proposta, assim como a dos dois pensadores considerados neste trabalho, Hjørland e Deleuze, se alinha a essa perspectiva de tempo. Não se busca um progresso ou uma evolução no sentido positivista, como pretendia Paul Otlet, por exemplo. Aceitamos influências medievais, antigas e modernas, também destronamos a razão que buscava descortinar a natureza e descobrir a linguagem universal, uma ontologia primordial do mundo, em favor de escopos específicos e situacionais.

Verificamos que há algum consenso entre os autores que propõem estudar os fenômenos sociais compreendidos nesse cenário. A primeira constatação desse consenso é com relação à informação e ao conhecimento que, com o avanço da modernidade, aumentaram suas vinculações com os processos econômicos e culturais, de modo a tornarem-se fundamentais às nações, sociedades ou grupos na produção de bens de consumo, instâncias burocráticas ou materiais simbólicos. Assistimos ao longo da modernidade a abertura das instituições de informação ao público, que possibilita maior participação das pessoas nas diversas esferas sociais. Vimos, porém, que o acesso às informações não ocorre apenas num sentido, e que novas formas de dominação se consolidam sobre a reunião de dados dos indivíduos, que não são necessariamente disciplinados em instituições, mas que são controlados à distância.

Identificamos que Hjørland desenvolve uma perspectiva de constante transformação. Segundo o autor, um domínio está sempre em transformação, a cada novo participante, a cada nova relação. Para Deleuze, a única forma de dar vazão ao fluxo de vida é pelo atravessamento de linhas de fuga sobre os estratos, de modo a constituir ―o novo‖, a diferença, o pensamento. Ambos os autores resgatam a noção de ―salvação‖ por meio da criação. Somente a novidade é válida diante das vontades de poder, diante das atitudes estanques que, segundo Siqueira (2010), configuram tradições cristalizadas ainda encontradas nos procedimentos técnicos e em posturas profissionais. Assim, quando propomos que os domínios sejam vistos sob a luz do conceito de agenciamento, estamos trazendo à área o devir, isto é, aceitamos a fugacidade que envolve os fluxos informacionais.

O pós-moderno dilui fronteiras de modo a provocar novos acontecimentos, porém sem direcionamento previsto, por isso se caracteriza como uma teoria eclética, sincrética e sintética, aceitando a diversidade cultural sem fazer juízo. Jameson (2005) sublinha a dificuldade em separar ilusão de realidade, devido à inserção da

dimensão simbólica nos espaços mais íntimos da sociedade, desta forma, nos parece necessário reapropriações simbólicas nas esferas minoritárias da sociedade, tal como Kumar relata já como uma evidência. Identificamos essa tendência em Hjørland e Deleuze, pois ambos não fazem universalismos, Hjørland relativiza a produção, circulação e uso da informação em comunidades discursivas, enquanto que Deleuze enxerga as mobilidades das individuações por meio dos fluxos de intensidades. Sobre o pensamento deleuziano, identificamos a "impossibilidade de se pensar a trama social desvinculada dos modos de subjetivação, uma vez que são elementos constituintes entre si e configuram tanto instituições quanto sujeitos." (OLIVEIRA; FONSECA, 2007, p. 133). Nesse âmbito, identificamos também a proximidade desses dois pensadores com a noção de Epistemografia, de García Gutiérrez (2006), quem intenciona a libertação dos saberes colonizados.

Bauman (2003) liquefaz a realidade a fim de revelar a dificuldade de estabelecer conexões duradouras. Na liquidez do mundo, diluem-se sujeito e objeto, fronteiras entre saberes, grandes narrativas, sociedade e indivíduo. Fora o fluxo de variação constante, nada se preserva. Dessa forma, segundo o sociólogo polonês, é inviável desejar formas centralizadas, verticais, estruturas ―arvorescas‖ e imóveis. Os transcendentaisnão escondem mais suas intencionalidades de poder, seja a ideia platônica, Deus ou o homem kantiano. Assim, Bauman destaca o aumento de liberdade de ação, junto com a responsabilidade que oprime as pessoas, tais como os profissionais e os usuários de informação.

Para autores como Bauman, é difícil a renovação de um contra- poder que faça frente aos novos esquemas de organização social em favor da maior distribuição de renda e da expansão de acessibilidade de informação e tecnologias. Todavia, a proposta deleuziana procura justamente eregir novas armas, procurar meios de resistência. Uma BCI e OC renovada pelo pensamento do filósofo passa por essa transformação, de uma renovação por uma nova ética, contextualizada na sociedade pós-moderna.

Nesse bojo, Siqueira (2010) destaca os coletivos pensantes em detrimento dos sujeitos atomizados, Cook (2012) e Frohmann (2009) afirmam uma nova perspectiva sobre a noção de documento, sob influência da virtualidade, sob ação de diferentes agentes e estabelecidos em redes. Somente assim é possível trazer à tona o rico contexto que envolve as ações de informação. Os autores supracitados compreendem o devir documental, já que nada pode ser neutro ou objetivo.

Em relação à caracterização pós-moderna, acreditamos que nosso estudo mostre possibilidades de se pensar de forma mais ampla o conceito de Análise de Domínio proposto por Hjorland, já que não dotamos num sujeito autor ou num sujeito usuário a capacidade de definir por si só os processos de informação. Considerações que não há cisão entre os o ambiente, as comunidades e os indivíduos, que forma fluxos que são atravessados e atravessam as informações, os documentos, as pessoas, as instituições, as burocracias e as inovações. Assim, no quadro 13, identificamos todos estes participantes em atividade. Em suma, trazemos a noção de fluxo, de devir, da diferença, ao coração da Análise de Domínio.