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Vetores de aplicação da Análise de Domínio

Podemos notar que a Análise de Domínio tem muita proximidade com a Epistemologia, contudo, se adentrarmos ao assunto, logo percebemos que outros ramos do saber são importantes fundamentos para ela. Em 2003, Hjørland e Hartel publicaram um artigo intitulado

Afterword: ontological, epistemológico and sociological dimensions of domains, no qual relatam as três dimensões da Análise de Domínio -- a

Ontológica, a Epistemológica e a Sociológica, explicando de que maneira a teoria em questão se relaciona com essas três.

Para Hjørland e Hartel (2003), a Ontologia é o saber que enfoca os objetos, o ser, e está intimamente relacionado à Metafísica. Hoje ela volta à cena, depois de ser colocada à margem das atenções pelo Positivismo, principalmente depois da sua descoberta nas Ciências computacionais, e pode ser fundamental para as Ciências, pois possibilita um olhar sobre os processos sociais entendidos como entes. Nesse sentido, na Análise do Domínio, a Ontologia pode lançar luz

sobre noções como: área, domínio, elementos, campos, objetos, problemas, assuntos, entre outros.

A dimensão Epistemológica é tratada como a mais importante na Análise do Domínio. A Epistemologia é o saber que estuda o conhecimento, sua formação e validade, portanto procura e define as semelhanças entre afirmação e realidade. Assim, essa dimensão interfere diretamente em alguns conceitos centrais na Ciência da Informação, tais como relevância, sistema de classificação, gênero e documento. Hjørland e Hartel (2003) aludem a um discurso de Thomas Khun, que afirma a não adequação da natureza às estruturas conceituais, o que concerne às anomalias. Partindo dessas considerações, o domínio pode ser mapeado pela história do campo, isto é, da soma de seus períodos normais e anômalos, que pode ser visualizado por meio da bibliometria.

Por fim, a Sociologia é a dimensão que lida com a identificação e caracterização das estruturas formais de um domínio. Estas são derivadas da divisão social do trabalho, ou seja, são as disciplinas, as profissões, as comunidades discursivas. É esa dimensão que enfoca a relação entre as comunidades discursivas e os conhecimentos, considerando que a divisão social do trabalho é a origem dos aspectos sociológicos de cada domínio, iluminando as divisões de forças entre os componentes de um domínio.

Abordando essas três dimensões Hjørland pretende solucionar um problema cabal na Ciência da Informação e na Biblioteconomia: a relação entre domínio geral e específico e seus desdobramentos no que tange aos princípios e estratégias de recuperação da informação. Esse problema passa pela necessidade de se ter claras as bases filosóficas e correntes dominantes no domínio em questão, assim como os aspectos sociológicos que determinam as rotinas nesses mesmos. Hjørland e Albrechtsen (1995) destacam a imprescindível presença da visão filosófica e sociológica no reconhecimento do domínio, pois são elas que possibilitam a constituição de uma visão macro do conhecimento, facilitando a identificação dos graus de relevância da informação em determinado domínio, além de revelar as relações entre os grupos de pessoas, as organizações e os saberes.

Hjørland (2002a), Hjørland e Hartel (2003) e Hjørland e Albrechtsen (1995) afirmam que não existe um único modo de realizar a Análise de Domínio, identificando as comunidades discursivas, suas práticas, costumes e produtos, todavia destacam que é a dimensão sociológica que permite o cumprimento dessa empiria.

Hjørland e Albrechtsen (1995) e Hjørland (2013) enfatizam o trabalho do sociólogo da ciência Richard Whitley. Sociólogo

estadunidense criou duas categorias para analisar o grau de desenvolvimento de uma disciplina, que dão conta tanto dos aspectos relativos ao conteúdo quanto aos estruturais (infraestruturais). As categorias são: institucionalização cognitiva e institucionalização social. Há que se destacar que, segundo Whitley (1974), existe uma estreita relação entre as duas facetas.

A institucionalização cognitiva refere-se à clareza com que os cientistas de uma área têm em relação às formulações do campo científico, aos critérios de relevância dos problemas, definição e aceitabilidade de soluções, técnicas e instrumentais utilizados, definindo suas atividades em termos consensuais. O principal aspecto da perspectiva cognitiva diz respeito ao consenso sobre as normas legitimadoras que instauram certos problemas e as técnicas de pesquisa utilizadas no domínio, ou seja, refere-se à definição dos conceitos, metodologias, técnicas e das fronteiras de um campo científico. Assim, tem-se que um consenso mínimo é condição para a existência de uma Ciência. Desta forma, quanto maior a uniformização do conhecimento tácito, maior é o grau de institucionalização cognitiva do campo científico (BAZI, SILVEIRA, 2007; WHITLEY, 1974).

A institucionalização social tende a ocorrer num período posterior à institucionalização cognitiva, sendo nela que se consolida a identidade social, isto é na identificação clara das sociedades profissionais, eventos e periódicos do campo científico. Essa perspectiva refere-se à capacidade de um cientista em definir seu círculo social profissional, distinguindo sua base de outras (WHITLEY, 1974).

É pautando-se em Whitley que Hjørland e Albrechtsen (1995) indicam três principais facetas para o levantamento de informações sobre um domínio, os três articulam-se em torno do conceito de comunidade discursiva: ―estrutura de comunicação‖; ―padrões de comunicação‖ e ―linguagem empregada no domínio‖ (ver figura4).

Fonte: elaboração do autor

Na estrutura de comunicação, os índices a serem identificados num dado domínio são: Quem são os produtores de conhecimento? Quem são os típicos grupos de usuários? Quais são os canais estáveis e instáveis de comunicação?

No que se refere aos padrões de comunicação: Quais ferramentas metodológicas foram emprestadas de outros campos? Quais são as bases filosóficas, as escolas, as correntes e as tendências na área e como elas interferem nas necessidades de informação? Como está o crescimento da área? E a organização da área, como se dá?

A análise sobre a linguagem empregada no domínio dá-se a partir das seguintes questões: Como é o uso da linguagem? Qual a cultura do campo no tocante ao perfil do título, citações, referências e termos indexados? Qual a importância das relações da disciplina com outras áreas na formação de conceitos? Quais e como se apresentam as classificações/taxonomia presentes na área?

Os índices apontados podem ser encaixados nas categorias de Whitley, cognitiva e social. Clareado tais índices, o domínio estará representado e pronto para servir de base tanto para o desenvolvimento de SOCs quanto para a aplicação destes, de maneira coerente com o contexto específico.

O bibliotecário escandinavo nos mostra que a aplicação da Análise de Domínio se relaciona com diferentes interesses da Biblioteconomia e Ciência da Informação. Assim, pode oferecer apoio na construção de um produto informacional qualquer, como pode fazer uso de produtos já existentes para consolidação de sua análise. No artigo chamado de Domain analysis in information Science: eleven

approaches-traditional as well as innovative Hjørland (2002a) descreve

esses relacionamentos, a partir de onze abordagens da Ciência da Informação:

1. Produção de guias literários ou pontos de acesso; 2. Construção de classificações especialistas e tesauros; 3. Indexação e recuperação de especialidades;

4. Empíricos estudos de usuários; 5. Estudos bibliométricos; 6. Estudos históricos;

7. Documento e estudos de gêneros; 8. Epistemologia e estudos críticos

9. Estudos terminológicos, linguagens especializadas, semânticas de base de dados e estudos do discurso;

10. Instituições e estruturas na comunicação científica;

11. Ciência cognitiva, conhecimento especializado e inteligência artificial;

Destacamos que Hjørland (2002a), ao passo que descreve e caracteriza cada uma das abordagens, considera o corpus teórico pouco maduro, reivindicando mais pesquisa para a consolidação dos tópicos, principalmente pelo viés da Análise do Domínio. O pesquisador dinamarquês conclui o artigo ressaltando a importância da estruturação de um subcampo designado pelo mesmo nome de sua teoria, solicitando por periódicos e cursos específicos ao tema.

A proposta de Hjørland se mostra como uma nova perspectiva frente ao paradigma cognitivo da Biblioteconomia e Ciência da Informação, gerando diálogos com os campos da Psicologia Social, a Hermenêutica e a Sociologia do Conhecimento e das Ciências. Hjørland e Albrechtsen (1995) afirmam tal perspectiva como inauguradora do paradigma social da Ciência da Informação, e ratificam o seu afastamento do positivismo e do racionalismo impregnados no paradigma cognitivista, em função de uma abordagem voltada mais ao funcionalismo e pragmatismo americano típicos do século XX

(HJØRLAND; ALBRECHTSEN, 1995; HJØRLAND, 2007; HJØRLAND, 2008; MOSTAFA, 2012).

O paradigma social na BCI centraliza a abordagem pragmática, a qual acaba tornando-se ―um fundamento essencial para o estudo da informação, uma vez que reconhece a dialética do sujeito com o mundo que o cerca‖ (RENDÓN ROJAS,1996apud SALDANHA, 2011, p. 50). Com isso, metodologias qualitativas adquirem maior presença nas pesquisas da área, atentando-se mais às narrativas, assim como as teorias se aproximam mais dos universos das ciências humanas e sociais, elevando o contexto como fundamento para compreensão dos fenômenos e processos informacionais (SALDANHA, 2011).

4.2 Um olhar metodológico sobre a Análise de Domínio

O Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação (PINHEIRO; FERRÉZ, 2014) classifica a Análise de Domínio, sob a classe

organização do conhecimento, como termo relacionado asistemas de organização do conhecimento, o qual é compreendido na categoria Organização do Conhecimento e Recuperação da Informação. O termo

em questão não apresenta nenhum nível hierárquico inferior; além disso, tem ainda mais dois termos relacionados ontologias e paradigmas sociais, conforme demostrado no quadro 3:

Quadro 3: Descritor de Análise de Domínio no Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação