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Organização do conhecimento: um campo científico, um

Podemos perceber basicamente três abordagens sobrepostas, mas distintas em partes na OC. São enunciados que delimitam fronteiras e concorrem em espaços entre os integrantes da multidisciplinar comunidade científica relacionada ao campo. A primeira perspectiva que abordamos advém principalmente de Dahlberg e seu esforço na construção de instituições e métodos à OC. Nesse sentido, essas instituições delimitam o nascimento de uma disciplina considerada autônoma e multidisciplinar. A segunda abordagem enfoca o processo, a tarefa de lidar com os problemas empíricos de sistematizar informações documentárias visando sua disponibilização. Por fim, há um enunciado em favor da compreensão da OC, enquanto um conjunto de teoria e prática, como subdisciplina da Biblioteconomia e Ciência da Informação. Primeiramente, mostraremos como Otlet e Bliss significaram o conceito de OC para então seguir na exposição das duas abordagens.

O termo ―organização do conhecimento‖ aparece primeiramente em artigo publicado em 1903 por Otlet, antes da consolidação do que o belga reconheceria como documentação. Otlet propôs que a organização de documentos se desse não mais pelas unidades documentais, mas por partes menores, isto é, por elementos contidos nos documentos, o que ele chamou de unidade de informação. Para o visionário documentalista, conhecimento é tudo aquilo que se sabe sobre objetos do mundo externo ou do pensamento, que são reconhecidos como fatos ou ideias, os quais podem ser estruturados conceitualmente e registrados em documentosque refletem a perspectiva de seu autor. Caberia então ao documentalista, o trabalho analítico de extração dos componentes informativos relevantes desses documentos, as unidades de informação, e seus reagrupamentos em fichas passíveis de se relacionarem mediante àsremissivas e que remeteriam aos documentos portadores de tais assuntos (MURGUIA; SALES, 2013).

A documentação seria responsável pela organização das informações contidas nos documentos, e não apenas pela organização dos documentos. Há um processo mais complexo, que exige um trabalho analítico e que finda com a construção de um sistema de cartões padronizados e alocados em fichários (gavetas) em mobiliários específicos e classificados num esquema baseado em assunto. Mas isso não representaria a OC. Para Otlet a OC remete a um aspecto mais amplo e externo à Documentação, refere-se à organização dos conhecimentos empreendida pelas sociedades, congressos, ensino, as discussões e avanços científicos (MURGUIA; SALES, 2013).

Henry Bliss foi quem conferiu maior destaque ao termo ―organização do conhecimento‖. O bibliotecário americano concebeu a classificação bibliográfica baseada no subject approch to knowledge, trazendo um modelo para as bibliotecas que vai do universal ao particular, buscando unir o conhecimento teórico e a experiência e oferecendo subsídios para o desenvolvimento do próprio conhecimento científico. Para Bliss, a organização do conhecimento não é restrita a um processo mental sintético de conhecimento, mas também é a correlação intelectual e a sistematização de conhecimentos válidos provindos de sistemas complexos como a Ciência e a Filosofia. Mas o autor lembra que este não é um problema exclusivo da Biblioteconomia, da Ciência ou da Filosofia (MURGUIA; SALES, 2013).

Assim, Bliss parte da noção biológica de ―organização‖ remetendo a sistema enquanto um conjunto que comporta diversos órgãos em funcionamento cooperativo e eficiente, de modo que a OC implica numa estrutura, numa função e num desenvolvimento progressivo. Já por conhecimento, Bliss defende uma compreensão também orgânica, como existência objetiva no cérebro, mas podendo também ser entendido como impressões da memória, da experiência, de um ato de compreensão, além de sua relação com a subjetividade e o social(MURGUIA; SALES, 2013).

A OC existe por meio de diferentes órgãos e instituições, tais como as revistas científicas, as bibliotecas e outras diversas organizações, e teria a função de organizar e de promover o desenvolvimento da sociedade. A esse domínio é inerente a atividade de classificar, a qual se baseia num possível consenso e que se sustenta em dois princípios básicos: a subordinação de assuntos pela diferença específica e a alocação de assuntos disposta segundo uma conveniência em prol da eficiência. Assim a OC pode ser dividida em cinco classes, como demonstra Bliss (1929 apud MURGUIA; SALES, 2013, p. 453):

1) a organização mental ou psicológica, manifestada na síntese individual dos sujeitos; 2) a organização social do conhecimento e do pensamento de uma comunidade; 3) a organização do conhecimento de uma ideia ou um tópico expressado em um livro ou em outras formas linguísticas; 4) a organização do conhecimento de um campo específico de saber ou em um tipo de livro, de uma biblioteca especializada ou de uma exibição de museu; 5) a organização social do conhecimento de muitos ou de todos os campos

do conhecimento considerados dentro de um sistema conceitual, em uma enciclopédia ou em uma biblioteca.

Além disso, Bliss também descreve as agências que se propõem a organizar e comunicar o conhecimento, que se dividem em cinco estágios (BLISS, 1929 apud MURGUIA; SALES, 2013, p. 453): ―1) descritivo ou exibitório, 2) classificatório ou analítico, 3) sintético ou sistemático, 4) educacional ou cultural e 5) bibliotecológico ou bibliográfico‖. Dessa forma, Bliss considera que há uma linha contínua ou uma organicidade que inter-relaciona a OC num espectro amplo com um mais restrito, como é o caso da classificação bibliográfica. Assim o bibliotecário americano advoga por uma classificação nas bibliotecas que se paute nos assuntos, tomando por base o relacionamento lógico entre estes, conforme previamente direcionado pelas próprias classificações filosóficas e científicas. (MURGUIA; SALES, 2013)

O conceito de OC tratados por Otlet e Bliss é fundamental para o surgimento da concepção posta por Dahlberg e mais tarde reafirmada com Hjørland.

A perspectiva que trata da OC como instituição é sacramentada por Ingetraut Dahlberg. Com formação que abrangeos campos da Filosofia, História, Linguística e Biologia, a alemã recebeu o título de doutora em Filosofia em 1973, com trabalho sobre fundamentos da classificação universal do conhecimento. Na década de 1970, concebeu seu próprio sistema universal de classificação, a Information Coding

Classification, mesmo período em que desenvolveu talvez sua maior

contribuição à área, a teoria do conceito.

Ela foi uma das principais responsáveis por criar um movimento de institucionalização autônoma da OC. Se desligando da Society for

Classificaton, a qual era composta principalmente por cientistas com

formação mais matemática, em 1989 Dahberg funda a Intenationl

Society for Knowledge Organization (ISKO), referindo-sea ao termo que

Henry Bliss já utilizara 60 anos antes. Além disso, também fundou o periódico Iternational Classification em 1974, que passou a se chamar

Knowledge Orgnization em 1993. (DAHLBERG, 2006).

Ambas as instituições são importantes marcos no reconhecimento da OC como área autônoma. A ISKO congrega pesquisadores interessados no assunto, ao passo que a revista é o espaço de publicação do tema. Segundo Murguia e Sales (2013, p. 447), a pretensão dessa instituição é a ―pesquisa e a aplicação da organização do conhecimento para o próprio ordenamento do conhecimento‖. Guimarães (2008, p. 88-

89) afirma a importância dessa instituição e sua tarefa de trabalhar práticas e teorias de uma perspectiva própria à OC, unindo abordagens vindas da Filosofia e as experiências práticas:

Observa-se, destarte, que, com a criação da ISKO, a área de organização do conhecimento transcende a condição de necessidade pragmática para o universo documental para, como campo de reflexão e produção teórica, constituir um amplo e representativo fórum científico internacional. Assim, a ISKO vem buscando aliar tanto a abordagem herdada, dentre outros, de Aristóteles, Platão, Porfírio, Bacon, Harris e Comenio (visando à sistematização, consolidação e transmissão de um conhecimento enquanto conjunto de saberes verificável em uma dada sociedade em um dado momento histórico), com a necessidade de natureza mais pragmática de resgate do conhecimento registrado em documentos, para fins de acesso e recuperação (Calímaco, Dewey, Otlet e La Fontaine, etc). Ao longo de sua existência a ISKO se expandiu em formas de capítulos nacionais e regionais, contando hoje com mais de seiscentos membros de mais de cinquenta países das mais diversas áreas de conhecimento, tais como Filosofia, linguística, computação, Ciência da Informação, etc. Seus capítulos são realizados atualmente no Brasil, Canadá, Estados Unidos, China, Alemanha, Índia, Irã, Itália, Maghreb (Árgélia, Tunísia e Marrocos), Polônia, Espanha, Portugal, Reino Unido, além de correspondentes na Áustria, Hungria, Geórgia, Norte da Europa, Romênia, Rússia e Eslováquia. (ISKO, 2015).

Conforme consta no site da ISKO (2015), sua missão institucional consiste ―to advance conceptual work in knowledge organization in all kinds of forms, and for all kinds of purposes, such as databases, libraries, dictionaries and the Internet‖, e seus objetivos são:

 Promote research, development and applications of knowledge organization systems that advance the philosophical, psychological and semantic approaches for ordering knowledge;

 Provide the means of communication and networking on knowledge organization for its members;

 Function as a connecting link between all institutions and national societies, working with problems related to the conceptual organization and processing of knowledge.

O periódico Knowledge Organization é o principal canal de divulgação de pesquisas realizadas pela comunidade científica da área, e atualmente ela é indexada pelas bases de dados Social Sciences Citation

Index, Web of Science, Information Science Abstracts, INSPEC, Library and Information Science Abstracts (LISA), Library, Information Science & Technology Abstracts (EBSCO), Library Literature and Information Science (Wilson), PASCAL, Referativnyi Zhurnal Informatika, and Sociological Abstracts. O escopo atendido pela revista se delimita por

artigos originais e que se enquadrem nas seguintes abordagens temáticas:

(1) clarify theoretical foundations (general ordering theory, philosophical foundations of knowledge and its artifacts, theoretical bases of classification, data analysis and reduction); (2) describe practical operations associated with indexing and classification, as well as applications of classification systems and thesauri, manual and machine indexing; (3) trace the history of knowledge organization; (4) discuss questions of education and training in classification; and (5) problems of terminology in general and with respect to special fields.

O nome da área combina dois termos que juntos indicam sua atividade e seu objeto de estudo, assim, segundo Dahlberg (2006), OC implica num procedimento que se desenvolve a partir de um plano visando a construção de um conhecimento. O objeto da área é definido como:

Knowledge is the subjectiv and objectively fairly well-founded certainty of somebody about the existence of a factor a matter. This knowledge is a not transferible, it can only be elaboraes by somebody‘s own personal reflection. (DAHLBERG, 2006, p.12).

A partir dessa definição a pesquisadora alemã afirma que o conhecimento pode ser compartilhado por meio da linguagem, pela

expressão de signos que o representam e que podem ser comunicados e compreendidos. Nesse ponto, Dahlberg reafirma que a OC é uma Ciência da linguagem, pois seu trabalho se dá sobre os conhecimentos comunicados. A área lida com quatro diferentes aspectos do conhecimento: os elementos do conhecimento (referem-se às características de conceitos); as unidades do conhecimento (são os conceitos representados pelos signos); amplas unidades do conhecimento (combinações de conceitos em uma definição, em um texto); e sistemas de conhecimento (que são estruturas coerentes e planejadas de conceitos) (DAHLBERG, 2006), mas a principal pretensão da área é lidar com o conhecimento em ação, ―como algo que existe em certo consenso social, um conhecimento registrado e socializado que conduzirá a uma organização e representação do conhecimento‖ (BOCCATO, 2011, p. 10), possibilitando, com base nele, a produção de novos saberes.

Para a autora alemã, todo o trabalho da OC parte do conceito, pois ele é a unidade mais elementar do pensamento, mas não qualquer conceito, somente aqueles ―plenamente descritíveis ou definíveis‖ (DAHLBERG, 1978, p. 11). Deles que se extraem os predicados, características dos conceitos, e ambos, conceito e seus predicados ―devem orientar-se pelo postulado da verdade, isto é, devem corresponder à realidade e ser verificáveis‖ (DAHLBERG, 1978, p. 12). ―Conceito é a unidade de conhecimento que surge pela síntese dos predicados necessários relacionados com determinado objeto e que, por meio de sinais linguísticos, podem ser comunicados‖. (DAHLBERG, 1978, p. 12)

Os conceitos são definidos por suas características, as quais podem ser de três tipos: essencial, acidental e individualizante. Além disso, os conceitos se relacionam entre si de quatro formas distintas: relação gênero-espécie; relação partitiva; relação de oposição; e relação sintagmática ou funcional. Por meio da classificação que fazemos sobre um conjunto de conceitos se constrói relações semânticas entre eles e a especificidade, similaridade e a diferença específica possibilitam a formação de classes. Com base nessas atividades se pode construir sistemas de classificação, tanto os baseados em classes numéricas, como os fundamentados em índex (DAHLBERG, 2006).

Além disso, Dahlberg (1993) desenvolveu uma taxonomia para a área, que serve também para orientar os assuntos no periódico

Knowledge Organization, ordenando as publicações da área. Seguem as

Classe 0 – Divisão de Forma

Classe 1 – Fundamentação Teórica e Problemas Gerais da OC

Classe 2 – Sistemas de Classificação e Tesauros: Estrutura e Construção

Classe 3 – Metodologia de Classificação e Indexação

Casse 4 – Sistemas de Classificação Universal Classe 5 – Sistemas de Classificação de Objetos Especiais (Taxonomia)

Classe 6 – Sistemas de Classificação de Assuntos Especiais

Classe 7 – Representação do Conhecimento pela Linguagem e Terminologia

Classe 8 – Aplicações de Classificação e Indexação

Classe 9 – Contexto da Organização do Conhecimento

Essa é basicamente a apresentação que Dahlberg faz da OC. A autora sempre deixa claro que as bases do campo foram fundadas por Ranganathan, um dos maiores pensadores da Biblioteconomia, e Wüster, fundador da terminologia (DAHLBERG, 1993; 2006). Hjørland parece compactuar com Dahlberg em sua abordagem da OC, como veremos à frente.

Além dessa perspectiva, a OC pode ser vista como processo. Segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa (HOUAISS, 2009, p. 1555), processo é: ―1) ação continuada, realização contínua e prolongada de alguma atividade; seguimento, curso decurso‖, ou ―2) sequência continuada de fatos e operações que apresentam certa unidade ou que se reproduzem com certa regularidade, andamento, desenvolvimento, método‖, ou ainda ―3) modo de fazer alguma coisa; método maneira, procedimento‖. Assim, essa abordagem se apresenta com caráter mais voltado às práticas concretas de da OC, que em dada instância pode ser designada como OI, como apontam Bräsher e Café (2010), já que entendemos aqui essas ―práticas concretas‖ como ações de classificar ou indexar documentos.

Nesse sentido, verifica-se que grande parte dos pesquisadores da área vinculam estes processos à cultura escrita. Assim, os estudos da linguagem verbal passam a ressoar de maneira significativa na área de OC, como já é notável no próprio pensamento da Dahlberg que, embora destaque o conceito enquanto unidade do pensamento, já abria caminho

para uma possível abordagem mais estruturalista com base na linguagem verbal.

Constituiu-se assim outra abordagem, diferente da teoria do conceito de Dahlberg (1978) no que se refere à terminologia e forma de aplicação. Essa outra abordagem é de origem francesa, segundo Guimarães (2008), e, diferentemente da teoria de Dahlberg, não enfoca a dimensão dos conceitos enquanto as unidades do pensamento, mas sim o conteúdo a partir dos estudos da linguagem, visando à construção das

linguagens documentárias. Percebe-se que tanto sob a perspectiva do

conceito, quanto à da perspectiva francesa, a intenção é a mesma, a partir dos documentos, formular representações sobre o que é abordado por eles, de modo a garantir a recuperação da informação. Desse modo, o que difere são os olhares, os métodos e os termos.

Souza (1998) mostra que o processo de organizar o conhecimento registrado é uma atividade que não é exclusividade do profissional bibliotecário ou cientista da informação, pois são diversas as profissões que necessitam em suas rotinas de uma sistematização documental a fim de tornar mais eficiente o armazenamento e acesso à informação. Tal processo é feito dentro de uma historicidade, na qual a OC está relacionada com o surgimento da escrita.

Historicamente, o que se encontra documentado é a vinculação original, tanto da escrita quanto da organização, dos materiais escritos à atividade fiscal e comercial dos antigos pontentados. Isso sugere que o nascimento da escrita foi decorrência dos controles fiscais, financeiros e da coordenação e controle do fornecimento e compras de mercadorias pelo palácio. A mesma vinculação dar-se-ia em relação aos templos. Desse modo, tanto a escrita como sua difusão (que se dá pela educação), sua conservação (que se dá pelo registro) e sua permanência (que se dá pela guarda de documentos) se vinculam a plano mais imediatamente material da sobrevivência do homem. (SOUZA, 1998, p. 21)

Souza (1998) indica que diferentes grupos humanos usavam a escrita para fins econômicos-financeiros-culturais, sendo que cada um desses grupos apresenta diferentes modos de organizar o conhecimento/informação, relativos às necessidades concretas e contextuais. Nesse sentido, Souza (1988, p. 39) afirma que a

organização de documentos por meio a representação simbólica de seus conteúdos ―tem sempre a finalidade de atender, predominantemente, ao interesse da organização de setores dirigentes da sociedade‖ e, desta forma, cabe destacar que cada instituição e seus respectivos públicos, assim como o tamanho e o tipo de acervo, vão interferir diretamente nas formas de organização dos documentos. Ainda, o autor ratifica a organização de documentos como um processo prático quando levanta as seguintes perguntas: ―1) para quem organizar?; 2) por que organizar?; 3) o que organizar?; 4) como organizar?; 5) quando organizar?; 6) onde organizar?‖. (SOUZA, 1998, p. 58).

Sob esse olhar histórico colocado por Souza, é destacada a importância das instituições e as relações sociais de poderes que são inerentes ao ato de organizar a informação e o conhecimento, porém o autor não considera na sua perspectiva todo o esforço feito pelos antigos e medievais no intuito de ordenar o conhecimento ainda à luz da cultura oral.

Ao nos aproximar da ação de classificar, condensação de textos, catalogação ou indexar documentos, percebemos que não há consenso em como designar tais ações. Às vezes, aparece na área o termo ―organização do conhecimento‖ (GONZÁLEZ DE GOMÉZ, 1996; HJØRLAND, 2002a; 2008a; 2013a) para denominá-las, sem preocupação com a polissemia referente à noção mais ampla que compreende o campo científico ou com o fazer mais genérico de ordenar conceitos. Segundo Hjørland (2008a apudBRÄSCHER; CAFÉ, 2010, p. 92) ―o processo de organização do conhecimento, no sentido restrito usado na Ciência da Informação, compreende a elaboração de resumos, a catalogação, a classificação, a indexação, o estabelecimento de elos, etc‖. Outros autores preferem os termos ―tratamento temático da informação‖ (BARITÉ, 2011, 2013; GUIMARÃES, 2008; 2009) ou ―organização da informação‖ (BRÄSCHER; CAFÉ, 2010; CAFÉ; SALES, 2010; SALES, 2014) para designar essas mesmas atividades.

Segundo Barité (2013, s/p.) os processos de Tratamento Temático da Informação visam ―representar temáticamente y recuperar la información contenida en documentos de cualquier índole, por médios eficientes que den respuesta rápida a las necesidades de los usuarios.‖

Bräsher e Café (2010) diferenciam os conceitos de ―organização do conhecimento‖ e ―organização da informação‖. Segundo as pesquisadoras, ―informação e conhecimento possuem características que os distinguem e que permitem delimitar a utilização dos termos organização da informação e organização do conhecimento‖. (BRÄSHER; CAFÉ, 2010, p. 91).

Com base na definição de informação de Fogl (1971 apud BRÄSHER; CAFÉ, 2010), para quem à vê constituída sobre três elementos: conhecimento (conteúdo da informação), a linguagem (instrumento de expressão de itens de informação); e suporte (objetos materiais ou energia), Bräsher e Café (2010) colocam que a OI se dá por meio da descrição física e da descrição de conteúdo dos objetos informacionais. Embora a descrição de conteúdo se faça sobre o que Fogl chamou de conhecimento, ela delimita suas possibilidades de representação pelo universo de expressão do autor do registro informacional, assim como nas necessidades dos usuários potencias. A descrição física direciona-se ao suporte da informação e, dessa maneira, a linguagem permearia as duas descrições.

Complementarmente, a OC paraBräsher e Café (2010, p. 95) é o ―processo de modelagem do conhecimento que visa a construção de representações do conhecimento‖, sendo a base desse processo o conceito, suas características e suas relações com os demais conceitos que são reunidos numa estrutura sistematicamente organizada. Diferentemente da descrição de conteúdo, o processo de OC não se limita ao universo de expressão de um autor particular, nem somente nas necessidades dos usuários, ela se pauta numa Análise de Domínio, procurando ―refletir uma visão consensual sobre a realidade que se pretende representar‖. (BRÄSHER; CAFÉ, 2010, p. 93).

Assim, a OC é entendida como um processo que resulta numa representação do conhecimento:

Delineamos a OC como o processo de modelagem do conhecimento que visa a construção de representações do conhecimento. Esse processo tem por base a análise do conceito e de suas características, para o estabelecimento da posição que cada conceito ocupa num determinado domínio, bem como das suas relações com os demais conceitos que compõem esse sistema nocional. (BRÄSHER; CAFÉ, 2010, p. 95). Pela perspectiva das pesquisadoras acima referidas, as representações do conhecimento são os sistemas de organização do conhecimento (SOC). A OC é da dimensão das ideias ou da cognição, diferentemente da OI que se preocupa com os registros físicos, com o mundo dos objetos físicos. (BRÄSHER; CAFÉ, 2010).