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2 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR: CONHECIMENTO, COMPETÊNCIAS E ATITUDES.

2.2 Contextualizando a Docência no Ensino Superior

No sentido etimológico, docência tem origem no latim – “docere”– que significa ensinar, instruir, mostrar, indicar, dar a entender. Conforme Araújo (2004), o termo na Língua Portuguesa é datado de 1916, o que implica dizer que a utilização, ou melhor, a apropriação do termo não é algo novo no espaço das reflexões sobre educação.

De acordo com Veiga (2005) há necessidade de se fazer uma reflexão sobre o que é docência no Ensino Superior para posteriormente abordar a temática propriamente dita da tese de doutoramento em questão.

No sentido formal, docência é o trabalho dos professores; na realidade, estes desempenham um conjunto de funções que ultrapassam as tarefas de ministrar aulas. As funções formativas convencionais como: ter um bom conhecimento sobre a disciplina; como explicá-la foram tornando-se mais complexas com o tempo e com o surgimento de novas condições de trabalho.

Zabalza (2004) atribui três funções aos professores universitários: o Ensino (docência), a Pesquisa e a Administração em diversos setores da instituição. Acrescenta-se ainda a função de Orientação Acadêmica: monografias, dissertações e teses. Porém, novas funções agregam-se a estas, tornando mais complexo o exercício profissional:

O que alguns chamaram de business (busca de financiamento, negociação de projetos e convênios com empresas e instituições, assessorias, participação como especialistas em diversas instâncias científicas, etc.). E as relações institucionais (que são entendidas de diferentes maneiras: da representação da própria universidade nas inúmeras áreas em que é exigida até a criação e a manutenção de uma ampla rede de relações com outras universidades, empresas e instituições buscando reforçar o caráter teórico e prático da formação e, em alguns casos, seu caráter internacional) (ZABALA, 2004, p.109).

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN nº 9.394/96, o art. 13 estabelece as seguintes responsabilidades aos professores:

a) Participar da elaboração do Projeto Pedagógico do Curso ao qual pertencem. b) Elaborar e cumprir o Plano de Disciplina.

c) Zelar pela aprendizagem dos alunos.

d) Estabelecer estratégias de recuperação para alunos com dificuldades de aprendizagem.

e) Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos pela legislação em vigor. f) Participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e

35 Não há dúvida de que se está diante de um processo de ampliação do campo da docência universitária. Neste sentido, ao considerar a docência como uma atividade especializada, defendendo sua importância na abrangência da visão profissional. Assim, uma das características fundamentais circula em torno da docência como profissão e isto se opõe à visão não profissional. A profissão é uma palavra de construção social. É uma realidade dinâmica e transitória, calcada em ações coletivas. É produzida pelas ações dos atores sociais, no caso, os docentes universitários.

A docência requer formação profissional para seu exercício: conhecimentos específicos para exercê-lo adequadamente ou, no mínimo, a aquisição dos conhecimentos e das habilidades vinculadas à atividade docente para melhorar sua qualidade.

A docência universitária exige a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão.

Faz parte dessa característica integradora a produção do conhecimento bem como sua socialização. A indissociabilidade aponta para a atividade reflexiva e problematizadora do futuro profissional, articulando: componentes curriculares, projetos de pesquisa e de intervenção, levando em conta que a realidade social não é objetivo de uma disciplina e isso exige o emprego de uma pluralidade metodológica.

A Pesquisa e a Extensão indissociadas da Docência necessitam interrogar o que se encontra fora do ângulo imediato de visão. Não se trata de pensar na Extensão como diluição de ações - para uso externo - daquilo que a universidade produzir de bom.

O conhecimento científico produzido pela universidade não é para mera divulgação, mas é para a melhoria de sua capacidade de decisão.

Outra característica da docência universitária está ligada à inovação quando:

 Rompe com a forma conservadora de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar.  Ressignifica saberes, procurando superar as dicotomias entre conhecimento

científico e senso comum, ciência e cultura, educação e trabalho, teoria e prática, entre outras.

 Explora novas alternativas: teóricas e metodológicas em busca de outras possibilidades de escolhas.

 Procura a renovação da sensibilidade ao alicerçar-se na dimensão estética, no novo, no criativo, na inventividade.

Formar professores universitários, portanto, implica compreender a importância do papel da docência, propiciando profundidade científica e pedagógica que os capacitem a enfrentar questões fundamentais da universidade como instituição social, prática social que implica as ideias de formação, reflexão e crítica.

Mediante toda esta reflexão, a aprendizagem é um processo complexo, que leva à construção de memórias. Aquilo que se aprende e depois se esquece, é como se nunca tivesse acontecido; o conjunto de coisas de que se lembra, constitui a identidade (constitui o “apreender”; aplicar em outras situações; transformar; assimilar; acomodar; tornar o conhecimento seu) (ANASTASIOU, 1998).

Como refere Izaquierdo (1997), se não se lembra de nada, não será ninguém. Aprende-se lendo, ouvindo, errando, na prática, vivenciando situações observando os outros. Inúmeras são as formas de apreender e cada pessoa se vê única nesse processo e os professores precisam saber e aceitar essa realidade, pois também em vários momentos são estudantes no dia a dia de sua práxis (ANASTASIOU, 1997).

Aprendizagem pode ser assim pensada como um processo de mudança provocado por estímulos diversos, mediado por emoções, que podem vir ou não a manifestar- se em mudança no comportamento da pessoa, pois as pessoas se lembram com mais facilidade do que lhe despertou sentimentos positivos, do que aquilo que lhe despertou sentimentos negativos ou indiferentes. As emoções contribuem fortemente na motivação para aprender; parecem dar cor e sabor ao que aprende (FLEURY e FLEURY, 2001).

Ensinar é uma realidade difícil que pode ser questionada e pesquisada não só pela constatação de atos perceptíveis durante sua execução, em suas modalidades, sucessos e fracassos, mas também pela reflexão que causa sobre o seu significado na formação da personalidade e suas consequências para a vida social dos que aprendem. É um fenômeno de natureza relacional.