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TRANSDISCIPLINAR NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DA ÁREA DE SAÚDE

5. EMPODERAMENTO E RESILIÊNCIA NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR

5.5 Contextualizando o Conceito de Resiliência na Formação de Professores da Área de Saúde

Relativamente ao enfoque da resiliência em saúde e educação encontram-se aplicações temáticas relativas à gestão de uma faculdade (SILVA, 2009), à resiliência em estudantes (PELTZ, MORAES e CARLOTTO,2010), à resiliência no quadro da educação acadêmica(FAJARDO, MINAYO e MOREIRA, 2010, 2013), à resiliência e ao desporto enquanto ferramentas educacionais (SANCHES e RUBIO, 2011), bem como à resiliência em ligação com a violência na Faculdade (CHRISPINO e GONÇALVES, 2013).

Quanto à percepção de resiliência, observa-se que – tanto no sobre a ótica em que

resiliência e saúde, como na resiliência, saúde e educação – a ênfase incide na consideração

de atitudes positivas decorrentes de fatores intrapsíquicos que favorecem o enfrentamento de adversidades e as possíveis transformações das pessoas no sentido de as tornarem mais fortalecidas pelo desafio, concorrendo, portanto, de modo significativo, para a área da saúde, qualidade de vida e bem estar subjetivo. Predomina também a tomada em consideração do caráter relacional e interativo da resiliência, o qual parece ser favorecido por fatores sociais decorrentes de atitudes da faculdade ou dos grupos de apoio de que os professores dispõem.

161 Os movimentos construtivos como diferentes momentos da carreira docente, envolvem uma trajetória vivencial dos professores o modo como articulam o pessoal, o profissional e o institucional e, consequentemente, como vão se (trans)formando no decorrer do tempo permite ou não que se transformem em professores resilientes.

Tais movimentos carregam as singularidades de cada docente e de como ele interpreta o conhecimento que se torna “seu”. Eles não se apresentam de forma linear, mas correspondem a momentos de ressignificação, responsáveis pelos novos percursos que podem ser trilhados pelos docentes se acordo com as Formações Continuadas das quais participam e que os fazem refletir sobre suas posturas e sobre os seus (pré)conceitos (ISAIA; BOLZAN, 2009; ISAIA, 2010; ISAIA; BOLZAN; MACIEL, 2010).

O conceito resiliência, segundo Silva e Mott (apud SACHUK e CANGUSSU, 2008) tem origem na Física e na Engenharia, associado à capacidade máxima de um material de suportar tensão sem se deformar de maneira permanente.

Pinheiro (2004) diz que para captar como esta propriedade foi transformada em conceito por outras áreas do conhecimento, neste contexto, na Área da Saúde, é necessário conhecer a etimologia da palavra, que tem origem no verbo (em latim) repeliu (ri+Célio), que significa saltar para trás, voltar, ser impelido, recuar, retirar-se sobre si mesmo, encolher, desdizer-se, romper. Pinheiro (2004) relata ainda que a palavra resiliente tem origem inglesa, remete à ideia de elasticidade e capacidade rápida de recuperação.

Tavares (2001) apud (PINHEIRO, 2004, p. 101) enxerga a resiliência sob três pontos de vista:

A física, o médico e o psicológico. Na física a resiliência é a qualidade de resistência de um material ao choque, à pressão, a qual lhe permite voltar, sempre que é forçado, à sua forma ou posição inicial – por exemplo, uma barra de ferro, uma mola, elástico etc. No médico, a resiliência seria a capacidade de um sujeito resistir a uma doença, a uma infecção, a uma intervenção, por si próprio ou com a ajuda de medicamentos. E, no psicológico, a resiliência também é uma capacidade de as pessoas resistirem às situações adversas de perder o seu equilíbrio inicial, isto é, a capacidade de se reequilibrar constantemente.

O mesmo autor afirma que o desenvolvimento da resiliência nas pessoas faz com que descubram suas capacidades de ser, estar, ter, poder e querer, ou seja, melhorar sua autorregulação e autoestima, tornando-as mais confiantes para enfrentar as situações adversas que possam ter, ou seja, ter capacidade de flexibilidade ao “novo” que vem a ser o “magistério na Educação Superior”.

Tavares (2001) apud (PINHEIRO, 2004) ainda desenvolveu a tese de que a resiliência não deve ser apenas um atributo individual, mas pode estar presente nas

instituições, gerando uma sociedade mais resiliente. Para ele, uma instituição resiliente é uma instituição inteligente, nem todas as pessoas são inteligentes, livres, responsáveis, competentes e funcionam numa relação de confiança, empatia e solidariedade. “Trata-se de instituições vivas, dialéticas e dinâmicas cujo funcionamento tende a imitar o do próprio cérebro que é altamente democrático e resiliente” (PINHEIRO, 2004, p.102).

De forma parecida, Sachuk e Cangussu (2008) afirmam que o termo resiliência é utilizado sempre com a ideia de designar a capacidade de resistir, ou como força necessária para saúde mental durante a vida.

A resiliência é um conjunto importante, com múltiplas possibilidades de aplicações, uma vez que pode contribuir para uma maior compreensão acerca do processo de produção de saúde que se desenvolve em meio à aparente desorganização provocada, muitas vezes, pelas adversidades com as quais os seres humanos se deparam ao longo de sua existência. Apesar do conhecimento já produzido, não existe, ainda, uma definição de consenso acerca da resiliência, e sua operacionalização constitui um desafio com que se deparam os pesquisadores, em alguma etapa de seus estudos. Trata-se de um conceito ainda permeado de incertezas e controvérsias pelas suas várias subjetividades. (SILVA, 2003, p. 147).

A resiliência traduz conceitualmente a possibilidade de superação no sentido dialético, representando não uma eliminação, mas uma ressignificação do problema, neste caso, ressignificar a possibilidade de além de ser profissional da Saúde se tornar Professor da Saúde, como sugere Junqueira e Deslandes (2003).

Para Cyrulnik (2003) apud (SILVA, 2003, p. 150):

Nesta mesma linha de concepção acerca da resiliência enfatiza a idéia de processo, considera que a resiliência traduz um conjunto de fenômenos articulados entre si, que se desenrolam, ao longo da vida, em contexto afetivo, social e cultural, podendo ser metaforicamente comparado à arte de navegar em meio à tempestade. É, pois, uma história que constrói, cotidianamente, desde o início da vida, a cada ação, a cada palavra, num longo processo que se inscreve em um contexto específico e se reconstrói de forma coletiva, ao longo do tempo, na qual o ambiente e tudo que o compõe são coautores. A realidade em que o sujeito vive pode ser ameaçadora, colocando em risco a qualidade de seu viver e fazendo-o sofrer, mas ele consegue encontrar recursos que o ajudam a avançar e prosseguir. Para esse autor, a resiliência se refere muito mais à evolução a história de um sujeito do que a ele mesmo. É, portanto, o caminho construído que é resiliente. (SILVA, 2003, p. 150).

Cada pessoa tem um modo próprio de lidar com sua resiliência, que varia de acordo com a situação. Apesar de nascer resiliente, a maneira como cada pessoa vê e recebe os momentos ruins pode destruir essa habilidade natural. Pobreza, doença, abusos, dificuldades implacáveis e grandes perdas podem prejudicar a capacidade de melhorar. No entanto, mesmo em meio a todas as dificuldades, o que mais determina a resiliência é a forma como a situação é vista e o que ela vai significar. Ser resiliente significa não negar a realidade

163 da situação, não desejar que ela seja diferente e não se enxergar como vítima (RIECKEN, 2006).

Barlach (2005, p.106) afirma que:

A resiliência pode ser definida como a construção de soluções criativas diante das adversidades presentes nas condições de trabalho e dos negócios da sociedade atual, da qual resulta um duplo efeito: a resposta ao problema em questão e a renovação das competências e do elo vital dos indivíduos. ‘ A resiliência envolve não somente o controle sobre a situação, mas um determinado reforço para que o individuo siga lutando por novos resultados pessoais e pelos perseguidos por seu grupo de trabalho’.

Segundo Barlach et. al. (2008) o termo resiliência no contexto do trabalho nas organizações refere-se à existência – ou à construção – de recursos adaptativos, de forma a preservar a relação saudável entre o ser humano e seu trabalho em um ambiente em transformação, permeado por inúmeras formas e rupturas.

Carmello (2004) pontua de acordo com os estudos em Administração o comportamento das pessoas resilientes são: autoconfiáveis; enfrentam desafios; tem auto extroversão; emocionalmente inteligentes e organizados; criativos; responsáveis; proativos; dispostos; eficientes e sonhadores.

Para Melillo et. al. (2005, p.62) os pilares da resiliência são:

Introspecção: é a capacidade que o individuo tem para se auto-avaliar interiormente e intelectualmente.

Independência: capacidade de comandar sua própria vida. Saber fixar limites entre si mesmo e o meio com problemas; capacidade de manter distância emocional e física, sem cair no isolamento.

Capacidade de se relacionar-se: facilidade e agilidade de estabelecer relacionamentos com outras pessoas equilibrando suas próprias necessidades de afeto com esses relacionamentos.

Iniciativa: ser capaz de tomar decisões rápidas e espontâneas.

Humor: encontrar o cômico na própria tragédia. Rir de si mesmo, ver o lado bom das coisas.

Criatividade: estar receptivo a novas ideias. Conseguir observar e agir de forma diferenciada, relacionando informações de maneira inteligente e surpreendente mesmo que no inicio tudo pareça muito estranho.

Moralidade: capacidade de dirigir suas próprias ações, capacidade de se comprometer com valores; seguindo uma equidade natural a partir dos conflitos enfrentados.

Autoestima consistente: saber se valorizar, se conhecer, conhecendo seus limites e sua capacidade de cuidar do seu lado afetivo. Capaz de manter-se inteiro ao enfrentar obstáculos. Base dos demais pilares.

Outra hipótese seria a de Polk (1997 apud JOB, 2003) que elencou quatro padrões, o qual desenvolveu uma Escala de Resiliência chamada Job&Job. Esses padrões são:

Padrões Disposicionais – Adaptabilidade, autoafirmação, autocontrole, autodisciplina, autoestima, autossuficiência, capacidade de aprendizagem, capacidade de expressar emoções e senso de humor.

Padrões Relacionais – Capacidade de ajuda mútua, capacidade de comunicação, estabelecer vínculos emocionais, flexibilidade e capacidade de formar relações. Padrões Situacionais – Acreditar na sorte criando opções, usar o bom senso, capacidade de improvisação, ter metas futuras, vida mental rica no sentido de multiplicidade de interesses e criatividade.

Padrões Filosóficos e Religiosos – Crer num sentido da vida, ter esperança, ter crenças (JOB, 2003, p. 109).

Com relação ao ensino e a aprendizagem Abreu e Masetto (1996) classificam que esse processo se dá em três categorias:

a) Cognitiva: também denominada como categoria responsável pelo